Arquivo da tag: PNDH3

Campanha pede revogação de cortes no Programa Nacional de Direitos Humanos

Motivadas pela publicação do Decreto 7.177, que altera pontos importantes do 3º Programa Nacional de Direitos Humanos (PNDH3), um grupo de organizações sociais lançou nesta quinta-feira (21) uma campanha nacional em defesa da integralidade e implementação do programa. Entre outras ações, as entidades pedem a revogação imediata do referido decreto e a instalação do Comitê de Acompanhamento e Monitoramento do PNDH3, com ampla participação da sociedade civil.

De acordo com informação do site da campanha, ela se soma a uma série de iniciativas estaduais já em curso. “As organizações envolvidas também pretendem capacitar lideranças sociais e públicas para a compreensão do PNDH-3 e para a defesa de sua implementação, além de propor debates em instituições educacionais e públicas”, diz o texto.

As organizações entendem que as mudanças feitas pelo governo por meio do Decreto 7.177, publicado no dia 13, representam recuos significativos em relação aos temas tratados no programa e também demonstram falta de compromisso do Poder Público em manter o que foi pactuado em um processo participativo de construção de políticas públicas. O PNDH3 é resultado das diretrizes aprovadas na 11ª Conferência Nacional de Direitos Humanos, realizada em dezembro de 2008, e na sistematização de resoluções de mais de 50 conferências nacionais sobre diversos temas.

“Esse decreto que altera e revoga o PNDH é um símbolo de autoritarismo em um processo que nos custou tão caro. Se entrar nas minúcias e no que foi alterado, percebemos que os pontos são fruto de uma pressão unilateral de setores conservadores que não privilegiaram o processo democrático”, critica Andressa Caldas, integrante da ONG Justiça Global.

Desde o lançamento do programa, em dezembro do ano passado, estes diversos setores tiveram nos grandes veículos da mídia comercial aliados de primeira hora. Além da constante divulgação das reivindicações de setores conservadores das Forças Armadas e da Igreja Católica, além das reclamações das associações representantes do agronegócio, estes veículos serviram como espaço para que as entidades do setor fizessem sua campanha aberta contra a inclusão de temas ligados à comunicação no PNDH3.

Mídia

Assim como os demais grupos de interesse que pressionaram por mudanças, os grandes grupos de comunicação também tiveram suas reivindicações atendidas. Entre as alterações realizadas no programa, encontram-se também questões relacionadas à mídia brasileira.

Uma delas retira o respeito aos direitos humanos como condicionante para a concessão e renovação das outorgas de emissoras de rádio e TV. Assim como também deixa de prever punições aos meios de comunicação que violassem os direitos humanos.

Também foi excluída do PNDH3 uma ação do programa que previa a criação de um ranking dos veículos comprometidos com a defesa dos direitos humanos, assim como dos que cometem violações. Para Bia Barbosa, integrante do Intervozes – Coletivo Brasil de Comunicação Social, essas alterações enfraquecem o programa. “Artigos que estão desde 1988 esperando para serem regulamentados são trocados por uma ação genérica”, diz ela.

* Com colaboração de Mariana Tokarnia

Veja também:
Governo recua em ações relacionadas à mídia

Governo recua em ações relacionadas à mídia

Os cortes realizados pelo governo federal no 3º Programa Nacional de Direitos Humanos (PNDH3) foram duramente criticados pelos movimentos e organizações sociais ligados às questões dos direitos humanos no Brasil. A avaliação geral é de que as mudanças representam retrocessos nos temas específicos, demonstram que o governo cedeu a todas as pressões de grupos conservadores e também colocam em xeque o compromisso do Estado brasileiro com os processos participativos de construção de políticas públicas. O PNDH3 expressa o resultado da Conferência Nacional de Direitos Humanos.

Em nota divulgada hoje (14), o Movimento Nacional de Direitos Humanos (MNDH) diz que “o governo federal fez uma escolha que atende às reações conservadoras”. Também registra que as alterações “desconhecem e desrespeitam as organizações da sociedade que democraticamente participaram do processo de construção do PNDH-3 e que saíram amplamente em sua defesa”. [Veja a íntegra da nota]

As críticas feitas especificamente em relação aos cortes realizados na Diretriz 22 do plano, que trata da “Garantia do direito à comunicação democrática e ao acesso à informação para a consolidação de uma cultura em Direitos Humanos”, reforçam a idéia de que as mudanças atendem aos interesses de grupos com interesses conservadores, que não participaram do processo de construção do PNDH. Os grandes grupos de comunicação fizeram, logo após a publicação do decreto que instituiu o plano, forte campanha através de seus veículos, comparando as medidas incluídas na Diretriz 22 a tentativas de censurar e controlar a mídia. [Saiba mais]

O decreto que alterou o texto original do plano, publicado ontem (13), prevê a mudança de texto em uma das ações programáticas e a supressão de outra, ambas relacionadas ao Objetivo 1 – “Promover o respeito aos Direitos Humanos nos meios de comunicação e o cumprimento de seu papel na promoção da cultura em Direitos Humanos”.

Mudanças na Diretriz 22

A alteração da ação programática “A” retira a proposta de uma regulamentação do Artigo 221 da Constituição Federal, que estabelece as diretrizes para a exploração de concessões de rádio e TV, estabelecendo o respeito aos direitos humanos como critério para a concessão e renovação das outorgas. No texto original, havia ainda a indicação de que esta regulamentação previsse punições aos veículos que violassem os direitos humanos.

Agora, há apenas a proposta é a “a criação de marco legal, nos termos do art. 221 da Constituição, estabelecendo o respeito aos Direitos Humanos nos serviços de radiodifusão (rádio e televisão) concedidos, permitidos ou autorizados”.

Já a exclusão da ação programática “D” tira do PNDH3 a proposta de criação de um “ranking dos veículos comprometidos com a defesa dos direitos humanos, assim como dos que cometem violações”.

Ataque conservador

“A questão central destas mudanças é o simbolismo do recuo: está se recuando por pressão dos setores que não querem mudar as estruturas de poder no país”, comenta João Paulo Mehl, do Intervozes – Coletivo Brasil de Comunicação Social. Para ele, os ataques promovidos contra as medidas relacionadas às violações dos direitos humanos na mídia foram muito pesados “porque é através deste monopólio que temos nas comunicações que várias pautas dos movimentos sociais são invisibilizadas”. “Proteger e blindar os meios que sempre lhe deram sustentação é estratégico para os vários grupos conservadores que defenderam também as demais mudanças no plano”, avalia.

Em relação aos argumentos usados pelo empresariados e que, aparentemente, convenceram o governo a promover as alterações, uma das coordenadoras da Campanha Quem Financia a Baixaria é Contra a Cidadania, Rachel Moreno, defende o estabelecimento de mecanismos de controle social. “Neste momento, alguns segmentos dos empresários se esforçam em dizer que qualquer tentativa é um risco de censura. A sociedade civil quer um controle social a partir dela. Isso é comum em qualquer democracia avançada”, diz Rachel.

Lembrando que as alterações promovidas significam ir contra as deliberações da Conferencia Nacional de Direitos Humanos, João Paulo Mehl também ressalta o caráter de ataque aos processos participativos e às conferências nacionais, como um todo. Isso coloca os movimentos da comunicação em estado de alerta, já que ainda não foram publicadas as resoluções da 1ª Conferência Nacional de Comunicação (Confecom). “O avanço que queremos foi discutido e aprovado na Confecom. A partir dessas resoluções é que queremos discutir a mudança do setor de comunicações”, comenta.

Ranking e punições

Para Rachel Moreno, os retrocessos no texto da Diretriz 22 não encontram eco na sociedade, que cada vez mais tem feito demonstrações de indignação com as violações de direitos humanos na mídia. “A sociedade civil tem ficado indignada e tem encaminhado ao Estado e aos anunciantes pedidos de sanções as emissoras que repetem aos mesmos problemas de violação aos direitos nos quais que o Brasil é signatário”, assinala. “É preciso, portanto, que quando elas repetem às violações, sejam punidas de forma mais acentuada.”

A divulgação de um ranking, segundo Rachel, seria um primeiro passo. Já pensar na cassação da concessão de rádios e TVs que reincidam nas violações é algo totalmente pertinente, visto que estas concessionárias públicas devem ter “responsabilidade em relação aos nosso valores”.

Augustino Veit, também membro da Executiva da Campanha Quem Financia a Baixaria é contra a Cidadania, a proposta da criação de um ranking com os veículos que respeitam e os que violam os direitos humanos jamais poderia ser considerada censura. “Eles (os radiodifusores) trabalham com concessões públicas”, enfatiza Augustino. Além disso, o propósito do ranking previsto no PNDH3 seria tornar os meios de comunicação e os conteúdos mais democráticos.

Ele lembra ainda que um ranking semelhante é feito há anos pela campanha, a partir de denúncias dos telespectadores. No começo deste mês, a Campanha divulgou seu 17º ranking. Essa prática, segundo Augustino, já contribuiu para que as emissoras melhorassem a qualidade de suas programações. Anunciantes também passaram a ser mais criteriosos nas escolhas dos conteúdos com que relacionam as suas marcas e produtos.

Augustino diz que a sociedade vai fazer pressão para que o governo volte atrás e mantenha o texto original do plano. Segundo ele, já existe uma manifestação marcada para 21 de junho pela integralidade do PNDH3. A ideia é que aconteça em todo o país.

Jornalista defende compromisso da mídia com direitos humanos

A jornalista e diretora da TV Comunitária de Niterói, Cláudia de Abreu, defendeu há pouco a diretriz 22 do Programa Nacional de Direitos Humanos (PNDH-3), que trata da comunicação. Essa diretriz prevê a criação de um marco legal que estabeleça o respeito aos direitos humanos como condição para renovar as concessões de rádio e TV.

“Quem é a favor da democratização dos meios de comunicação deve defender a diretriz 22 do PNDH-3”, afirmou a jornalista, em seminário sobre mídia e direitos humanos que ocorre na Câmara.

Cláudia de Abreu disse que é favorável ao controle social da programação e ao fim de renovações automáticas de concessões para televisão e rádio. “Controle social não é censura. A queda da censura foi importante conquista da qual não abrimos mão. A participação popular na construção de políticas públicas favorece a liberdade de expressão”, afirmou.

A diretriz 22 tem sido alvo de críticas, no entanto, por propor a criação de um ranking sobre mídia e direitos humanos. Segundo os críticos, esse ranking cercearia a liberdade de expressão.

Baixaria na TV

O seminário sobre mídia e direitos humanos está sendo promovido pela Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara. Após as discussões sobre o PNDH-3, será apresentado o 17º ranking da campanha “Quem financia a baixaria é contra a cidadania”.

O seminário foi proposto pela presidente da comissão, deputada Iriny Lopes (PT-ES), e pelo deputado Pedro Wilson (PT-GO). O evento ocorre no plenário 7.

Leia a íntegra do PNDH-3

Edição – Pierre Triboli

Mídia tem medo do controle social, diz ONG feminista

A presidente da organização não governamental Observatório da Mulher, Rachel Moreno, afirmou que o maior medo da grande mídia com relação ao Programa Nacional de Direitos Humanos (PNDH-3) diz respeito ao controle social. “Mas não queremos punir ninguém ou estabelecer censura. Queremos implementar e zelar pelo respeito aos direitos humanos”, afirmou Rachel, em seminário sobre mídia e direitos humanos que ocorre na Câmara.

Rachel Moreno disse que, por serem concessões públicas, as TVs e rádios deveriam ter responsabilidade social. Além disso, ela afirmou que os valores e modelos divulgados pela publicidade e pela programação de TV estão provocando “doenças modernas”, como anorexia, visão distorcida do próprio corpo e mania de magreza.

A presidente da ONG também criticou os veículos de comunicação por reproduzirem modelos que reforçam estereótipos. “Os meios de comunicação refletem as mulheres com valores do século passado, sem refletir a pluralidade e a diversidade”, avaliou.

Para modificar essa situação, Rachel pediu aos parlamentares a elaboração de leis que regulamentem dispositivos do PNDH-3 relacionados aos meios de comunicação.

O seminário sobre mídia e direitos humanos está sendo promovido pela Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara. O evento ocorre no plenário 7.

Leia a íntegra do PNDH-3

Edição – Pierre Triboli

PNDH não é ameaça para os meios de comunicação, diz sociólogo

O sociólogo, jornalista e professor aposentado da Universidade de Brasília (UnB) Venício Lima rebateu as críticas feitas pela grande mídia de que o Programa Nacional de Direitos Humanos (PNDH-3) cerceia a liberdade de imprensa e não é democrático. Segundo ele, a própria Constituição, em seu artigo 221, já prevê a elaboração de um marco legal para os veículos de comunicação.

“Quem ameaça quem? O PNDH ameaça a liberdade de comunicação ou os empresários que ameaçam o direito à comunicação?”, questionou Lima, durante seminário sobre mídia e direitos humanos que ocorre na Câmara.

Venício Lima lembrou que a proposta de acompanhamento dos veículos de comunicação já estava nos planos anteriores, mas não havia sido contestada.

O sociólogo ressaltou que a efetivação do plano depende da aprovação de projetos de lei. No caso do ranking sobre direitos humanos e programação, também previsto no PNDH, ele disse que a iniciativa já é realizada pela Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara.

Concessões de TV

Lima lembrou que o PNDH prevê a cassação de outorgas de emissoras que não sigam diretrizes de direitos humanos. Ele disse que, atualmente, há dificuldades de se cassar uma concessão. “As empresas de comunicação já gozam de vários privilégios nesse sentido”, afirmou. Ele lembrou da exigência de quórum qualificado para não renovar as concessões e da dependência de decisão judicial para dar fim a uma concessão.

O seminário sobre mídia e direitos humanos está sendo promovido pela Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara. O evento ocorre no plenário 7.

Leia a íntegra do PNDH-3

Edição: Pierre Triboli