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As duas caras do Netflix

por Marco Konopacki*

O recente acordo para embarcar o Netflix nos setup boxes xfinity(X1)[1] da Comcast mostra que o original engajamento do Netflix na defesa da neutralidade de rede, demonstrado através de posts em seu blog corporativo[2], pode ser flexibilizado quando a empresa tem a oportunidade de ganhar uma grande vantagem na distribuição do seu serviço. Com essa postura, o Netflix está mostrando ter duas caras quando o assunto tratado é neutralidade da rede.

 

O Netflix se tornou referência numa árdua batalha pela garantia à neutralidade de rede nos Estados Unidos. Durante janeiro de 2013 e janeiro de 2014 o serviço de streaming de vídeos sob demanda teve sua velocidade de entrega gradualmente reduzida para usuários da Comcast, numa clara manipulação do tráfego de rede daquela operadora para prejudicar o Netflix (https://is.gd/W29qCC). Porém, no momento que o Netflix fez um acordo comercial com a operadora de telecom, os valores na velocidade de entrega subiram exponencialmente, demonstrando o poder que as operadoras tem para manipular o tráfego de rede e o quanto isso pode ser usado para fins comerciais na exploração de “novos negócios”.

 

O tema ganhou tanta notoriedade nos Estados Unidos que a FCC (Federal Communications Commission), a Anatel estadunidense, promoveu uma consulta pública para discutir a neutralidade de rede, a qual recebeu mais de 1 milhão de contribuições[3] em favor (com um empurrãozinho de John Oliver, é verdade). No Brasil, a neutralidade é um valor defendido e consolidado com o Marco Civil da Internet, reforçado pelo seu decreto de regulamentação que, no Art. 9, proíbe qualquer acordo que limite “o caráter amplo e irrestrito” da internet.

 

Recentemente, a Comcast passou a aplicar os famigerados limites de dados para banda larga. Muito diferente do que se queria fazer aqui pelo Brasil, com miseráveis 10Gb para planos pequenos, lá o limite médio está entre 700Gb e 1Tb. Ainda assim, com a demanda crescente por acesso a dados pesados, como o streaming de vídeos, talvez essa franquia em breve fique pequena, até para essa quantidade de dados. Por isso, algumas empresas de conteúdo estão fazendo acordo com as telcos para que seus serviços tenham bandeira livre para trafegar, sem descontar o valor da franquia contratada. Essa prática é conhecida como tarifação reversa ou, também, zero-rated services. Muitas pessoas vem defendendo que a prática de zero-rating fere a neutralidade da rede, pois cria guetos de acesso, o que vai de encontro ao espírito original da internet: a integração de redes para o compartilhamento amplo e irrestrito de conteúdos. As telcos se defendem com o argumento que isso faz parte da liberdade de modelo de negócio e que limitar essa prática feriria princípios básicos da livre iniciativa. No Brasil, a regulamentação do Marco Civil da internet vedou esse tipo de prática por ferir o caráter “universal e irrestrito da internet”.

 

Este ano a Comcast lançou o seu setup box X1, uma espécie de AppleTV ou Chromecast, em que ela disponibiliza alguns aplicativos de conteúdo que rodam usando a internet, seus e de parceiros. A Comcast anunciou que os aplicativos que usarem o seu X1 não terão os dados trafegados contados, ou seja, todo aplicativo no X1 será zero-rated e isso retomou a discussão se seria quebra de neutralidade ou não. Algumas pessoas defendem que o X1 é, na verdade, um serviço de IPTV, que usa a internet para um fim específico, numa rede específica, mas não é internet e, por isso, não feriria a neutralidade. No caso do Brasil, um serviço como esse seria vedado, uma vez que fere o inciso III do Art. 9, que limita a oferta de vantagem para aplicativos ofertados pela própria telco. Mas se fosse considerado um aparelho de IPTV, essa interpretação já mudaria, pois seria usado para um fim específico (televisão), ofertado a um grupo específico (Art. 2 inciso II alínea b) e, por isso, não feriria nenhuma regra. A verdade é que, com a convergência digital, a fronteira do que é entendido como internet ou não está cada vez mais turva. O que vem a ser a internet no momento em que praticamente tudo está conectado a internet de pessoas a objetos? Existe uma tendência a tudo convergir para internet, afinal esse foi o meio mais eficiente e barato pra transmitirmos todo tipo de conteúdo, desde um e-mail a um vídeo em 4K.

 

Zero-rating ferir ou não a neutralidade está ligado à capacidade de concentração do poder econômico na oferta de alguns serviços. Algumas empresas poderiam criar acordos capazes de formar bolhas de acesso, induzindo alguns usuários, em especial aqueles em fragilidade econômica, a acessarem serviços que lhes forem “mais vantajosos” e não de fato “o que se quer ou pode acessar”. Acabaria que a liberdade de acessar qualquer coisa na internet passaria a ser orientada por uma decisão econômica, induzida por acordo comerciais entre grandes operadores da rede. Isso é uma ameaça a ideia igualitária e distribuída com a qual a internet foi criada, criando ao contrário, “guetos internéticos” e determinando qual internet os pobres terão acesso e qualquer internet para os ricos. Os operadores de redes tem um poder desproporcional nesse jogo. Imagine um país com estradas por toda parte que permite o trânsito livre de pessoas para todo lado. Agora imagine a internet como sendo essa rede de estradas e que essas estradas são controladas por 4 ou 5 empresas. Agora imagine que essas empresas se organizam para determinar o preço dos pedágios das estradas e limitar quantos veículos podem trafegar nessas estradas. Pior, imagine que pessoas com muito dinheiro poderiam trafegar na pista do BRT e sem pagar pedágio. Isso com certeza geraria diferenças abissais com relação ao acesso aos recursos do mundo, e quem tem mais recursos já largaria quilômetros a frente.

 

Quando se fala que o Netflix está mostrando ter duas caras nesse jogo é porque a empresa que sofreu muito pelo controle de tráfego ao seu conteúdo agora está fechando um acordo para ser um dos aplicativos embarcados no X1 da Comcast. Parece que o Netflix vê a quebra da neutralidade no caso na manipulação da velocidade do tráfego, mas não vê problema em se beneficiar do tráfego não tarifado da Comcast. Mas imagine a concorrência desleal que isso representa para startups de conteúdo, com um modelo de negócio parecido com o do Netflix, que tentarem oferecer seu produto no mercado e que encontrarem uma série de barreiras comerciais porque estas empresas não tem dinheiro para oferecer seu serviço na modalidade zero-rated. Numa decisão puramente racional econômica, seria muito mais vantajoso qualquer consumidor optar por um produto que não aumenta minha conta de internet. O Netflix quer chutar a escada que o tornou num dos maiores serviços de streaming do mundo.

 

Mais uma vez, tentando contextualizar com a realidade brasileira, nós temos um sistema de radiodifusão mais concentrados do mundo. Apenas 7 famílias dominam toda a cadeia de conteúdo, desde a produção, passando pelo empacotamento até a distribuição. Além dessa concentração vertical, existe a concentração horizontal, em que os mesmos grupos econômicos dominam rádios e jornais. A internet surgiu como uma grande ferramenta para romper esse oligopólio, mas será que num cenário zero-rated isso seria assim? Imagine que a NET Serviços de Internet é parte do grupo econômico de uma dessas 7 famílias e imagine a imposição da limitação de franquia de dados para banda larga fixa se tornando realidade. Agora imagine que essa operadora comece a não tarifar quando você acessa conteúdos do grupo Globo de comunicação. Qual dos conteúdos vocês acham que terão mais chance de ser acessados? Bingo, a lógica oligopolista do conteúdo se reforça e pode ser que daqui alguns anos estejamos nos lamentando que a internet foi dominada por 7 famílias. Será a tragédia se repetindo, agora como farsa.

[1] http://www.techhive.com/article/3091722/streaming-services/netflix-will-land-on-comcasts-x1-platform-later-this-year.html

[2] http://www.huffingtonpost.com/2014/03/20/netflix-net-neutrality_n_5002935.html

[3] http://www.savetheinternet.com/press-release/105672/more-1-million-people-call-fcc-save-net-neutrality

*Pesquisador de internet e democracia. Mestre em Ciência Política UFPR. Doutorando em Ciência Política UFMG

“Para que usar o controle remoto?”

Há pouco mais de oito anos, o jornalista e sociólogo Laurindo Lalo Leal Filho está, desde a estreia, à frente do programa VerTV, uma produção da TV Brasil, que discute, com especialistas, os conteúdos apresentados pela televisão brasileira, trazendo uma boa dose de reflexão para os telespectadores.

Pesquisador na área de Políticas da Comunicação e professor da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP), Lalo acompanha as tendências e novas abordagens da televisão brasileira. Não é à toa que já escreveu quatro livros sobre a sociedade e a televisão.

Em entrevista à revistapontocom, o apresentador faz uma breve análise da atual programação da televisão brasileira. Na opinião dele, a audiência está mais exigente, mas ainda há muito a se fazer. “Infelizmente o público brasileiro, pela história de nossa TV, dificilmente tem a oportunidade de conhecer outros tipos de programas e programações. Fica difícil para o telespectador exigir níveis melhores de qualidade sem que ele conheça um referencial desse tipo. São várias gerações educadas para acreditar que esse modelo de TV é o único possível de existir”, destaca.

Acompanhe a entrevista:

Na avaliação do senhor, qual é o mérito do VerTV?

Laurindo Lalo Leal Filho – O programa estreou no dia 16 de fevereiro de 2006. Está portanto há mais de oito anos no ar. Acredito que o mérito principal tem sido o de colocar em debate o papel da televisão na sociedade brasileira sobre a qual ela exerce grande influência. Costumo dizer que a TV no Brasil trata, bem ou mal, de uma gama praticamente universalizada de assuntos, só não trata dela mesma. O VerTV procura, na medida do possível, realizar esse trabalho.

E de que forma isso acontece na prática?

L.L.L.F. – O programa procura levar ao público análises críticas sobre a televisão brasileira e, a partir daí, mostra, com exemplos nacionais e internacionais bem sucedidos, que um outro tipo de televisão é possível. Infelizmente o público brasileiro, pela história de nossa TV, dificilmente tem a oportunidade de conhecer outros tipos de programas e programações. Fica difícil para o telespectador exigir níveis melhores de qualidade sem que ele conheça um referencial desse tipo. São várias gerações educadas para acreditar que esse modelo de TV é o único possível de existir. Uma outra contribuição do VerTV para esse debate é dada pela sua reprodução e análise realizadas por professores em diferentes cursos no país. O programa acabou se tornando um importante instrumento didático, utilizado em salas de aula.

O senhor acabou de falar sobre o público que não tem outras referências de TV. Mas o senhor não acha que essa ‘audiência brasileira’ está mais exigente?

L.L.L.F. – Acredito que sim. Já houve momentos piores em nossa TV. Basta lembrar o que ocorria nos auditórios na década de 1990. Nessa época surgiu a Ong Tver e depois a campanha “Quem financia a baixaria é contra a cidadania” como tentativas de enfrentar aquela situação. O próprio programa VerTV é resultado daquele momento. Essas iniciativas contribuíram para ampliar a visão critica da sociedade sobre os produtos oferecidos pela televisão. As coisas mudaram um pouco. Já não se vê, por exemplo, “teste de DNA” nos palcos ou ataques homofóbicos desferidos por apresentadores. Isso não quer dizer que não exista ainda muito a fazer. A exploração da violência como espetáculo segue revelando os níveis ainda rasteiros de nossa TV. Mas creio que o principal fator do aumento das exigências do público esteja sendo o grande crescimento dos níveis de escolaridade registrados no Brasil nos últimos anos. Pessoas mais ilustradas tendem a se tornar mais exigentes em termos de informação e entretenimento, dos quais a TV é parte importante.

E, por outro lado, o senhor acredita que os canais estão mais preocupados em oferecer qualidade?

L.L.L.F. – Isso não. Infelizmente o referencial único dos canais comerciais são os índices de audiência cujo resultado determina a obtenção maior ou menor de receitas publicitárias. Então as mudanças só ocorrem quando o público começa a se afastar deste ou daquele programa. As mudanças são realizadas apenas para fazer com que a audiência não caia. O critério qualidade é secundário.

E o que seria um programa de qualidade?

L.L.L.F. – São programas que despertem o espírito crítico do telespectador. Que elevem a sua sensibilidade em relação ao mundo e à vida. Ou numa síntese feliz de alguns fundadores da televisão pública europeia: que tornem os temas simples respeitáveis e os complexos agradavelmente simples. Vou dar um exemplo de um programa de qualidade que vi há alguns anos na TV Globo: a Paixão de Cristo, encenada pelo Grupo Galpão nas ruas de Ouro Preto. Excepcional. Reuniu a competência técnica da emissora e o alto nível de qualidade artística do grupo teatral mineiro na abordagem de um tema de fácil assimilação para o público. Pena que tenha sido apenas um raro exemplo de qualidade e não uma constante.

O senhor citou uma TV comercial e o seu foco na audiência. E o que dizer dos outros tipos de TVs, a pública e a estatal?

L.L.L.F. – Essa divisão ainda é muito precária. Na verdade nós temos uma televisão comercial hegemônica, ditando os padrões da TV brasileira, ao lado de um grupo pequeno de emissoras estatais e de outro, ainda mais reduzido, de emissoras que podem ser consideradas públicas. A programação das comerciais apresenta padrões muito semelhantes, todas reproduzindo as mesmas formas que consideram eficazes na luta pela audiência. É por isso que torna-se falaciosa a frase “o melhor controle é o controle remoto”. Para quê usar o controle remoto se ao trocar de canal se vê a mesma coisa? Mudam os cenários, os apresentadores, mas os conteúdos são os mesmos. As poucas experiências em busca daqueles padrões de qualidade que mencionei anteriormente vêm das emissoras não comerciais. Experiências que, quase sempre, não têm continuidade pelos eternos problemas de recursos e de gestão.

O que podemos apontar, hoje, como avanços e desafios na TV brasileira?

L.L.L.F. – A diversidade de ofertas através das TVs por assinatura (para uma parcela privilegiada economicamente da população) e da proliferação das antenas parabólicas têm sido fatores positivos na medida em que oferecem a um público maior canais não comerciais, cuja referência principal não é a busca de elevados índices de audiência. Alguns desses canais, dentro de suas limitações, têm oferecido programas de melhor qualidade, inexistentes nas emissoras comerciais. O desafio maior neste momento é aprovar uma Lei de Meios semelhante a que está em vigor na Argentina. É a única forma de ampliar o número de vozes na televisão brasileira, dividindo o espectro eletromagnético em partes iguais para que emissoras públicas, comunitárias e comerciais. Só assim, a riqueza e a diversidade cultural existente no pais poderá ser vista e assimilada por todo o público brasileiro por meio da TV.

Entrevista concedida a Marcus Tavares, publicada em revistapontocom e reproduzida de Observatório da Imprensa – www.observatoriodaimprensa.com.br

Entidades divulgam nota sobre o caso BBB

O Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC), a Rede Mulher e Mídia e outras entidades do movimento de mulheres divulgaram nota conjunta pedindo a responsabilização da Globo no caso do suposto estupro no BBB. Para as organizações, são quatro os fatos que justificam a responsabilidade da emissora:

• Ocultar um fato que pode constituir crime;
• Prejudicar a integridade da vítima e enviar para o país uma mensagem de permissividade diante de uma suspeita de estupro de uma pessoa vulnerável;
• Atrapalhar as investigações de um suposto crime;
• Ocultar da vítima as informações sobre os fatos que teriam se passado com ela quando estava supostamente desacordada.

As organizações cobram o Ministério das Comunicações e ao Ministério Público Federal para que ajam a fim de garantir multas vultuosas e um direito de resposta coletivo para as mulheres. Elas pedem ainda que a população cobre os patrocinadores do programa para retirar seus anúncios. A nota cobra do Ministério das Comunicações também a apresentação para discussão imediata de propostas para um novo marco regulatório das comunicações.

Veja abaixo a íntegra.

Pela imediata responsabilização da TV Globo no caso BBB

Dois fatos muito graves ocorreram esta semana envolvendo o Big Brother Brasil. O primeiro foi com a participante Monique, que pode ter sido vítima de crime praticado por outro integrante do programa. O segundo foi a absurda atitude da TV Globo frente ao ocorrido. Em relação ao primeiro, cabe à polícia apurar e à justiça julgar, buscando ouvir os envolvidos, garantindo que eles estejam livres de pressões e constrangimentos. Já em relação ao segundo, é preciso denunciar a emissora e os anunciantes que sustentam o programa, e cobrar as autoridades do setor.

Frente a indícios de um possível abuso sexual contra uma mulher participante de um de seus principais programas, a Globo, além de não impedir a violência no momento em que ela poderia estar ocorrendo, tentou escamotear o fato, depois buscou tirar de circulação as imagens e finalmente assumiu o ocorrido sem nomeá-lo. Na edição de domingo do programa, após todas as denúncias que aconteciam pela internet, ela transformou a suspeita de um crime em uma cena "de amor". O espírito da coisa foi resumido pelo próprio apresentador Pedro Bial: “o espetáculo tem que continuar”. A atitude é inaceitável para uma emissora que é concessionária pública há 46 anos e representa uma agressão contra toda a sociedade brasileira.

Pelas imagens publicadas, não é possível dizer a extensão da ação e saber se houve estupro. A apuração é fundamental, mas o mais importante é o que o episódio evidencia. Em primeiro lugar, a naturalização da violência contra as mulheres, que revela mais uma vez a profundidade da cultura machista no país. No debate público, foram inúmeras as tentativas de atribuir à possível vítima a responsabilidade pela agressão, num discurso ainda inacreditavelmente frequente. O próprio diretor do programa, Boninho, negou publicamente que as imagens apontassem para qualquer problema.

Em segundo lugar, o episódio revela o ponto a que pode chegar uma emissora em nome de
seus interesses comerciais. A Globo fatura bilhões de reais anualmente pela exploração de uma concessão pública, e mostra, com esse episódio, a disposição de explorá-la sem qualquer limite nem nenhum cuidado com a dignidade da pessoa humana. O próprio formato do programa se alimenta da exploração dos desejos e das cizânias provocadas entre os participantes e busca explorar situações limite para conquistar mais audiência. Assim, o que aconteceu não é estranho ao formato do programa; ao contrário, é exatamente consequência dele.

Em terceiro lugar, fica evidente a ausência de mecanismos de regulação democrática capazes de apurar e providenciar ações imediatas para lidar com as infrações cometidas pelas emissoras. Como já vem sendo apontado há anos pelas organizações que atuam no setor, não há hoje regras claras que definam a responsabilidade das emissoras em casos como esse, nem tampouco instrumentos de monitoramento e aplicação dessas regras, como um Conselho Nacional de Comunicação ou órgãos reguladores.

Uma das poucas regras existentes para proteger os direitos de crianças e adolescentes – a classificação indicativa – está sendo questionada no STF, inclusive pela Globo. A emissora, que costuma tratar qualquer forma de regulação democrática como censura, é justamente quem agora pratica a censura privada para esconder sua irresponsabilidade. É lamentável que precise haver um fato como esse para que o debate sobre regulação possa ser feito publicamente.

Frente ao ocorrido, exigimos que as Organizações Globo e a direção do BBB sejam responsabilizados, entre outros fatos, por:

• Ocultar um fato que pode constituir crime;
• Prejudicar a integridade da vítima e enviar para o país uma mensagem de permissividade diante de uma suspeita de estupro de uma pessoa vulnerável;
• Atrapalhar as investigações de um suposto crime;
• Ocultar da vítima as informações sobre os fatos que teriam se passado com ela quando estava supostamente desacordada.

É preciso garantir, no mínimo, multas vultuosas e um direito de resposta coletivo para as mulheres, que mais uma vez tiveram sua dignidade atingida nacionalmente pela ação e omissão da maior emissora de TV brasileira.

Os anunciantes do BBB – OMO (Unilever), Niely Gold, Devassa (Schincariol), Guaraná Antártica e Fusion (Ambev) e FIAT – também devem ser entendidos como co-responsáveis, e a sociedade deve cobrar que retirem seus anúncios do programa ou boicotá-los. Suas marcas estão ligadas a um reality show que, para além de toda a crítica sobre os valores que propaga à sociedade – da banalização do sexo e do consumo de álcool à mercantilização dos corpos – , permite a violação de direitos fundamentais.

Finalmente, é fundamental que o Ministério das Comunicações coloque em discussão imediatamente propostas para um novo marco regulatório das comunicações, com mecanismos que contemplem órgãos reguladores democráticos capazes de atuar sobre essas e outras questões.

Este é mais um caso cujas investigações não podem se restringir à esfera privada e à conduta do participante suspeito. Exigimos que o Poder Executivo cumpra seu papel de fiscal das concessionárias de radiodifusão e não trate o episódio com a mesma "naturalidade" dada pela TV Globo. Esperamos também que o Ministério Público Federal se coloque ao lado da defesa dos direitos humanos e da dignidade da pessoa humana e responsabilize a emissora pela forma como agiu diante de uma questão tão séria como a violência sexual contra as mulheres.

Brasil, 18 de janeiro de 2012

FNDC – Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação
Rede Mulher e Mídia
Articulação de Mulheres Brasileiras
Campanha pela Ética na TV/Quem Financia a Baixaria é Contra a Cidadania
Ciranda
Coletivo Feminino Plural
Observatório da Mulher
Associação Mulheres na Comunicação – Goiânia
COMULHER Comunicação Mulher
HUMANITAS – Diretos Humanos e Cidadania
Marcha Mundial das Mulheres
Rede Feminista de Saúde Direitos Sexuais e Direitos Reprodutivos
SOF – Sempreviva Organização Feminista
SOS Corpo – Instituto Feminista para a Democracia

Manifesto aberto a adesões de entidades e redes. Para aderir, escreva para imprensa@fndc.org.br

Produções independentes em parceria com estrangeiros ganham espaço na TV Brasil

A TV Brasil vai abrir espaço na programação para a exibição de obras audiovisuais de produtores independentes feitas em parceria com empresas estrangeiras. A iniciativa faz parte de um convênio firmado hoje (15) entre a Empresa Brasil de Comunicação (EBC), responsável pela TV pública, e a Associação Brasileira de Produtores Independentes de Televisão (ABPI-TV). Por meio do acordo, a TV Brasil passa a integrar o Brazilian TV Producers (BPTV), entidade com objetivo de promover o conteúdo audiovisual independente no mercado internacional.

 

De acordo com a diretora-presidente da EBC, Tereza Cruvinel, a parceria representa um passo importante para ampliar as oportunidades de captação de recursos estrangeiros destinados à produção nacional.

 

“Isso facilita a vida do produtor audiovisual brasileiro. Quando ele vai lá fora fazer uma sociedade com um produtor estrangeiro, se ele não tem uma TV para exibir, o negócio dele tem menos futuro. Ninguém quer financiar aquilo que não tem janela de exibição garantida. Mas se ele pode dizer que tem a TV pública para exibir, mais facilmente ele arranja um capital, um sócio para financiar a obra dele”, destacou.

 

Tereza Cruvinel também ressaltou os ganhos para o público, que passa a contar com mais opções de produções nacionais de qualidade exibidas em um canal aberto. “É um negócio bom para os dois [lados]”, acrescentou.

 

Para o produtor independente do setor de animação Kiko Mistrorigo, esse suporte que o setor ganha a partir do convênio garante maior fôlego e credibilidade às produções nacionais.

 

“Até hoje sempre foi muito difícil negociar lá fora. A lógica do mercado em todos os países é primeiro negociar internamente e depois ir para fora, mas a gente não tinha isso aqui. Ter uma TV nacional com esse espaço é fundamental para estimular o mercado”, disse ele, que estima que o custo para se produzir uma série de animação gira em torno de R$ 5 milhões.

 

O Brazilian TV Producers é um programa de incentivo à exportação e à valorização das obras audiovisuais brasileiras. O organismo foi criado em 2004 para viabilizar parcerias entre empresas nacionais e estrangeiras por meio de coproduções, vendas e pré-vendas para canais de televisão, internet, telefonia celular e novas mídias. A gestão é de responsabilidade de um comitê que conta com a parceria da Associação Brasileira de Produtores Independentes de Televisão, do Ministério da Cultura e da Agência Brasileira de Promoção de Exportação e Investimentos (Apex-Brasil).

Porto Alegre recebe mostra de produção de TVs Públicas

[Título original: Produções de 10 países chegam à Capital em evento sobre TV pública]

 

Começa nesta segunda-feira e segue até o dia 31 o ciclo "O Melhor do Input 2010", com exibições, na Capital, de 16 produções vindas de 10 países. O Input – International Public Television é uma conferência anual dedicada à televisão de interesse público. O evento é realizado em um país diferente a cada edição, há 28 anos. Neste ano ele aconteceu em Budapeste, na Hungria, tendo exibido 80 programas de 29 países.

 

O objetivo é incentivar o desenvolvimento de uma televisão a serviço da formação da cidadania e debater os programas mais marcantes de todo o mundo. As exibições em Porto Alegre serão realizadas no Instituto Goethe (24 de Outubro, 112) e na Sala P. F. Gastal, da Usina do Gasômetro (João Goulart, 551).

 

Os filmes, vindos da Alemanha, Rússia, França, Holanda, Itália, Suíça, Inglaterra, Polônia, Austrália e Bielorússia, terão legendas em português; as sessões são gratuitas. O documentário suíço "Tabu", de Orane Burri. A jovem cineasta recebeu de seu amigo Thomas diversas horas de material filmado registrando seus últimos momentos de vida, desde quando ele optou pelo suicídio até seu gesto final. Dez anos após a morte de Thomas, Burri finalmente decidiu se confrontar com este material, trazendo uma abordagem corajosa sobre um dos temas mais controversos em todos os tempos. Após a exibição, hoje, às 19h30min, no Instituto Goethe, haverá debate com o psicanalista Robson de Freitas Pereira.

 

Amanhã a temática é o sexo e a intimidade. Serão a exibidos, a partir das 19h30min, "O Homem Viagra", "País das Maravilhas: Os Ingleses na Cama" e "Cenas da Vida Íntima de Natalya Belobokov. Ainda na programação, "Esterhazy", "Como um Homem na Terra", "Os Profissionais do Sexo no Paquistão", "50 Anos da Mulher Objeto", entre outros.