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Cartilha sobre Canal da Cidadania é lançada em audiência no Senado

A cartilha “Canal da Cidadania: orientações técnicas para prefeituras e associações comunitárias obterem seu canal de TV digital” foi lançada durante audiência pública realizada no Senado, no dia 18 de novembro (segunda). A publicação foi editada pela liderança do PT e tem por objetivo “estimular e orientar prefeituras e associações comunitárias municipais para aproveitar a oportunidade única” de se abrir um canal municipal digital que transmite quatro faixas de programação. De mais de 5 mil municípios, apenas 145 fizeram o pedido até agora.

O evento aconteceu na Comissão de Direitos Humanos (CDH) do Senado e foi presidido pela senadora Ana Rita (PT-ES). O debate que marcou o lançamento da cartilha destacou os problemas de financiamento das emissoras comunitárias, com especial atenção para a proibição de se veicular publicidade comercial.

O secretário-geral da Associação Brasileira de Canais Comunitários (ABCCOM), Moises Correa afirmou que “vivemos no capitalismo, por mais que muitos queiram outros sistemas. Temos que ter mecanismos de financiamento”. Já o presidente da Empresa Brasil de Comunicação, Nelson Breve, se contrapôs a idéia: “se não diferenciarmos uma coisa da outra, vamos continuar aplicando o mesmo modelo de negócios em duas coisas diferentes. Acho que isso está errado. Temos que tomar muito cuidado com a publicidade comercial”.

Breve lembrou ainda as dificuldades de se superar os entraves para se ter acesso aos fundos públicos. Segundo ele, a comunicação pública possui hoje R$ 1,4 bilhão depositado em juízo, mas impedidos de serem utilizados por conta da pressão das empresas de telecomunicação que questionam a legalidade da Contribuição para o Fomento da Radiodifusão Pública.

A cartilha pode ser acessada em: https://www12.senado.gov.br/noticias/Arquivos/2013/11/18/canal-da-cidadania

Entidades da sociedade civil questionam a migração das rádios AM para FM

A presidenta Dilma Rousseff assinou na última quinta (7) o decreto que possibilita a transferência de emissoras de rádio da banda AM para a FM. Apesar do clima de comemoração – o executivo escolheu o dia do radialista para a oficialização – as entidades que representam os trabalhadores de empresas de radiodifusão e também das rádios comunitárias mostraram descontentamento com a decisão, que, segundo eles, foi tomada sem o debate com todos os setores da sociedade e é nociva à democratização da comunicação.

O processo de transição é inicialmente opcional, mas o ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, informou que a pasta não dará mais outorgas para a banda AM, que será substituída aos poucos pela FM. O governo atende, ao publicar o decreto, à demanda oficial do setor empresarial, encaminhada pela Associação das Emissoras de Rádio e Televisão (Abert), sob o argumento do alto nível de interferência de ruídos nas transmissões AM.

As entidades da sociedade civil apontam que a diminuição da área de cobertura das rádios –  o alcance das rádios FM é muito inferior ao do rádio AM – deixará  áreas periféricas e rurais sem sem alternativas de comunicação e informação e, ainda mais, dificultará a implantação das rádios. Segundo o ministro,  as empresas terão que comprar transmissores novos, que custam de R$ 35 mil a R$ 50 mil.

"Não há espaço no dial FM para tanta rádio, mesmo que acabem com todas as atuais rádios FM. Não no atual rádio analógico, e mesmo porque, dessas rádios AM, as que não são mantidas por governos ou igrejas ou outros grupos confessionais, mal têm condições de se manterem no ar no AM, que dirá migar para o concorrido dial FM ou de ter repetidora no FM", diz a nota pública da Federação Interestadual dos Trabalhadores em Radiodifusão e Televisão (Fitert). Para eles, a melhor solução seria a garantia da digitalização de todos os sistemas existentes no país, inclusive o rádio AM.

Segundo o representante nacional da Associação Mundial de Rádios Comunitárias, Pedro Martins, a decisão do governo foi arbitrária, sem diálogo com outros setores da sociedade. "Setores da comunicação comunitária, da comunicação livre, das rádios livres, sequer foram chamados a conversar para ver como seria a integração para o setor de FM da radiodifusão", disse.

Ele lembra que há mais de um ano o segmento aguarda o retorno da proposta de alteação do decreto que garantiria a sustentabilidade das rádios comunitárias (Decreto 9615/98).  "Enquanto isso, o projeto de migração da faixa AM para FM, em menos de quatro meses, foi analisado e aprovado pelo governo", reclama. Martins chama a atenção para a morosidade da aprovação dos processos de outorga das emissoras comunitárias e destaca a constante criminalização dos radialistas. "No momento em que poderíamos agregar novas possibilidades, dar voz a novos setores, o governo chama só o setor empresarial", termina.

A Abraço Nacional, em notícia em seu site, afirma que os radialistas comunitários estão indignados com o descaso do Executivo. Para o coordenador da entidade, José Soter, o posicionamento atende apenas aos interesses mercadológicos, em detrimento das necessidades da democratização da democratização.

Sóter destaca que o Executivo não cumpre a obrigação consitucional da complementação e do acesso às concessões, previstos na Consituição Federal. "Existem dois pesos e duas medidas. Enquanto o governo se nega a encaminhar mais canais para atender as necessidades da espansão das rádios comunitárias, em apenas uma canetada fizeram esta migração. Priorizando as rádios comerciais, o governo ilustra o seu descaso com quem realmente necessita de comunicação". Segundo o coordenador, as entidades pedirão ainda uma audiência com o Executivo para tratar do assunto.

Segundo o governo, nos casos em que não for possível fazer a migração, por falta de espaço nas rádios FM, as rádios terão que aguardar a conversão da TV analógica para a digital. Os canais 5 e 6, que hoje ocupam a TV analógica, estarão disponíveis para receber as rádios. Cada um destes canais, na futura TV digital, terá espaço para 20 emissoras de rádio. De acordo com o MiniCom, hoje existem cerca de 3 mil emissoras de rádio, distribuídas aproximadamente em 50% para AM e FM.

Marco Civil da Internet volta à pauta da Câmara

Mesmo sem acordo sobre o texto, a proposta de marco civil da internet (PL 2126/11, do Executivo) é o principal item na pauta do Plenário da Câmara dos Deputados para terça-feira (19). Na última semana, o impasse sobre a chamada neutralidade da rede – regra que garante a igualdade de navegação a todos os usuários – inviabilizou a votação. Como tem urgência constitucional, o projeto tranca a pauta de votações.

O relator, deputado Alessandro Molon (PT-RJ), já sustentou algumas vezes que não abre mão da neutralidade. “Com os 10 mega pelos quais eu pago, eu quero poder fazer o que eu quiser: receber e enviar e-mail, usar para rede social, baixar música, assistir vídeo ou usar voz sobre IP, o Skype. Esse é o princípio da neutralidade da rede”, afirma.

O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, também garante que o governo defende a neutralidade. Já o líder do PMDB, deputado Eduardo Cunha (RJ), quer que a neutralidade seja obrigatória apenas para conteúdo, não para serviços.

Entidades da sociedade civil, defensoras da democratização da comunicação, fazem mapeamento de deputados que são "amigos do marco civil" e "amigos das teles". Para elas, o texto deveria ser aprovado com a redação atual proposta pelo relator Alessandro Molon.

*com edição do Observatório do Direito à Comunicação

Campanha pela Lei da Mídia Democrática cresce em todo o país

A campanha "Para Expressar a Liberdade" recebeu na última semana cerca de 1300 assinaturas da petição do projeto de lei de iniciativa popular da Mídia Democrática. De norte a sul do país, coletivos, sindicatos e até famílias encaminharam o pedido para uma nova regulamentação dos setores de rádio e televisão brasileiros.

As coletas chegaram de Riozinho (RS), Pelotas (RS), Diadema (SP), Campinas (SP), Porteirinha (MG), Contagem (MG), João Pessoa (PB) e Redenção (PA).  As maiores remessas vieram de Redenção (PA) e Pelotas (RS). A busca de assinaturas na cidade gaúcha foi realizada durante a Semana Nacional pela Democratização da Comunicação, pelos integrantes e colaboradores do novo Comitê Regional do Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC).  As assinaturas do Pará foram coletadas por um coletivo cultural da cidade de Redenção.  Também em destaque está o apoio de uma família de Diadema (SP).

O projeto de lei já conta com mais de 50 mil assinaturas e tem o apoio de mais de 200 entidades da sociedade civil. Maria Mello, secretária-executiva do FNDC, destacou que diariamente pessoas procuram a entidade, pelas redes, por telefone e até no escritório da entidade em Brasília para ter mais informações, oferecer apoio e entregar as listas de apoiamento.

"A campanha está crescendo e a coleta de assinaturas não está restrita apenas às entidades apoiadoras. Chegam aqui assinaturas individuais, de famílias e até de grupos de amigos. Além disso, é interessante ver que o debate está chegando a todos os cantos do país, das capitais ao interior", afirma. Mello lembra que a campanha lançou no final de outubro o Guia de Mobilização da Lei da Mídia Democrática que pode auxiliar na coleta e no debate nas ruas.   

O FNDC coordena a campanha pela democratização da comunicação e está concentrando o recebimento das listas de apoiamento em Brasília, no endereço Setor Comercial Sul, Quadra 06, Ed. Presidente, sala 206, nº141 | CEP 70327-900 Brasília DF. A coordenação da campanha pede que após o envio das assinaturas também se encaminhe um e-mail para secretaria@fndc.org.br para apontar o encaminhamento.

Audiência Lei da Mídia Democrática
Na última semana, o projeto de lei foi tema de audiência na Câmara dos Deputados. Os parlamentares presentes manifestaram apoio ao projeto  e o destacaram como o principal instrumento para a conscientização da população sobre a situação de monopólio dos meios de comunicação no Brasil e da necessidade da democratização do setor no país.

Igrejas eletrônicas brigam por espaço na TV aberta

Desde o último sábado (9/11), a Rede 21 transmite em sua programação os programas produzidos pela IURD TV, produtora da Igreja Universal do Reino de Deus, substituindo a WS Music, da Igreja Mundial do Poder de Deus. A substituição aconteceu também no espaço que o grupo possuía nas madrugadas da Band.As mudanças são apenas mais um capítulo da briga entre o bispo Edir Macedo e o apóstolo Valdemiro Santiago por espaço na mídia brasileira.

Mundial e Universal têm disputado nos últimos meses o contrato com o grupo Bandeirantes e, no fim das contas, o apóstolo Valdemiro Santiago foi desbancado pelo bispo Edir Macedo. Especula-se que o despejado tenha uma dívida de R$ 21 milhões e a inadimplência teria gerado o rompimento do contrato. O líder religioso,despejadado estaria pedindo R$ 200 milhões em indenização. Negocia-se também um retorno à grade em janeiro, no lugar do programa Claquete, de Otávio Mesquita. Dessa forma, as duas igrejas passariam a dividir o espaço da programação.

Até antes do rompimento do contrato, a Igreja Mundial controlava 21 horas diárias de programação na Rede 21, e as madrugadas (3h-6h) da Band. Estas últimas teriam sido negociadas em 2011, em uma jogada que retirou o pastor Silas Malafaia (Igreja Assembléia de Deus Vitória em Cristo) da emissora paulista. As noites da emissora são divididas também com a Igreja Internacional da Graça de Deus (do pastor R.R. Soares).

As movimentações atingiram a RedeTV!. A Igreja Mundial, defenestrada pelo grupo Bandeirantes, voltou à rede TV no dia 1º de novembro, pegando de surpresa funcionários, que tiveram que ajustar às pressas a grade para receber de volta os programas de Valdemiro Santiago.São Paulo perde, assim, as transmissões ao vivo da Copa Paulista. Entre as 2 horas da Mundial e as 2 horas da Universal (também transmitida pela emissora) estão sendo inseridos 15 minutos de televendas (Polishop) “para não dar choque”, segundo teria comentado um funcionário.

Há relatos de que os funcionários da IURD TV estariam trabalhando até 15 horas diárias, em más condições de trabalho (sem água), devido a substituição repentina na Rede 21, que teria disponibilizado praticamente um dia inteiro de programação ao grupo do bispo Edir Macedo. A produtora é responsável por 83 horas de programação diárias, distribuídas entre Record, Rede TV!, Rede 21, Band e Gazeta.

Ameaça ao direito à comunicação
O monopólio de um determinado discurso religioso é criticado por especialistas. Adilson Cabral, professor do Programa de Pós Graduação em Política Social  da Universidade Federal Fluminense, vê um “desvio do conceito constitucional de diversidade” na forma como o espaço televisivo vem sendo ocupado pelas religiões no país. Segundo ele, o sistema de comunicação, conjunto de emissoras, deveria ser organizado a partir de valores, e não ser entregue às leis do mercado.

Gésio Passos, um dos coordenadores do Intervozes, também aponta incompatibilidades na ocupação do espaço de TV por grupos religiosos. Sendo a programação de televisão aberta finita, não haveria possibilidade de contemplar as 142 possibilidades de enquadramento religioso previstas pelo censo. Além disso, pelo caráter de concessão pública das emissoras, o fenômeno estaria ferindo o artigo 19 da Constituição que proíbe o Estado de subvencionar ou manter com igrejas ou cultos relações de dependência ou aliança.

Segundo Passos, “a retirada destes programas religiosos do ar não significa que o fenômeno religioso estará ausente dos veículos de comunicação de massa. Ao se constituir como uma fenômeno cultural de evidente relevância, a religiosidade deve está presente, de forma direta e indireta, no conjunto da programação das emissoras de rádio e TV, prioritariamente nos programas de cunho jornalístico, cultural e educativo, ou mesmo nos programas sobre comportamento, musicais, filmes, documentários e demais conteúdos dramatúrgicos.”. Para garantir a diversidade e democracia, ele considera que “se teria que apresentar as diversas crenças religiosas, como também o agnosticismo e o ateísmo, em uma abordagem não proselitista e de interesse geral”.

Segundo o monitoramento da programação das redes de TV aberta da ANCINE, a religião foi o principal gênero de programação na TV aberta brasileira em 2012 –  chegando a 13,55% da programação, a frente dos gêneros variedades (10,45%), telejornais (10,43%), musical (8,48%) e o telecompras (7,51%). Em alguns casos, o problema é mais grave, como na Bandeirantes (17%), CNT (37%), Record (23%), Rede TV (38%) e Gazeta (15%).

O Projeto de Lei de Mídia Democrática , defendido pelo movimento de democratização da comunicação, prevê a proibição de arrendamentos de horários em concessões públicas TV, veda a outorga a instituições religiosas e limita o tempo de veiculação de conteúdos religiosos.