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Como anda o direito autoral na era digital

O direito autoral passa por significativas transformações, desencadeadas, principalmente, pelo advento da tecnologia digital e das redes de informação, que afetam o seu ponto crítico: o conflito entre o interesse individual do autor pela proteção da sua obra e o interesse público de livre acesso.

O desenvolvimento da Internet e da tecnologia digital possibilitou um importante avanço no processo de criação de obras intelectuais. Com base em um modelo em que o usuário se comunica diretamente com outro usuário sem um controle central, a Internet permite um maior aproveitamento de obras previamente criadas, que podem ou não estar em domínio público.

Considerando as particularidades da tecnologia digital, não podemos pensar na aplicação dos tradicionais conceitos do direito de autor sem uma adaptação à nova realidade. Também seria inadmissível ao jurista discutir qualquer forma de proteção autoral na tecnologia digital sem levar em conta as questões filosóficas, sociológicas e econômicas a respeito do tema e os novos conceitos de criação em arte digital.

O direito autoral surgiu como um privilégio inicialmente concedido aos editores para garantir um monopólio na comercialização de obras literárias. O aparecimento da imprensa foi fundamental para a construção do conceito de direito às criações literárias e artísticas. Com a Revolução Francesa, o privilégio anteriormente concedido ao editor passa a ser de titularidade do criador da obra. Em outras palavras, o autor é erigido à condição de cidadão e, em virtude disso, tem os seus direitos reconhecidos por lei. Tais direitos têm como pressuposto a necessidade de identificação do autor em sua obra intelectual, que passa a ser considerada uma extensão de sua personalidade. A preocupação com a proteção internacional desses direitos resultou na assinatura da Convenção de Berna de 1886 e em diversos tratados internacionais sobre a matéria no transcorrer do século XX.

A questão que se coloca hoje ao direito autoral diz respeito aos novos valores inerentes ao processo criativo de obras intelectuais em tecnologias digitais e a necessidade, cada vez maior, de se garantir o direito de livre acesso, como forma de estimular a criação de novas obras.

O direito autoral ainda não encontrou o justo balanceamento entre o interesse do indivíduo criador da obra e o do público que deseja fruí-la ou utilizá-la na composição de outras obras. É preciso, pois, trazer a questão da função social do direito de autor ao debate. A abordagem do direito de autor pelo exame de sua função social deve ser entendida como uma contribuição para que o seu exercício abusivo seja coibido e para que seja reafirmada a sua função de mecanismo voltado para o desenvolvimento cultural e tecnológico dos povos e não como um fim em si mesmo.

Alguns exageros na proteção do autor em detrimento do interesse público podem ser observados na Lei de Direitos Autorais brasileira. Um bom exemplo está na proibição da cópia integral de uma obra, ainda que para uso privado, sem finalidade lucrativa, que em outros países, é permitida. No Brasil, tal situação, aliada aos problemas educacionais e ao alto preço dos livros, dificulta ainda mais o acesso ao conhecimento, principalmente por parte das classes menos favorecidas da população.

É importante lembrar que nem sempre o aumento da proteção autoral à obra intelectual e da restrição ao seu uso livre representam um benefício ao indivíduo criador da obra. Muitas vezes, a defesa de uma maior proteção e restrição de acesso é uma bandeira da própria indústria de bens culturais em defesa de seus interesses. É certo que o Brasil é um dos países com maiores índices de pirataria e que a mesma deve ser coibida. Mas também é certo que as políticas públicas deveriam repensar as formas de se regulamentar as limitações ao direito autoral, visando ao interesse social pela livre utilização de obras, em determinadas circunstâncias, e à inclusão digital como uma das formas de defesa da cidadania.

A sociedade tem interesse na manutenção de um mecanismo de estímulo ao autor para que continue criando e para que lhe seja reconhecido o direito a uma remuneração pelas suas criações. Porém, não se pode admitir que o direito autoral passe a funcionar, não mais como um mecanismo de estímulo, mas como um entrave às novas formas de criação e de utilização de obras possibilitadas pela tecnologia digital, bem como uma barreira ao livre acesso, quando justificado socialmente.

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Pauta seletiva: imprensa ignora diversidade ideológica

A imprensa ignorou a organização do movimento de entidades sindicais, partidos de esquerda e movimentos sociais pela reestatização da Companhia Vale do Rio Doce. Com exceção de dois artigos na Folha de S.Paulo e de uma referência do Globo a uma declaração do presidente Lula da Silva em entrevista coletiva para emissoras de rádio – quando disse que o tema não é parte de suas preocupações –, o assunto praticamente não existiu para a mídia até o final da semana, quando as revistas de informação e os jornais noticiaram as manifestações que ocorreram por todo o país.

O movimento partiu da ala chamada "progressista" da igreja católica, que escolheu a privatização da Vale, ocorrida em 1997, como tema do "Grito dos Excluídos" deste ano. O plebiscito, apenas consultivo, foi preparado para acontecer em cerca de 3 mil comunidades entre os dias 1º e 7 de setembro. A organização e os debates aconteceram longe dos olhos da mídia, com exceção de uma ou outra manifestação, como algumas denúncias de violência contra manifestantes.

Interesse público

À parte os méritos da demanda que vicejou na asa esquerda da nossa nave ideológica, a indiferença da mídia é mais um sintoma de que ela julga superadas as questões relacionadas ao papel do Estado na economia. Como se considerasse tabu tratar de mudanças no sistema econômico – no sentido que dão à palavra "tabu" certas sociedades primitivas, nas quais se crê que o próprio enunciado de uma expressão faz com que ela adquira corpo físico e se torne real.

Tabus e dogmas constituem o universo da fé e são também características de certo primitivismo, que tanto pode marcar aqueles que não alcançaram o estágio cultural além da visão mitológica do mundo, como os que, considerando superados os conflitos ideológicos, aceitam como real o fim da História. Diante de temas que ameaçam recolocar na mesa o debate sobre a natureza do sistema econômico e sua relação com o Estado, a imprensa costuma se comportar como o mulá para quem a história começa e termina no ano 600.

Considere-se o aspecto revisionista do movimento pela reestatização da Vale do Rio Doce. Questione-se, mesmo, sua representatividade e a constitucionalidade da demanda que os militantes apresentam. Ainda assim, a questão colocada, e que merecia ser levada à opinião pública, trata do tipo de nação que pretendemos construir e que está se consolidando, com ou sem uma estratégia concertada com a sociedade, no atual processo de estabilidade com crescimento econômico.

Também se coloca aos observadores a possibilidade de analisar a capacidade da chamada esquerda de se recompor após a política de alianças heterodoxas do PT no poder e das lambanças de alguns de seus dirigentes com as finanças de campanha.

Sejam os militantes um bando de visionários sem qualquer noção de realidade, sejam eles um fator a ser ponderado no espectro de escolhas que o país deve considerar, não cabe à imprensa amputar as possibilidades do debate. Pelo menos sob o conceito de uma imprensa de interesse público, o ideal é que seus operadores se abstenham de limitar o rol de assuntos que a sociedade pode ou não considerar.

Atitude de equilíbrio

A Vale do Rio Doce não voltará a se incorporar ao patrimônio do Estado pelo fato de militantes do Movimento dos Sem-Terra acamparem na Esplanada dos Ministérios. O presidente da República declarou claramente que o assunto "não está nem estará" sobre sua mesa. Mas a questão do tamanho do Estado está sempre na pauta da imprensa por outro viés: sempre que o governo anuncia investimentos em programas sociais, a mídia, em peso, prioriza a opinião dos porta-vozes dessa nebulosa a que se convencionou chamar liberalismo.

Na semana passada, quando o Executivo incorporou ao projeto de orçamento para 2008 a possibilidade de contratar alguns milhares de servidores federais, em parte para substituir funcionários terceirizados que ocupam cargos estratégicos, a grita foi geral.

Pelo fato de haver nascido no sindicalismo, o Partido dos Trabalhadores tende claramente a se fechar em ambientes corporativos. Sabe-se que a diversidade na composição do primeiro governo Lula da Silva deveu-se exclusivamente à vontade do próprio presidente, que foi buscar fora do partido um ou dois ministros e outros auxiliares cuja ação se revelou essencial para os resultados econômicos e sociais que o Brasil vem alcançando. A vigilância da imprensa tem sido importante para evitar que o governo seja uma réplica dos estatutos do PT, que, com toda sua variedade de tendências, continua sendo predominantemente um partido de sindicalistas.

Mas a imprensa só se manterá relevante nesse papel se adotar uma atitude de equilíbrio, abrindo-se para debates mais abrangentes e sem temer que a exposição ao contraditório venha a favorecer opiniões com as quais não concorda. Até agora, por exemplo, os leitores não sabem como o governo pretende usar os recursos previstos para os gastos com pessoal.

Espaço de expressão

Pode ser que Lula esteja querendo aumentar o tamanho do Estado para reforçar suas bases eleitorais para 2010. Mas pode ser que o Estado necessite mesmo de mais músculos para administrar e operar seu ambicioso plano de crescimento, que em grande parte ainda está no papel.

Se a imprensa não admitir o debate mais amplo sobre temas que são propostos por organizações que não se alinham aos preceitos do chamado liberalismo, acabará se alienando de uma parte da realidade brasileira.

Queira ou não queira a mídia, também existe inteligência na faixa esquerda do espectro ideológico. A realidade brasileira é feita dessa diversidade e é preciso dar espaço para que ela se expresse.

Active Image Observatório da Imprensa.

Taxas de telecom vão, de novo, engordar os cofres da União

A proposta orçamentária de 2008 enviada pelo Poder Executivo ao Congresso Nacional reproduz prática de todos os anos, redirecionando a maioria dos recursos recolhidos dos usuários dos serviços de telecomunicações, que deveriam reverter para o próprio serviço, para os cofres da União.

O governo estima arrecadar com a taxa do Fistel (Fundo de Fiscalização dos Serviços de Telecomunicações), no próximo ano, R$ 2,324 bilhões. Essa taxa é cobrada de cada telefone celular que passa a funcionar no país, das centrais telefônicas das linhas fixas e de todos os serviços que precisam de licença da Anatel.

Ela foi criada para bancar a fiscalização e o poder de polícia do Estado sobre as prestadoras de serviço mas, há muito tempo, devido ao avanço das telecomunicações, são recolhidos muito mais recursos do que as possíveis necessidades de gastos. Desta montanha de dinheiro que será arrecadada por esse fundo, o governo pretende “contingenciar” (termo técnico usado para dar outra finalidade às rubricas orçamentárias) quase que a sua totalidade: R$ 1,912 bilhão.

Outros dois fundos criados para estimular o desenvolvimento das telecomunicações também estão na mesma condição. O Fust (Fundo de Universalização das Telecomunicações), formado pela contribuição de 1% do faturamento das operadoras de telecomunicações, e criado para bancar projetos de ampliação dos serviços para comunidades que não têm renda para pagar a conta de telefone ou para levar os serviços para regiões sem qualquer atrativo de mercado, também será, pela proposta do Executivo, quase que integralmente “contigenciado”. Estima-se que o Fust recolha em 2008 R$ 644 milhões, mas apenas R$ 9 milhões estão destinados para a universalização.

O ministro das Comunicações, Hélio Costa, anunciou recentemente que pretende usar pelo menos R$ 285 milhões desses recursos para levar orelhões às mais de oito mil localidades brasileiras com menos de 100 habitantes que não foram atendidas pelas metas de universalização das concessionárias de telefonia fixa. Para  executar essa proposta, Costa terá que fazer um grande malabarismo durante a votação do orçamento pelo Congresso Nacional e tentar “descontingenciar” essa verba.

Outro fundo que também será sangrado pela tesoura do governo é o Funttel (Fundo para o Desenvolvimento Tecnológico das Telecomunicações), cuja previsão de arrecadação é de R$ 270,7 milhões, mas apenas R$ 48 milhões poderão ser usados para financiar projetos de pesquisa. O restante ficará “contingenciado”.

Pão e água

Enquanto isso, a Anatel, responsável pela arrecadação dessas taxas, viverá mais um ano a pão e água. Com a previsão orçamentária de R$ 411,1 milhões, depois de descontadas as despesas com pessoal, a agência contará com apenas R$ 238,4 milhões para aplicar nas atividades de fiscalização e regulação, recursos bem inferiores às necessidades da sociedade, ou  à multiplicidade de questões que precisam ser resolvidas.

Mesmo reconhecendo que em um país como o nosso, com tantos desafios a serem ultrapassados, dificilmente os governos abririam mão dessa verba de tão fácil recolhimento, não é justificável o desvirtuamento no uso desse dinheiro. Realisticamente, porém, defendo que se construa uma proposta para a sua paulatina aplicação no desenvolvimento do setor.  

Como ponto de partida, poder-se-ia, pelo menos, planejar, para os  futuros serviços-  como a universalização da banda larga, fixa ou móvel – a desoneração das taxas do  Fistel ou a aplicação direta pelas empresas dos recursos que seriam recolhidos ao Fust. Não custa lembrar que políticas públicas só se tornam prioritárias se vierem explicitadas em rubricas orçamentárias.

Active Image TeleSíntese.

Inclusão digital posta em risco por decisão da Anatel – 2

Na coluna anterior [disponível clicando aqui], eu escrevi sobre os problemas da Consulta Pública 809, da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel). De lá para cá, conseguimos convocar a agência para se explicar aos membros do Comitê Gestor da Internet (CGIbr), do qual faço parte.

O representante da Anatel, Maximiliano Salvadori, em conjunto com o conselheiro Plínio Aguiar (que faz parte do CGIbr), explicou que a tal consulta pública tinha um objetivo diferente e que não visava onerar as redes comunitárias e, especialmente, aquelas que se utilizam da tecnologia sem fio mesh (conjunto de roteadores interligados). Mas, o representante da Anatel também reconheceu que é necessário mudar o texto da proposta da Anatel, a fim de evitar qualquer risco de uma interpretação que terminasse onerando as redes sem fio. Agora, vamos acompanhar como ficará o texto final.

Na conversa com o representante da Anatel, nós solicitamos que, no futuro, a agência procure conversar com todos os agentes interessados (e não apenas com as grandes empresas do setor) antes de tomar qualquer medida. Assim, evita-se que tenhamos que brigar depois do prejuízo já realizado.

Licenças

Segundo a apresentação da Anatel, as redes sem fio localizadas em cidades com menos de 500 mil habitantes, e que visem interligar mais de um imóvel, terão que obter apenas uma única licença (portanto, pagar R$ 1.340,00), referente ao ponto de interconexão dessa rede com a Internet, independente da potência utilizada.

Nas cidades com mais de 500 mil habitantes, as redes sem fio terão que pagar uma licença (do ponto de interconexão) e mais uma licença para cada ponto cuja potência ultrapassar 400mW. Vale lembrar que os roteadores vendidos no mercado têm em torno de 150mW. Portanto, usando os roteadores padrão, não haveria necessidade de pagar nada além do ponto de interconexão.

Outorgas

Por sua vez, estas redes precisam de outorgas para funcionar. Caso a rede seja para uso próprio, basta adquirir uma outorga para o Serviço Limitado Privado (SLP), que custa cerca de R$ 300,00. Segundo entendimento recente do conselho da Anatel, se uma prefeitura disponibilizar gratuitamente uma rede para seus munícipes, ela ainda será entendida como sendo “para uso próprio” e, portanto, cabe a outorga de SLP.

Caso a rede seja para uso de terceiros (por exemplo, um serviço comercial), é necessário adquirir uma outorga do Serviço de Comunicação Multimídia (SCM), que custa R$ 9 mil.

Ainda não está claro, contudo, onde encaixar uma rede feita por associações comunitárias e/ou ONGs, que seja sem fins lucrativos e que vise atender a terceiros (no caso, a comunidade). Caberá a  outorga da SLP ou a de SCM?

Discriminação positiva

A Lei Geral de Telecomunicações (LGT) foi criada em um ambiente neo-liberal e de privatização do Sistema Telebrás. Portanto, ela acabou deixando pouco espaço para que o Estado (e também a sociedade civil organizada) possa atuar nos serviços de telecomunicações. Um dos princípios da LGT é a isonomia de todos os agentes econômicos. Na prática, contudo, isso representa tratar da mesma forma uma rede de uma grande operadora trasnacional (como a Telefonica de España e a Telmex, por exemplo) e uma rede comunitária. Existe pouco espaço para “discriminações positivas”, como isenções de taxas e reserva de espectro para redes comunitárias. Caberia ao governo analisar como este cenário pode ser mudado e que tipo de instrumento deve ser utilizado, se um Decreto Presidencial ou projeto de lei. Infelizmente, passados quase cinco anos, este governo ainda não conseguiu produzir uma política de inclusão digital que vá além das iniciativas isoladas.

Espectro

Uma outra questão que surgiu na conversa com a Anatel, mas que não era objeto específico da tal Consulta Pública 809, é a racionalização do espectro eletromagnético.

No Brasil, ao contrário de vários outros países, um das melhores partes do espectro para que se faça redes sem fio (2400 – 2483,5 Mhz) está reservada em caráter primário para o Serviço Auxiliar de Radiodifusão, usado, por exemplo, para o link entre uma estação externa e sua respectiva emissora de televisão. Isso significa que a Anatel deve zelar para que nenhuma rede sem fio possa interferir no Serviço Auxiliar de Radiodifusão. Ou seja, as redes sem fio (em casos onde haja essa interferência) terminam perdendo um espaço valioso do espectro.

Como em outros países, o ideal seria retirar o Serviço Auxiliar de Radiodifusão desta parte do espectro. Mas, quem deseja brigar com os radiodifusores?

Essa situação remete para a necessidade que o Brasil tem de adotar novas modalidades de gestão do espectro, que estejam de acordo com o processo de digitalização. Precisamos avançar para além da gestão analógica do espectro, essencialmente a mesma desde os tempos de Marconi.

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A Abong e a luta pela democracia nas concessões de rádio e TV

A Associação Brasileira de Organizações Não Governamentais – ABONG nasceu com o compromisso de lutar pela democratização da sociedade e pela promoção e garantia dos direitos humanos e isso implica numa questão essencial  que é o direito á informação, à comunicação. Mesmo num mundo globalizado sob a lógica do mercado, a comunicação deve ser garantida para todos e todas. E quando se luta para ter uma sociedade justa e igualitária que respeite a dignidade das pessoas, promovendo as condições de acesso aos direitos básicos como educação, saúde, moradia, trabalho, participação, torna-se imprescindível a construção de uma nova cultura política, uma cultura de direitos, o que pressupõe o direito à comunicação.

Como diz Bernardo Toro, educador colombiano, uma das sete aprendizagens básicas do ser humano, para garantir a democracia e a participação cidadã na sociedade é a leitura crítica dos meios de comunicação. Entretanto, a privatização desses meios de comunicação em nossa sociedade, centralizado nas mãos de grandes grupos familiares, dificulta essa criticidade, pois os  conteúdos veiculados não conseguem representar o país em suas diversidades regionais, raciais, étnicas, de gênero, geracionais, de orientação sexual, classe etc, além de fomentar nos seus programas, a violência, a deteriorização dos valores, a cultura do jeitinho, do importante é se dar bem, ser esperto, ou quando querem eliminar alguma voz que desvela essa nebulosidade da relação público-privado para obtenção das concessões, dão aos noticiários uma pseudo aparência de neutralidade e compromisso com a verdade.

É fundamental que a sociedade civil organizada crie alternativas de enfrentamento  e de controle social sobre as formas de concessões públicas.

O que levou a essa situação? Foi exatamente a ausência de uma fiscalização mais firme e coerente por parte do Estado – especialmente os de radiodifusão, que são bens públicos – quanto por grande parte da sociedade, informada por estes próprios meios dominantes, comerciais e privados, que impedem o desenvolvimento de uma cultura de controle dos meios de comunicação, As concessões públicas para esses meios é uma verdadeira caixa preta.

Para a Abong, é fundamental travar uma luta pela visibilidade de conteúdos, idéias e vozes na cena pública, utilizando seus veículos, estratégias de mídia e mobilizações, para conseguir pautar a grande mídia, sem deixar as vias das mídias alternativas, comunitárias e veículos independentes, fortalecendo organizações que atuam no campo das comunicações para construir uma força contra-hegemônica neste setor, a exemplo das rádios comunitárias

Por isso mobiliza suas associadas para:

– Fortalecerem a luta pelo Direito à Comunicação, através da participação no debate em torno da proposta de um sistema público de comunicação para o Brasil, que abranja os sistemas privado e estatal, para que sejam efetivamente públicos, com  conselhos de comunicação (para gestão e conteúdo de mídias locais), centrais públicas de mídia, uma política real de inclusão digital, financiamento e incentivo à produção áudio-visual local e independente.

–  Mobilizarem outros sujeitos coletivos para participarem ativamente na definição do marco regulatório – por conta do decreto da TV Digital e por uma série de outras questões – o que será um campo de disputa sobre a Lei Geral da Comunicação Social Eletrônica;Promoverem ações populares, audiências públicas e outras formas de mobilização social para o controle público de concessões que são bens públicos e renováveis;

– Participarem no debate da Reforma Política, da democratização da comunicação, um dos eixos centrais da Plataforma apresentada por um conjunto de Redes, Associações e Movimentos Sociais do país.

* Aldalice Otterloo integrante da direção executiva colegiada da Abong e coordenadora geral do Instituto Universidade Popular (Unipop).