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Plebiscito Popular pede mudança no sistema político no Brasil

Por Mayrá Lima e Paulo Victor*

Durante a semana da pátria (1 a 7 de setembro), urnas estarão espalhadas pelo Brasil coletando votos para o Plebiscito Popular por uma Assembleia Constituinte. Com uma única pergunta, o plebiscito quer saber se a população brasileira é a favor da convocação de uma Constituinte Exclusiva e Soberana do Sistema Político. Uma constituinte, cujos representantes serão exclusivamente eleitos para este fim.

O plebiscito faz parte da ação concreta e articulada da sociedade civil organizada diante de um quadro pós-manifestações de 2013, quando melhorias em diversas áreas (transporte, saúde, educação, etc.) foram objeto de reivindicação nas ruas de todo o país. Passado aquele momento de manifestações populares massivas, algumas reivindicações foram atendidas, em certa medida, pelo poder público, principalmente no que tange à pauta que unificou a maioria dos grupos que foram às ruas: o preço da tarifa de ônibus. No entanto, a falta de mecanismos de participação efetiva da sociedade nas principais decisões do país e o sentimento de não-representação diante da estrutura do sistema político permanecem presentes.

É por esta análise que movimentos sociais, entidades sindicais, organizações populares, partidos políticos de esquerda, coletivos e associações identificaram a reforma do sistema político como uma pauta organizativa desta insatisfação popular. Reforma que se baseia em três questões fundamentais: acabar com a influência determinante do poder econômico no processo eleitoral, pondo fim ao financiamento empresarial das campanhas eleitorais e da atividade política em geral; ampliar os instrumentos, mecanismos e espaços de controle social e de participação direta da população; e garantir mecanismos de participação de mulheres, negros/as, indígenas, jovens, LGBTs e setores populares no sistema político.

Os dados ajudam nesta compreensão. A cada eleição, cresce a participação empresarial no financiamento dos candidatos e partidos. Em 2008, as empresas “doaram” 86% dos recursos totais das campanhas. Em 2010, o montante representou 91% e, em 2012, 95%. No que diz respeito à composição, o Congresso Nacional condensa o que há de mais conservador da política e não dá conta da diversidade e do pluralismo da sociedade brasileira. Mais de 70% dos parlamentares federais são ruralistas ou empresários (de diversas áreas, como saúde, educação, comunicação, indústria, etc.). E mais: apenas 9% da Câmara dos Deputados e 12% do Senado é ocupado por mulheres (ainda que sejam mais da metade da população do país); somente 8,5 dos deputados federais e senadores se declaram negros; nenhum é indígena e menos de 3% são jovens.

Mas engana-se quem acredita que o “não me representa” tão presente nas manifestações era direcionado exclusivamente para o sistema político. Os meios de comunicação também foram colocados em xeque durante os protestos de junho e julho de 2013. Após o comportamento da grande mídia diante dos atos de rua, marcado pela manipulação das informações veiculadas, a Rede Globo tornou-se também um alvo da insatisfação popular. Por isso, não era raro ouvir os manifestantes gritando palavras de ordem como “a verdade é dura, a Rede Globo apoiou a Ditadura”, ou “o povo não é bobo, abaixo a Rede Globo”.

Neste sentido, as manifestações de junho e julho de 2013 abriram uma oportunidade de massificarmos de forma mais contundente a pauta da democratização da comunicação, em articulação com a reforma do sistema político.

O diálogo entre as duas pautas não encerra por aí. O oligopólio midiático é parte do que se resume como poder econômico brasileiro. Só a família Marinho, com as organizações Globo, somam a fortuna de US$ 28,9 bilhões, configurando-se como a família mais rica do Brasil, segundo dados recentes da revista Forbes. A mesma família – assim como outras famílias detentoras de concessões de rádio e televisão – tem forte influência nas discussões e decisões do Congresso Nacional. Congresso que, é preciso ressaltar, tem em sua composição uma presença ativa de políticos concessionários de veículos de radiodifusão, ferindo inclusive a Constituição Federal de 1988, que são usados para benefício próprio, o que também contribui para gerar privilégios, desigualdades e distorções no sistema político.

Por esses motivos, a democratização das comunicações, especialmente a partir da luta por um novo marco regulatório para o setor (tendo como estratégia a coleta de assinaturas para o Projeto de Lei de Iniciativa Popular) e a reforma do sistema político, por meio da realização de uma Constituinte Exclusiva e Soberana, apresentam-se como duas demandas essenciais no processo de radicalização da democracia brasileira.

A organização do Plebiscito Popular já possui esta compreensão de que a democratização dos meios de comunicação é pauta fundamental. A campanha Para Expressar a Liberdade, que busca recolher mais de um milhão de assinaturas em apoio ao Projeto de Lei da Mídia Democrática,  também faz parte da mobilização por reforma política. Nesse sentido, em muitas urnas, também será possível manifestar apoio a esse projeto.

Além das urnas espalhadas em todos os estados, também é possível votar pela Internet. Basta acessar o seguinte link: http://bitbitbit.com.br/plebiscito/

Nós apoiamos essas iniciativas e vamos votar sim por mudanças reais no sistema político. Sim à democratização dos meios de comunicação.

*Mayrá Lima e Paulo Victor são integrantes do Intervozes

Texto originalmente publicado no Blog do Intervozes na Carta Capital.

Artistas assinam projeto de Lei da Midia Democrática

O Abril pro Rock, um dos mais respeitados festivais de música do país apoiou a luta pela democratização da comunicação e abriu espaço para a coleta de assinaturas do Projeto de Lei de Iniciativa Popular da Mídia Democrática no último final de semana. Durante o evento, artistas foram convidados a assinar a lista de apoio ao projeto, além de tirar fotos e gravar vídeos em apoio à campanha. Zé Manoel, Graxa, Fábio Trummer (Eddie), Daniel Groove, Juvenil Siva, Tiné (Academia da Berlinda), Felipe Cordeiro e Bárbara Eugênia foram alguns dos que se dispuseram a participar. A iniciativa foi do Fórum Pernambucano de Comunicação (Fopecom), que reúne pessoas e entidades que lutam por uma comunicação mais livre e democrática, inclusive o Comitê Estadual do Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação.

Diante dos argumentos de maior inserção de conteúdo regional nas emissoras, da vedação de políticos e entidades religiosas serem detentoras de canais e de mais espaço à produção independente (propostas contidas no projeto de lei), diversos músicos e bandas que estiveram presentes no Festival tornaram-se apoiadores da iniciativa da sociedade civil. “O direito de se informar e de se falar o que pensa tem que ser melhor dividido”, resumiu Daniel Groove. Durante os shows, ativistas do Fopecom/FNDC-PE também colheram assinaturas do público. O resultado da ação poderá ser visto em fotos e vídeos compartilhados pelas redes sociais (www.facebook/fopecom) e posteriormente transmitidos através de emissoras públicas e comunitárias de rádio e televisão também parceiras da campanha.

“Nós do Fopecom e do Comitê Pernambucano do FNDC pensamos que seria uma boa chegar junto de artistas e formadores de opinião que topassem apoiar publicamente a campanha” comentou Felipe Peres Calheiros, do Núcleo de TV e Rádios Universitárias, coordenador do FNDC em Pernambuco. “Outro argumento que pesou bastante entre os artistas é o fato de a divulgação de seu trabalho ser extremamente prejudicada pelos esquemas concentradores da radiodifusão”, completou Felipe.

Para a realização dessa intervenção foi essencial o trabalho de articulação por parte da produção do festival. Seu organizador, Paulo André Moraes, também integrante do Fopecom, abraçou a ideia desde o início e fez o primeiro contato com os artistas preparando-os para a abordagem da equipe do FNDC de Pernambuco. “Quero articular com outros festivais de todo Brasil pra fazerem o mesmo” declarou Paulo André.

O Festival Abril Pro Rock acontece anualmente, desde 1993, em Recife, Pernambuco, no mês de abril. O evento se tornou referência nacional por mostrar bandas e artistas com renome na cena independente do país inteiro e do exterior, revelar novos nomes e apoiar as bandas locais. O nascimento do Abril Pro Rock coincidiu com a explosão do Movimento Manguebeat, que revelou bandas como Penélope (banda), Chico Science & Nação Zumbi, Mundo Livre S/A, Eddie, Devotos, Faces do Subúrbio e outras. Bandas como Los Hermanos habitualmente reputam as suas apresentações no Abril Pro Rock, feitas antes de assinarem contratos com gravadoras, como porta de entrada para o cenário nacional.

Conferência Nacional de Cultura aprova a Lei da Mídia Democrática

A Lei da Mídia Democrática e o Marco Civil da Internet estão entre as diretrizes aprovadas por representantes do poder público e pela sociedade civil na III Conferência Nacional de Cultura, que terminou neste domingo (1), em Brasília. A resolução final da plenária conta com 64 diretrizes para as ações e políticas públicas em cultura.

Os projetos de lei foram debatidos no eixo “Produção Simbólica e Diversidade Cultural”, no subtema “Democratização e Cultura Digital”. Além do projeto de Lei da Mídia Democrática, o documento aponta a necessidade da aprovação do Marco Regulatório das Comunicações no Brasil e o fortalecimento da comunicação pública e comunitária, como diz o texto: “Incluir mais canais de rádio e TVs públicas, comunitárias, educativas, universitárias, culturais e de cidadania, no espectro eletromagnético e digital do Brasil, disponibilizando recursos públicos para viabilizar a sustentabilidade dessas emissoras, assim como para aquisição e renovação de infraestrutura tecnológica”.

Os delegados aprovaram também a orientação de que se promova o aumento do alcance das rádios comunitárias e que se disponibilizem recursos públicos para a viabilização da sustentabilidade das emissoras além de “Ampliar o diálogo e protagonismo do Ministério da Cultura dentro deste processo decisório (das rádios comunitárias) ”.

O documento final da plenária traz ainda as propostas de aprovação da proposta de pelo menos 10% dos recursos do Foto: Ministério da CulturaFundo Social do Pré-Sal para a Cultura; o fortalecimento do Fundo Nacional de Cultura; aprovação da PEC 49/2007 e da PEC 236/2008, que incluem a cultura como direito social dos brasileiros.

Participaram da programação 1.745 pessoas, sendo 953 delas delegados dos 26 estados e do Distrito Federal, com 804 votantes – 70% representantes da sociedade civil, segundo o Ministério da Cultura. Durante quatro dias, os delegados debateram os temas “ Implementação do Sistema Nacional de Cultura”, “Produção Simbólica e Diversidade Cultural”, “Cidadania e Direitos cultural” e “Cultura e Desenvolvimento”.

Campanha pela Lei da Mídia Democrática cresce em todo o país

A campanha "Para Expressar a Liberdade" recebeu na última semana cerca de 1300 assinaturas da petição do projeto de lei de iniciativa popular da Mídia Democrática. De norte a sul do país, coletivos, sindicatos e até famílias encaminharam o pedido para uma nova regulamentação dos setores de rádio e televisão brasileiros.

As coletas chegaram de Riozinho (RS), Pelotas (RS), Diadema (SP), Campinas (SP), Porteirinha (MG), Contagem (MG), João Pessoa (PB) e Redenção (PA).  As maiores remessas vieram de Redenção (PA) e Pelotas (RS). A busca de assinaturas na cidade gaúcha foi realizada durante a Semana Nacional pela Democratização da Comunicação, pelos integrantes e colaboradores do novo Comitê Regional do Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC).  As assinaturas do Pará foram coletadas por um coletivo cultural da cidade de Redenção.  Também em destaque está o apoio de uma família de Diadema (SP).

O projeto de lei já conta com mais de 50 mil assinaturas e tem o apoio de mais de 200 entidades da sociedade civil. Maria Mello, secretária-executiva do FNDC, destacou que diariamente pessoas procuram a entidade, pelas redes, por telefone e até no escritório da entidade em Brasília para ter mais informações, oferecer apoio e entregar as listas de apoiamento.

"A campanha está crescendo e a coleta de assinaturas não está restrita apenas às entidades apoiadoras. Chegam aqui assinaturas individuais, de famílias e até de grupos de amigos. Além disso, é interessante ver que o debate está chegando a todos os cantos do país, das capitais ao interior", afirma. Mello lembra que a campanha lançou no final de outubro o Guia de Mobilização da Lei da Mídia Democrática que pode auxiliar na coleta e no debate nas ruas.   

O FNDC coordena a campanha pela democratização da comunicação e está concentrando o recebimento das listas de apoiamento em Brasília, no endereço Setor Comercial Sul, Quadra 06, Ed. Presidente, sala 206, nº141 | CEP 70327-900 Brasília DF. A coordenação da campanha pede que após o envio das assinaturas também se encaminhe um e-mail para secretaria@fndc.org.br para apontar o encaminhamento.

Audiência Lei da Mídia Democrática
Na última semana, o projeto de lei foi tema de audiência na Câmara dos Deputados. Os parlamentares presentes manifestaram apoio ao projeto  e o destacaram como o principal instrumento para a conscientização da população sobre a situação de monopólio dos meios de comunicação no Brasil e da necessidade da democratização do setor no país.

Franklin Martins assina Projeto de Lei para Mídia Democrática

O ex-ministro da Secretaria de Comunicação da Presidência assinou no dia 25 de maio o Projeto de Lei de Iniciativa Popular por uma Mídia Democrática durante o II Conexões Globais, realizado em Porto Alegre. Franklin Martins, que ao final do governo Lula foi responsável pela redação de uma proposta de regulamentação para as comunicações até então não publicizada, fez elogios ao texto apresentado pela campanha “Para expressar a liberdade”.

Em entrevista coletiva concedida durante o Conexões Globais, Franklin Martins afirmou que o Projeto de Lei de Iniciativa Popular não consiste em um “código geral de telecomunicações” como o que foi deixado por ele nos últimos dias do governo Lula para ser apreciado, mas sim em uma iniciativa de regulamentar especificamente a comunicação eletrônica seguindo as diretrizes do que está na Constituição.

Martins considera de fundamental importância a regulamentação dos meios de comunicação. “Por que só quem tem muito dinheiro pode falar?”, questionou. Entretanto, diz não ter certeza de que o governo Dilma vai fazê-lo por iniciativa própria. “Eu espero que o governo vá encaminhar essa questão, pois se trata de concessões públicas”, afirmou.

O ex-ministro elogiou o projeto de iniciativa popular apresentado pelas entidades que lutam pela democratização da comunicação. “É um bom projeto, maduro, centrado na regulamentação do que está na constituição, olha para o futuro, coloca os temas principais e é uma ótima base para discussão”, defendeu. Destacou a importância que o texto dá para a pluralidade e a luta contra a concentração da propriedade.

Ao ser perguntado se estava satisfeito com a política de comunicação do governo Dilma, Martins afirmou “estou feliz com meu governo” e completou “não farei as críticas em público, porque eu tenho lado, faço-as diretamente à presidenta”.

O jornalista participou também do debate sobre “Comunicação e poder na era da internet”. Segundo ele, “está todo mundo preocupado em saber para onde vai a internet. Mas os tradicionais donos do poder têm muito mais motivos para estarem preocupados”.