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Novo Código de Ética dos Jornalistas e o mimetismo midiático

Você  já leu os jornais? Assistiu às notícias da TV? Ouviu as últimas na rádio? Surfou pela internet? Se já cumpriu esse ritual, talvez esteja sabendo tudo. Tudo do mesmo. Esse é um dos novos hits da modernidade: o mimetismo midiático. O final do século XX trouxe mudanças profundas e impactantes para o jornalismo e para o modo de fazer jornalístico. Submetido a uma lógica que resulta da sobreposição de constrangimentos técnicos, econômicos e sociais, o profissional está obrigado a produzir em larga escala, com custos menores e no mais curto espaço de tempo. Um dos resultados de toda essa conjunção é o que jornalista espanhol Ignacio Ramonet chama de mimetismo midiático. 

O mimetismo é aquela febre que se apodera repentinamente da mídia (confundindo todos os suportes), impelindo-a na mais absoluta urgência, a precipitar-se para cobrir um acontecimento (seja qual for) sob pretexto de que os outros meios de comunicação – e principalmente a mídia de referencia – lhe atribuam uma grande importância. Essa imitação delirante, levada ao extremo, provoca um efeito bola-de-neve e funciona como uma espécie de auto-intoxicação: quanto mais os meios de comunicação falam de um assunto, mais se persuadem, coletivamente, de que este assunto é indispensável, central, capital, e que é preciso dar-lhe ainda mais cobertura, consagrando-lhe mais tempo, mais recursos, mais jornalistas. Assim os diferentes meios de comunicação se auto-estimulam, superexcitam uns aos outros, multiplicam cada vez mais as ofertas e se deixam arrastar para a superinformação numa espécie de espiral vertiginosa, inebriante, até a náusea (RAMONET, 2001, p.20-21).

Derivado do grego, mimese quer dizer imitação. Mas a prática, comum no século XXI, entre profissionais e mídias, já fora apontada por outros estudiosos da comunicação. Pierre Bourdieu (1997, p.33) fala em “circulação circular” da informação: “[…] para fazer o programa do jornal televisivo do meio-dia é preciso ter visto as manchetes do 20 horas da véspera e os jornais da manhã e para fazer minhas manchetes do jornal da noite é preciso que tenha lido os jornais da manhã”.

Esse jogo de espelhos, consistentemente institucionalizado pelo modo industrial de se fazer jornalismo, vai redundar em sérias consequências. Sem entrar no mérito, uma vez que as mesmas ainda não foram suficientemente debatidas, não se pode negar um debate ético sobre vários aspectos.

Até  que ponto esse tipo de retroalimentação e reutilização do material do concorrente é lícita e contribui para a informação da sociedade?

Numa pesquisa sobre a produção de notícias para a internet, o professor Fábio Henrique Pereira, da Universidade de Brasília, flagra um novo perfil do profissional da notícia no século XXI: o “jornalista sentado”. Num estudo de campo sobre o assunto, revela:

Esse sistema de retroalimentação fica latente já na primeira visita à redação do CorreioWeb: TV sempre ligada em algum tipo de programação jornalística, rádio sintonizado na CBN local, consulta ao sites da Globo, do Estado de São Paulo, da BBC Brasil, etc. […] à medida que a prática de copiar e reutilizar o material do concorrente torna-se usual, os jornalistas vão se importando menos com isso. Para a empresa, a pirataria significa dividir a audiência do site com veículos que não pagaram pela cobertura de determinado evento, seja pela compra de informações, seja pela contratação de jornalistas. Isso afeta os lucros e inviabiliza a publicação de informações exclusivas pelo site. Mas para os jornalistas isso não faz tanta diferença. Responsável pela publicação de várias notas por dia, quase nunca assinadas, o jornalista não se identifica com o produto. Não há nenhum sentimento de posse pela matéria. Para ele, ser pirateado é uma prática lícita, desde que ele possa fazer o mesmo (PEREIRA, 2003). 

Esse tipo de procedimento vai resultar, na melhor das hipóteses, em desinformação. Na mesma pesquisa, Pereira chama a atenção para o seguinte fato:
 
No dia 13 de maio de 2003, uma fábrica de ‘merla’ (tipo de droga produzida com os restos do material utilizado para refinar cocaína) havia sido invadida pela polícia em um endereço denominado “QNP”. Logo, Fernando Carneiro e Giulliano Fernandes, seu coordenador, iniciaram um discussão para saber o local exato da quadra, se na cidade-satélite de Taguatinga ou na Ceilândia. Ao final da discussão, os dois jornalistas chegaram à conclusão de que a QNP localizava-se em Taguatinga. Não foi feito nenhum tipo de procedimento de checagem da informação, que foi ao ar logo em seguida. Minutos depois, Fernando recebeu um telefonema e um e-mail, ambos alertando o estagiário do erro e de que o endereço publicado ficava, na verdade, na Ceilândia. Nos casos em que o CorreioWeb comete algum tipo de erro, o procedimento padrão é colocar uma segunda nota no ar com o título de ‘Erramos”, remetendo o leitor para a informação incorreta publicada anteriormente. Mas nem sempre um erro pode ser retratado de forma eficiente. No exemplo anterior, da nota sobre a invasão de uma fábrica de merla, a matéria incorreta já havia sido lida, minutos mais tarde, pela rádio CBN. (PEREIRA, 2003). 

Outro exemplo flagrante aconteceu no dia 20 de maio de 2008.  Por volta das cinco da tarde, a GloboNews interrompeu sua programação para um plantão sobre um acidente aéreo: “interrompemos a transmissão da CPI dos Cartões Corporativos para mostrarmos imagens ao vivo de São Paulo. Acaba de chegar a informação de que um avião da empresa aérea Pantanal caiu em cima de um prédio comercial na Zona Sul de São Paulo”(CARONI, 2008).

O acidente era, na verdade, um incêndio em uma fábrica de colchões. Entretanto, bastaram cinco minutos de transmissão equivocada para que a falsa notícia fosse retransmitida por várias emissoras de rádio e alguns portais, entre eles o IG e o Terra.

A justificativa da Central Globo de Comunicação para a “barriga” foi a seguinte:

“A respeito do incêndio ocorrido hoje à tarde em São Paulo, a GloboNews, como um canal de noticias 24 horas, pôs no ar imagens do fogo assim que as captou. Como é normal em canais de notícias, apurou as informações simultaneamente à transmissão das imagens. A primeira informação sobre a causa do incêndio recebida pela GloboNews foi a de que um avião teria se chocado com um prédio na região do Campo Belo, Zona Sul de São Paulo. Naquele momento bombeiros e Infraero ainda não tinham informação sobre o ocorrido. As equipes da própria GloboNews constataram que não havia ocorrido queda de avião e desde então esclareceu que se tratava de um incêndio em um prédio comercial. Poucos minutos depois o Corpo de Bombeiros confirmou tratar-se de um incêndio em uma loja de colchões”.  

Ao que tudo indica, a falsa informação foi repassada à emissora por um morador da região, já traumatizado com outros acidentes. Entretanto, os produtores sequer apuraram a matéria antes que colocá-la no ar.

Se um profissional é obrigado a produzir mais num espaço de tempo menor para obedecer à lógica comercial das empresas; se lança mão desse mimetismo como forma de cumprir o que estabelece sua linha de produção, como um simples operário de um sistema de produção taylorizado (o que se acentuou, principalmente, depois da internet e dos grandes conglomerados de mídia); se publica notícias sem a devida apuração ou checagem, legitimando matérias incorretas ou até mesmo falsas; se se coloca como instrumento para o agendamento dos meios por produtores de notícia, está indo de encontro a pelo menos cinco pontos estabelecidos pelo Código de Ética:

Art. 2° –
[…] I- a divulgação da informação precisa e correta é dever dos meios de comunicação e deve ser cumprida independentemente de sua natureza jurídica – se pública, estatal ou privada – e da linha política de seus proprietários e/ou diretores.
II – a produção e a divulgação da informação devem se pautar pela veracidade dos fatos e ter por finalidade o interesse público;
Art. 4º O compromisso fundamental do jornalista é com a verdade no relato dos fatos, razão pela qual ele deve pautar seu trabalho pela precisa apuração e pela sua correta divulgação.
Art. 6º É dever do jornalista:
[…] V- valorizar, honrar e dignificar a profissão;
[…] IX- respeitar o direito autoral e intelectual do jornalista em todas as suas formas;

Em 2000, nos Estados Unidos, o Comitee of Concerned Journalistis, entidade que discute a qualidade na imprensa americana, fez uma pesquisa acerca do noticiário sobre resultado das eleições presidenciais e chegou à conclusão de que o fato se transformou numa sucessão de erros pelo simples fato dos veículos terem usado uma única fonte de informação, que, por sua vez, era uma agência de notícias: “as principais redes americanas de TV anunciaram apressadamente a vitória de George Bush, no que foram acompanhadas por boa parte dos jornais impressos, que, em sucessivas edições extras, ora afirmavam o nome do vencedor, ora duvidavam da informação. Na origem de tantos equívocos estava o recurso a uma única fonte, a Voter News Service, à qual se conferia credibilidade automática “(MORETZSOHN, 2001). 

Obviamente não há como generalizar tal postura ou acontecimento, entretanto, o mimetismo midiático gera pelo menos três tipos de conseqüências: o declínio da veracidade da informação, a falta de polifonia na práxis do discurso jornalístico e o avanço sobre os direitos autorais. Uma equação que vai contribuir para a desvalorização da profissão e para o desrespeito ao receptor.

Se o profissional é capaz de publicar uma notícia que foi mimetizada de outro órgão de comunicação sem a devida checagem, não pode garantir nem que ela esteja correta e nem que seja verdadeira, isso sem falar naquilo que é omitido e, muitas vezes, por interesses de determinados grupos ou de razões espúrias. Não é possível desconhecer casos como os ocorridos recentemente nos Estados Unidos, com jornalistas respeitados e prestigiados como Dan Rather, da CBS, e Jack Kelley, do USA Today. 

[…] era un falsificador compulsivo, un "impostor en serie". […] Como por azar, siempre estaba en el lugar donde ocurrían los acontecimientos, de los que extraía historias excepcionales y apasionantes. En uno de sus reportajes decía haber sido testigo de un atentado en una pizzería de Jerusalén y describía a tres hombres que comían junto a él, cuyos cuerpos habían sido proyectados hacia arriba por la explosión, cayendo luego decapitados, mientras las cabezas rodaban sobre la calle…Su reportaje más grosero, aparecido el 10 de marzo de 2000, era sobre Cuba. Kelley había fotografiado a una empleada de hotel -Jacqueline- cuya fuga clandestina a bordo de un frágil esquife relataba con lujo de detalles, incluyendo la muerte de la desdichada, ahogada en el estrecho de la Florida. En realidad, la mujer -cuyo verdadero nombre era Yamilet Fernández- está viva actualmente y nunca ha corrido tal aventura. Otro periodista de USA Today, Blake Morrison, la entrevistó y pudo verificar que Kelley había mentido. Las revelaciones de esos fraudes, considerados como uno de los mayores escándalos del periodismo estadounidense, le costaron el puesto a la directora de la redacción, Karen Jurgensen, y a otros dos altos directivos: Brian Gallagher, su adjunto, y Hal Ritter, responsable de la información. Más recientemente, en plena campaña electoral, un nuevo sismo deontológico sacudió el mundo de los medios. Dan Rather, el presentador estrella del informativo televisivo de CBS y del prestigioso programa 60 minutos, reconoció haber difundido, sin verificarlos, falsos documentos para probar que el presidente Bush había gozado de ayuda para evitar ser enviado a la guerra de Vietnam. Rather anunció que abandonaba su puesto y se retiraba (RAMONET, 2005). 

Casos como esse não acontecem apenas nos Estados Unidos, são fenômeno mundial. Segundo Ramonet (1999, p.20-21), uma imitação que provoca um efeito bola de neve, ou seja, quanto mais os meios falam de um  assunto, “mais se persuadem, coletivamente, de que este assunto é indispensável, central, capital, e que é preciso dar-lhe cobertura, consagrando-lhe mais tempo, mais recursos, mais jornalistas”. Dois exemplos seriam a morte de Lady Diana e o caso Bill Clinton-Monica Lewinsky.

Aliás, com relação ao caso Lewinsky, a história é bastante peculiar. Tudo começou com um americano desconhecido – Matt Drudge –  que colocou no ar em seu site, The Drudge Report, o conteúdo das conversas entre Monica e uma amiga, Linda Tripp, onde a ex-estagiária da Casa Branca contava suas aventuras amorosas com Clinton. Seu site ficou entre os 100 primeiros entre milhões de acessos, inclusive da própria imprensa.

Mas, se há imitação, o mimetismo midiático desagua noutra vertente: a falta de polifonia do discurso jornalístico. Se há uma repetição contínua das notícias, onde fica o espaço para reflexão, para a crítica? No ritmo vertiginoso de produção imposto aos profissionais da comunicação, o discurso da mídia passa a ser monofônico. Não há espaço para o novo, as fontes e os pontos de vista são sempre os mesmos, não há emergência de novas ideologias.

No que diz respeito a esse aspecto é preciso atentar para o fato de que as notícias são o relato diário da história da humanidade e, elaboradas com a utilização do padrão industrializado que obriga, muitas vezes, à cópia, à imitação, certamente vão contar apenas parte da história, constituindo-se numa visão parcial, depurtada e, até mesmo, aniquiladora.

Se a informação que os meios de comunicação oferecem é, principalmente, a oferecida por outros, a descrição da realidade dependerá, em última instância, das fontes que têm poder para conseguir lugar nos meios, isto é, fundamentalmente organismos do Estado e grupos econômicos. Isso quer dizer que as fontes estabelecem as prioridades, as perspectivas e os enfoques da informação, condicionando o sentido das notícias a alguns mediadores jornalísticos que ficam subordinados a elas (NORIEGA apud KARAM, 2004, p.241). 

Finalmente, a questão dos direitos autorais. Com o mimetismo midiático, o que se vê é um avanço, um desrespeito aos direitos autorais. Na Declaração de Princípios da Federação Internacional de Jornalistas, datada de junho de 1986, o plágio na notícia, ou seja, o ato de copiar o essencial de obras alheias, dando-as como próprias, é considerado gravíssimo. Aliás, a Federação, considerada uma das maiores organizações de jornalistas do mundo, já publicou um informativo sobre o assunto, onde estabelece as bases de liberdade dos meios de comunicação na sociedade de informação, o que vem reforçar o que está dito no artigo 6° do Código do Ética, quando diz respeito ao fato de que é dever do jornalista valorizar, honrar e dignificar a profissão, além de respeitar o direito autoral e intelectual do jornalista em todas as suas formas.

A prática, concordam muitos autores, não é nova. Entretanto, foi acentuada a partir da do crescimento das megacorporações de comunicação, com a presença das mídias cruzadas e, principalmente, da internet  onde até mesmo a facilidade tecnológica favorece esse tipo de comportamento com o conhecido comando Ctlr+C / Ctlr +V.

Pergunta-se sobre o futuro dos jornalistas. Eles estão em vias de extinção. O sistema não quer mais saber deles. Poderia funcionar sem eles, ou digamos que ele consente em trabalhar com eles, confiando-lhes, porém, um papel secundário: o de funcionários na rede, como Charlot em Les temps moderns. Em outras palavras, rebaixando-os ao nível de retocadores de transmissões de agências. (ROMANET, 1999, p.45). 

*Luciene Tófoli é mestre em Letras e em Psicanálise, pelo Centro de Ensino Superior de Juiz de Fora. Formada em Jornalismo pela Universidade Federal de Juiz de Fora. Professora substituta da Faculdade de Comunicação da UFJF. Autora do livro Ética no Jornalismo, da Editora Vozes, em 2008

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Um Código de Ética para os donos da mídia

Os jornalistas dispõem, agora, de um novo Código de Ética, um documento balizador de posturas (e contra as imposturas) que resultou de um processo rico, envolvendo a Fenaj, os Sindicatos e a sociedade, incorporada a partir de uma consulta pública.

Nada no Código surpreende porque, em princípio, ele apenas atualizou princípios e valores que os jornalistas de caráter, boa índole, éticos sempre respeitaram, mas era importante que isso fosse feito. A atividade tem reunido cada vez mais profissionais (alguns nem tanto, vamos admitir) e, com isso, é preciso dar um norte, indicar explicitamente o que se espera desta categoria, claramente definida (artigo 3) como uma atividade de natureza social.

Há dois destaques a fazer, no entanto, porque refletem situações ainda controvertidas no exercício profissional no Brasil. O primeiro deles diz respeito ao respeito à intimidade, à privacidade, à honra e à imagem do cidadão que, segundo o artigo 6, VIII, deveriam ser respeitadas . A pergunta óbvia é: tem sido? O caso Nardoni é exemplar para dar conta da falta de limites dos jornalistas (e veículos) que confundem notícia com escândalo, sensacionalismo no pior sentido. O segundo deles refere-se ao jogo duplo (e portanto não ético) de muitos colegas que atuam na imprensa , acumulam a função de jornalistas (trabalham num veículo) e de assessores, empregados, prestadores de serviços em organizações (públicas, privadas, ONGs) e que fazem cobertura de seus patrões e clientes. Os ombudsmen da Folha de S. Paulo, ao longo do tempo, têm denunciado esta dupla jornada e o jornal têm, justamente, dado cartão vermelho para os que agem desta forma.

Mas, resolvido o Código de Ética para os jornalistas, fica faltando um outro, também essencial: o Código de Ética para os donos da mídia, que continuam cometendo abusos de toda ordem, estabelecendo relações promíscuas com o poder político e econômico, sonegando informações relevantes de interesse público, estressando os jornalistas nas redações (haja assédio moral!), para não falar de casos mais dramáticos de utilização indevida da imprensa para negócios excusos.

Não mereceriam o enquadramento em código de ética, os monopólios da comunicação? Não é obscena a manipulação da audiência em prol de interesses empresariais? Não é anti-ética a concessão de canais de TV e emissoras de rádio em nosso País? Podemos continuar convivendo com "laranjas" de políticos, como temos assistido recorrentemente, inclusive freqüentando CPIs? Não é imoral termos emissoras de TV que compram campeonatos de futebol com exclusividade e não exibem os jogos? É ético o espetáculo idiota do Big Brother, que dá lucros formidáveis, ao mesmo tempo em que dissemina comportamentos sociais inadequados? É ético chutar a Santa? São éticas as transmissões dos camarotes dos carnavais com propaganda cínica da indústria de bebidas e até de laboratórios farmacêuticos? A apologia da violência, o sensacionalismo barato não mereciam um enquadramento ético? É ética a parceria entre veículos e anunciantes, quando os produtos que vendem contribuem para a insustentabilidade, para o consumo não consciente, para a auto-medicação, para tornar obesas as nossas crianças? Que ética tem a disputa Sky x Abril que privilegia apenas os interesses comerciais e joga o assinante para escanteio?

Os donos da mídia precisam urgentemente de um Código de Ética,  a ser definido pela própria sociedade, porque a sua ética particular anda em farrapos.  Evidentemente, defendem, com unhas e dentes (mas sobretudo com os bolsos), uma visão singular de liberdade de expressão, aquela que preserva os seus interesses e privilégios, colocando-se sempre acima de qualquer suspeita (mas são suspeitíssimos). Aquela liberdade de expressão que mascara a relação com a indústria de bebidas, agências de propaganda, entidades de auto-regulamentação (bela piada, não?) em favor do lucro obtido pelo estímulo ao pileque?

Vamos admitir que existam exceções, e elas existem mesmo, mas o ranking efetivamente ético da mídia é integrado por poucos veículos, se a gente for levar o conceito de ética realmente a sério.

Certamente, Hipólito da Costa, nosso pioneiro há 200 anos, não deve estar satisfeito com o rumo que a imprensa tomou e com os compromissos espúrios assumidos ao longo deste tempo.

Uma mídia livre, independente, ética é absolutamente necessária.  A ética é uma postura que deriva do caráter, de uma visão moderna do interesse público, de cidadania, de responsabilidade social autêntica (não a responsabilidade social hipócrita dos fabricantes do tabaco, de armas, agrotóxicos, bebidas e outros produtos nocivos menos votados). Esta ética que, na mídia, anda faltando, mesmo para as melhores famílias.

Infelizmente, por causa disso, apenas jornalistas éticos não conseguem produzir uma comunicação mais ética em nosso País. Pelo menos que a gente faça a nossa parte. Cada um na sua.

* Wilson da Costa Bueno é jornalista, professor da UMESP e da USP, diretor da Comtexto Comunicação e Pesquisa. Editor de 4 sites temáticos e de 4 revistas digitais de comunicação.

Jornalista é libertado com suspensão de parte da Lei de Imprensa

O jornalista José Diniz Júnior, editor do tablóide Matéria-Prima, de Taubaté, interior de São Paulo, está livre desde a última sexta (22/02), quando a Vara das Execuções Criminais de Taubaté determinou sua saída, da pena que cumpria em regime semi-aberto, devido à suspensão de artigos da Lei de Imprensa pelo Supremo Tribunal de Justiça.

Diniz, como é conhecido na cidade interiorana de Monteiro Lobato, recebeu uma pena de um ano e um mês de prisão – em regime semi-aberto e aberto – por ofender um advogado ao dizer que atendia as duas partes de um mesmo processo. Desde que saiu de seus 80 dias de cadeia, o jornalista vem recebendo inúmeras ligações: “Estou nos meus 15 minutos de fama”, comemora Diniz.

Vida na prisão

Em vez de se abalar com o regime semi-aberto, com a obrigatoriedade de dormir na cadeia com outros 1.630 reeducandos, o jornalista de 62 anos usou a força a favor: decidiu escrever sobre a prisão. A tiragem do jornal aumentou. “Estava preso de corpo, mas não de cabeça”, afirma. O jornal não deixou de circular uma semana sequer e Diniz já tem planos de escrever um livro: “Diário da Tranca”.

Fim da Lei de Imprensa: liberdade demais?

O editor do Matéria-Prima já fora preso duas vezes antes pelo mesmo crime de danos morais, fundamentado na Lei de Imprensa. Diniz não acredita que o fim da lei deixará impunes os atos de crimes contra a honra, por parte dos jornalistas. “Nós teremos agora os Código Civil e Criminal, como qualquer pessoa. Por que jornalista tem que ser diferente?”, questiona.

O jornalista afirma que manterá a postura editorial de “cobrança” e “indignação” contra as injustiças, mas que agora terá mais cuidado ao fazer as acusações. “Os advogados já me disseram para eu denunciar sem ofender. É o que vou fazer.”

Carreira

Diniz conseguiu o MTB, registro de jornalistas, pela assiduidade com a qual colaborava para os jornais. Há dez anos, edita o Matéria-Prima. A publicação está toda sexta-feira nas bancas. Diniz não vê a necessidade de se fazer uma faculdade de jornalismo. “Jornalismo é vocação”, justificou.

Entidades criticam administração da Record no Rio Grande do Sul

O Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Rio Grande do Sul (SJPRS) e a Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) divulgaram, nesta quinta-feira (14/02), nota oficial repudiando o afastamento de jornalistas que atuavam como correspondentes do jornal Correio do Povo e da Rádio Guaíba, ambos pertencentes à rede Record, no interior do estado. Com a demissão, comunicada no fim do mês de janeiro, os cerca de 20 profissionais passam a trabalhar apenas para o veículo impresso.

Conforme o texto das entidades, os comunicadores foram informados do fim do contrato de trabalho via carta, “sem maiores explicações”. As entidades condenam ainda a definição do Sindicato dos Radialistas como local para encerramento dos contratos. “(…) O propósito de um plano de expansão do grupo ligado à Igreja Universal está se restringindo, no momento em que demite seus profissionais e, ainda pior, não está reconhecendo os profissionais como jornalistas, na medida em que contraria a lei e determina como local de rescisão dos contratos o Sindicato dos Radialistas, quando estes devem ser feitos no sindicato da categoria”, diz o documento.

Conforme José Maria Nunes, presidente do SJPRS, um acordo com o Sindicato dos Radialistas definiu que este último não aceitaria a tentativa da Record a fim de assegurar os direitos dos profissionais afastados. “O sindicato dos radialistas não homologará nenhuma rescisão de jornalistas. Nossa entidade se solidariza com estes trabalhadores demitidos e espera que a Record reveja sua atitude que em muito contraria os propósitos iniciais da rede quando chegou ao sul com o discurso de expansão do mercado de trabalho”, diz nota publicada no site da entidade.

O Comunique-se tentou conversar com um representante da Rádio Guaíba, mas não foi atendido. De acordo com Alexandre Calderon, diretor-geral da emissora, todos estavam envolvidos em uma série de reuniões. “Estamos tentando botar a casa em ordem. Não que não esteja, mas queremos proporcionar que os funcionários trabalhem com mais tranqüilidade”, afirmou por telefone.

Promessa ou dívida?

Nunes conta que o SJPRS tentou reverter a decisão de demitir os jornalistas em reunião com a direção da Guaíba. “Argumentamos que a existência de correspondentes no interior era um diferencial, mas infelizmente não fomos atendidos”, lamenta. De acordo com ele, apesar de os mesmos profissionais permanecerem no Correio do Povo, trata-se do encerramento de postos de trabalho. “Além de limitar a qualidade das informações prestadas pela redução de pessoal, estão sendo enxugadas as oportunidades de atuação.”

A Record chegou ao mercado gaúcho em março do ano passado, ao adquirir a Empresa Jornalística Caldas Junior, que engloba o jornal Correio do Povo e as rádios Guaíba AM e FM. Ao iniciar as transmissões na região, a emissora movimentou a concorrência ao absorver nomes conhecidos do jornalismo local e anunciou que haveria significativa ampliação do grupo de trabalho, situação que foi transformada em bandeira durante os primeiros meses de atuação. “Desde a chegada da Record havia uma expectativa de crescimento do mercado. Portanto, esperamos não haver mais demissões por parte da emissora”, afirma Nunes.

Dúvidas sobre registro

Se depender do Sindicato dos Radialistas, a rede só poderá descansar se tiver toda a documentação em dia. Com dúvidas a respeito do registro de Alexandre Mota, transferido de São Paulo para apresentar o programa Balanço Geral na TV Record na primeira quinzena de fevereiro, a entidade tentou obter da emissora provas de que o comunicador está registrado, mas não foi atendida e cogita acionar a Delegacia Regional do Trabalho (DRT) em caso de descumprimento. “Fizemos a solicitação junto ao sindicato de São Paulo, que ficou de enviar a documentação via fax, mas ainda não entrou em contato”, diz Nerilson Tozzi, diretor do sindicato.

Três jornalistas ficam detidos em Cuiabá (MT)

Os repórteres-cinematográficos Marcos Alves (TV Centro América, afiliada da TV Globo em Mato Grosso) e Belmiro Dias (TV Record), além de Otmar Oliveira, repórter-fotográfico de A Gazeta, levaram um susto na última sexta-feira (11/01). Eles ficaram detidos por mais de duas horas a mando do juiz da 4ª Vara Criminal de Cuiabá, Rondon Dower Filho. Os três tentaram registrar imagens durante audiência de um processo que corria em segredo de Justiça.

O cinegrafista conta que a porta da ante-sala estava semi-aberta e alguns repórteres entraram para saber da audiência. “Não havia nenhum comunicado, ninguém sabia que havia sido decretado sigilo naquele processo”, disse Alves ao Comunique-se. O entra e sai da imprensa chamou a atenção do juiz, que decretou voz de prisão aos três.

Graças à atuação dos advogados dos veículos para os quais eles trabalham, do Sindicato dos Jornalistas do Mato Grosso e da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), eles não chegaram a ser levados para a delegacia.

O processo que os três tentavam cobrir diz respeito a supostas atividades de corrupção cometidas por funcionários do fórum.