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Fábrica de semicondutores no Brasil ainda depende de investimentos de US$ 6 bilhões

A chegada de uma fábrica de semicondutores no Brasil foi dada como certa na época da escolha do padrão de TV digital no País. Ao optar pelo modelo japonês (ISDB), o governo usou como justificativa a promessa de construção de uma fábrica por empresas nipônicas, mas isso não chegou nem perto de acontecer.

No último capítulo da novela semicondutores, o Senado aprovou a transformação para empresa pública do Centro Nacional de Tecnologia Eletrônica Avançada (Ceitec), apontada como o embrião da fábrica de semicondutores brasileira. O centro prometeu, inclusive, uma fábrica de semicondutores no Brasil em 2009.

Falta de infra-estrutura e alta carga tributária são apontados como os principais entraves para o Brasil receber o investimento para criação dessas fábricas, que gira em torno de 6 bilhões de dólares.

A ansiedade em torno do tema se justifica facilmente. Bilionário, o mercado de semicondutores pode ser considerado um dos mais atrativos entre todos os setores. E há mais do que retornos financeiros.

Essa indústria gera ganhos em cascata para diversos segmentos da economia. “A mão-de-obra em uma fábrica de semicondutores é altamente qualificada. São profissionais que precisam ser os melhores em suas áreas, abrangendo desde físicos e matemáticos até biólogos”, explica Roberto Brandão, gerente de tecnologia da AMD.

Além disso, a indústria de eletroeletrônicos, só no primeiro semestre de 2008, importou mais de 2 bilhões de dólares de semicondutores, segundo dados da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee).

Com a expectativa da Abinee é 18% de crescimento em 2008 para a indústria de telecom e de 14% de crescimento para a de informática, é possível ter uma idéia do tamanho desse mercado só no Brasil.

Mesmo considerando os ganhos que o País teria e a aparente vontade do governo, o Brasil ainda precisa trilhar um longo caminho para realizar o sonho. E resolver todos os entraves neste governo, ou mesmo no próximo, não é uma aposta factível.

Problemas estruturais

“É uma vergonha não termos uma fábrica de semicondutores, mas perdemos o momento”, afirma Julio Gomes de Almeida, consultor do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi). “É uma iniciativa que colocaria o Brasil no centro de uma indústria de ponta, que estamos de fora”, completa.

A questão tributária, segundo ele, é o menor obstáculo . “O que ainda é muito caro é o ICMS sobre o investimento, mas os estados podem conceder incentivos que equiparam as condições brasileiras com as de outros países”, afirma. O maior problema, na realidade, está mesmo na infra-estrutura.

Fabricar um semicondutor exige três grandes passos, explica Brandão, da AMD. O primeiro é obter e dar forma ao silício cristalino, principal matéria prima dos chips. O segundo é, em cima do silício, construir os processadores. Esta é a etapa mais importante e complexa. Por último, vem a parte de encapsulamento e conexões elétricas.
O processo é extremamente complicado por conta da miniaturização dos componentes necessários. “Qualquer grão de areia ganha a dimensão de uma enorme rocha”, explica o gerente da AMD. Por esse motivo, uma fábrica de chips precisa de um ambiente especial. Em alguns casos, o processo de corte do silício é feito dentro d’água, que, necessariamente, precisa ser extremamente limpa.

Além deste ambiente, a fábrica precisa produzir em larga escala. Isso porque os investimentos necessários são altíssimos. “Para começar a produzir, demanda cerca de 6 bilhões de dólares de investimentos e sem contar a parte da mão-de-obra”, explica Brandão. Ou seja, mais do que ter a tecnologia, um país precisa oferecer uma série de condições para se tornar atrativo a essa indústria.

Ninguém está disposto a investir essa quantidade de dinheiro sem ter certeza do retorno. “Não dá para pensar em instalar uma fábrica de semicondutores no Brasil. Não há infra-estrutura. Não é só instalar a planta, precisa de gente para produzir insumos, de fabricantes de roupas especiais, produtos de limpeza, precisa melhorar a logística”, alerta Henrique Miguel, coordenador geral de microeletrônica da Secretaria de Políticas de Informática do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT).

Ambiente favorável

A solução, segundo ele, é começar a criar um ecossistema favorável a atração de investimentos nessa área.

Nesse sentido, o governo agiu bem ao transformar em empresa pública o Ceitec. A empresa terá sede em Porto Alegre (RS) e ficará vinculada ao MCT. Segundo Miguel, o Ceitec é parte de um esforço para criar um ambiente favorável à indústria de chips. “Já foi tentado isso no passado, mas sem sucesso”, disse o coordenador.

Com capacidade de produzir de 200 a 300 lâminas por semana com tecnologia CMOS (complementary metal-oxide-semiconductor) e em 0,6 micrômetros, a fábrica vai funcionar como uma formadora de mão-de-obra especializada e suprir algumas necessidades do mercado interno.

Por mais que ainda esteja bem longe das plantas de empresas como a AMD e a Intel, o Ceitec pode ser considerado uma iniciativa importante para a inclusão do Brasil no mapa da alta tecnologia.

“É um novo horizonte. Em outros países também foi assim, começando de baixo”, afirma Miguel. “Com o Ceitec vamos produzir quantidades e tipos de semicondutores que não seriam viáveis em fábricas maiores”, comemora Humberto Barbato, presidente da Abinee. A tecnologia disponível atualmente permite produzir diversos tipos de chips, mas não chega ao patamar necessário para a fabricação de memórias e processadores, explica Miguel.

Com o Ceitec, espera-se que, aos poucos, o Brasil passe a ter toda uma indústria em torno da empresa pública. Dessa forma, o País passaria a chamar atenção dos grandes fabricantes e, daqui a alguns anos, ter condições de se candidatar a entrar de fato no mercado. Resta saber se não vão surgir obstáculos novos durante o processo.

Internet pela rede elétrica ganha impulso no Brasil

A transmissão de banda larga pela rede elétrica, que é testada e estudada no país há anos, ganhou um impulso importante nesta semana, depois que o conselho diretor da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) aprovou a criação de uma consulta pública sobre o assunto.

Ainda não há data para que a consulta pública seja realizada, mas esse é o primeiro passo para que o Brasil tenha uma regulamentação para essa nova modalidade de conexão, que usa a infra-estrutura de redes elétricas em conexões que podem chegar a 200 Megabits por segundo (Mbps). Hoje, a velocidade mais alta disponível no país não passa de 30 Mbps.

Pedro Luiz de Oliveira Jatobá, presidente da Associação de Empresas Proprietárias de Infra-Estrutura e Sistemas Privados de Telecomunicações (Aptel), defende a adoção da tecnologia Power Line Communication (PLC) no Brasil há anos e comanda testes que a entidade realiza em locais de baixa renda.

Agora, ele afirma, em entrevista à Reuters, já ter “uma expectativa concreta” de que o sistema se massifique no Brasil em cerca de um ano.

De acordo com o executivo, que também atua na Eletrobras, “há vários grupos interessados com investimentos previstos só aguardando essa regulamentação”.

Jatobá afirmou estar acompanhando de perto o desenrolar do assunto na Anatel e lembra que, no caso da conexão conhecida como "indoor" –só dentro de um determinado ambiente– já existem exemplos de uso em hotéis e edifícios comerciais porque essa modalidade não depende de regras da agência.

“Agora isso poderá se massificar nas residências”, acredita o executivo, já que a popularização pode baratear os custos dos equipamentos e se tornar uma opção a mais de conexão.

O presidente da Aptel prevê a união entre as operadoras de telefonia e as concessionárias de energia elétrica para levar essa nova opção aos clientes. “Eu acredito no modelo das parcerias”, afirmou.

Ele lembra que “está aumentando muito a demanda das elétricas por recursos de telecomunicações” para a instalação de medidores eletrônicos e sistemas de acompanhamento remoto do consumo de energia nas casas.

Tal demanda poderá aproximar os dois grupos de empresas, na avaliação de Jatobá, já que as teles e os provedores de Internet podem ter na infra-estrutura elétrica uma forma de ampliar seu escopo de atuação. “Vai haver uma convergência natural das redes”, espera.

Jatobá também informou que a japonesa Panasonic está participando dos testes de banda larga pela rede elétrica que a Aptel realiza em Barreirinhas (MA) e que, além de modems, fabrica para outros países equipamentos com a tecnologia PLC embutida, como televisores, câmeras de vigilância e sistemas de portão eletrônico.

Em Barreirinhas, o PLC é usado como canal de retorno da TV digital, o que garante a interatividade imaginada pelo governo nesse novo sistema de TV. “Nossa intenção é que isso aconteça também em outras localidades”, afirmou.

O bairro Restinga, na periferia de Porto Alegre (RS), também vive um teste da tecnologia para conexões de locais públicos, como postos de saúde e escolas.

A tecnologia permite conexões em até 200 Mbps e, nos testes já realizados até agora, a Aptel conseguiu, “em condições normais”, 60 a 70 Mbps. Jatobá explica, entretanto, que “várias medidas podem melhorar o desempenho da rede” e elevar a velocidade possível, como a segregação de circuitos.

Ainda não é possível mensurar o preço ao usuário final, segundo ele, porque isso vai depender "do mercado e do tipo de aplicação" que vai se dar a essa modalidade de conexão.

Disputas políticas e atrasos de padronização ‘travam’ o WIMAX

O WiMAX não "decolou" como se esperava em função de uma sucessão de erros dos seus agentes fomentadores, mas ainda é uma tecnologia com espaço considerável para crescer, em especial, nos chamados "países emergentes", avalia o Yankee Group.

Sem produtos em escala e com várias disputas políticas e regulatórias, o WiMAX, em 2008, não terá mais do que nove milhões de assinantes mundialmente. No Brasil, a Anatel estuda, agora, incluir no leilão de 3,5GHz a possibilidade da licença de SMP(telefonia móvel). Processo pode ficar ainda mais complexo para se ter um consenso.

Os números do Yankee Group para o WiMAX foram revistos nos últimos tempos. Para 2011, se o mercado andar, a expectativa, agora, é que se chegue a 36 milhões de assinantes mundialmente. Na América Latina, se todos os projetos caminharem, em especial, na Argentina e no México, os assinantes ficarão em pouco mais de seis milhões.

"O momento é de repensar o uso da tecnologia. Não adianta discutir que WiMAX é concorrente da Terceira Geração. Não vejo assim. Na América Latina, o WiMAX é uma opção evidente para a tecnologia de cabo", destacou Wally Swain, que esteve no Brasil, para o lançamento oficial da quarta edição do WiMAX Brazil Conference 2008, evento realizado pela Network Eventos, e que será realizado nos dias 23 e 24 de junho, na capital paulista.

Com relação ao Brasil – onde o leilão da licença de 3,5GHz está parado na Anatel, uma das maiores preocupações é a tentativa, agora, de inclusão da licença de SMP no processo. Para representantes da indústria se essa hipótese virar realidade, a tendência é que o preço das licenças sofra um forte reajuste e afaste definitivamente a possibilidade de médios e pequenos operadores e provedores participarem do processo.

"Pode ser um novo leilão de 3G porque apenas as concessionárias terão dinheiro para pagar pelas licenças e todas querem mais espectro, freqüência para serviços. Não haverá chances para os pequenos", destacou o diretor da NeoTec, José Luiz Frauendorf.

Para Wally Swain, do Yankee Group, fica evidente que o WiMAX desponta como uma alternativa para levar acesso banda larga para regiões ainda não-atendidas. Indagado sobre o futuro da tecnologia, o vice-presidente do Yankee Group acredita que a sinergia entre o wiMAX e o LTE (long Term Evolution) é apenas questão de tempo.

"Elas vão se integrar mais à frente porque é esse o desejo das operadoras que têm dinheiro para comprar tecnologia junto à indústria", afirmou. Com relação ao mercado latino-americano, Swain disse que há duas estratégias importantes para serem observadas: No Chile, onde há grande competição, as autoridades reguladoras começam a estudar o uso da freqüência de 700 MHz para o WiMAX.

Nos Estados Unidos, o leilão dessa faixa, ocorrido recentemente, arrecadou mais de US$ 20 bilhões para os cofres do tesouro. O Chile é o primeiro país da América Latina a viabilizar um estudo para o uso da faixa de 700 MHz para WiMAX.  A outra iniciativa é a do Paraguai onde o WiMAX tem sido a base de um projeto nacional de Inclusão Digital, sustentado pelo governo e ofertado pela Millicom.

Os rumos do WiMAX – nos aspectos regulatórios e também na parte da indústria – são tema da quarta edição do WiMAX Brazil Conference 2008. Para maiores informações sobre o evento acesse: www.networkeventos.com.br

Toshiba estuda retirar HD DVD do mercado

A fabricante Toshiba deve retirar do mercado seu formato de última geração de DVDs, HD DVD, que praticamente perdeu a disputa contra o formato Blu-ray, da Sony. O comunicado oficial da empresa é esperado ainda esta semana. A competição pela alta definição foi selada com o apoio das distribuidoras americanas, Wal Mart e Best Buy, ao formato de DVD da Sony, anunciado em janeiro deste ano. A batalha começou a ter visibilidade em 2007, quando os grandes estúdios cinematográficos, como Warner Brothers e 20th Century Fox, passaram a licenciar filmes em alta definição apenas no formato Blu-ray.

Para continuar na disputa, a Toshiba prometeu, no início deste ano, reduzir entre 40% e 50% os preços de seus leitores HD DVD, que registraram vendas recordes no quarto trimestre de 2007, na América do Norte. O lançamento do formato da Sony foi feito em 2003, enquanto o da Toshiba foi em 2006. Contudo, os fabricantes iniciaram a disputa ao impedirem que suas reproduções fossem compatíveis entre si. O Blu-ray possui uma capacidade de 27 GB, frente aos 20 GB do HD DVD, no entanto a produção deste último é mais barata para os fabricantes.

A vitória da Sony equivale a uma revanche após a fabricante ter perdido a disputa, na década de 1980, pelo padrão de reprodução para videocassetes. O sistema Betamax, da Sony, foi superado pelo VHS, da Toshiba, que liderou as vendas neste padrão nas décadas seguintes, até ser substituído pelo DVD.

Brasil desenvolve dispositivo para baratear custo de transmissão da TV digital

A televisão digital mal chegou ao Brasil e o desenvolvimento tecnológico do país nesse campo já caminha a passos largos. O novo sistema de transmissão, recentemente inaugurado em São Paulo, se baseia no modelo japonês, mas em pouco tempo as emissoras de tevê do país poderão contar com um modulador de sinais genuinamente nacional. E o que é melhor: a um preço até 70% menor que o do similar importado. O novo equipamento começou a ser desenvolvido em abril de 2007 no Centro de Pesquisa em Tecnologias Wireless (CPTW), da Faculdade de Engenharia da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), em Porto Alegre, e deverá estar à disposição do mercado no final deste ano.

Responsável por captar informações digitais e convertê-las em ondas eletromagnéticas, o modulador é uma peça-chave do transmissor, já que a transformação é essencial para a transmissão de dados. Por essa razão é um equipamento fundamental para as empresas de radiodifusão. Mas para que o telespectador possa assistir às transmissões, ele precisará de um receptor de conversão de sinais para os aparelhos não aptos à nova tecnologia. Esse conversor capta sinais digitais (transmitidos via ondas eletromagnéticas) e os transforma em sinais analógicos, para atender aos telespectadores que ainda não têm tevê digital.

O modulador desenvolvido na PUCRS é trissistêmico. Em outras palavras, ele é acessível a três padrões de TV digital: o europeu (DVB), o americano (ATSC) e o japonês (ISDB-T, adotado no Brasil). Isso vai ser possível porque a linguagem VHDL será aplicada numa plataforma em FPGA – um tipo de chip reprogramável que se adapta aos três sistemas. “Como resultado dessa versatilidade, em breve poderemos exportar moduladores para todo o mundo”, prevê o engenheiro Fernando de Castro, coordenador do CPTW.

O projeto de desenvolvimento do novo dispositivo recebeu investimentos da ordem de US$ 14 milhões do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, o BNDES, e de quase US$ 2,5 milhões do setor privado. O trabalho, que envolve professores-pesquisadores e bolsistas de graduação e pós-graduação, já está em estágio bastante adiantado. A equipe criou uma nova linguagem de programação, denominada VHDL, por meio da qual é possível pôr no ar um sinal digital perfeitamente compreensível pelo sistema de recepção japonês. Para que isso fosse possível, pontos críticos do hardware importado tiveram de ser decifrados pela equipe.

Tecnologia mais acessível

Segundo Jakson Sosa, diretor-executivo da empresa paulista RF Telavo, que fabricará os primeiros transmissores digitais nacionais, o preço de um modulador importado pode variar de US$ 18 a US$ 25 mil. “Nosso objetivo é reduzir o custo desse elemento estratégico para a transmissão”, afirma. O novo aparelho deverá custar cerca de US$ 4 mil, tornando a tecnologia digital mais acessível a radiodifusores de todo o país. A previsão é de que os primeiros protótipos estejam prontos no próximo mês de abril.

Mas, em atendimento a uma obrigação contratual já definida, a RF Telavo só terá um ano e meio de prioridade na produção do novo dispositivo. Após esse período, a tecnologia estará disponível para todas as empresas que tiverem interesse em seu desenvolvimento. “O objetivo é democratizar”, lembra a engenheira elétrica Cristina de Castro, do CPTW. “Mas, ao mesmo tempo, não seria justo que a empresa não tivesse algum benefício, uma vez que fez grandes investimentos no projeto.”

Entre as instituições envolvidas na pesquisa, o Centro de Excelência em Tecnologia Eletrônica Avançada (Ceitec), de Porto Alegre, merece destaque. Seguindo o exemplo do que é feito atualmente na China e Índia, esse centro de pesquisa surge como contraponto à dependência tecnológica do Brasil em relação aos países centrais. Hoje, importamos mais de US$ 15 bilhões anuais em eletroeletrônicos e exportamos apenas pouco mais da metade disso. Uma das metas do centro é reduzir esse déficit. É nesse contexto que teremos a primeira fábrica de semicondutores da América Latina, que será responsável pela produção dos chips utilizados no novo modulador.