Telefone popular: pouca divulgação, resultados pífios

Apresentado na reunião do Conselho Consultivo do dia 30 de abril,  o Relatório 2012 da Anatel mostra que não basta formular uma política pública correta. É preciso empenho das concessionárias, fiscalização da agência e divulgação dos serviços.

O fraco desempenho do Aice (acesso individual de classe especial), o telefone popular, foi alvo de críticas do Instituto Telecom, que também apresentou sugestões a vários itens. Na reunião, além da apresentação do Relatório 2012 foram eleitos os novos presidente e vice do Conselho Consultivo – Leonardo Rescoe Bessa e Marcello Miranda, do Instituto Telecom, respectivamente.

Dentre as críticas feitas, o representante da sociedade civil e do Instituto lamentou que o Conselho Diretor da agência tenha levado um ano para responder as interrogações e sugestões feitas pelo Conselho Consultivo no Relatório de 2011. E a exemplo do que ocorreu no ano passado, o novo Relatório também não faz nenhuma citação aos trabalhadores do setor e ao alto nível de terceirização, principalmente na rede externa e nos call centers.

Os principais itens destacados pelo Instituto Telecom no Relatório 2012 da Anatel foram:

Aice (acesso individual de classe especial
) – Os assinantes deste serviço têm direito à franquia mensal de 90 minutos em chamadas para telefones fixos pagando por isso, no máximo, R$ 14,80. No cronograma definido, desde junho de 2012 o Aice está disponível para famílias com renda de até um salário mínimo. Ocorre que no final de 2012 havia cerca de 11,5 milhões de famílias com renda de até um salário mínimo registradas no Cadastro Único do Ministério de Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Apesar disso, apenas 53,6 mil famílias possuíam o telefone popular. Mesmo com as limitações desse produto – para realizar chamadas para celular é necessário inserir créditos -, a pouca divulgação pela Anatel e nenhuma pelas concessionárias foi o que levou a esse quadro. É preciso que a agência faça valer as diretrizes definidas por ela própria para a divulgação da oferta do telefone popular pelas concessionárias.

Banda Larga nas escolas
– O projeto é positivo, mas temos dúvidas sobre os números apresentados no Relatório, de que todas as 64,5 mil escolas estavam conectadas, 89,2% das quais com velocidade de 2 Mbps e apenas 2,27% com velocidade acima disso. Cobramos que a Anatel e o MEC informem qual a real situação do projeto. Quantas escolas realmente recebem esta conexão e quantas têm computadores/laboratórios que utilizam a banda larga?

Licitação de direito de exploração de satélite brasileiro – Somos favoráveis ao aumento da capacidade satelital brasileira para atender as atuais demandas no setor e àquelas antecipadas por eventos como a Copa de 2014 e as Olimpíadas. No entanto, nos lotes licitados houve um ágio que variou de 254,85% (quarto) a 3.579,82% (primeiro). A questão é: por que houve uma distância tão grande entre os valores licitados e os oferecidos?

Modelo de Custos
– É essencial para que a Anatel tenha clareza, por exemplo, da fixação das tarifas de uso de rede de telefonia fixa. Mas a privatização ocorreu em 1998 e o projeto só teve início em 2011. Está, portanto, muito atrasado. Só15 anos depois é que poderemos ter essa ferramenta para subsidiar as ações regulatórias, contribuindo “para tornar as políticas públicas para o setor mais efetivas ao longo do tempo”.

Revitalização e modernização dos orelhões
– No primeiro caso, as concessionárias devem garantir que no mínimo 90% dos orelhões estejam funcionando em cada estado. Apesar da Anatel obrigar a gratuidade de chamadas de telefones públicos de duas concessionárias que apresentaram  desempenho insatisfatório em relação à revitalização dos orelhões,o que se percebe é o total descaso com uma rede cada vez mais sucateada, suja e, na maioria das vezes, sem ruído para a realização de chamadas. Quanto à modernização, o acesso à internet é uma forma de valorizar a rede pública de telecomunicações e um facilitador para a inclusão digital. Cobramos da Anatel um planejamento transparente e anual do número de orelhões que terão acesso à internet.

Bens reversíveis
– Apesar da agência apresentar no relatório a distribuição dos bens reversíveis (desde meios de transmissão até equipamentos de transmissão e telessupervisão), restou a preocupação de que a Anatel só realiza fiscalizações pontuais. Há necessidade de maior transparência no processo, com fiscalização mais ampla.

Audiências públicas – É positiva a ação da agência de transmitir os  encontros pela internet.  Mas insistimos que deve haver maior divulgação das audiências nos diversos meios de comunicação para ampliar a participação da sociedade.

O Instituto Telecom dará todo o apoio ao representante do Senado, Marcos Augustus Martins, escolhido como relator da matéria, de forma que possa ocorrer um aperfeiçoamento do Relatório e uma melhoria substancial nas telecomunicações brasileiras.

Para serviços regulados, pesquisa da Anatel demonstra baixa satisfação dos usuários

A Anatel (Agência nacional de Telecomunicações) apresentou na segunda-feira, dia 6/5, em São Paulo, a terceira parte da pesquisa de satisfação dos usuários de serviços de telecomunicações. Parte dos resultados foi apresentada em abril – a primeira divulgação tratou de telefonia fixa, orelhões e banda larga fixa prestada pela rede de telefone fixo; a segunda abordou telefonia e banda larga móvel.
 
Além de retomar os resultados divulgados anteriormente, a apresentação em São Paulo trouxe os dados relativos ao serviço de TV por assinatura, banda larga fixa prestada pelas redes de TV por assinatura e a comparação dos resultados de 2012 com os resultados da última pesquisa de satisfação, de 2002.
 
A pesquisa foi feita a partir de perguntas sobre atendimento, informação, preços, velocidade de acesso etc. Segundo os resultados apresentados, parte expressiva dos temas pesquisados recebeu como resposta nível regular de aprovação: interpretado pelo instituto de pesquisa como ‘nem insatisfeito, nem satisfeito’. Na telefonia móvel pós-paga, por exemplo, esse o nível regular alcançou 56%.
 
A interpretação foi alvo de discussão. As operadoras divulgaram essa resposta como ‘neutra’ ou como uma ‘indiferença’ dos consumidores à prestação do serviço, o que cria confusão na compreensão dos resultados e na conclusão do desempenho das operadoras. Na pesquisa de 2002 a mesma nota foi interpretada como ‘pouco satisfeito ou pouco insatisfeito’, o que deixava mais clara a baixa satisfação dos usuários.
 
De forma geral, os resultados da pesquisa deixam explícito o descaso das concessionárias de telefonia fixa com os orelhões. O nível de insatisfação é elevado. Apenas 1,1% se declara satisfeito, e 50,2% responderam estar insatisfeitos ou totalmente insatisfeitos.O número de usuários que considera o serviço regular também é expressivo: 48,7%. Há fatores específicos em que a insatisfação é ainda maior. No caso de manutenção, os insatisfeitos ou totalmente insatisfeitos chegam a 85% dos entrevistados;
 
No entanto, há resultados que parecem não condizer com a realidade dos problemas e reclamações —  60% estão satisfeitos ou totalmente satisfeitos com a banda larga pela rede de telefonia fixa ou 74,7% satisfeitos com o serviço de banda larga móvel pré-paga. O Idec questionou como foram definidas as regiões de pesquisa; se levaram em conta áreas mais periféricas dentro das cidades e áreas rurais. Segundo o instituto contratado pela agência, a escolha dos números de telefone para a pesquisa foi aleatória, a partir de sorteio automatizado na base de clientes das operadoras.
 
Por outro lado, há dados que apontam com mais clareza os problemas que o consumidor enfrenta no dia a dia. Por exemplo, na velocidade da banda larga móvel pós-paga, 68,3% estão totalmente insatisfeitos, insatisfeitos ou consideram o serviço regular; na velocidade da banda larga móvel pré-paga esse nível é de 60,4%.
 
Com exceção da TV por satélite, os Índices Gerais de Satisfação também são baixos, principalmente considerando que são serviços regulados, com metas de qualidade e fiscalização. Em uma escala de 0 a 10, as notas recebidas para cada serviço foram as seguintes: telefone e banda larga móvel pós-paga: 5,37; telefone e banda larga móvel pré-paga: 6,00; telefone e banda larga fixa: 5,89; orelhões: 3,68; TV por satélite: 7,22; TV por rádio (MMDS): 6,07; e TV a cabo: 5,65.
 
Comparação demonstra piora significativa em 10 anos

O destaque da apresentação foi a comparação com os resultados de 2002, em que se verificou grande queda na satisfação dos usuários, com exceção do serviço de TV por assinatura via satélite. A justificativa foi que a percepção é subjetiva e que hoje os consumidores esperariam mais dos serviços em comparação a 2002, considerando que alguns deles eram novidades, como o celular.
 
Contudo, serviços convencionais que não sofreram grandes alterações desde 2002, como a telefonia fixa residencial e os orelhões, tiveram sensível queda. Outros que poderiam ser considerados mais tecnológicos, cuja exigência poderia ser maior, como TV por assinatura via satélite, seguraram nível alto de satisfação.
 
“As expectativas dos usuários são calibradas pelo que as empresas prometem e, com frequência, elas prometem o que não conseguem cumprir. A acentuada queda nesse intervalo de dez anos coloca não apenas as operadoras em uma posição comprometedora, mas também a agência reguladora, que deveria zelar pela tão prometida qualidade dos serviços de telecomunicações pós-privatizações do setor”, explica a advogada do Idec Veridiana Alimonti.

Deputados discutem políticas para pequenas e grandes empresas de comunicação

Esteve em pauta nas comissões da Câmara dos Deputados, no dia 7 de maio, a linha de ação do governo federal em relação a pequenas e grandes empresas do setor de comunicação. Os debates tiveram como foco a política de financiamento de pequenos empreendimentos, de mídias públicas e de comunitárias e o tratamento a ser dado aos bens públicos concedidos às grandes empresas de telecomunicação no período em que houve a privatização do setor.

Na Comissão de Cultura, discutiu-se a reivindicação de que o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) ofereça linhas de financiamento a pequenas empresas de comunicação com juros baixos e a empresas públicas a fundo perdido.

Luciane Gorgulho, chefe do Departamento de Cultura, Entretenimento e Turismo do BNDES,  apontou o que entende como limitação pelo que significa a definição de um banco. “Mesmo sendo um banco de desenvolvimento, somos um banco. É necessário que haja um rigor na análise de crédito, que seja verificada a saúde financeira da empresa, a sua possibilidade de pagar a dívida, mas dentro das possibilidades”, defendeu.

A deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ) se contrapôs à argumentação da representante do BNDES, questionando a preferência dada às grandes empresas de comunicação em crise. “Exigir garantias bancárias de uma rádio comunitária vai ficar difícil. Mesmo o Cartão BNDES é dificílimo para uma microempresa, sobretudo as que estão abrindo agora, porque sempre pedem o faturamento. E do ponto de vista de uma rádio ou TV comunitária a expectativa de faturamento é, em tese, nenhuma”, questionou.

O presidente a Empresa Brasil de Comunicação, Nelson Breve, apontou ainda uma outra saída aporte de recursos para as empresas públicas de comunicação, que seria a liberação da Contribuição para Fomento da Radiodifusão Pública, retida por ordem judicial movida pelas empresas de telecomunicação.

O presidente da Associação Brasileira de Canais Comunitários (ABCCOM), Paulo Miranda, defendeu também o financiamento do setor por meio da destinação de recursos de publicidade pelo BNDES, complementando as linhas de crédito específicas e o financiamento a fundo perdido.
A representante do BNDES se comprometeu a levar as sugestões apresentadas durante a audiência ao banco.

Bens reversíveis

Os bens públicos concedidos às empresas de telecomunicação no momento da privatização do setor na década de 90, que devem retornar ao poder público ao término do período da concessão, estiveram na pauta da Comissão de Ciência e Tecnologia, Comunicação e Informática no dia 7.

A advogada da Proteste, Flávia Lefèvre, reclamou não haver, até recentemente, uma lista dos bens reversíveis com a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) e disse não acreditar que a agência tenha autorizado vendas de alguns desses bens, como o de um antigo clube dos funcionários da Telesp, em São Paulo, vendido pela Telefônica por R$ 130 milhões, sendo hoje o maior empreendimento imobiliário da capital paulista, avaliado em R$ 4 bilhões.

O superintendente de Controle de Obrigações da Anatel, Roberto Martins, afirmou que as informações sobre quase 10 milhões de itens estão disponíveis no site da agência e que esta possui o controle desses bens reversíveis.

“A Anatel fica a dever em termos de eficiência e eficácia na sua função fiscalizadora e de controle das concessionárias no que tange à autorização de alienação de bens reversíveis. Temos informações de empresas concessionárias alienando imóveis sem autorização do Poder Público", disse a deputada Luiza Erundina (PSB-SP), autora do requerimento para a realização da audiência na comissão.

Vídeo explica como neutralidade de rede garante direitos do cidadão

Redação – Observatório do Direito à Comunicação

O Instituto de Defesa do Consumidor (IDEC) disponibilzou na internet um vídeo que explica de forma prática e bem humorada o que significa "neutralidade de rede". Este é um ponto que tem sido objeto de polêmica no Congresso Nacional, nas discussões feitas em torno da aprovação de um Marco Civil da Internet. Os embates colocam em  pólos opostos interesses econômicos e valores como a liberdade e a democracia.

Clique no link abaixo para ver o vídeo:
http://www.idec.org.br/mobilize-se/campanhas/marcocivil#3

Ato público em Campinas denuncia criminalização de rádios comunitárias

A Associação Brasileira de Radiodifusão Comunitária em São Paulo (Abraço-SP) realiza ato contra a criminalização das rádios comunitárias no dia 7 de maio, às 12h, partindo do largo do Pará em direção ao Fórum da Justiça Federal de Campinas. A manifestação acontece no local em que estarão sendo ouvidas as testemunhas de defesa do coordenador da entidade e radialista, Jerry Oliveira.

O réu é indiciado por calúnia, injúria, extorsão, ameaça, resistência e incitação à violência durante a tentativa de defender emissoras comunitárias diante do que teria sido uma ação irregular de fiscais da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel).  Segundo a Abraço-SP, os agentes invadiram as rádios, no dia 22 de outubro de 2010, “sem mandado judicial e em descumprimento à própria posição da Agência de que não poderia fazer o fechamento sem o presente mandado”.

Camila Marques, advogada do Centro de Referência Legal e Liberdade de Expressão da Artigo 19, considera que o caso de Oliveira “é mesmo mais um ato de criminalização”. Segundo ela, comunicadores populares têm sido “processados criminalmente por exercer atividade de radiodifusão de forma irregular”, sendo que a própria regulamentação brasileira “empurra radialistas comunitários para a irregularidade” e trata como “crimes processos que deveriam ser compreendidos no âmbito administrativo”.

No caso de Oliveira, a execução da ação pelos funcionários da Anatel, tratando como crime a comunicação comunitária e adentrando a casa de radialistas, teria se deparado com a resistência de indivíduos diretamente envolvidos ou solidários às atividades das emissoras. À criminalização da comunicação comunitária teria se sobreposto, então, a criminalização da mobilização social, voltando-se contra o coordenador da Abraço-SP, que teria se prontificado a enfrentar diretamente o que seria uma ação ilegal de agentes do governo e assumido as consequências e o risco de bloquear uma ação do Estado.

A Abraço-SP vê no processo e nas acusações uma série de “irregularidades e violação de Direitos Humanos” com a clara intenção de criminalizar Oliveira e o movimento das rádios comunitárias. Segundo a entidade, não houve, por exemplo, a devida atenção por parte da justiça “ao laudo da perícia em relação a uma gravação apresentada pela Anatel que comprovou sua edição no sentido de criminalizar a nossa ação”.

Fiscalizações com uso da violência

De acordo com o relatório apresentado, em março deste ano, à Organização dos Estados Americanos (OEA) pela Artigo 19 e pela Associação Mundial de Rádio Comunitárias (Amarc), as ações fiscalizatórias da Anatel são muitas vezes marcadas por violência psicológica e física. Conforme o documento,“a utilização de sanções penais pode gerar medo e, em casos extremos, auto-censura. Contudo, a situação se agrava ainda mais quando as atividades fiscalizatórias são revestidas de violência física ou psicológica”.

Seria este o caso da rádio Bicuda em Bráz de Pina no Estado do Rio de Janeiro. Quatro carros da Policia Federal e da Anatel teriam chegado à rádio com agentes e policiais fortemente armados e de maneira agressiva, quebrando materiais de registro, levando material e prendendo três pessoas

O mesmo teria acontecido com a Rádio Pop FM, em Nova Iguaçu, Rio de Janeiro. A rádio que possui um Título de Utilidade Publica da Câmara de Vereadores de Nova Iguaçu foi alvo de uma ação Policial. A Polícia Federal, sem apresentar o mandado, juntamente com dois fiscais da Anatel, teriam arrombado a porta da rádio e coagido os radialistas a entrarem no carro para procurarem e identificarem outras rádios pelo bairro. Após isso, foram levados para a delegacia da Polícia Federal em Nova Iguaçu, interrogados e indiciados.