Funcionários exigem reformas nas TVs públicas

A negligência com que os governos tratam as emissoras públicas tem encontrado sua contrapartida interna, nas reivindicações de seus funcionários.  Foi realizada, no dia 10 (terça), uma audiência pública em Belo Horizonte para discutir a situação da TV pública do estado, alvo de uma campanha iniciada no mês de agosto com o expressivo nome de “Salve a Rede Minas”. De forma semelhante, no Paraná, o sindicato dos jornalistas (Sindijor-PR) encampa uma briga por melhorias na Rádio e Televisão Educativa do Paraná (RTVE).

No centro das discussões se encontram a luta trabalhista de funcionários que debatem a necessidade (e a forma) de abertura de concursos públicos, o temor frente às políticas de demissão, a luta pela ampliação da autonomia da comunicação pública em relação aos sucessivos governos e a busca por maior participação da sociedade nas emissoras, em que se espera a implementação efetiva de conselhos que possam acompanhar e orientar a gestão das televisões públicas.

Os problemas trabalhistas e de gestão se refletem na qualidade da programação. No caso específico da TV Minas, por exemplo, no manifesto da campanha “Salve a Rede Minas”, consta que “os atuais 25 programas da grade da TV podem ser, de uma hora para outra, reduzidos a apenas 5”. De acordo com o documento, 5 programas já teriam sido encerrados, 50 funcionários demitidos e se estima que esteja nos planos do governo a exoneração de mais 300.

A demissão de 20 jornalistas e o exercício da atividade profissional sem contrato algum constam entre os principais alvos das denúncias no Paraná. No abaixo-assinado apresentado pelos Sindijor-PR, reclama-se também que  “a RTVE continua à deriva, ao sabor dos interesses do grupo de plantão no comando do estado, situação que já ocorreu em governos anteriores”. Como principais consequências desse quadro aponta-se que a emissora se estrutura como “uma televisão que não explora todo o seu potencial criativo, limitada a ser uma retransmissora de conteúdo. Sufocada pela falta de espaço, não apresenta pluralidade na programação e maior abertura para a produção jornalística local e informativa”.

Segundo um dos diretores do Sindijor-PR, Pedro Carrano, “há uma situação bem problemática” no Brasil, pois governos “de direita” estariam fazendo uma política de “terra arrasada” com as emissoras públicas, enquanto os governos mais “progressistas” não teriam compreendido ainda bem o “caráter plural” que essas tevês deveriam ter.

Integrante do movimento “Salve a Rede Minas”, Leandro Lopes considera que “há uma grande confusão no Brasil sobre o que é uma TV pública e o que é uma TV estatal”. Dessa forma, os governos e grande parte da população têm dificuldade em não diferenciar uma emissora independente de um veículo de propaganda e porta-voz institucional. Entre as propostas da audiência, foi proposto que se criasse uma empresa estadual de comunicação conforme o modelo da Empresa Brasil de Comunicação (EBC), como já aconteceu este ano em Pernambuco.

Precedentes

Em 2012, a TV Cultura de São Paulo, uma das principais emissoras públicas do país enfrentou sua maior crise. Ativistas foram às ruas denunciar o processo de sucateamento e privatização da emissora. Nos dois anos em que foi comandada por João Sayad, a Fundação Padre Anchieta, que administra a tevê, teria demitido mais de mil funcionários, extinto programas, enfraquecido a produção própria de conteúdo e entregue horários na programação para meios de comunicação privados, como a Folha de São Paulo.

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