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Senado aprova projeto que regulamenta direito de resposta

Foi aprovado pelo Senado, nesta quarta-feira (18), o projeto (PLS 141/2011) do senador Roberto Requião (PMDB-PR) que regulamenta o direito de resposta por matéria publicada por veículos de comunicação. Desde a supressão da Lei de Imprensa pelo Supremo Tribunal de Justiça, em 2009, este direito constitucional não encontra garantias de aplicação.

Aprovada no Senado, a matéria agora segue para aprovação na Câmara dos Deputados. Em sua redação atual, o texto garante uma visão ampla do direito de resposta, não se restringindo a conteúdo inverídico ou errôneo, como era desejo dos empresários do setor. Os senadores desconsideram a posição aprovada pelo Conselho de Comunicação Social, que em sua composição atual, apadrinhada pelo senador José Sarney e abençoada pelo arcebismo da igreja católica no Rio de Janeiro, Dom Orani , havia aprovado em agosto um relatório em que se defendia a limitação do direito .

De acordo com o projeto, em caso de ofensa, cabe o exercício do direito à divulgação de uma resposta gratuita e proporcional à matéria ofensiva, com mesmo destaque, publicidade, periodicidade e dimensão.

O pedido de direito de resposta deve ser feito por correspondência, com aviso de recebimento, encaminhada ao veículo de comunicação social dentro do prazo de 60 dias, a partir da divulgação da matéria. No caso de o veículo não publicar ou divulgar a resposta em 7 dias, estará sujeito a ação judicial. Comprovada a ofensa, o juiz deverá definir a veiculação da resposta no prazo máximo de dez dias.
 
Comentários de usuários nas páginas dos veículos na internet estão fora do escopo do direito de resposta. O senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP) propôs que se adicionasse na redação da lei o trecho em que se afirma que, “a crítica inspirada pelo interesse público e a exposição de doutrina ou ideia” também estariam eximidas da aplicação da norma, mas não foi acatada a sugestão.

Direitos difusos

Alguns avanços do projeto foram contidos. A proposta de emenda apresentada pelo senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP), que defendia a inclusão de casos de direito de resposta “difuso” foi rejeitada. “No caso de ofensas ou informações errôneas relativas a segmentos difusos da sociedade, poderá ser concedido direito de resposta a uma ou mais pessoas jurídicas de caráter associativo ou sindical que prevejam em seu estatuto a representação direta ou difusa de parte ou de todo aquele segmento”, dizia o texto não aprovado.

Assim, casos como o "Direito de Resposta" contra a RedeTV! pelo programa "Tarde Quente", do apresentador João Kleber, não seria possível frente a projeto aprovado. A ação de 2005 concedeu às organizações da sociedade civil durante 30 dias uma faixa horária para o direito de resposta coletivo dos grupos ofendidos pela programa.

Retração

Retratação ou retificação espontânea dos veículos de comunicação não impedirão a garantia do direito de resposta. Apesar da versão original do texto do senador Requião apresentar esse mecanismo de “retratação espontânea”, o veículo poderia se antecipar ao processo e assumir o erro. Mas os senadores garantiram que fosse efetivado o direito de resposta do cidadão, utilizando o seu próprio discurso e não somente o da empresa.

Os senadores também não aprovaram a proposta original de Requião que estabelecia critérios para o aceite pela justiça de contestações para o pedido de reparação. Assim, abriu-se a possibilidade ampla de contestação por parte dos proprietários dos veículos.

Outra proposta que criava parâmetros objetivos para recurso ao pedido de resposta também não foi aprovada. Ela poderia impedir o abuso desse instrumento e orientar o poder judiciário na avaliação das solicitações.

A gratuidade da resposta ou retificação divulgada pelo veículo de comunicação também ficou garantida pelo texto aprovado, com exceção de casos de ação temerária, ou má fé do autor da ação, após decisão favorável revista no trâmite do processo judicial.

Dilma se diz preocupada com emendas ao Marco Civil da Internet

Em reunião com integrantes do Comitê Gestor da Internet (CGI) realizada nesta segunda-feira (16), no Palácio do Planalto, a presidenta Dilma Rousseff teria reafirmado sua posição já divulgada na semana passada a favor da “neutralidade da rede” com a ressalva de que o caminho não será fácil. De acordo com uma fonte do CGI, a presidenta teria dito estar “preocupada com as propostas de emendas ao texto atual do Marco Civil da Internet que possam surgir”.

Na semana passada, a presidenta Dilma Roussef pediu oficialmente urgência na votação da proposta de um Marco Civil da Internet, o que estabeleceu uma nova dinâmica para o processo que estava sendo trancado no Congresso. Agora, o texto precisa ser votado em até 45 dias ou passa a trancar a pauta do casa legislativa. No encontro com o relator do documento, Alessandor Molon (PT-RJ), Dilma teria se posicionado favoravelmente ao polêmico ponto da “neutralidade de rede”.

O posicionamento expresso pela presidenta em favor do Marco Civil da Internet tem ganhado destaque, pois até então não havia declaração oficial nesse sentido, e teria sido impulsionado pela crise promovida pela espionagem americana. Ainda assim, o conteúdo da proposta não é ponto pacífico dentro do governo. De acordo com matéria publicada pelo portal especializado “Telesíntese”,  o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) discorda do que propõe Ministério das Comunicações (Minicom), embora o conteúdo da discordância não tenha vindo à público.

Sabe-se que o ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, tem se mostrado favorável, por exemplo, à regulação da neutralidade de rede pela Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), o que desagrada a sociedade civil e muitos dos membros do CGI. A entidade espera ter um papel mais protagonista nesse ponto do que até segunda passada o governo vinha insinuando que deveria ter.

A reunião com o CGI se configura como mais um capítulo dos desdobramentos que decorrem da denúncia de espionagem do governo brasileiro pelos Estados Unidos. Desde que veio à público o fato, o poder executivo tem se movimentado para cobrar maior segurança e respeito à soberania nacional nas redes de telecomunicação.

Leis específicas

A presidenta Dilma Roussef se mostrou interessada também na polêmica em torno do segundo parágrafo do artigo 15 do Marco Civil. O texto não é aceito por todo o CGI e alguns defendem que seja revisto, por se tratar de uma discussão que deveria ser feita em uma  lei específica sobre direitos autorais. Existe um longo debate em torno da responsabilidade do conteúdo veiculado na internet e quem teria o poder de tirar do ar algo que tenha sido notificado como indevido. Segundo fontes não oficiais, ao ouvir sobre os problemas decorrente do parágrafo citado, a presidenta teria dito “vou mandar tirar!”.

Outro ponto discutido se refere ao armazenamento de dados no Brasil pela empresas operadoras do serviço de telecomunicações.  Conforme o que teria sido expresso por alguns integrantes do CGI, o tema poderia ser melhor posicionado no âmbito do Anteprojeto de Lei de Proteção de Dados Pessoais, no qual, inclusive, haveria melhores parâmetros de proteção a esses dados que passariam a ser guardados no país.

Governança

O governo brasileiro se mostra cada vez mais interessado em algum tipo de regulação internacional compartilhada da rede mundial de computadores após a divulgação de que o governo americano estaria espionando o país. Para Veridiana Alimonti, integrante do CGI e advogada do Instituto de Defesa do Consumidor (Idec), a reunião marca um momento importante da relação entre presidência e CGI, ressaltando a importância do modelo multissetorial para a governança da internet”. 

Embora haja com frequência indícios de que o governo (por meio do Minicom e da Anatel) tenha inclinações em favor de que a governança da internet deveria ser feita pela União Internacional de Telecomunicações (UIT), a presidenta demonstrou simpatia pela experiência de composição ampla e diversa (sociedade civil, governo e empresas) do CGI, reconhecida internacionalmente pelo seu êxito e seu desempenho no desenvolvimento da internet no país valorizando princípios democráticos.

Segundo Virgílio Almeida, representante do MCTI  e coordenador do CGI, os vários fóruns que discutem internet pelo mundo têm reconhecido no exemplo brasileiro de governança “um modelo inovador”. “Mostramos para a presidenta a forma que o Brasil faz a governança da internet”, afirmou. 

A apresentação do CGI se mostrou importante também para esclarecer alguns pontos. Segundo Carlos Afonso, representante da sociedade civil no CGI, “alguns ministros demonstraram dificuldades em entender como funcionam as coisas na rede, mas acho que respondemos com bastante clareza”. Entre os presentes estavam os ministros Celso Amorim (Ministério da Defesa), Gleise Hoffmann (Casa Civil), Miriam Belchior (Secretaria de Direitos Humanos), Paulo Bernardo (Minicom), José Eduardo Cardozo (Ministério da Justiça), Marco Antônio Raupp (MCTI) e Fernando Pimentel (Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior – MDIC).

Acredita-se que o resultado do encontro com o CGI renderá frutos no discurso da presidenta Dilma na abertura da Assembléia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) na próxima semana, pois, conforme teria declarado a dois jornais gaúchos (Correio do Povo e Zero Hora), tratará dos temas da espionagem e da neutralidade de rede. Falou-se em um próximo encontro para prosseguimento do diálogo, mas a data permanece em aberto.

Marco Civil da Internet entra em regime de urgência de votação

A presidenta Dilma Roussef cobrou na última quarta (11/9) a votação do Marco Civil da Internet em regime de urgência no Congresso Nacional. A mensagem foi publicada no Diário Oficial da União e, na noite anterior (10/9), reunida com o relator da proposta Alessandro Molon (PT-RJ), a presidenta manifestou interesse de que seja mantido o texto que trata da neutralidade de rede.

A decisão do governo federal foi manifestada em uma reunião que segue a linha de discussões de emergência realizadas após as denúncias de espionagem sofridas pelo governo brasileiro pelos Estados Unidos. No centro da polêmica, encontra-se o papel que tem sido desempenhado pelas empresas de telecomunicações que dominam o setor e são controladas por capital internacional. Como o Marco Civil da Internet define princípios que devem ser respeitados na rede mundial de computadores, espera-se que a partir dele se teria o suporte necessário para a defesa de direitos como o da liberdade, isonomia e privacidade.

A votação do Marco Civil da Internet desde novembro do ano passado vem sendo bloqueada pelo colégio de líderes da Câmara, tendo destaque o papel exercido pelo líder do PMDB na Casa, Eduardo Cunha (RJ) esse sentido. Entrando em regime de urgência constitucional, contam-se 45 dias e, a partir de então, os deputados ficam impedidos de votar outros projetos antes daquele. Depois disso, a votação segue para o Senado com a mesma dinâmica estabelecida pelo regime especial.

Pontos polêmicos

O princípio da “neutralidade de rede” tem sido ponto especialmente polêmico dentro da proposta de Marco Civil da Internet, devido ao interesse das grandes empresas de terem liberdade para definir modelos de negócios que possam limitar a liberdade dos usuários, fazendo cobranças diversificadas para cada serviço (tratados atualmente de forma indiscriminada) e interferindo na transferência de dados de forma não compatível com a garantia de um tratamento igual para todos.

A guarda de registro de conexão (“logs”) pelas empresas do setor tem sido outro foco de divergências. Enquanto alguns consideram que o armazenamento de tais informações seria uma invasão da privacidade, ferindo assim os direitos do usuário, outros defendem que esses dados podem ser usados inclusive para a investigação de crimes na internet. Outro uso possível seria econômico, fazendo com que as empresas vendessem dados de navegação para outras interessadas em mapear o comportamento dos internautas.

Outro ponto que tem dividido o debate se refere à publicação de conteúdos na internet. A indústria da cultura faz pressão para que seja incluído no texto um parágrafo que determine a retirada de material que possa estar ferindo direitos autorais após a simples notificação. Outros grupos defendem que tal controle deve ser feito apenas por medida judicial. Também não há acordo sobre a responsabilização sobre a veiculação de conteúdos, se esta é exclusiva do usuário ou conjunta com os provedores que o disponibilizam.

Ocupantes da Câmara do Rio discutem direito à comunicação

Ocupantes das escadarias da Câmara dos Vereadores do Rio de Janeiro e seu apoiadores concentraram-se na última quinta-feira (12) para assistir e debater uma aula sobre direito à comunicação. O evento “A verdade é dura: nossa mídia é filha da ditadura” foi promovido pelos coletivos Intervozes e Projetação em solidariedade aos manifestantes que acampam na Cinelândia há mais de um mês, em protesto contra as tentativas de atrapalhar a investigação sobre a máfia do transporte público, e que contribuíram para a realização da atividade.

As atividades foram iniciadas com a apresentação dos vídeos “Levante sua Voz”, “Globogolpe remix” e “Freenet – Neutralidade de rede” e sucedidas por uma apresentação feita por Gustavo Gindre, militante na luta pela democratização da comunicação e integrante do Intervozes.

Os presentes debateram a apropriação privada das concessões públicas, a importância da comunicação pública, as possibilidades de uso da multiprogramação permitida pelo processo de digitalização das TV, a concentração dos meios de comunicação, a proteção da infância contra a possibilidade e outros temas relacionados. Gindre considera que o fato de as concessões outorgadas às emissoras de TV e rádio serem bens públicos se dilui no imaginário da sociedade, que se relaciona com elas como se fossem bens privados. “O prédio é da Globo, a antena é da Globo, mas o canal é nosso”, afirmou.

A realização do evento junto com os ocupantes da Câmara reafirma o crescimento da atenção que os movimentos sociais e a esquerda têm dirigido à mídia. Mônica Mourão, do Intervozes, considera que “a ocupação da câmara é um espaço simbólico de resistência das manifestações que vêm ocorrendo desde junho”. Segundo ela, “estamos convencidos de que o direito à comunicação é uma pauta fundamental para todo o movimento social, porque a partir desse direito se pode conquistar outros”.

Durante a aula pública, foi apresentada a proposta de Projeto de Lei por uma Mídia Democrática e foram coletadas assinaturas de apoio à iniciativa. Uma da cópia da lista permaneceu com os ocupantes à espera de mais declarações de apoio.

O Ocupa Câmara Rio há mais de um mês faz pressão para que se desfaça a CPI dos Ônibus, esterilizada pela ocupação de suas vagas por defensores das empresas de ônibus, e se realize uma investigação legítima e verdadeira do setor. De acordo com a página dos manifestantes nas redes sociais, “queremos que as licitações de ônibus sejam investigadas a fundo e quem não se posiciona a favor da realização das investigações, não são as pessoas mais indicadas para cumprir este papel”.

Funcionários exigem reformas nas TVs públicas

A negligência com que os governos tratam as emissoras públicas tem encontrado sua contrapartida interna, nas reivindicações de seus funcionários.  Foi realizada, no dia 10 (terça), uma audiência pública em Belo Horizonte para discutir a situação da TV pública do estado, alvo de uma campanha iniciada no mês de agosto com o expressivo nome de “Salve a Rede Minas”. De forma semelhante, no Paraná, o sindicato dos jornalistas (Sindijor-PR) encampa uma briga por melhorias na Rádio e Televisão Educativa do Paraná (RTVE).

No centro das discussões se encontram a luta trabalhista de funcionários que debatem a necessidade (e a forma) de abertura de concursos públicos, o temor frente às políticas de demissão, a luta pela ampliação da autonomia da comunicação pública em relação aos sucessivos governos e a busca por maior participação da sociedade nas emissoras, em que se espera a implementação efetiva de conselhos que possam acompanhar e orientar a gestão das televisões públicas.

Os problemas trabalhistas e de gestão se refletem na qualidade da programação. No caso específico da TV Minas, por exemplo, no manifesto da campanha “Salve a Rede Minas”, consta que “os atuais 25 programas da grade da TV podem ser, de uma hora para outra, reduzidos a apenas 5”. De acordo com o documento, 5 programas já teriam sido encerrados, 50 funcionários demitidos e se estima que esteja nos planos do governo a exoneração de mais 300.

A demissão de 20 jornalistas e o exercício da atividade profissional sem contrato algum constam entre os principais alvos das denúncias no Paraná. No abaixo-assinado apresentado pelos Sindijor-PR, reclama-se também que  “a RTVE continua à deriva, ao sabor dos interesses do grupo de plantão no comando do estado, situação que já ocorreu em governos anteriores”. Como principais consequências desse quadro aponta-se que a emissora se estrutura como “uma televisão que não explora todo o seu potencial criativo, limitada a ser uma retransmissora de conteúdo. Sufocada pela falta de espaço, não apresenta pluralidade na programação e maior abertura para a produção jornalística local e informativa”.

Segundo um dos diretores do Sindijor-PR, Pedro Carrano, “há uma situação bem problemática” no Brasil, pois governos “de direita” estariam fazendo uma política de “terra arrasada” com as emissoras públicas, enquanto os governos mais “progressistas” não teriam compreendido ainda bem o “caráter plural” que essas tevês deveriam ter.

Integrante do movimento “Salve a Rede Minas”, Leandro Lopes considera que “há uma grande confusão no Brasil sobre o que é uma TV pública e o que é uma TV estatal”. Dessa forma, os governos e grande parte da população têm dificuldade em não diferenciar uma emissora independente de um veículo de propaganda e porta-voz institucional. Entre as propostas da audiência, foi proposto que se criasse uma empresa estadual de comunicação conforme o modelo da Empresa Brasil de Comunicação (EBC), como já aconteceu este ano em Pernambuco.

Precedentes

Em 2012, a TV Cultura de São Paulo, uma das principais emissoras públicas do país enfrentou sua maior crise. Ativistas foram às ruas denunciar o processo de sucateamento e privatização da emissora. Nos dois anos em que foi comandada por João Sayad, a Fundação Padre Anchieta, que administra a tevê, teria demitido mais de mil funcionários, extinto programas, enfraquecido a produção própria de conteúdo e entregue horários na programação para meios de comunicação privados, como a Folha de São Paulo.