Programa Nacional de Banda Larga segue inacessível à população

Seis meses após a primeira tentativa, a RBA buscou – novamente em vão – assinar o pacote de R$ 35 mensais, por 1 megabite de velocidade de acesso, com o qual o governo federal anuncia que pretende democratizar o acesso à internet. Três das quatro empresas de telefonia habilitadas a oferecer o Programa Nacional de Banda Larga (PNBL) continuam boicotando o acesso da população ao serviço. E uma delas chegou a abrir o processo de contratação, mas deixou a reportagem esperando na linha até a desistência.

O Ministério das Comunicações divulgou nesta semana que o programa agora "beneficia" 4.500 municípios, em 25 estados e no Distrito Federal (na reportagem anterior eram 3.412). A RBA tentou contratar o serviço com as empresas privadas parceiras do governo federal Telefônica/Vivo, CTBC/Algar Telecom, Oi e Sercomtel, tanto pela internet como no atendimento telefônico das empresas.

Pela internet é absolutamente impossível. Nenhuma empresa tem o serviço disponível para assinatura em suas páginas na rede. Um dos critérios do programa é estar disponível em todos os meios de relação com o cliente das empresas, além de ser divulgado em condições de igualdade com os demais planos, de maior valor. Ao ligar no atendimento telefônico das empresas, os serviços mais caros sempre eram anunciados prioritariamente sobre a proposta do PNBL, apesar de a reportagem solicitar o programa governamental.

Diante da situação, a RBA procurou o Ministério das Comunicações (MiniCom). Após ser informados que não haveria possibilidade para uma entrevista, enviamos os questionamentos por e-mail, mas não tivemos resposta. O ministério também não informou quantos assinantes do PNBL há hoje no país, nem como faz a fiscalização do cumprimento do programa.

A posição é a mesma do ano anterior, quando a pasta não respondeu aos pedidos de entrevista.

Para a advogada Flávia Lefrève, da Associação de Consumidores Proteste, não há perspectiva de mudança no momento. “A situação é rigorosamente a mesma. Não houve melhora. O governo não fiscaliza e as operadoras não prestam o serviço corretamente. Simplesmente a democratização do acesso à internet não está acontecendo”, afirmou. Ela lembrou que a ação judicial movida pela Proteste, na Justiça Federal, exigindo que o PNBL seja prestado como serviço público, continua parada.

O Programa Nacional de Banda Larga (PNBL) foi criado em 2010, a partir de um grupo de trabalho no Ministério do Planejamento, no segundo mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A proposta básica é a prestação do serviço de banda larga de 1 mega, ao custo fixo de R$ 35 mensais, sem a necessidade de assinar outros serviços ou pacotes.

A proposta inicial era reestruturar e capitalizar a estatal Telebras, subordinada ao Ministério das Comunicações, para que ela concorresse diretamente com as grandes teles na prestação do serviço. Porém, com a chegada de Paulo Bernardo ao ministério, o empreendimento foi direcionado para as empresas privadas e a Telebras foi reduzida à função de levar o serviço onde as grandes operadoras não atuam, em virtude de suas perspectivas mercadológicas.

Rádio pública sai do papel depois de 54 anos em Recife

Redação – Observatório do Direito à Comunicação

Depois de 54 anos de idealizada, finalmente a rádio pública Frei Caneca saiu do papel. Proposta na Câmara dos Vereadores de Recife em 1960, somente em 2011 a rádio recebeu sua outorga e o início das emissões está previsto para 2014. Enquanto isso não acontece, é possível acompanhar o andamento do processo e ouvir na internet uma programação musical “experimental” que privilegia os artistas locais de Pernambuco.

O primeiro dos três grupos de trabalho que organizam a implementação da rádio se reuniniu nesta segunda-feira (17), no auditório do Museu de Arte Moderna Aloisio Magalhães (Mamam). Os demais se encontram nos próximos dias 18 e 19. Formadas por integrantes de diversas entidades, como membros do Conselho Municipal de Cultura e também do Fórum Pernambucano de Cultura, as divisões vão pensar a programação, o financiamento e a operacionalização da emissora.

Para saber mais e ouvir a rádioweb acesse http://www.freicanecafm.org/

Disputa eleitoral engole votação do Marco Civil da Internet

Por Bia Barbosa*

Atravessamos mais uma semana de debates na Câmara dos Deputados sem conseguir colocar o texto do Marco Civil da Internet em votação. Muita gente sequer entendeu como e por que, desta vez, foi o governo que pediu a retirada do projeto de pauta. Afinal, Dilma não apenas solicitou, em setembro de 2013, urgência constitucional para a votação do MCI – que obriga a Câmara a votá-lo para poder avançar em outras pautas – como também defende o atual relatório do deputado Alessandro Molon (PT-RJ). O problema é que o Marco Civil, como já ocorreu com vários outros projetos importantes para o país, entrou no redemoinho da disputa eleitoral de 2014.

Até a volta do recesso parlamentar de fim de ano, o único grande opositor do projeto, que foi construído de forma participativa a partir de uma proposta da sociedade civil, era o PMDB de Eduardo Cunha. Defensor histórico dos interesses das operadoras de telecomunicações, Cunha vinha se opondo ao Marco Civil e seu principal pilar: a neutralidade de rede. O princípio, garantido pelo atual texto do MCI, impede discriminações de tráfego em função do conteúdo que transita nas redes. Como as teles querem poder vender pacotes diferenciados, lucrando mais para ofertar o acesso a determinados tipos de conteúdo da internet (o acesso a uma transmissão por streaming, por exemplo, poderia custar mais do que a redes sociais e e-mails), uma lei que protege a neutralidade da rede seria péssima para a expansão deste modelo de negócios, altamente discriminatório.

Mas o lobby das teles não colou tanto como o esperado, e Cunha seguia, de certa forma, isolado. Partidos como PSDB, DEM, PPS, PTB e PSB, que não compõem a base do governo, já haviam declarado apoio ao texto. Vários deles fizeram exigências de alteração no relatório do deputado Molon para se somar ao projeto. Algumas dessas mudanças, inclusive, geraram críticas ao texto por parte da sociedade civil, como a inclusão, no artigo 16, da obrigatoriedade da guarda de dados dos usuários por seis meses para futuras investigações policiais. Mas os partidos conseguiram convencer o relator. Assim, não havia mais motivos para se opor ao texto.

Veio daí a jogada de mestre de Eduardo Cunha. Percebendo que não seria somente pelo mérito do texto e pelo lobby das operadoras de telecomunicações (mesmo em época de acordos para financiamento de campanhas!) que ele conseguiria derrotar o Marco Civil da Internet, Cunha colocou o texto no meio da disputa política eleitoral que vinha se desenhando na Câmara dos Deputados. Num cenário de possível divisão entre PT e PMDB, de parte da base do governo insatisfeita (querendo liberação de emendas e mais cargos no governo) e de oposição de direita buscando uma forma de derrotar o governo, Cunha transformou o Marco Civil da Internet numa das principais moedas de barganha do Congresso Nacional neste momento.

Assim, convenceu a maioria dos partidos de que aprovar o MCI seria dar uma vitória ao governo e que afundá-lo seria impor uma derrota à gestão Dilma. Começou o FLAXFLU. Só que quem saiu perdendo nessa história foram os 100 milhões de internautas brasileiros/as, que começaram a ver seus direitos e anseios jogados na lata de lixo dos conchavos e conluios parlamentares. Neste contexto, com raras e honrosas exceções, os partidos simplesmente passaram a ignorar o mérito do Marco Civil da Internet e a tratá-lo dentro dos moldes mais tradicionais – e lamentáveis – do jogo político.

PSDB e DEM, por exemplo, que antes tinham manifestado apoio ao texto, agora defendem a retirada da urgência de sua votação e promovem um discurso desinformativo – que se espalhou rapidamente nas redes sociais – de que o Marco Civil da Internet será uma lei para censurar a liberdade na rede, quando é justamente o contrário. O PSB, que até pouco apoiava os pleitos da sociedade civil para tornar o MCI ainda mais democrático e garantidor dos direitos dos internautas, agora diz que não tem mais posição fechada sobre o relatório do deputado Molon. Vale lembrar que se trata do partido de Eduardo Campos, que se autodeclara a “terceira via” das eleições presidenciais de outubro.

Aproveitando o fuzuê generalizado e tendo derrotado o governo na última terça-feira (11/03), com a aprovação da criação de uma comissão externa para apurar as denúncias de corrupção na Petrobras, Eduardo Cunha agora não pretende apenas derrotar o relatório do MCI, mas aprovar uma emenda aglutinativa que apresentou ao texto, atendendo aos principais desejos das teles: quebra da neutralidade da rede, autorização para venda de pacotes diferenciados em função do tipo de conteúdo acessado (transformando a internet numa verdadeira TV a cabo) e liberação da guarda e comercialização de dados dos usuários pelos provedores de conexão, rasgando qualquer resquício de preservação da privacidade do internauta.

Foi para evitar a aprovação desta emenda que o governo está agindo (muito atrasado), desde quarta-feira, para recompor sua base, ou pelo menos parte dela – na próxima segunda-feira, novos ministros já serão empossados. Foi pelo mesmo motivo que o ministro José Eduardo Cardozo pediu ao presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves, mais alguns dias antes de colocar o Marco Civil em votação.

Enquanto isso, dezenas de organizações da sociedade civil, que estão na origem da proposta do MCI, e mais de 300 mil internautas seguem pedindo a votação do Marco Civil já. Trata-se, sim, de uma questão urgente. Engana-se muito quem acredita que hoje a rede já é livre e que é o Marco Civil que acabará com esta liberdade. O Brasil está entre os campeões globais de conteúdos derrubados da rede pela simples decisão dos provedores, numa clara prática de censura privada. Cotidianamente, a neutralidade da rede é violada para atender aos interesses comerciais das operadoras de telecomunicações. E seus dados de conexão podem estar, neste momento, sendo vendidos sem que você sequer tenha sido informado.

A aprovação do Marco Civil da Internet é urgente para que tudo isso cesse e para que quem violar os princípios da liberdade de expressão, da neutralidade de rede e da privacidade do usuário seja responsabilizado. Nenhum direito a menos. É isso que pedimos. Esta é uma questão tão estratégica para o futuro da internet que, no dia em que a rede mundial de computadores completou 25 anos, seu fundador, Tim Berners-Lee, defendeu a elaboração de uma constituição universal para os direitos dos usuários na rede.

Com o MCI, o Brasil dará um exemplo ao mundo de como o direito dos cidadãos/as a acessar e explorar a web em sua plenitude, sem se submeter aos interesses das multinacionais da telefonia, é um dos direitos mais fundamentais da contemporaneidade. Dilma reconheceu a importância da proteção dos usuários na rede em seu discurso na Assembleia Geral da ONU; depois agendou para abril um encontro mundial sobre governança da internet aqui no Brasil. Não garantir agora a aprovação do Marco Civil da Internet poderá se transformar em um vexame internacional.

O que as organizações da sociedade civil e milhares de internautas esperam é os partidos da base do governo e da oposição enxerguem esta oportunidade como algo importante para os brasileiros/as, algo que precisa estar acima da mesquinharia das disputas políticas. Quem votar contra o atual relatório do Marco Civil da Internet não estará derrotando o governo. Estará pisoteando os direitos dos internautas. Se tudo se resumir às disputas eleitorais, não haverá alternativa a não ser cobrar, nas urnas, a posição que cada parlamentar assumir neste momento. Estamos de olho!

Para saber mais sobre o Marco Civil da Internet e as mobilizações em apoio a sua aprovação, visite: www.marcocivil.org.br

* Bia Barbosa é jornalista, mestre em gestão e políticas públicas e membro da coordenação do Intervozes.

Texto originalmente publicado no Blog do Intervozes na Carta Capital.

Parlamentares querem punição para SBT e Sheherazade

A deputada Jandira Feghali, representando a bancada do PCdoB entrou com uma representação na Procuradoria Geral da República no dia 12 de março contra a apresentadora Raquel Sheherazade e o SBT por apologia ao crime, à tortura e ao linchamento. A bancada do PSOL e a senadora Ana Rita (PT-ES) já haviam feito o mesmo em fevereiro. Dessa vez, porém, o documento defende que seja cortado o repasse de publicidade enquanto durar o processo e que se perca a concessão caso a TV seja condenada.

A representação diz respeito às declarações feitas pela apresentadora ao veicular o caso do jovem negro acorrentado e torturado no bairro do Flamengo, no Rio de Janeiro. O documento responsabiliza também a empresa, concessionária do serviço público de radiodifusão televisiva.

Segundo dados levantados pelo PCdoB, a emissora de Silvio Santos recebeu 153,5 milhões de reais para veicular propagandas do governo federal no ano de 2012. Com esse volume de verba, pode ser considerada a terceira empresa que mais recebe recursos destinados à publicidade do Poder Executivo.

Helena Chagas, então ministra-chefe da Secretaria de Comunicação Social da Presidência (Secom), havia afirmado, durante um debate na Comissão de Cultura da Câmara em 2013, que veículos de comunicação ou concessões públicas que violem a Constituição ou incitem crimes de intolerância ou violência poderiam perder toda a verba publicitária do governo.

Caso o SBT venha a perder a concessão da emissora de televisão, isto seria um fato inédito no país. Se for condenada, Rachel Sheherazade poderá pegar detenção de 3 a 6 meses ou pagar multa, conforme prevê o Código Penal.

Juazeiro do Norte debate a Lei da Mídia Democrática

Redação – Observatório do Direito à Comunicação

A luta em defesa da Lei por uma Mídia Democrática chega ao interior do Ceará. O curso de Comunicação Social da Universidade Federal do Cariri (UFCA) debate o projeto de lei de iniciativa popular com o jornalista e militante Ivan Moraes Filho, do Centro Cultural Luiz Freire (PE).

O evento acontece no Auditório do Campus, no Juazeiro do Norte, às 18h30, no dia 14 (sexta-feira).