Brasil desenvolve dispositivo para baratear custo de transmissão da TV digital

A televisão digital mal chegou ao Brasil e o desenvolvimento tecnológico do país nesse campo já caminha a passos largos. O novo sistema de transmissão, recentemente inaugurado em São Paulo, se baseia no modelo japonês, mas em pouco tempo as emissoras de tevê do país poderão contar com um modulador de sinais genuinamente nacional. E o que é melhor: a um preço até 70% menor que o do similar importado. O novo equipamento começou a ser desenvolvido em abril de 2007 no Centro de Pesquisa em Tecnologias Wireless (CPTW), da Faculdade de Engenharia da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), em Porto Alegre, e deverá estar à disposição do mercado no final deste ano.

Responsável por captar informações digitais e convertê-las em ondas eletromagnéticas, o modulador é uma peça-chave do transmissor, já que a transformação é essencial para a transmissão de dados. Por essa razão é um equipamento fundamental para as empresas de radiodifusão. Mas para que o telespectador possa assistir às transmissões, ele precisará de um receptor de conversão de sinais para os aparelhos não aptos à nova tecnologia. Esse conversor capta sinais digitais (transmitidos via ondas eletromagnéticas) e os transforma em sinais analógicos, para atender aos telespectadores que ainda não têm tevê digital.

O modulador desenvolvido na PUCRS é trissistêmico. Em outras palavras, ele é acessível a três padrões de TV digital: o europeu (DVB), o americano (ATSC) e o japonês (ISDB-T, adotado no Brasil). Isso vai ser possível porque a linguagem VHDL será aplicada numa plataforma em FPGA – um tipo de chip reprogramável que se adapta aos três sistemas. “Como resultado dessa versatilidade, em breve poderemos exportar moduladores para todo o mundo”, prevê o engenheiro Fernando de Castro, coordenador do CPTW.

O projeto de desenvolvimento do novo dispositivo recebeu investimentos da ordem de US$ 14 milhões do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, o BNDES, e de quase US$ 2,5 milhões do setor privado. O trabalho, que envolve professores-pesquisadores e bolsistas de graduação e pós-graduação, já está em estágio bastante adiantado. A equipe criou uma nova linguagem de programação, denominada VHDL, por meio da qual é possível pôr no ar um sinal digital perfeitamente compreensível pelo sistema de recepção japonês. Para que isso fosse possível, pontos críticos do hardware importado tiveram de ser decifrados pela equipe.

Tecnologia mais acessível

Segundo Jakson Sosa, diretor-executivo da empresa paulista RF Telavo, que fabricará os primeiros transmissores digitais nacionais, o preço de um modulador importado pode variar de US$ 18 a US$ 25 mil. “Nosso objetivo é reduzir o custo desse elemento estratégico para a transmissão”, afirma. O novo aparelho deverá custar cerca de US$ 4 mil, tornando a tecnologia digital mais acessível a radiodifusores de todo o país. A previsão é de que os primeiros protótipos estejam prontos no próximo mês de abril.

Mas, em atendimento a uma obrigação contratual já definida, a RF Telavo só terá um ano e meio de prioridade na produção do novo dispositivo. Após esse período, a tecnologia estará disponível para todas as empresas que tiverem interesse em seu desenvolvimento. “O objetivo é democratizar”, lembra a engenheira elétrica Cristina de Castro, do CPTW. “Mas, ao mesmo tempo, não seria justo que a empresa não tivesse algum benefício, uma vez que fez grandes investimentos no projeto.”

Entre as instituições envolvidas na pesquisa, o Centro de Excelência em Tecnologia Eletrônica Avançada (Ceitec), de Porto Alegre, merece destaque. Seguindo o exemplo do que é feito atualmente na China e Índia, esse centro de pesquisa surge como contraponto à dependência tecnológica do Brasil em relação aos países centrais. Hoje, importamos mais de US$ 15 bilhões anuais em eletroeletrônicos e exportamos apenas pouco mais da metade disso. Uma das metas do centro é reduzir esse déficit. É nesse contexto que teremos a primeira fábrica de semicondutores da América Latina, que será responsável pela produção dos chips utilizados no novo modulador.

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