Arquivo da tag: Profissão

Projeto restabelece diploma para exercício de jornalismo

Tramita na Câmara o Projeto de Lei 5592/09, do deputado Miro Teixeira (PDT-RJ), que dá nova regulamentação á profissão de jornalista. O parlamentar reafirma a exigência do diploma de jornalismo e o registro profissional como requisitos para o exercício da profissão em empresas de comunicação.

Em 17 de junho, o supremo Tribunal Federal considerou que essa exigência, prevista pelo Decreto-Lei 972/69, não se harmonizava com a atual Constituição. A proposta considera atividade jornalística o exercício habitual e remunerado de atividade intelectual ou de informação em meios de comunicação.

Atividades

A proposta prevê as seguintes atividades para os jornalistas:

– redação e edição de matéria jornalística, seja opinativa ou não, comentário ou crônica;
– entrevista ou reportagem;
– planejamento, organização, direção e eventual execução de serviços técnicos de jornalismo, como os de arquivo, ilustração ou distribuição gráfica ou digital de matéria a ser divulgada;
– planejamento, organização e administração técnica dos serviços de edição, coleta de notícias ou informações e seu preparo para divulgação;
– revisão e organização e conservação de arquivo jornalístico e pesquisa.
– execução da distribuição gráfica ou digital de texto, fotografia ou ilustração de caráter jornalístico, para fins de divulgação;
– execução de desenhos artísticos, de computação gráfica e técnicos, de caráter jornalístico, para fins de divulgação; e
– o ensino de técnicas jornalísticas.

Empresa jornalística

A proposta define como empresa jornalística aquelas que tenham como atividade a edição de jornal ou revista, a distribuição de noticiário e registro legal.

Equiparam-se a elas as empresas de radiodifusão, televisão ou divulgação cinematográfica, ou de agência de publicidade, ou sítios de internet ou outros meios de acesso onde sejam exercidas as atividades de informação.

O serviço público a as empresas não jornalísticas que façam publicações para público externo também deverão exigir o diploma profissional.

O projeto de lei permite o estágio em jornalismo, hoje proibido. Ele poderá ser realizado por alunos do último ano de curso superior de jornalismo, comunicação social ou equivalente.

A proposta mantém a jornada de trabalho de cinco horas e determina que os sindicatos poderão prever, em acordo ou convenção coletiva de trabalho, ou sentença normativa da Justiça do Trabalho a remuneração pelo uso pela
divulgação de trabalho produzido por jornalista em mais de um veículo de comunicação coletiva.

Também poderão obter o registro de jornalista as pessoas que comprovarem o exercício da profissão por dois anos consecutivos ou quatro intercalados, em qualquer das atividades descritas pela lei.

Tramitação

A proposta, conclusivo, foi apensado ao Projeto de Lei 3981/08, do deputado Celso Russomanno (PP-SP).

MTE ameaça discutir regulamentação do jornalismo sem ANJ

Luiz Antonio de Medeiros, secretário de relações do trabalho do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), disse nesta terça-feira (19) que o ministério elaborará uma proposta sobre a regulamentação da profissão de jornalista, mesmo sem a participação das entidades patronais. “Se os empresários não tiverem uma proposta, nós teremos”, afirmou.

Medeiros disse que encaminhará, nesta segunda, uma carta à Associação Nacional de Jornais (ANJ) para que a entidade participe do debate. “A ausência deles é muito ruim”, disse. O representante do Ministério do Trabalho não comentou se iria refazer o convite para a participação de outras entidades patronais, na pessoa de Luiz Carlos Amorim Robortella, da Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert), e Ary Florêncio Cauduro dos Santos, da Federação Nacional das Empresas de Rádio e Televisão (Fenaert), que também participam do grupo de trabalho.

O secretário das Relações do Trabalho afirmou que a proposta do ministério se baseará nas atividades em que o jornalista trabalha, como internet, assessoria de imprensa, jornalismo impresso, e sobre a formação do jornalista nas faculdades.

As opiniões dos representantes da categoria, a Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), serão apresentadas em nova reunião da entidade com o Ministério do Trabalho nesta quinta-feira, às 15h, no ministério, em Brasília.

A ANJ e outras entidades patronais saíram da discussão em 8 de outubro, segundo sua assessoria, porque o grupo de trabalho que discutia a regulamentação não estava cumprindo seu objetivo. “As audiência públicas estavam girando em torno da exigência do diploma, que já está sub judice no Supremo [Tribunal Federal]”, argumentou a assessoria.

Medeiros informou que mais duas audiências públicas sobre a regulamentação acontecerão em São Paulo e no Rio, sobre a regulamentação, mas não precisou quando. Disse ainda que entregará, em 26 de novembro, um relatório ao ministro Carlos Luppi, sobre o consenso retirado no grupo de trabalho sobre a regulamentação da profissão. “Entregaremos alguma coisa, mas isso não é o mais importante. Sonhamos com um consenso entre a categoria e as entidades patronais”, disse Medeiros.

STF pode derrubar diploma para jornalista

O Supremo Tribunal Federal (STF) caminha para derrubar, ainda neste semestre, a obrigatoriedade do diploma de jornalista para o exercício da profissão. Dos 11 ministros que fazem parte da Corte, seis já se manifestaram de alguma forma contra a exigência de formação específica em jornalismo.

O número é suficiente para decidir o julgamento do recurso extraordinário do Ministério Público Federal que questiona a regulamentação profissional da categoria e que está pronto para entrar na pauta a qualquer momento. Mas, até lá, os ministros ainda podem rever sua posição.

Embora não possam antecipar seus votos, alguns já sinalizaram, nos bastidores ou em decisões anteriores, como pretendem votar. Um deles é o próprio presidente do Supremo, Gilmar Mendes, relator do caso.

Em 2006, ele relatou, na 2ª Turma do STF, uma medida cautelar que garantiu o exercício profissional a pessoas que trabalhavam na área sem ter o registro no Ministério do Trabalho (veja aqui a decisão). Na época, Gilmar teve sua posição referendada por Cezar Peluso, Celso de Mello e Joaquim Barbosa.

Mesmo não tendo participado da análise do recurso, os ministros Eros Grau e Ricardo Lewandowski também chegaram a dar declarações “simpáticas” à decisão dos colegas. Os dois declararam publicamente que o exercício da profissão de jornalista não deveria estar atrelado a diploma específico de graduação, porque, na avaliação deles, não dependeria de conhecimentos específicos.

A possibilidade de derrubada da obrigatoriedade do diploma de jornalista não se restringe à ação do Judiciário. Propostas vindas do Executivo e do Legislativo também apresentam mecanismos de flexibilização da exigência de graduação específica para a área.

Mudanças polêmicas

O Ministério da Educação se prepara para formar um grupo de trabalho que discutirá a possibilidade de autorizar profissionais de áreas diversas a exercer a profissão de jornalista. Na Câmara, tramita um projeto de lei, de autoria do deputado Celso Russomanno (PP-SP), que permite que pessoas sem diploma em jornalismo exerçam a profissão, desde que tenham pós-graduação na área.

As iniciativas, porém, enfrentam resistência e causam polêmica entre profissionais e entidades que representam a categoria.

"A contestação do diploma vem há muito tempo sendo levantada pelos grandes jornais, especialmente a Folha de S. Paulo. Quebrar a exigência do diploma vai significar transferir das universidades para as empresas a prerrogativa de dizer quem vai ser jornalista, como vai ser o jornalismo e como devem atuar esses profissionais", avalia o coordenador do Fórum Nacional dos Professores de Jornalismo, Edson Spenthof, professor da Universidade Federal de Goiás (UFG) e um dos organizadores da Carta Aberta ao STF, escrita para sensibilizar os ministros sobre a necessidade do diploma.

As discussões recaem sobre o artigo 4° do Decreto-lei 972/69, que exige o diploma para a obtenção do registro profissional junto ao Ministério do Trabalho. Os que defendem a manutenção da exigência do diploma argumentam que a profissão é extremamente especializada e que, portanto, requer formação específica. Os contrários ao diploma afirmam que a exigência não está amparada pela Constituição de 1988 e que o direito à livre expressão deve ser exercido sem restrições.

Guerra jurídica

Foi sob o argumento da falta de amparo na Constituição Federal, que no final de 2001,a juíza Carla Abrantkoski Rister, da 16ª Vara da Justiça Federal de São Paulo, suspendeu em todo o país a necessidade de diploma para obter o registro profissional junto ao Ministério do Trabalho. A juíza acolheu uma ação civil pública, proposta pelo Ministério Público Federal e pelo Sindicato das Empresas de Rádio e Televisão do Estado de São Paulo, que defendia a contratação de profissional de qualquer área, até mesmo sem curso superior.

A decisão se baseou no argumento de que "a formação cultural sólida e diversificada", exigida para o profissional de jornalismo, "não se adquire apenas com a freqüência a uma faculdade, mas pelo hábito de leitura e pelo próprio exercício da prática profissional".

Oito meses depois, a juíza Alda Bastos, do Tribunal Regional Federal da 3ª Região, determinou que o diploma voltasse a ser obrigatório. A decisão foi novamente contestada em diversos tribunais, até que em outubro de 2005, o TRF reafirmou a obrigatoriedade do diploma para o registro profissional.

O entendimento do Tribunal Regional Federal da 3ª Região foi de que o Decreto 972 teria amparo constitucional e que a exigência do diploma não feria o dispositivo constitucional que estabelece que “a manifestação do pensamento, a criação, a expressão e a informação, sob qualquer forma, processo ou veículo, não sofrerão qualquer restrição”.

O MPF, então, interpôs recurso extraordinário dirigido ao STF sob o argumento de que a exigência do diploma específico violava o direito à liberdade de expressão. O caso foi parar no Supremo em 2006. Naquele mesmo ano, por meio da Segunda Turma, a Corte confirmou a liberação para o exercício da profissão a pessoas sem formação superior. Desde então, o recurso está para ser julgado em plenário.

"O STF, não tendo poderes legislativos, não poderia dizer 'não é necessário ensino superior, mas deve ter ensino médio'. Se for derrubada a cobrança do diploma, não haverá nenhuma exigência de formação mínima. E isso significa um caos tremendo", avalia o professor Edson Spenthof.

Disputa política

Para o diretor do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Distrito Federal (SJPDF) Antônio Carlos Queiroz, as discussões não se limitam à obrigatoriedade do diploma. O diretor avalia que há interesses políticos por trás da questão.

O jornalista argumenta que a cassação da obrigatoriedade do diploma significa a desregulamentação da profissão. "Faz parte de regulamentação a formação específica. O problema não é só ter o diploma. A questão é ter uma boa qualificação. Deixar a formação nas mãos do mercado é muito perigoso. Os jornais e veículos de comunicação formarão profissionais com uma visão estreita de empresa", argumenta.

Entre as entidades que defendem a não-obrigatoriedade do diploma está a Associação Nacional dos Jornais (ANJ). Procurada por duas vezes pelo Congresso em Foco, a instituição disse que não se manifesta sobre tema que ainda está sub judice. Por meio de sua assessoria, no entanto, a ANJ declarou que “considera importante uma boa formação do profissional de jornalismo, mas não considera que o melhor profissional é o que tem diploma".

O principal argumento dos contrários à exigência do diploma no Brasil tem como base a declaração de princípios da Comissão Interamericana de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos (OEA), que considera a exigência do diploma para o exercício da profissão de jornalismo uma violação à liberdade de expressão.

A entidade alega que a formação superior em jornalismo não é condição necessária para se exercer a profissão em países como Alemanha, Austrália, Espanha, Estados Unidos, França, Inglaterra, Irlanda, Itália, Japão e Suíça. Além do Brasil, o diploma é exigido hoje apenas na África do Sul, Arábia Saudita, Colômbia, Congo, Costa do Marfim, Croácia, Equador, Honduras, Indonésia, Síria, Tunísia, Turquia e Ucrânia.

Liberdade de expressão

Contrário à exigência de formação específica na área, o jornalista José Nêumanne Pinto, articulista do jornal “O Estado de S.Paulo” e comentarista do SBT e da rádio Jovem Pan, classifica a defesa do diploma como ato meramente "corporativista".

"Sou contra a defesa corporativista de regulamentação de profissão. Não vejo nenhuma empresa interessadíssima em contratar quem não tem diploma", afirma.

Por outro lado, os defensores do diploma afirmam que a obrigatoriedade da formação universitária não significa cerceamento à liberdade de expressão. "Em tese, eles defendem que exigir o diploma é restringir a liberdade de expressão. Eles confundem opinião com jornalismo. A opinião pode ter no jornalismo, mas ela é dada pelos fatos, após uma apuração específica. Isso não pode ser confundido com emissão de opinião do cidadão", defende o diretor do SJPDF Antônio Carlos Queiroz.

Cursos da discórdia

Outro argumento utilizado em favor da derrubada da obrigatoriedade de diploma específico para o exercício do jornalismo está relacionado à qualidade dos cursos superiores. Nêumanne alega que os cursos de jornalismo no Brasil não têm atendido aos padrões de qualidade necessários para uma boa formação profissional.

"Os cursos superiores não entregam profissionais à altura para tocar os meios de comunicação. Eles precisam passar por cursos específicos nas redações dos jornais. E, por isso, não há necessidade de fazer reserva de mercado para diplomados", defende o articulista. "É uma mentalidade de pistão de gafieira, em que quem está dentro não sai e quem está fora não entra", avalia.

O presidente da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), Sérgio Murillo, rebate o argumento de Nêumanne. "A sociedade exige qualificação profissional e o melhor lugar para se adquirir conhecimentos técnicos, teóricos e éticos são as instituições de ensino. Cursos técnicos feitos por veículos de comunicação são de doutrinação. Preparam o estudante para as regras e condições internas de cada empresa. Jamais substituem as escolas", diz Murillo.

"Os cursos oferecidos pelos veículos de comunicação formam profissionais de acordo com a linha editorial de cada veículo e não com a linha plural como se vê dentro de uma instituição de ensino. A faculdade de jornalismo é um espaço plural de avaliação sobre diversas linhas e não sobre uma só", acrescenta o professor Spenthof.

Segundo dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas (Inep), há 534 instituições superiores de ensino registradas no Ministério da Educação (MEC) que oferecem cursos de Jornalismo e Comunicação Social. Dessas, 296 são instituições particulares. Em 2006, também de acordo com o Inep, 27.969 estudantes se graduaram em jornalismo em todo o país.

Conselhos de jornalismo

As discussões relacionadas à regulamentação da categoria não se restringem ao embate no Supremo Tribunal Federal. Além de abrir a possibilidade de profissionais atuarem no jornalismo sem diploma específico, desde que tenham pós-graduação na área, o Projeto de Lei 3981/08, do deputado Celso Russomanno, prevê a criação de conselhos federal e regionais de jornalismo.

A proposta de criação do Conselho Federal dos Jornalistas causou polêmica em 2004, quando o presidente Lula encaminhou ao Congresso um projeto que previa a criação do órgão. A matéria, rejeitada pelos parlamentares, foi recebida pela oposição e por diversas entidades como uma medida de controle da atividade jornalística, o que infringiria a liberdade de expressão, garantida pela Constituição.

"A regulamentação da profissão de jornalista é hoje uma bagunça danada. Não defendo menos preparo para os jornalistas. A situação hoje é quem tem curso ou não tem. Quando já se tem um curso e se faz pós, tem a possibilidade do profissional melhorar a qualidade na escrita e na transmissão", defende Russomanno. "Mas se a classe achar que ter apenas pós na área não é bom, o projeto está aí para ser discutido", pondera.

Esse é o terceiro projeto similar que Russomanno apresenta na Câmara sobre o assunto. O primeiro, em 2004, foi rejeitado em plenário. Já o segundo, de 2005, foi retirado de pauta pelo próprio autor.

Bacharel em Direito, Russomanno ficou conhecido como repórter do telejornal “Aqui e Agora”, do SBT. "O PL é um apanhado de propostas que instituições como a Fenaj encaminharam ao Congresso. Mas ele tem sofrido um lobby danado das empresas para ser derrubado. Empresas que não querem ser fiscalizadas e vieram com essa história de que estão colocando mordaça na imprensa", alfineta Russomanno.

Entre os pontos de conflito do projeto, o que mais tem desagradado a categoria é o que aumenta a jornada de trabalho – que hoje, pela lei, é de cinco horas diárias, com possibilidade de acordo para mais duas horas extras diárias – para oito horas por dia.

Boechat, Miro Teixeira, Kfouri e Bucci comentam pesquisa da Fenaj

Com mais de 50 comentários no Comunique-se, a matéria desta terça (24) “Brasileiros defendem diploma para jornalistas” chamou a atenção da comunidade do Portal. Para saber o que pensam profissionais ligados diretamente ao tema, convidamos Ricardo Boechat, o deputado Miro Teixeira (PDT-RJ), Juca Kfouri e Eugênio Bucci para falar sobre a pesquisa da Fenaj/Sensus.

A pesquisa, com 2 mil entrevistados em todo o País, retratou que os brasileiros são favoráveis à obrigatoriedade do diploma e à criação de um Conselho Federal de jornalismo. Quando se questionou sobre a credibilidade das notícias veiculadas, a população, no entanto, foi comedida. Menos da metade acredita no que é publicado, no que escuta ou no que vê.

Ricardo Boechat, da Band, não completou o 2º grau. “Fui trabalhar, cuidar da vida”, conta. Para Boechat, o diploma não deveria ser um “dado impeditivo”. “Não entendo que ao jornalismo tenha que se impor um pretenso conteúdo específico”, disse o jornalista.

O também radialista da BandNews FM argumenta que a faculdade seria interessante do ponto de vista humano. “Para a cidadania, a discussão, o debate”, afirmou.

O jornalista não se surpreendeu com mais da metade dos entrevistados não acreditar piamente nas matérias publicadas. “Prefiro uma opinião pública que desconfia do que confia”, disse. Boechat acredita que o jornalismo está na média nacional de credibilidade de outras instituições públicas, como o Poder Judiciário e o Parlamento. “Não merecemos mais do que isso, não”, finalizou.

Juca

Colunista da Folha, e apresentador da CBN e da ESPN, Juca Kfouri pondera a declaração de Boechat. “Eu sou a favor do diploma, mas contra a obrigatoriedade”. Para o jornalista, todo e qualquer profissional que tivesse ensino superior poderia atuar na profissão.

Kfouri é contra, também, à instauração de um Conselho Federal de jornalismo, como prevê o projeto do deputado Celso Russomano (PP-SP). “A regulamentação da profissão de jornalista deve ser feita pela sociedade civil, sem ingerência do governo”, disse.

Mas ele, diferentemente de Boechat, se surpreendeu com os dados de credibilidade. Para ele, a falta dela atribuída à imprensa se dá pelos “garotos-propaganda”. “Há muitos jornalistas que vendem produtos e não só no jornalismo esportivo”, comentou.

Bucci

O jornalista Eugênio Bucci diz que a questão do diploma é “secundária”. Mas ressalva que, com a profissionalização do jornalismo, o “padrão da profissão elevou-se”.

Para ele, o índice de credibilidade em 42,7% por parte da população é elevado. “É uma boa notícia”, disse.

Miro Teixeira

O deputado e jornalista Miro Teixeira é voz dissonante. Acredita que o diploma deva ser obrigatório. “O direito da informação é o direto da população a uma informação qualificada”, disse. Para ele, “a evolução dos conceitos remete a um aperfeiçoamento da mão-de-obra”, que incluiria a realização de uma faculdade. Mas Miro Teixeira faz uma ressalva: colunistas e comentaristas não precisariam ter o diploma. “Você vê, é o máximo o Oscar falando de basquete, por exemplo”, ressaltou.

Assim como Bucci, Miro Teixeira se diz admirado com o resultado da pesquisa no quesito credibilidade. “O número é surpreendentemente alto quando se faz uma pergunta seca à população, no tratamento genérico dado à imprensa, sem se especificar rádio, TV, jornal ou internet”.

Sobre a criação de um Conselho Federal, o deputado é contra. “Sou contra a qualquer forma de controle da atividade”, disse. E citou Maquiavel: “Quem regulamenta protege os próprios interesses”, afirmou Miro Teixeira.

Pesquisa mostra que mais de 70% dos brasileiros são a favor do diploma de jornalismo

Uma pesquisa de opinião nacional realizada pela FENAJ/Sensus divulgou um dado alentador para a maioria dos jornalistas que defendem o diploma e a regulamentação da profissão: dos dois mil entrevistados, 74,3% se disseram a favor do certificado.

Divulgada na última segunda-feira (22), a pesquisa foi realizada entre 15 e 19 de setembro, em 24 estados das cinco regiões brasileiras, com sorteio aleatório de 136 municípios pelo método da Probabilidade Proporcional ao Tamanho – PPT. A margem de erro é de cerca de 3%.

Apenas 13,9% dos entrevistados se mostraram contra o título profissional e 11,7% não souberam ou não responderam. Para Sergio Murillo de Andrade, presidente da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), "esses números da pesquisa mostram que a população brasileira tem a real dimensão da importância do jornalismo para o país e que quer receber informações de qualidade, apuradas por jornalistas formados".

Ele espera que os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), que votarão a exigência do diploma, reconheçam os desejos da população e entendam que "o  jornalismo precisa ser feito por profissionais com formação teórica, técnica e ética e que o jornalismo independente e plural é condição indispensável para a verdadeira democracia".

"Notícia precisa de jornalista", diz professor

José Coelho Sobrinho, professor de jornalismo da Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP), afirmou ao Portal Imprensa que é um defensor do diploma. "É evidente que hoje, com a possibilidade das pessoas se comunicarem a um custo baixo, transformando qualquer informação em formato de notícia, é importante que haja um valor agregado, que é o do jornalismo. Quanto mais as pessoas têm facilidade de conseguir a informação, mais a notícia precisa de um jornalista".

Além disso, Coelho disse que "o jornalista tem o sagrado dever de ajudar" quem não tem acesso aos meios de comunicação democratizados, como a Internet. "É um compromisso ético com a sociedade. Defendo que o jornalista esteja nas escolas, sempre defendo nossa áera. Acredito em uma leitura correta do jornalismo", declarou o professor.

"Diploma é mercado garantido para universidades", afirma Marcelo Soares

Marcelo Soares, jornalista que já trabalhou como redator do caderno Brasil do jornal Folha de S.Paulo e atualmente faz freelancers para as revistas CartaCapital e Expressão, além de atuar em projetos paralelos – como a produção de livros e tradução de histórias em quadrinhos, declarou ao Portal IMPRENSA que a única coisa que assegura a obrigatoriedade do diploma é que haja mercado para as faculdades.

"Por princípio, melhores jornalistas são os que conhecem melhor o jornalismo, e a faculdade seria um lugar privilegiado para supostamente obter conhecimento", afirmou Soares. Entretanto, ele diz não saber se as faculdades brasileiras oferecem "o grau de profundidade e o conhecimento necessário em um momento em que o jornalismo está passando por tantas mudanças, no Brasil e no mundo".

Para ele, as faculdades em geral não estão preparadas para isso, mas o diploma continua sendo um mercado crescente e garantido. "Não existe receita para formar o jornalista, e é bom que não exista. As faculdades são necessárias para a profissão, mas precisam se fazer necessárias pelo que acrescentam aos seus alunos", declarou Soares.

Credibilidade estremecida

A Pesquisa FENAJ/Sensus também questionou o que a população acha da criação do Conselho Federal dos Jornalistas. 74,8 % acham que o Conselho deveria ser criado, 8,3% que não deveria ser criado, para 6,5% depende e 10,4% não sabem ou não responderam.

A última pergunta relacionada ao tema foi sobre a credibilidade das notícias. 42,7% dos entrevistados disseram que acreditam nas notícias que lêem, ouvem ou assistem, 12,2% que não acreditam, 41,6% que acreditam parcialmente e 3,5% não sabem ou não responderam.