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Comissão aprova prazo de 60 dias para cobrar pay per view

A Comissão de Ciência e Tecnologia, Comunicação e Informática aprovou ontem substitutivo ao Projeto de Lei 447/03, do deputado Pedro Fernandes (PTB-MA), que estipula prazo de 60 dias para as operadoras de televisão por assinatura cobrarem os serviços pay per view. O texto original proibia as concessionárias de telefonia fixa e móvel de cobrar dos usuários débitos referentes a ligações telefônicas realizadas e não lançadas nas faturas após 60 dias da data de realização da chamada.

O relator, deputado Manoel Salviano (PSDB-CE), manteve no substitutivo os prazos atuais para cobrança de ligações fixas e móveis. Ele lembrou que resolução da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) determina prazo de 60, 90 e 150 dias para a operadoras de telefonia fixa cobrarem chamadas locais, interurbanas e internacionais, respectivamente. Quanto às prestadoras de telefonia móvel, outra resolução da Anatel dá prazo de 60 dias para a cobrança das ligações.

Pagamento parcelado

Após esses prazos, o débito terá de ser negociado e parcelado, no mínimo, pelo número de meses correspondentes ao período de atraso na apresentação da cobrança. "Essas regras conferem ao usuário a oportunidade de pagar os débitos pendentes de forma parcelada, mas ao mesmo tempo não imputam às operadoras os prejuízos causados por falhas operacionais que podem decorrer inclusive de fatores alheios a sua responsabilidade", avaliou.

Salviano ponderou que as regras de cobrança não devem restringir-se aos serviços de telefonia fixa e móvel, e incluiu os serviços pay per view de TV a cabo.

Tramitação

A proposta, que já foi aprovada pela Comissão de Defesa do Consumidor, ainda será examinada em caráter conclusivo pela Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania.

Deputado do Psol cobra punição às TVs por assinatura

O deputado Ivan Valente (Psol-SP) afirmou, em audiência pública da Comissão de Defesa do Consumidor, que muitos dos pontos abordados no regulamento de proteção e defesa dos direitos dos assinantes dos serviços de TV por assinatura, da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), são contemplados no Código de Defesa do Consumidor, e por isso essas medidas já deveriam estar valendo. Ele questionou o funcionamento da Anatel e perguntou ao ministro das Comunicações, Hélio Costa, qual o papel do ministério no processo para punir as empresas que descumprem as determinações legais.

Valente afirmou ainda que o grande problema da TV por assinatura é o monopólio, que impede a concorrência no setor. "Estamos reféns de duas empresas que não têm interesse em prestar bons serviços", destacou.

Hélio Costa afirmou que a fiscalização do serviço cabe à Anatel. Ele disse também que é favorável ao estabelecimento de uma cota de conteúdo nacional nos canais por assinatura, porque, segundo ele, a programação externa não tem participação da mão-de-obra brasileira.

Conversores de TV digital

Sobre a pergunta de Valente a respeito do preço do conversor para TV digital (set-top boxes), Costa afirmou que os bancos estatais já estão prevendo linhas de financiamento para os consumidores. Além disso, o ministro informou que o governo federal já disponibilizou R$ 450 milhões pela Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), empresa pública ligada ao Ministério da Ciência e da Tecnologia, para qualquer empresa que queira desenvolver a produção dos conversores no Brasil. "Onde estão os empresários de visão?", questionou.

O deputado Júlio Delgado (PSB-MG) concordou com Ivan Valente a respeito do monopólio na TV por assinatura e também criticou a atuação da Anatel. Segundo ele, a propaganda foi autorizada nos canais por assinatura com a justificativa de baixar o preço e tornar o serviço acessível à população de baixa renda, o que não ocorreu. Ele revelou o seu temor de que os set-top boxes comecem a ser pirateados e contrabandeados do Paraguai, caso o preço não seja acessível a todos.

Negociação pode agilizar votação de PL das TVs por assinatura

Uma negociação entre os presidentes das comissões de Desenvolvimento Econômico e de Ciência e Tecnologia da Câmara dos Deputados pode acelerar a aprovação dos projetos sobre produção, programação e distribuição de conteúdos audiovisuais e de serviços de TV por assinatura. E deixar de lado algumas questões em relação às regras para conteúdo.

A articulação é para que as quatro propostas que estão sendo analisadas conjuntamente e apensadas ao PL 29/07 sejam terminativas na Comissão de Ciência e Tecnologia. Na prática, isso significa que o substitutivo do deputado Wellington Fagundes (PR/MT) não precisará passar pelo Plenário da Casa, agilizando em muito o encaminhamento ao Senado Federal.

A iniciativa de transformá-los em terminativos afetará sensivelmente a discussão sobre a produção de conteúdo, que seria tocada na Ciência e Tecnologia. Para que os projetos não precisem ir a Plenário é importante que o substitutivo apresentado pelo presidente da Comissão de Desenvolvimento Econômico, deputado Wellington Fagundes, seja alterado minimamente na próxima comissão. Daí as conversas entre Fagundes e o presidente da Ciência e Tecnologia, deputado Júlio Semeghini (PSDB/SP).

Apoio de Chinaglia

A idéia de não levar o substitutivo ao Plenário tem o aval inclusive do presidente da Câmara dos Deputados, deputado Arlindo Chinaglia (PT/SP). Com a discussão em torno da CPMF e a iminente votação do Orçamento para 2008, afastar projetos polêmicos do Plenário é extremamente vantajoso para a Casa. Outra vantagem é a Câmara conseguir repassar o debate para o Senado Federal o mais rapidamente possível. Se a estratégia funcionar, o debate mais denso sobre conteúdo seria realizado pelos senadores, fato que já tem ocorrido nos últimos meses.

A Comissão de Ciência e Tecnologia do Senado Federal tem se aprofundado nos estudos sobre a produção de conteúdo e a conveniência ou não de se criar regras para a regionalização da programação, ancorada no PL 280/2007, do senador Flexa Ribeiro (PSDB/PA). Com a negociação feita na Câmara, o debate pode ser mais racionalizado, deixando para os deputados os ajustes sobre o sistema de distribuição do conteúdo – que engloba a abertura do mercado de TV paga para que as teles atuem – e o da produção dos programas com o Senado Federal.

Mais mudanças

Mesmo existindo uma articulação para dividir a tramitação, o substitutivo do deputado Fagundes não deve passar incólume sobre o tema da produção. Muitas emendas apresentadas ao relatório sobre o PL 29/07, do deputado Jorge Bornhausen (DEM/SC), e seus apensados (PLs 70/07, 332/07 e 1908/07) tratam especificamente sobre conteúdo. Em entrevista a este noticiário, Fagundes afirmou que irá avaliar as considerações feitas pelos outros deputados e que pode incluir as sugestões em seu substitutivo final. “Não posso ignorar nenhuma emenda”, declarou.

Por isso, a proposta deve sair da Comissão de Desenvolvimento Econômico mais bem acabada do que o previsto. A estratégia original do deputado Fagundes era repassar todo o debate sobre conteúdo para a Comissão de Ciência e Tecnologia, focando totalmente na abertura do mercado de distribuição. Com as emendas e a negociação para que o PL 29/2007 seja terminativo, é bem provável que a próxima apresentação de Fagundes traga mais surpresas para as empresas.

Votação marcada

Wellington Fagundes já marcou a data para relatar à comissão seu substitutivo final. Será na próxima quarta-feira, dia 31 de outubro. Como o trabalho de análise das emendas está adiantado, o deputado garante que é remota a possibilidade de remarcar a reunião na qual o texto final será votado. “Quero apresentar e votar na quarta-feira”, insiste o parlamentar, com a segurança de quem preside a comissão. Confiante de que a negociação com Semeghini funcionará, Fagundes acredita que a proposta será encaminhada ao Senado Federal ainda este ano.

Outro aspecto que contribui com o otimismo do deputado é o fato do ponto de maior atrito entre teles e radiodifusores estar praticamente dissipado, na opinião do parlamentar. “Hoje, no momento em que estamos, o ponto de divergência não existe mais, que era abrir ou não o mercado para as teles. A abertura já é consenso, se existe ainda alguma discussão é como será feita. Eu defendo abrir de uma forma geral”, explica.

Senado aguarda

Enquanto a Câmara corre para fechar sua participação no debate, o Senado Federal continua em compasso de espera. Segundo o presidente da Comissão de Ciência e Tecnologia, senador Wellington Salgado (PMDB/MG), serão feitas mais audiências sobre a produção regional de conteúdo. “Quando o assunto é muito complexo, o debate é sempre extenso”, comentou o parlamentar.

Salgado contou que o próprio autor do PL 280/2007, senador Flexa Ribeiro, ainda está pensando em provocar mais discussões sobre o tema. Sendo assim, o presidente da comissão aposta que não há como fechar o debate ainda neste ano. “Tenho certeza que não vai dar para concluir agora. Vai seguir para 2008.”

A Comissão de Educação do Senado Federal também tem ensaiado entrar mais ativamente na discussão do tema. Na semana passada, o presidente da comissão, senador Cristovam Buarque (PDT/DF), disse que há disposição da Casa em fazer um projeto sobre conteúdo, com perfil para gerar a esperada Lei de Comunicação Eletrônica.

Também há a expectativa de que a Casa Civil encaminhe anteprojeto sobre o assunto, ampliando ainda mais as vertentes sobre uma legislação que defina regras para a produção de conteúdo no País. As linhas defendidas pela Comissão de Educação e pela Casa Civil atingem também a radiodifusão aberta.

Deputada critica renovação automática das concessões de rádio e TV

Brasília – A deputada Luiza Erundina (PSB-SP), presidente da subcomissão da Câmara que avalia as normas de concessão e renovação dos canais de rádio e TV, criticou a maneira como a renovação é feita atualmente.

Segunda ela, hoje ocorre uma “renovação automática” dos canais de TV e estações de rádio. “As concessões se renovam às vezes até fora do prazo. Esses canais continuam operando mesmo com datas de concessões ultrapassadas. Isso estamos tentando rever na legislação”.

Atualmente, a responsabilidade de autorizar o funcionamento de uma emissora de rádio ou televisão e também de renovar a concessão da atividade é do Ministério das Comunicações, do Congresso Nacional e da Presidência da República. Em 2006, a Comissão de Ciência, Tecnologia, Comunicação e Informática da Câmara (CCTCI) não renovou a concessão de 83 emissoras de radiodifusão.

Os pedidos voltaram para a Comissão de Constituição de Justiça (CCJ) da Câmara, onde devem ser reavaliados para, em seguida, seguirem para votação em Plenário. As emissoras só perdem as concessões se receberem votos contrários de dois quintos dos 513 deputados.

Em entrevista à Rádio Nacional, a deputada defendeu a democratização do acesso a concessões de rádio e TV e a criação de mecanismos de controle social sobre os veículos de comunicação no país. “É preciso haver maior transparência e um domínio por parte da sociedade das disposições legais, constitucionais”.

Na opinião da deputada, o cidadão comum não tem consciência de que a concessão de canais de rádio e TV é um patrimônio público. “Lamentavelmente hoje se concentra em oligopólios. Apenas seis grupos detêm o controle dos meios de comunicação social no país”.
Luiza Erundina acrescentou que o sistema de radiodifusão comunitário “ainda é precário” e “extremamente limitado”, além de faltarem informações atualizadas sobre quem são os proprietários de concessões. “Essas concessões se transferem entre terceiros sem passar pelo Ministério das Comunicações, como deveria”.

Erundina acrescentou que o trabalho iniciado este ano – que estabelece os critérios, normas, procedimentos de outorga e renovação de concessões de rádio e TV na Câmara – não teve dificuldades para ser aprovado. Mas, para a segunda fase, em que serão apresentadas as propostas da subcomissão, “deve haver mais dificuldades” de aprovação na Câmara na opinião da parlamentar.

Uma das alterações do ato aprovado este ano foi eliminar a possibilidade de devolução do processo de renovação ao Ministério das Comunicações para solução de eventuais pendências. De acordo com a comissão, se no prazo de 90 dias as pendências detectadas na Câmara não forem resolvidas pelas emissoras, o processo será distribuído para relatoria, com recomendação pela rejeição. No caso de o processo ficar parado na Câmara, o presidente da comissão poderá, no prazo de cinco sessões, fazer redistribuição.

De acordo com a deputada, até o dia 20 deste mês, a subcomissão fará uma reunião para “dar a última palavra” sobre o diagnóstico e propostas de leis a serem apreciadas pela Comissão de Ciência e Tecnologia. Se aprovadas, as propostas vão para a Comissão de Constituição e Justiça e, em seguida, para o plenário da Câmara.

Segundo relatório preliminar da subcomissão, aprovado em maio, para nortear a segunda fase de trabalho, uma das propostas que deveriam ser analisadas pelos deputados era a alteração na radiodifusão comunitária, com aumento do número de canais e da potência, hoje restrita, com proteção legal contra interferências e criação do serviço de televisão comunitária aberta, entre outras idéias para esta área.

No caso da Constituição, a proposta do relatório prelimitar era a regulamentação do artigo que estabelece a proibição da existência de monopólios e oligopólios. Outra proposta de regulamentação era a que dispõe sobre princípios que regem a produção e programação das emissoras de rádio e TV.  Além disso, a subcomissão propôs tornar inelegível os proprietários de emissoras de radiodifusão.

Quanto à migração para o sistema digital, está a proposta de obrigatoriedade da abertura de novos canais de rádio e televisão no sistema digital para asssegurar a diversidade na programação.

A deputada afirmou que espera contar com a mobilização da sociedade nesse processo de aprovação de mudanças na legislação. Amanhã (5), quando vencem concessões públicas para exploração de emissoras de tvs e rádios, a Coordenação dos Movimentos Sociais (CMS), que congrega Central Única dos Trabalhadores (CUT), União Nacional dos Estudantes (UNE), Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), entre outros, lançará uma campanha pela revisão dos critérios de concessão. Manifestações devem ocorrer em 11 capitais.

As concessões públicas de rádio são válidas por 10 anos e de televisões por 15 anos. O governo deve, então, avaliar o conteúdo veiculado nas emissoras, a responsabilidade social das empresas e a regularidade fiscal, conforme diz a Constituição.

De acordo com levantamento do Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC), vencem amanhã as outorgas de 28 emissoras de TVs e 153 canais de rádios. No último dia 28, o presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia, descartou a possibilidade de Congresso não renovar concessões de TV. Segundo ele, não é da tradição do Congresso Nacional negar concessão para órgãos de comunicação importantes.

Intervozes lança abaixo-assinado pela CPI Abril-Telefônica

A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) sobre a venda da empresa de TV por assinatura TVA pelo Grupo Abril à Telefônica, com expectativa de ser instalada essa semana – segundo a Agência Estado – ganhou mais um reforço. O Coletivo Intervozes lançou um abaixo- assinado pela abertura da CPI. A Comissão deverá investigar se a transação fere ou não lei que estabelece em 49% o limite de capital estrangeiro em uma empresa de TV a cabo. Qualquer internauta poderá apoiar a causa assinando pela internet o abaixo-assinado do Intervozes.

Como é comum acontecer com iniciativas que tentam jogar alguma luz sobre os negócios na área da comunicação, as empresas – neste caso, a Editora Abril – jogam pesado contra a CPI. Apesar de o requerimento contar com 182 assinaturas e aguardar apenas o despacho do presidente da Câmara dos Deputados, Arlindo Chinaglia, sua instalação nãoestá garantida. Usando a pressão direta e indireta (especialmente através da revista Veja), a Abril tenta fazer com que os parlamentares retirem seu apoio à CPI.

Como forma de pressionar no sentido contrário, o Intervozes – Coletivo Brasil de Comunicação lança um abaixo-assinado online pela instalação e mesmo a ampliação do foco da CPI.

Para o Intervozes, o episódio de que trata o pedido de investigação “é revelador da dimensão do poder dos grandes grupos de mídia enquanto atores políticos e de como a lógica econômica predomina em detrimento do interesse público no campo das comunicações”.

Além disso, a entidade  lembra que também outras transações no setor de TV por assinatura, como a venda de ações da NET para a Embratel (controlada pela mexicana Telmex), poderiam ser objeto da CPI.

O Intervozes ressalta que apesar da denúncia surgir em meio aos escândalos envolvendo o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e a disputa entre ele e a própria Editora Abril, que tomou partido pela sua cassação, os fatos envolvendo a venda da TVA são graves e não podem ser obscurecidos por esta querela.

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Veja abaixo o texto completo do abaixo-assinado.

Para assinar o manifesto, clique aqui.

Pela instalação da CPI TVA/Telefônica e investigação de todas as irregularidades do setor

Estamos diante de mais um caso de “faroeste” no campo das comunicações no Brasil. Agora, o Grupo Abril deflagrou uma campanha para desarticular a CPI que irá investigar a compra da TVA pela Telefônica. Utilizando seu principal veículo de informação, a revista Veja, a empresajoga pesado contra os parlamentares que assinaram o requerimento. Achando pouco, a Abril colocou lobistas e funcionários próprios para percorrer os gabinetes pressionando os deputados a retirar suas assinaturas.

Essa campanha só reforça a necessidade de instalação da CPI, alémdar mais motivos para enterrar o mito da imparcialidade no jornalismo brasileiro.

O que teme a Abril? Provavelmente, a empresa não quer que venham à tona as irregularidades da operação que, na prática, entregou o controle da ComercialCabo para uma empresa estrangeira, o que é proibido pela lei 8.977/95.

No momento em que uma empresa de mídia utiliza seu poder político para tentar proteger seus interesses, o Congresso brasileiro tem de afirmar sua independência e não pode se dobrar ao poder dessa grande corporação. É verdade que a denúncia das irregularidades feita por Renan Calheiros é uma retaliação à campanha da Abril pela sua cassação. O senador nada tem de inocente e reagiu à denúncia – aparentemente verdadeira – de que ele faz uso de laranjas para manter uma rádio em Alagoas. Mas é verdade também que isso não interfere nadanos fatos. O que interessa é saber se houve ou não irregularidades na operação de compra da TVA pela Telefônica. E há indícios de que houve irregularidades não consideradas pela Anatel ao aprovar a operação.

Pela legislação atual, o limite de capital estrangeiro em uma empresa de TV a cabo é 49%. Embora a venda da TVA respeite esse limite, ela estabelece uma cláusula no contrato apontando a necessidade de uma 'reunião prévia' dos acionistas preferenciais, que deve ter seu resultado seguido pela reunião de acionistas com direito a voto. Na prática, vincula as decisões da empresa às decisões da Telefônica, passando o controle à empresa espanhola.

A prática não é nova nem exclusiva do Grupo Abril. A primeira empresa a usar brechas legais para vender sua operadora de cabo para o capital estrangeiro foi a Globo, que vendeu a quase totalidade das ações preferenciais (sem direito a voto) e cerca de 38% das ações ordinárias (com direito a voto) da NET Serviços para a Embratel (leia-se Telmex). Mas a Globo usou uma empresa chamada GB (que era usada anteriormente pela Globo e o Bradesco – daí o nome) e lhe ''entregou'' 51% das ações da NET Serviços. O problema é que o capital da GB agora está dividido em 49% para a Telmex e 51% para a Globo. Assim, na prática, a Telmex é a acionista majoritária da NET Serviços, a despeito da proibição da Lei da TV a cabo (8.977/95). A transação da Globo foi aprovada pela Anatel.A Abril fez a mesma coisa, mas foi menos sutil; mesmo assim, também teve sua operação aprovada.

No caso da Telefônica, há ainda um outro problema. Em São Paulo, além da proibição prevista na Lei do Cabo, existe outra, que está na Lei Geral de Telecomunicações (LGT) e quediz que uma empresa concessionária de telefonia fixa não pode estar no bloco de controle de uma operadora de TV a cabo, o que se configura com a posse de 20% das ações ordinárias. Então, especificamente no estado de São Paulo, a Telefônica só pode ter 19,99% das ações ordinárias da TVA.

A resolução 101 da Anatel, que baliza a análise sobre esse tipo de operação, tem elementos para que se impeça esse tipo de transação. Com todos esses indícios, a investigação sobre essas operações se torna inadiável. Mesmo frente a esse quadro, a soberba do Grupo Abril étamanha que eles alegam que a CPI ameaça a liberdade de imprensa. Ora, uma empresa de mídia não pode ser investigada? Em nome dessa “liberdade de imprensa” (na realidade, liberdade de empresa) deve-se abafar todos os indícios de irregularidades em meios de comunicação? Só a reação da Abril já justifica a instalação da CPI. Quem teme, provavelmente deve.

O episódio é revelador da dimensão do poder dos grandes grupos de mídia enquanto atores políticos e de como a lógica econômica predomina em detrimento do interesse público no campo das comunicações. Evidencia também a leniência do poder público para lidar com as burlas legais encontradas pelas grandes empresas. Resta saber se o Congresso brasileiro se dobrará diante dessa chantagem. Os abaixo assinados esperam que não.