A prática de copiar páginas ou livros inteiros, em máquinas "xerox" espalhadas dentro e fora das universidades, faz parte da rotina de professores e alunos e tem ajudado a derrubar as vendas desse tipo de publicação. Hoje, segundo fontes do setor, o negócio de "xerocar" livros fatura o mesmo, ou até mais, do que as editoras de obras técnico-científicas, algo em torno de R$ 385 milhões.
Entre 1995 e 2005, o setor encolheu 35%, para 19,9 milhões de exemplares vendidos. Para tentar reverter esse quadro, dois sistemas, parecidos entre si, estão chegando ao mercado. Ambos visam a venda do conteúdo de forma fracionada (por capítulo) e a um preço competitivo quando comparada ao "xerox" – que custa entre R$ 0,10 e R$ 0,15 por página.
Para os alunos, a tecnologia de impressão por capítulo resolve problemas como o preço de capa do livro, considerado alto por parte dos estudantes; títulos adotados pelos professores que estão esgotados nos catálogos das editoras; e, principalmente, a própria necessidade dos alunos, que às vezes precisam ter acesso apenas a uma fração do conteúdo de uma obra. Para o negócio editorial, a impressão por capítulo pode ser a chance de reverter a queda das vendas de livros técnico-científicos. Um dos produtos que estão chegando ao mercado é o Controle de Impressão de Publicações (CIP). O software, que demandou investimento de R$ 150 mil, foi desenvolvido pela Microsiga Dá Educação – braço da Microsiga (empresa do grupo Totvs) voltado à criação de material didático e cursos na área de tecnologia da informação.
O primeiro título a ser lançado através do CIP é do próprio sócio-fundador da Microsiga, Ernesto Haberkorn. O conteúdo da obra "Gestão empresarial com ERP" está sendo vendido pelo site da companhia por R$ 400. Por enquanto, o público alvo de Haberkorn são as universidades que adotam seu livro (em cursos como Administração de Empresas ou Ciência da Computação).
A instituição faz o pedido, recebe o conteúdo do livro em um CD, instala o programa, que já vem com crédito pago – o executivo estabeleceu uma cota padrão de 10 mil páginas por R$ 0,04 cada uma. Ficará a cargo da instituição cobrar ou não do aluno. "Fizemos algo tão barato para 'matar' a 'xerox'", diz Haberkorn. Quando a cota acabar, a instituição precisará comprar créditos – ainda não está decidido como isso será feito (se a instituição comprará um novo CD ou receberá uma senha para recarregar o programa).
No caso do livro "Gestão empresarial com ERP", a impressão de toda obra, de 1 mil páginas, custará R$ 40 – um preço inferior, em até 50%, aos livros de Haberkorn impressos de forma tradicional. A cada 1 mil páginas impressas no sistema CIP, ele receberá R$ 4 em direitos autorais – o equivalente a 10% do valor do título. Em um livro impresso de forma tradicional, ele poderia receber R$ 8. Porém, este não parece ser um problema para o empresário. "Prefiro receber menos por todo o material utilizado, do que receber muito por quase nada", diz.
O próximo passo da equipe de Haberkorn será oferecer programa CIP para o mercado editorial. Esta semana, o executivo tem uma reunião marcada na Câmara Brasileira do Livro para discutir a melhor forma de oferecer a tecnologia.
A outra iniciativa que já está sendo testada dentro de algumas universidade é a Pasta do Professor. O projeto, que teve início há pouco mais de um ano, é bancado por oito das principais editoras do segmento técnico científico do Brasil – Atlas, Pearson, Saraiva, RT, Guanabara Koogan, Manole, Campus Elsevier e Artmed.
O grupo contratou a empresa de tecnologia Neoris, subsidiária da Cemex, com sede em Miami (EUA). Ela criou um programa para a venda de conteúdo por capítulo. Apesar da Pasta do Professor e do CIP não terem relação entre si, o sistema dos dois é, de certa forma, parecido. Além da venda fracionada, o texto do livro é criptografado e não é visualizado na tela do computador, por motivo de segurança, em nenhum dos dois casos.
Para ter acesso ao portal da Pasta do Professor, o interessado (universidade, livraria ou uma empresa que vende fotocópias, por exemplo) precisa ter um computador e uma impressora digital cadastrados no site. O processo é o seguinte: o aluno entra no portal e seleciona os capítulos de livros de seu interesse para montar a sua pasta de textos. O usuário irá decidir onde quer recolher as cópias (na loja da livraria, por exemplo). Quando sua pasta estiver pronta, ele saberá o quanto vai pagar (soma da compra do conteúdo e da impressão). A pasta, então, poderá ser aberta e impressa no endereço escolhido pelo usuário.
Cada editora do grupo irá decidir que títulos irá oferecer e o preço. Segundo Gisele Cristina Pereira, coordenadora de publicações eletrônicas da editora Atlas, a idéia é envolver toda a cadeia do livro, inclusive as empresas fotocopiadoras. Segundo ela, "algumas livrarias já demonstraram interesse" em ter o serviço na loja.
Segundo Roger Trimer, gerente editorial da Pearson Education do Brasil, a idéia do grupo é lançar oficialmente a Pasta do Professor até o final do ano. "Cada editora fez uma pré-seleção dos títulos que irão para o portal", diz. A Pearson começará com 57 obras, mas ainda está definindo o preço por página. "Estamos oferecendo, em um primeiro momento, os títulos pelos quais há demanda."
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