Minicom nega que portarias dificultem a liberação da faixa de 700 MHz

O Ministério das Comunicações nega que as portarias publicadas em 19 de dezembro, que destinaram novos canais para a radiodifusão possam dificultar a liberação da faixa de 700 MHz para a banda larga móvel (veja a notícia aqui).

As portarias destinam um canal para o Canal da Cidadania, que poderá ser requerido pelos entes municipais; garantem que os canais secundários hoje usados pela radiodifusão tenham um espaço digital (estima-se em mais de quatro mil as cidades em que há canais operando em caráter secundário); e, por fim, destinam o canal 61 (em alguns municípios o 62 ou o 63) para a TV Câmara em mais de 40 municípios.

O diretor do departamento de acompanhamento e avaliação da Secretaria de Comunicações Eletrônicas do Minicom, Octavio Pieranti, explica que a TV Câmara já usava os canais nos municípios para RTV (retransmissão). Como a TV Câmara quer montar uma geradora nesses municípios, o Minicom atendeu ao pedido e consignou esses canais para a trasmissão do sinal digital. Assim, segundo o diretor, do ponto de vista de ocupação do espectro não há impacto nenhum.

No caso do Canal da Cidadania, Pieranti informa que o Minicom não fez nada além de regulamentar a criação do canal que, assim como o Canal do Executivo, da Educação e da Cultura, estava previsto no Decreto 5.820/2006 que implementou o Sistema Brasileiro de TV Digital Terrestre (SBTVD-T).

Além disso, uma das portarias prevê que os canais só serão consignados quando não houver impossibilidade técnica. "Existe um universo de mais de quatro mil municípios onde não há problema de espectro e algumas centenas onde o funcionamento de um novo canal pode não ser viável com o simulcast", reconhece ele.

Em relação às emissoras que hoje operam em canais secundários e que, pela portaria recente, ganharam o direto de ter um canal digital, Pieranti diz que o pareamento e, consequentemente, a duplicação de canal é apenas uma possibilidade. Tecnicamente ainda é possível digitalizar no próprio canal ou usar a técnica Single Frequency Network (SFN), que consiste em utilizar um único canal para acomodar uma geradora e suas repetidoras, desde que a programação seja idêntica e sincronizada. "O Estado ganha porque há uma economia de espectro e para o radiodifusor o custo operacional é menor", afirma ele.

 

Globo vai sair do controle da Sky

Depois de alguns meses de negociação, os grupos Globo e Sky/Direct TV fecharam o acordo para o cumprimento da nova lei do SEAC (Serviço de Acesso Condicionado), a de número 12.485/11 , que impede que emissoras de radiodifusão detenham mais de 49% de participação nas operadoras de TV paga. Segundo o superintendente de Comunicação de Massa da Anatel, Marconi Maya, a área técnica da agência já aprovou os novos termos do acordo, que está em análise na procuradoria da agência e deverá ser entregue para votação do conselho diretor ainda neste mês. Segundo Maya, serão seguidas as linhas gerais do acordo firmado pela Globo com a NET, na qual a emissora de TV aberta abre mão de indicar conselheiros e de interferir nas questões relacionadas à operação da TV, mantendo o poder de veto nas programações nacionais.

Maya ressaltou que a retirada da emissora de radiodifusão do controle da operação segue estritamente a portaria 101 da Anatel (que estabelece as relações entre empresas controladas, coligadas e controladoras de maneira bem mais rígida do que a lei das sociedades anônimas) e que o poder de veto sobre o conteúdo nacional foi mantido porque não é uma questão que pode e nem deve ser regulada pela Anatel, pois é tema de regulação da Ancine.

O grupo Globo teve que sair do controle das operações de TV a cabo da NET e de TV via satélite da Sky porque a nova lei do SeAC proíbe que um mesmo controlador tenha licenças de radiodifusão e de TV paga.

RecordNews

O superintendente confirmou ainda que a Sky pediu dispensa da Anatel para não ter que carregar todos os canais de TV abertos determinados pela lei do SeAC. Conforme a lei, as operadoras de SeAC devem carregar os 514 canais analógicos das geradoras de TV gratuitamente. No caso das operadoras de cabo, como as licenças são para cada município, elas só precisam carregar os canais das geradoras de TVs abertas daquele município. Mas a tecnologia de TV via satélite, o DTH, por ter licença nacional, teria que carregar os 514 canais, o que inviabilizaria suas operações. A lei criou, então, exceção, autorizando a Anatel a permitir o carregamento de menor número de canais, desde que seja comprovada a sua inviabilidade técnica.

A questão, contudo, reclamou a RecordNews, à Anatel, é que a Sky não quer colocar em sua grade alguns dos 14 canais de TV aberta listados pela Anatel como aqueles que devem ser transportados como obrigatórios. A Sky quer carregar o canal da TV Recordo e o da Globo, por exemplo, mas conforme fontes do mercado, estaria se insurgindo contra o canal da MTV (contra o qual tem uma rusga de anos) e o da RecordNwews (que sofre mesmo sérios questionamentos de outros players sobre a razão de o grupo Record ter dois canais abertos no line up das operadoras de SeAC, conforme determinou a Anatel).

A intenção da Anatel é publicar um regulamento que esclareça as condições que permitam que as operadoras deixem de carregar os canais obrigatórios, pois, alerta Maya, o mercado está criando questionamentos desnecessários sobre este tema.

Alphaville

Maya confirmou também que está sendo analisado o processo de propriedade cruzada da TV Alphaville, hoje de propriedade da SBT e Silvio Santos. Segundo matéria da Folha de S. Paulo da semana passada, o empresário estava querendo transferir parte das ações da operadora de cabo para membros de sua família. Conforme Maya, este processo ainda está sendo analisado pelos técnicos da agência. Ele ressaltou que a análise será feita do mesmo jeito: com base na portaria 101 da Anatel, que aponta diferentes indícios para o exercício de controle. "Se a SBT ou seus controladores continuarem a exercer poder de controle sobre a operadora de SeAC, não será aceito pela Anatel", alertou ele.

Governo uruguaio limita em 25% o alcance de televisão a cabo

O governo do presidente José Mujica limitou nesta quarta-feira (2) a quantidade de afiliadas que podem ter as empresas privadas de televisão. A Secretaria de Comunicação da Presidência do Uruguai criou o decreto que limita a 25% o total de domicílios que uma empresa pode alcançar em todo o país e a 35% em cada território.

“Sem afetar direitos adquiridos, se entende necessário limitar a participação no mercado de operadores de televisão para afiliadas, evitando a geração de monopólios e oligopólios', pontua.

O decreto recorda que, no início, o mercado de serviços de televisão para afiliados se constituiu com base no princípio de territorialidade. Mas, atualmente, esse mercado está dominado por operadores que, em sua maioria, prestam serviços em todo território nacional e as empresas têm influído no desenvolvimento de produções locais de televisão, acrescenta o texto.

O documento sustenta que isso pode produzir “uma grande concentração não desejada, atendendo ao princípio de diversidade, e afetar o desenvolvimento de operadores que se encontram limitados a uma área territorial determinada”.

Cota de conteúdo nacional estimula produção para TV e cria ‘pequena revolução’

Uma "explosão", até uma "revolução". Descrita assim por governo e produtoras, a lei 12.485 entrou em vigor há quatro meses –e agora os canais pagos devem passar duas horas e 20 minutos de programas nacionais no horário nobre, por semana.

É pouco, relativamente. Na média, os canais pagos apresentam 160 horas de programação por semana. E a definição de horário nobre foi dilatada pela lei: vai das 18h às 24h, para canais adultos.

Mas a "explosão de demanda" ou a "pequena revolução" já havia começado antes mesmo da vigência, a partir do momento em que a lei foi aprovada no Congresso e sancionada, no final de 2011.

"Ela conferiu à produção independente um valor dentro do mercado", diz Marco Altberg, presidente da associação das produtoras (ABPI-TV). Ele credita à lei o salto de 170 para 265 no número de associadas, em 2012.

"Tem produtora nova e produtora que antes trabalhava mais com publicidade e cinema e voltou a sua atenção ao conteúdo de televisão", diz Altberg, que dirige a Indiana Produções, do Rio.

Para Roberto T. Oliveira, diretor da TX, de São Paulo, "é nítido" o aumento da demanda por conteúdo nacional. "Os canais se prepararam para cobrir a cota", diz.

Também as produtoras. "A gente já sabia que a lei chegaria. Foi anunciada com bastante antecedência e muitas se prepararam, até com investimentos em roteiro, nessa lacuna e já estão colhendo frutos", diz Oliveira.

Classe C

O estímulo da nova lei de TV paga à produção não se restringe à cota nacional. Luiz Noronha, diretor-executivo de TV da Conspiração, destaca que ela abriu caminho para as operadoras investirem no próprio serviço.

"Depois da lei, as telefônicas se sentiram mais à vontade para investir e oferecer pacotes mais baratos", diz. "O número de assinantes aumentou exponencialmente, muito rápido. Muito mais gente entrou na TV fechada."

No dado mais recente divulgado pela Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações), para novembro, o número de domicílios com TV paga alcançou 15,9 milhões, alta de 28,3% em um ano.

Os novos assinantes vêm principalmente da classe C. A TV paga cresceu, sustenta Noronha, também pelo simples fato de "o brasileiro ter mais dinheiro, por causa da situação econômica mesmo".

Esse público, que já levara canais pagos à ampliação da programação dublada nos últimos anos, busca programas locais. "Ele recebe muito bem o conteúdo nacional", diz o produtor Roberto Muylaert.

Ex-presidente da Fundação Padre Anchieta, que administra a TV Cultura, Muylaert diz que a preferência por programação local também não é novidade na TV paga.

"A grande conquista da Globosat foi lançar o canal Globo News", diz Muylaert. "Alguém duvida que interessa mais a nós do que a CNN?"

Fundo

Mas a implantação da lei 12.485 enfrenta obstáculos. Segundo a ABPI-TV, o mínimo de duas horas e 20 minutos de conteúdo nacional foi adiado por três meses até começar a vigorar em dezembro, sem rigor na fiscalização.

Ao menos uma programadora, a Buena Vista, dos canais Disney, pediu dispensa da cota em 2012, argumentando dificuldade em encontrar programas infantis prontos para licenciamento.

Também cresceu na virada do ano a pressão de produtoras e programadoras de TV paga pela liberação mais rápida dos recursos do Fundo Setorial do Audiovisual.

"O fundo vai ser o grande centro de atenções agora", diz Altberg. "O produtor apresenta um projeto, junto com um contrato com um canal de TV paga, e eles aí obtêm recursos para produzir as séries e outros produtos."

Ponderação

Principal executivo da Globo por três décadas, José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, não confia nos efeitos da lei 12.485.

"Sou inteiramente a favor da produção nacional, mas, em princípio, as coisas devem ser resolvidas pelo mercado. Incentivos ajudam, mas não resolvem."

Governo pode subsidiar acesso à televisão digital

Com o objetivo de universalizar a televisão digital, o Governo Federal estuda a possibilidade de conceder subsídios para que as famílias possam adquirir aparelhos digitais ou conversores. Dessa forma, as transmissões pelo sistema antigo, o analógico, poderão deixar de ocorrer no prazo já estipulado.

“Precisamos acelerar a digitalização, e se não houver uma ação forte do governo, a meta de 2016 vai atrasar”, afirma o ministro das Comunicações, Paulo Bernardo. Esse tipo de estímulo para que a população modernize adquira novos equipamentos não é inédito. Nos Estados Unidos, o governo chegou a distribuir aparelhos quando decidiu utilizar apenas a TV digital, observou o ministro.

A intenção do governo que é os cerca de 500 municípios que utilizam a frequência de 700 megaHertz (MHz), e que concentram perto de 80% da população brasileira, transmitam apenas sinais digitais. Com isso, abriria-se espaço para licitar a faixa para a banda larga móvel 4G.

Para 2013, a expectativa é que o volume de investimento em telecomunicações alcance R$ 25 bilhões, número que, se confirmado, baterá o recorde de 2001, quando os investimentos chegaram a R$ 24,2 bilhões. Estão previstas verbas grandes para a construção da infraestrutura para a telefonia 4G. A meta é que o serviço seja oferecido no ano que vem nas seis cidades-sede da Copa das Confederações, mas a expectativa é de que ele chegue a sete ou oito capitais, inclusive São Paulo.