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Classificação indicativa: as críticas e os fatos

O Departamento de Justiça, Classificação, Títulos e Qualificação (DJCTQ) do Ministério da Justiça produziu uma das mais interessantes reflexões sobre a televisão brasileira. E isso apenas porque resolveu cumprir o disposto no capítulo de Comunicação da Constituição Federal e no Estatuto da Criança e do Adolescente (artigos 74, 75, 76 e 254). Através da Portaria 264 de 9 de fevereiro de 2007, o Ministério da Justiça instituiu a classificação etária da programação de televisão.

A iniciativa gerou enorme polêmica, mas, em geral, os grandes veículos de comunicação não demonstraram interesse em esclarecer como se chegou a esta portaria. Assim, não ficamos sabendo que foram feitas audiências públicas nas principais capitais brasileiras, que uma consulta pública recebeu mais de 11 mil manifestações, que ocorreu um seminário internacional em Brasília, que um livro foi publicado e que a Agência Nacional dos Direitos da Infância (ANDI) foi contratada para realizar um estudo comparativo sobre a realidade de países tão distintos quanto Estados Unidos, França, Argentina, Austrália e Colômbia, por exemplo.

Ou seja, a cobertura da grande imprensa escondeu o fato de que a portaria do Ministério da Justiça foi precedida por muitos estudos e um amplo debate. Infelizmente, quem se recusou a participar desse debate foi a Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e TV (ABERT), que jamais atendeu aos convites do chefe do DJCTQ, o jovem advogado José Romão.

Sem contarmos com um noticiário isento, a população é levada a acreditar que o Brasil está próximo de adotar uma política totalitária, desconhecendo que quase toda a União Européia já utiliza critérios de classificação etária.

A cobertura da imprensa também não informou que a classificação não incide sobre a TV paga, os tele-jornais e documentários, sobre a propaganda e programas ao vivo e esportivos. E tampouco mencionou que há anos convivemos com a classificação etária nas salas de cinema, sem que nenhum produtor, diretor ou ator tenha reclamado de censura.

Mais recentemente, os principais jornais evitaram informar que o Ministério da Justiça aceitou não fazer uma classificação prévia. Assim, os veículos de comunicação ficarão encarregados de classificar sua própria programação e somente depois de sua exibição é que caberá questionamento. Ao contrário da censura, esse será sempre um processo a posteriori e qualquer sanção ficará a cargo da justiça e jamais do Poder Executivo.

Obviamente, com um tal nível de desinformação, não se comenta que o grande receio das emissoras privadas é ter que “atrasar” a sua grade de programação no Acre para compatibilizá-la com o fuso horário local. Essa medida (já adotada nos Estados Unidos) implicará em custos para as emissoras. A questão central para as TVs privadas, portanto, não é a liberdade de criação artística, mas o tamanho dos gastos que terão que fazer para cumprir a lei.

Sem mostrar tudo isso, os jornais se contentam em entrevistar artistas e diretores famosos (a maior parte composta por empregados da TV Globo) que afirmam que a classificação etária seria censura. Segundo essa posição, o Estado não teria o direito de cobrar que um concessionário de serviço público tenha preocupação com a formação de nossa infância e adolescência. Por essa versão dos fatos, alterar a exibição de um programa de televisão, baseado na quantidade de cenas de sexo e violência (sem impedir a sua exibição em outro horário), seria censura.

Mesmo discordando desse ponto de vista, cabe-nos respeitá-lo. O que é inaceitável, porém, é que os grandes grupos de mídia tenham se negado a fazer o debate público e que agora recorram a uma cobertura tendenciosa. E que os artistas famosos que criticam a atitude do governo não usem seu prestígio para igualmente criticar a censura que já existe nos meios de comunicação privados (tanto no jornalismo quanto na dramaturgia). Onde estavam quando a Globo escondeu das telas os comícios das Diretas Já ou quando, mais recentemente, a Vênus Prateada determinou que o casal de lésbicas da novela “Torre de Babel” morresse numa explosão?

O que pedimos aos críticos da classificação etária é tão somente um debate democrático nos meios de comunicação. Nada deveria ser mais factível para quem diz lutar contra a censura.

*Gustavo Gindre é um dos coordenadores do Núcleo de Pesquisa, Estudos e Formação da Rits [Nupef/Rits]; secretário executivo do INDECS e membro do Coletivo Intervozes.
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Inclusão digital na educação brasileira como forma de justiça social

A recente revolução provocada pela informática produziu ferramentas muito valiosas para a ampliação dos fluxos de informação e, com isso, para a universalização do conhecimento. De instrumento virtual, a Internet passou a ser instrumento concreto de acesso à Cultura. Apesar disto, a não universalização do acesso ao produto desta revolução ameaça com o surgimento de assimetrias de informação contrárias à Democracia, pois reprodutoras de exclusão em uma era informacional.

Se as inovações nos meios de transporte à época da Primeira Revolução Industrial produziram o encurtamento das distâncias, então, é imperativo que se reconheça na Informática o potencial para dilatação do tempo. Complexos cálculos matemáticos ao alcance de uma simples seqüência de botões. Assim, tem-se acesso, de forma rápida e a baixo custo, a conhecimento cujas principais características são a universalidade e generalidade. Isto porque pesquisar em meio virtual é dialogar em diferentes épocas, com uma infinidade de interlocutores, nas mais diversas línguas. Logo, é canal para conhecimento disponível igualmente a todos, dentro das mais variadas áreas de interesse.

Vive-se hoje em dia no que se convencionou chamar de era informacional. Neste meio, informação é um ativo de grande valia, movendo mercados e mobilizando consciências. Quem mais rapidamente concentra informações diminui seus custos de transação, isto é, ganha vantagem competitiva, evitando problemas causados pelas assimetrias de que nos falam economistas como Ronald Coase. Em sociedade como esta, apenas a democratização do acesso rápido a informação permite igualdade de condições para o desenvolvimento.

É tendo isto em vista que surge como uma ameaça à Democracia a desigualdade percebida no país entre os homens no que se refere ao acesso a estas novas ferramentas que buscam ampliar os fluxos comunicativos. Ao mesmo tempo em que a possibilidade de acesso a esta informação apresenta potencial emancipatório, a exclusão desta possibilidade mostra-se como forma de dominação. Nos dizeres de Christiano German, professor de Ciência Política na Universidade de Eichstätt, na Alemanha, a clássica divisão entre detentores de capital e trabalhadores, deu lugar a uma nova divisão social entre ricos em informação e pobres em informação. Neste sentido, o tema da inclusão digital apresenta-se como notável questão de inclusão social.

Ademais, a valorização da Educação como meio adequado para a cidadania em um contexto democrático é conseqüência da necessidade objetiva de um povo de dar a todos condições de desenvolverem suas potencialidades. Nesta perspectiva, não há lugar para a exclusão de alguns do poder distribuído pela revolução desencadeada pela Informática. Pelo contrário, é essencial que o acesso aos canais gerados seja universalizado, de forma a evitar o aumento da distância entre os socialmente inseridos e aqueles que vivem às margens da sociedade.

Desta feita, é inegável o fato de que a Informática trouxe inestimáveis possibilidades de aumento dos fluxos de informação, permitindo a redução dos custos de transação e maximizando as possibilidades de conhecimento da humanidade. Por outro lado, não se pode perder de vista a necessidade de se universalizar o acesso a estes novos mecanismos, donde se destaca a Internet, como maneira de assegurar entre os homens a igualdade de condições necessária ao exercício da Democracia. Não é possível haver hoje no Brasil, portanto, inclusão social por meio da Educação, quando desligada da idéia de inclusão digital.

* Luis Felipe Vidal Arellano é acadêmico do curso de Direito na Universidade de São Paulo – FDUSP, vencedor do Prêmio Interactus de Jornalismo no ano de 2004, com publicações em revistas e outros periódicos.

A responsabilidade dos donos da grande mídia

Na trágica situação que vivemos em relação às questões de segurança pública, sobretudo da violência urbana, o envolvimento cada vez maior de jovens de todas as classes sociais – tanto como vítimas quanto criminosos – é um dado da realidade que desafia a compreensão e a capacidade de resposta de famílias, autoridades públicas e estudiosos.

Notícias recentes dão conta de que até um jovem e conhecido ator de novelas teria participado, com outros jovens, em ato de violência no Rio de Janeiro. Esse é mais um motivo de renovadas preocupações. Somos um país de forte tradição folhetinesca, onde a ficção das novelas e a realidade concreta muitas vezes se confundem nas telas da TV. Além disso, os atores estão em uma condição privilegiada de visibilidade e, mesmo involuntariamente, se transformam em modelos de comportamento, balizadores de tendências da moda, orientadores de consumo (vide o uso de atores na publicidade) para milhões de adolescentes.

A violência é um problema complexo, de causas múltiplas, que não se resolve com a transposição pura e simples de modelos importados de outras sociedades. Além disso, envolve interesses poderosos do crime organizado, do tráfico de drogas e do comércio de armas – que, aliás, teve importante vitória em recente plebiscito no nosso país.

Ecos de um seqüestro

Neste cenário complexo e assustador, não basta à mídia dar ampla cobertura jornalística às tragédias cotidianas de violência. Como serviço público e instituição que ocupa uma inegável centralidade na estrutura das sociedades contemporâneas, é preciso que a mídia vá muito além.

É exatamente por isso que chama atenção a omissão dos donos da grande mídia e de muitos jornalistas em reconhecer que a mídia – a televisão, o cinema, os videogames – é, ela própria, parte do problema e também da solução, e não apenas uma instituição que "mostra" a escalada da violência e cobra providências das autoridades.

O embate ainda não resolvido entre concessionários do serviço público de radiodifusão e o Ministério da Justiça – em torno da Portaria 264, que regula a classificação indicativa dos programas de televisão – é um exemplo dessa omissão, ao mesmo tempo em que revela como, em algumas circunstâncias, o interesse comercial dos empresários – disfarçado de defesa da liberdade de imprensa – prevalece sobre o interesse público.

Há cerca de um ano, tratei dessa mesma questão neste Observatório ("A violência urbana e os donos da mídia"). Naquela ocasião, um jornalista havia sido seqüestrado por um grupo de criminosos que exigia a exibição de vídeo em rede de televisão.

Lembrei que, nos Estados Unidos, os National Television Violence Studies, financiados pela National Cable Television Association (NCTA) – equivalente à nossa ABTA – e realizados durante os anos 1990 por um pool de grandes universidades (Califórnia, Carolina do Norte, Texas e Wisconsin), confirmaram as hipóteses de correlação positiva entre exposição a conteúdo violento de programas de televisão e índices de violência. Esses estudos deram origem a uma série de recomendações sobre o conteúdo da programação para a indústria de entretenimento.

Contribuição efetiva

Os resultados de pesquisas realizadas em outros países – e algumas aqui mesmo, no Brasil – sobre as relações entre comportamento violento e programação de TV não são novidade para os executivos dos principais grupos de mídia. Dessa forma, a questão fundamental que permanece e que precisa ser respondida é: será que a programação comercial de entretenimento das concessionárias privadas de televisão no Brasil – e seus horários de exibição – não teriam alguma relação e/ou influência sobre a agressividade criminosa que vitima nossos jovens? É oportuno, portanto, que se renove a proposta que fiz, aqui mesmo no OI, há um ano, e que, claro, não mereceu qualquer reação ou resposta: a exemplo de seus pares em outras partes do mundo, os grandes grupos de mídia privada no Brasil deveriam destinar parte de seus lucros para a pesquisa das causas da violência entre nós. Parcerias neste sentido poderiam ser feitas com universidades públicas e/ou privadas.

Os resultados forneceriam diretrizes às autoridades públicas, aos próprios donos da mídia e aos jornalistas para a identificação de iniciativas que podem e devem ser tomadas para contribuir de forma efetiva para a solução dos problemas de segurança pública que interessam a toda a sociedade.

Essas iniciativas não se reduziriam apenas à cobertura jornalística do violento cotidiano de nossas cidades. Há, certamente, muito mais que pode e deve ser feito.

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O manual de guerrilha do “Globo”

Dia de domingo, vendagem ampliada, o "Globo" estampa no coração da primeira página ilustrações toscas de táticas de combate, acompanhadas da manchete: "Alemão usa manual de guerrilha feito por militar". Na manhã do dia seguinte, ontem, o secretário de Segurança Pública anunciou que o "manual" apreendido pela polícia comprovava a necessidade das investidas policiais contra o Complexo do Alemão.

Taí, não deixa de ser uma metáfora curiosa. Justifica-se a matança promovida pela polícia a partir de rabiscos rudimentares, que lembram o traçado de uma criança. Uma explicação infantil. Assim como infantil é esse joguinho feito entre Globo e governo do Estado, justo no momento em que os laudos comprovam que pessoas foram torturadas e executadas a sangue frio, inclusive com tiros pelas costas, no dia 27 de junho. Interessante…

Isso prova que os moradores, em quem o "Globo" nunca acredita, estavam falando a verdade. E a polícia estava mentindo. E o governo do Estado e seus burocratas estavam mentindo. Mas o "Globo" deu 95% do espaço para sustentar essas mentiras, nos dias seguintes à matança. E os outros 5% eram coisas do tipo: "moradores afirmam que teriam…", assim, sempre no futuro do pretérito, que é o jeito do jornal publicar uma informação em que não acredita ou que deseja desqualificar. Mas de repente os laudos com provas gravíssimas saem de cena e entra esse "manual de guerrilha".

Para completar o serviço, o "Globo" publica mais uma chamada na primeira página, onde se anuncia com espanto: "O manual 'ensina até como monitorar as frequencias de rádio da polícia'". Ora, ora, quanta hipocrisia… Qualquer foca sabe que os jornalões monitoram a freqüência da polícia. A ordem é ter sempre alguém na "escuta" e quando ouvir um "triplo uno", que significa homicídio, telefonar para a polícia, mentir dizendo que alguém ligou fazendo a denúncia, e pegar mais informações. Então que grande escândalo é esse? Vamos brincar de sensacionalismo também: "Jornalões monitoram freqüência da polícia". Aí na seqüência alguém telefone para a polícia federal, anuncia o "furo" e pergunta: "Ei, vocês não vão fazer nada?" Que tal?

No jornal de hoje, o tal manual de guerrilha continua rendendo. Manual, aliás, que a polícia já conhecia há dois anos. Mas de repente virou novidade pro "Globo". Hoje a chamada de capa, assustadíssima, avisa que o "chefe" do tráfico tem mais seguranças (38) que o presidente da República e quase o mesmo número de agentes (40) que protegem o maior tirano da história, George Bush.

Até quando o "Globo" vai usar esse manual? Até a polícia promover um novo massacre na favela, matando e ferindo pessoas que não tem nada a ver com o tráfico varejista? Se você aí quiser telefonar para o "Globo" para comunicar seu descontentamento com essa incitação ao crime, o telefone é (21) 2534-5000. Deixe um recado para Rodolfo Fernandes, o editor-chefe.

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Os poderes ocultos na “democracia” brasileira

Os poderes econômicos e midiático são irmãos gêmeos que, de braços dados, numa sociedade neoliberal, seqüestraram, em grande parte, os poderes executivo, legislativo e judiciário. A teoria da separação dos poderes executivo, legislativo e judiciário nasce com o Estado constitucional moderno como fundamento de uma sociedade onde o poder do Estado seja limitado, impedindo que o absolutismo anule a liberdade e mantenha privilégios hereditários insustentáveis em uma sociedade que busca a igualdade. Os três poderes autônomos foram um avanço em relação ao absolutismo de Luiz XIV e seus descendentes.

Há mais de duzentos anos que todo Estado que pretende ser democrático deve partir da separação de poderes como meio de evitar abusos, insegurança e injustiça. É claro que este mecanismo não basta para a realização da justiça como busca de dignidade expressa nas condições de vida com oportunidade real para todas as pessoas desenvolverem seu potencial, condição primeira da liberdade.

Não há liberdade efetiva na miséria e exclusão. Direitos sociais e econômicos como saúde, educação, moradia, trabalho digno com salário justo que permita a repartição de riquezas, reforma agrária, são condições de exercício da liberdade e efetividade de uma democracia participativa que dê voz a todos a partir dos últimos, de forma que cada pessoa possa ajudar a construir um conceito coletivo de justo, legal, normal e ético.

Entretanto, passados muitos anos, percebemos que novos poderes, não constitucionais e não democráticos, desafiaram a estrutura jurídica constitucional criada. Fora da estrutura de poder prevista na Constituição se desenvolveram poderes não constitucionais, não legais, fruto da opção por um sistema essencialmente injusto, pois fundado no egoísmo, no individualismo e na competição: o capitalismo.

Com o tempo, no decorrer do século XX, o poder econômico tornou-se mais forte que o Estado. O dinheiro passou a financiar campanhas eleitorais e com isto passou a dominar o poder legislativo encarregado de fazer as leis. Logo as leis, em vez de representarem os interesses do povo passaram a representar os interesses dos detentores do capital, do dinheiro. O dinheiro também passou a financiar as campanhas dos chefes do poder executivo e com isto os prefeitos, governadores e presidentes passaram a representar os interesses daqueles que financiavam as suas campanhas e não o interesse de todos. Os grandes do poder judiciário passaram a ganhar tanto que se encastelaram na classe dominante economicamente. O poder econômico tornou-se o grande poder em um Estado que pretendia ser democrático. O que deveria ser de todos passou a ser de poucos numericamente, mas poderosos financeiramente.

Finalmente, o poder econômico, com seu farto dinheiro, dominou a mídia no momento em que não bastava produzir mercadorias para vender, mas precisava antes induzir novos consumidores. Os jornais, as rádios e as televisões passaram a pertencer a cada vez menos pessoas. Estas pessoas, proprietárias destes meios de comunicação começaram a nos mostrar apenas o que interessava a eles. O povão pode ver apenas as imagens que eles querem que sejam vistas; os pobres podem saber dos fatos apenas na interpretação deles. Os pobres quase não têm opções. Tem que assistir a novelas envenenadas pela propaganda intermitente. Tem que assistir aos filmes que eles determinam. Ouvir quem eles convidam para as entrevistas. Entretanto a mentira tem limite e um dia o povo dirá chega: não há liberdade e justiça em uma sociedade fundada na propriedade privada, no egoísmo, no dinheiro, no lucro, na exploração, no individualismo e na competição.

Dois poderes ilegítimos hoje dominam os três poderes constitucionais. Para construirmos a sociedade justa, solidária, igualitária, livre e sustentável ecologicamente que sonhamos isto não pode continuar. O povo organizado está lutando por democracia econômica e por “reforma agrária no ar”.

O poder econômico não apenas lucra (eufemismo de roubo) na especulação financeira, mas faz campanhas publicitárias ensurdecedoras para encarcerar grande parte da população em dívidas comerciais. Outro dia, uma revendedora de automóveis trombeteava aos quatro ventos: “saia de carro novo por apenas R$15,90 por dia.” Daqui a pouco, dirão: “leve um carro novo por apenas 0,80 centavos por hora.” Mas não dizem por quantos anos a pessoa ficará refém desta e de tantas outras compras que, muitas vezes, são necessidades artificiais criadas pelo império do consumo, denunciado por Eduardo Galeano.

Há setores econômicos que roubam muito em cima da miséria e da violência. Parece haver uma aliança macabra entre bandidos e grandes empresários do setor de segurança. Por exemplo, às 18 horas, queimam um ônibus coletivo em São Paulo; às 20 horas, quem incendiou o ônibus está sentado na poltrona diante do Jornal Nacional da TV Lobo, pois sabe que aquela cena será transmitida para todo o Brasil. O telespectador, ao ver uma cena de violência na TV (ou em Jornais e revistas), recebe em si, como que por injeção na veia, o medo. Dissemina-se o medo. Resultado: quem pode se tranca em condomínios fechados, cerca elétrica, segurança particular. As empresas do setor de segurança explodem champagne. Logo, uma mídia que oferece para a sociedade como cardápio diário violência, economicismo e baixaria está a serviço da classe enriquecida e agride covardemente a maioria da população.

Há, no Brasil 80 TVs Comunitárias a cabo. Por que não podem ser canais abertos? Por que há perseguição cruel às Rádios Comunitárias?

Não basta eleger representantes dos poderes executivo e legislativo. Urge partilhar os poderes econômico e midiático. Isso só se faz com respeito à Constituição. Não somos obrigados a cumprir leis inconstitucionais, pois as leis inconstitucionais são injustas. Esse tipo de resistência acorda consciências anestesiadas que são cúmplices de sistemas opressivos. Urge boicotar leis inconstitucionais como forma contemporânea legítima do exercício do direito constitucional à resistência contra a opressão, a injustiça e a exclusão. No passado ocorreu o boicote do sal e do tecido inglês na Índia, o dos ônibus segregacionistas no Sul dos Estados Unidos e tantos outros movimentos de resistência, na forma de desobediência civil, em todo o mundo, trazendo conquistas fundamentais para a humanidade.

Sigamos sob inspiração das parteiras do Egito que, ao fazerem greve e “desobediência civil”, além de lançar as bases para a nova Constituição do povo hebreu – o Decálogo – que tem a defesa da vida como coluna mestra, tornou possível o nascimento de Moisés e de tantos que lutaram pela libertação dos pobres das garras do império dos faraós.  Move-nos a energia revolucionária de Jesus Cristo, de Gandhi, de Luther King, dos Sem Terra que arrebentam as cercas dos latifúndios e do sistema educacional.

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