Série de vídeos na internet apresenta pluralidade das configurações familiares

Redação – Observatório do Direito à Comunicação

Composta por cinco episódios, a série “Família no Plural” teve início no dia 29 de maio com a disponibilização do primeiro vídeo da temporada no Youtube. A websérie quinzenal aborda a diversidade de laços afetivos que constituem as famílias. Dando especial atenção ao contexto homossexual, busca mostrar como são comuns realidades marginalizadas pelos meios de comunicação e pelo imaginário da sociedade.

O projeto, que é realizado por um coletivo de estudantes e profissionais das cidades de São Félix e Salvador, na Bahia. A série conta com o apoio da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia e do Portal Dois Terços e com o patrocínio da Fundação Cultural do Estado da Bahia, através do Calendário das Artes.
 
Confira o episódio na íntegra aqui: https://www.youtube.com/watch?v=ZBNY6GwU618
E confira o teaser do projeto aqui: http://youtu.be/PXjjOgCpuEg
 
Mais informações:
Blog: http://familianoplural.wordpress.com
Página no Facebook: https://www.facebook.com/FamiliaNoPlural
Canal no Youtube: https://www.youtube.com/user/familianoplural

Conexões Globais debateu relação da cultura digital com democracia e liberdade

“O que está em jogo é se o Brasil irá tratar a internet como um  direito humano, um bem público, ou simplesmente, pela lógica do mercado”, disse a jornalista Cristina Charão durante o debate no segundo dia do II Conexões Globais, evento realizado em Porto Alegre para discutir cultura digital. Este é o tema colocado também pelo livro “Caminhos para a universalização da Internet banda larga: experiência internacionais e desafios brasileiros”, que apresenta uma pesquisa comparada da política de banda larga em alguns países e que foi lançado no espaço “Hub de Idéias” do evento.

O evento reuniu nos dias 23, 24 e 25 ativistas, acadêmicos e gestores públicos para discutir temas relacionados à cultura que se relaciona com a internet e com todo o processo atual de digitalização. O direito à liberdade e o funcionamento democrático da sociedade após as transformações decorrentes da vida que se relaciona com a cultura digital estiveram no centro das discussões.

A distribuição do poder e a produção livre de informações foram algumas das principais preocupações que envolveram os debatedores do II Conexões Globais, que trataram também o poder de mobilização e de visibilização da internet para os movimentos sociais. O evento contou em seu último dia com a presença do governador do Rio Grande do Sul e com o ex-ministro da Secretaria de Comunicação da Presidência da República, Franklin Martins.

Enquanto o governador Tarso Genro destacou o aspecto mais amplo das transformações, em que considera que “esses novos processos de participação democrática são uma critica radical ao modelo atual de Estado” e que “a forma como a nossa democracia foi constituída ainda no Iluminismo está derrotada”; o jornalista Franklin Martins apontou para sua especificidade: “a digitalização da comunicação e a internet provocam uma mudança espetacular na comunicação”.

Franklin Martins assina Projeto de Lei para Mídia Democrática

O ex-ministro da Secretaria de Comunicação da Presidência assinou no dia 25 de maio o Projeto de Lei de Iniciativa Popular por uma Mídia Democrática durante o II Conexões Globais, realizado em Porto Alegre. Franklin Martins, que ao final do governo Lula foi responsável pela redação de uma proposta de regulamentação para as comunicações até então não publicizada, fez elogios ao texto apresentado pela campanha “Para expressar a liberdade”.

Em entrevista coletiva concedida durante o Conexões Globais, Franklin Martins afirmou que o Projeto de Lei de Iniciativa Popular não consiste em um “código geral de telecomunicações” como o que foi deixado por ele nos últimos dias do governo Lula para ser apreciado, mas sim em uma iniciativa de regulamentar especificamente a comunicação eletrônica seguindo as diretrizes do que está na Constituição.

Martins considera de fundamental importância a regulamentação dos meios de comunicação. “Por que só quem tem muito dinheiro pode falar?”, questionou. Entretanto, diz não ter certeza de que o governo Dilma vai fazê-lo por iniciativa própria. “Eu espero que o governo vá encaminhar essa questão, pois se trata de concessões públicas”, afirmou.

O ex-ministro elogiou o projeto de iniciativa popular apresentado pelas entidades que lutam pela democratização da comunicação. “É um bom projeto, maduro, centrado na regulamentação do que está na constituição, olha para o futuro, coloca os temas principais e é uma ótima base para discussão”, defendeu. Destacou a importância que o texto dá para a pluralidade e a luta contra a concentração da propriedade.

Ao ser perguntado se estava satisfeito com a política de comunicação do governo Dilma, Martins afirmou “estou feliz com meu governo” e completou “não farei as críticas em público, porque eu tenho lado, faço-as diretamente à presidenta”.

O jornalista participou também do debate sobre “Comunicação e poder na era da internet”. Segundo ele, “está todo mundo preocupado em saber para onde vai a internet. Mas os tradicionais donos do poder têm muito mais motivos para estarem preocupados”.

Novo currículo do curso de jornalismo escamoteia poder do oligopólio

Estão prestes a ser homologadas pelo ministro da Educação as novas Diretrizes Curriculares Nacionais para o Curso de Graduação em Jornalismo, aprovadas pela Câmara de Educação Superior do Conselho Nacional de Educação (CNE) em 20/2/2013. O Parecer 39/2013 CNE/CES pouco alterou o relatório final da chamada Comissão Marques de Melo. O estágio obrigatório de 200 horas foi mantido, apesar da posição inicial desfavorável do relator.

A meu ver, a ausência mais aguda nas Diretrizes Curriculares é a do Capital. Um conjunto de pesquisadores acadêmicos de alto quilate conseguiu a proeza de reunir-se para tratar do Curso de Jornalismo tendo chegado ao final de seu trabalho sem se pronunciar sobre como se configura no Brasil o sistema empresarial, oligopólico, firmado sobre a propriedade cruzada de diferentes meios de comunicação, que dá as cartas na mídia e no jornalismo brasileiros. Dizendo de outra forma, o sistema responsável pela produção da maior parte do jornalismo brasileiro, diário ou semanal, seja ele impresso, televisivo, radiofônico ou digital, é ignorado no documento.

Desse modo, não há uma avaliação crítica do papel desempenhado no jornalismo pelos empregadores de importante parcela dos atuais e dos futuros jornalistas, empregadores esses dotados de notável poder econômico e político na sociedade brasileira, habituados a moldar o jornalismo que praticam de acordo com seus interesses. Eles deixaram de ser criticados pelos especialistas da “Comissão Marques de Melo”, que, no entanto, preocuparam-se em atender suas demandas, por exemplo por meio da figura do estágio obrigatório (“possibilitando a interação da universidade com o setor produtivo”) ou do Mestrado Profissional (recomendação felizmente ignorada pelo CNE/CES), que permitiria a “formação de profissionais especializados, pleito histórico das organizações jornalísticas” (leia-se: empresas de jornalismo).

Também no tocante à comunicação entendida como sistema global, mundial, o relatório que embasou as novas Diretrizes Curriculares valorizou excessivamente as redes sociais e a convergência digital, bem como os “novos sujeitos”, sem levar em conta que prossegue célere o processo de concentração e fusão das corporações gigantes de mídia, ou seja, dos capitais que atuam no setor. Por exemplo, afirmam os especialistas: “Os conteúdos da atualidade, veiculados pelos gêneros jornalísticos são, em esmagadora maioria, ações discursivas de sujeitos que agem no mundo e sobre o mundo por meio de acontecimentos, atos, falas e/ou silêncios. Valorizados pelas técnicas e pela identidade ética, esses conteúdos são socializados no tempo e no espaço do Jornalismo, pelos instrumentos da difusão instantânea universal. E assim, pelas vias confiáveis do Jornalismo, se globalizam idéias, ações, mercados, sistemas, poderes, discussões, interesses, antagonismos, acordos” (Relatório, p. 4). Tudo parece, assim, muito difuso e etéreo, quando a realidade é bem outra, mesmo na Internet, onde a presença das grandes corporações, bem como a ação de grandes Estados, é avassaladora.

Quando cita o mercado ou as empresas, o relatório final da “Comissão Marques de Melo” o faz acriticamente, como se o protagonismo desse setor nada tivesse a ver com o jornalismo que se pratica hoje (no Brasil e no mundo) ou com a formação jornalística. O jornalista, assim, apesar da retórica humanística do texto, ao fim e ao cabo é apenas força de trabalho para as empresas de jornalismo. Mas o Relatório não se limita a escamotear, na abordagem geral prévia, o oligopólio da mídia e do jornalismo. Ele também deixa de incluir esse tópico nos próprios conteúdos curriculares sugeridos. E o CNE/CES aprovou integralmente tais conteúdos.

O objetivo principal do relatório final parece ser subordinar a formação oferecida aos imperativos do mercado. É isso que explica os ataques presentes, no relatório, a um tipo de formação mais reflexiva, mais crítica dos meios de comunicação de massa, por exemplo: a teoria “passou a não reconhecer legitimidade no estudo voltado ao exercício profissional, desprestigiando a prática, ridicularizando os seus valores e se isolando do mundo do jornalismo” (Relatório, p. 12); ou: “A ênfase na análise crítica da mídia, quando feita sem compromisso com o aperfeiçoamento da prática profissional, abala a confiança dos estudantes em sua vocação, destrói seus ideais e os substitui pelo cinismo” (idem).

Observe-se, porém, a seguinte recomendação da Unesco, presente em publicação recente sobre os currículos de jornalismo: “Uma boa formação deve fornecer aos estudantes conhecimento e treinamento suficientes para que reflitam sobre a ética do jornalismo, suas boas práticas e sobre o papel do jornalismo na sociedade. Eles também devem aprender sobre a história do jornalismo, a legislação da comunicação e da informação e sobre a economia política da mídia (incluindo tópicos como propriedade dos meios, estrutura organizacional e competição)” (Modelo curricular da Unesco para o ensino do Jornalismo, Unesco, Brasil, 2010; página 6). Mais adiante, mesmo ressaltando que o curso pensado não se destina a formar pesquisadores acadêmicos, o texto diz: “Pretendemos, igualmente, preparar os estudantes para que sejam críticos a respeito do seu próprio trabalho e em relação ao de outros jornalistas” (idem, p. 7).

A “Comissão Marques de Melo” fechou seu relatório em 2009 e cita apenas a versão anterior (2007) do Modelo curricular da Unesco… Mas é importante assinalar que há uma preocupação da Unesco com essa questão (para quem trabalhamos? quem detém o poder no jornalismo?) que é simplesmente diluída, no documento dos especialistas, em considerações genéricas sobre a ética e a responsabilidade do jornalista.

Em nenhum dos seis Eixos de Conteúdo que constam do item 5 do Relatório (Conteúdos Curriculares) e foram aprovados in totum pelo CNE/CES consta algo consistente sobre o tema, exceto por uma vaga referência, no Eixo III, à “regulamentação dos sistemas midiáticos, em função do mercado potencial” (sic). Basta conferir isso nas páginas 11 e 12 do Parecer CNE/CES 39/2013.

Por fim, é bastante deplorável que o CNE/CES tenha mantido o estágio obrigatório, sob a forma de Estágio Curricular Supervisionado. Isso legitima e amplia a enorme pressão das empresas sobre os estudantes e sobre os cursos. O estágio em jornalismo tem sido um dos mais importantes fatores de aviltamento do mercado de trabalho dos jornalistas brasileiros, funcionando como instrumento de substituição de força de trabalho qualificada. Do ponto de vista simbólico, ele reforça a propaganda das empresas de que só elas dominam o saber jornalístico, e dilui a pressão sobre as escolas de jornalismo para que ofereçam laboratórios de boa qualidade e corpo docente qualificado.

A volta do futebol à rede pública de TV

Com o término dos campeonatos estaduais no final de semana, as atenções passarão a se voltar para as quatro divisões do Campeonato Brasileiro, por mais que estas parem durante a Copa das Confederações. A novidade, em termos de transmissão televisiva, é o retorno da TV Brasil como exibidora da Série C, que começa no dia 1º de junho. A emissora da Empresa Brasil de Comunicação (EBC) chegou a transmitir a fase final da terceira divisão em 2010, mas não comprou os direitos de transmissão do torneio em 2011, alegando que os valores eram muito altos (entre R$ 14 milhões e R$ 16 milhões). Além disso, no mesmo ano a emissora pública cobriu os Jogos Mundiais Militares, que requereram grande investimento.

Com as duas principais divisões nacionais organizadas no sistema de pontos corridos há algum tempo, a Série C vai para o seu segundo ano com dois grupos regionalizados com 10 clubes cada. Desde o ano passado, a SporTV transmite partidas do torneio pela TV fechada. O apelo a ele está com a presença de clubes populares em seus estados, como Santa Cruz (PE), Fortaleza (CE), Sampaio Correia (MA), Guarani (SP), Vila Nova (GO) e CRB (AL). A divisão da cota dos direitos de transmissão é um importante acréscimo à renda dos clubes, que sonham por voos mais altos, e valores mais altos, nas séries superiores, cujo número de rodadas, e de transmissões, é maior.

A TV Brasil deve transmitir dois jogos por rodada, um no sábado e outro no domingo, além de liberar a transmissão local de partidas de clubes dos Estados das emissoras que fazem parte da Rede Pública de Televisão. Recorda-se que no Acre e no Pará, respectivamente a TV Aldeia e a TV Cultura, transmitem as participações dos clubes locais nos estaduais e em torneios nacionais.

7 milhões de euros

O possível questionamento a investimentos de uma rede pública de comunicação no futebol pode ser combatido com a importância deste programa para a atração da audiência, não à toa gerando tantas brigas para a aquisição de seus direitos de transmissão. Através de um elemento popular, pode-se conquistar a audiência para outros programas da emissora e, principalmente, o reconhecimento dela por parte da população, por mais que já esteja com cinco anos de existência, dadas as dificuldades históricas para a comunicação não comercial no Brasil.

Lembra-se ainda que a aquisição de direitos de transmissão de eventos esportivos por emissoras não privadas é comum em outras partes do mundo, principalmente porque em outros países a radiodifusão se desenvolveu por muito tempo através do monopólio estatal. Ainda assim, décadas depois da abertura deste mercado, pode-se saber de notícias sobre a aquisição do direito de exibir eventos por parte de emissoras públicas.

Em março deste ano, a federação alemã de futebol confirmou que a ARD, rádio pública com 10 emissoras espalhadas por toda a Alemanha, comprou em leilão três dos quatro pacotes de direitos oferecidos na cobertura da primeira e da segunda divisão do campeonato local, a Supercopa da Alemanha e o playoff do rebaixamento. Especula-se que serão pagos 7 milhões de euros.

O fortalecimento da rede pública

O contrato de lá permite que a emissora transmita as partidas na íntegra e tenha privilégios na entrevista com jogadores, ainda que isto não ocorra de forma exclusiva. O pacote restante foi para a transmissão de áudio pela internet, que ficou com o Sport1.

No Brasil, apesar das tentativas do Atlético-PR sob o comando de Mario César Petraglia, não há limites para a transmissão das rádios. O que deve mudar apenas com os torneios Fifa, em que apenas as emissoras que adquirirem os direitos poderão transmitir os jogos da Copa das Confederações e da Copa do Mundo, o que faz com que emissoras formem pools de transmissão.

Voltando às transmissões da TV Brasil, o Comitê Olímpico Internacional vendeu os direitos de transmissão dos Jogos Olímpicos de Verão de 2016, a serem realizados no Rio de Janeiro, para Globo, Record e Band, mas libera as imagens para as emissoras públicas, independente do tempo e da logomarca da responsável pela transmissão. Será outra boa oportunidade para o crescimento e o fortalecimento de uma rede pública de televisão, sob a perspectiva do operador nacional digital.

Anderson David Gomes dos Santos é jornalista e mestre em Ciências da Comunicação pela Unisinos