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Carta Mundial da Mídia Livre é lançada no Fórum Social Mundial

Por Mônica Mourão*

Muito trabalho, muita gente, uma diversidade de línguas, de nacionalidades e de realidades sociopolíticas no colorido cenário da democracia árabe tunisiana mostraram a que veio o IV Fórum Mundial de Mídia Livre (FMML). O encontro aconteceu entre 22 e 28 de março, em Túnis, como parte da programação do Fórum Social Mundial, e reuniu ativistas pela democratização da comunicação das mais diferentes regiões do planeta. Casos como os dos povos de territórios ocupados, cuja situação de restrição de direitos não reverbera na imprensa, ou de um jornalista que só consegue exercer seu papel de denúncia da ditadura do Chade vivendo como refugiado político fora do seu país, evidenciam a estreita correlação entre a liberdade de expressão e o direito à comunicação com os demais direitos humanos e a luta por um outro mundo possível.

O FMML também discutiu os rumos da governança na internet; o teor de gravuras, cartuns e charges na disputa por sentidos em torno do islamismo e da islamofobia; o papel da comunicação pública para uma mídia democrática e a importância política de questões tecnológicas, como o software livre. Tiveram caráter permanente durante todo o encontro, que foi coberto de forma colaborativa por coletivos de diversos países, uma exposição de ilustrações, um cineclube e um laboratório hacker.

Como resultado político mais concreto, o Fórum lançou a Carta Mundial da Mídia Livre, documento com princípios e reivindicações para a garantia da liberdade de expressão e do direito à comunicação de todos e todas. A elaboração da Carta teve início no FMML de 2013 e passou pela realização de quatro seminários internacionais (em Porto Alegre, Túnis, Paris e Marrakech), onde recebeu contribuições de mais de 30 países, sendo depois submetida a uma consulta online.

A compreensão da comunicação como um bem comum, o acesso livre às tecnologias e especialmente à Internet e a regulação dos meios de comunicação de modo a garantir que a mídia contemple a pluralidade de ideias e valores que circulam na sociedade são alguns dos pontos da Carta Mundial de Mídia Livre. Ao estabelecer princípios e reivindicações comuns, e por ter sido elaborada em âmbito internacional através de um processo participativo, a Carta constitui um instrumento para que se acione tanto as autoridades de cada país quanto organismos internacionais em prol da mídia livre. O lançamento do documento é o início de um novo percurso, em que defensoras e defensores da mídia livre terão um instrumento comum de luta no âmbito internacional.

A cooperação internacional da militância pela liberdade de expressão tem sido fundamental em casos como o do jornalista e blogueiro Makaila N’Guebla. Nascido no país africano do Chade, ele vivia como exilado no Senegal quando foi realizado um seminário de mídia livre dentro do Fórum Social Mundial naquele país, em 2011. Desde então, não parou de acompanhar as articulações do Fórum e, neste ano, já exilado na França, fez parte da comissão responsável por elaborar a redação final da Carta de Mídia Livre. N’Guebla acredita que o documento poderá ajudá-lo em sua luta para poder seguir denunciando as violações de direitos humanos que ocorrem em seu país natal.

Um mundo em que pessoas são criminalizadas, assassinadas e expatriadas por exercer a liberdade de expressão não é o mundo que militantes da mídia livre queremos. Um mundo em que o genocídio da juventude negra, o ódio contra mulheres e LGBT, o desrespeito às pessoas com deficiência reverberam através do discurso das grandes corporações midiáticas não é o mundo que militantes da mídia livre queremos. Um mundo em que povos palestinos, curdos, entre outros, que sofrem diariamente por ter seus territórios ocupados sem que a imprensa se engaje em sua defesa não é o mundo que militantes da mídia livre queremos. Mas acreditamos que, com a mídia livre, outro mundo é possível.

* Mônica Mourão é jornalista e integrante do Intervozes. Fez parte da delegação brasileira que participou do IV Fórum Mundial de Mídia Livre em Túnis.

Texto originalmente publicado no Blog do Intervozes na Carta Capital. 

Carta Mundial da Mídia Livre é lançada no Fórum Social na Tunísia

A Carta Mundial da Mídia Livre, com princípios e ações estratégicas para promover uma comunicação democrática em todo mundo, foi lançada hoje (28) na Assembleia de Convergência pelo Direito à Comunicação, no último dia do Fórum Social Mundial, na Universidade El Manar, em Túnis, capital da Tunísia.

Entre as prioridades estabelecidas no documento estão o desenvolvimento de marcos democráticos de regulação da comunicação, por meio de órgãos independentes, o apoio aos meios de comunicação comunitários e a independência da mídia pública em relação ao governo e ao mercado.

A carta também defende a governança democrática da internet, incluindo a garantia de neutralidade da rede, o direito à vida privada e à liberdade de expressão, além da universalização do acesso aos meios de comunicação e à internet banda larga.

Após o lançamento da carta, os ativistas da comunicação pretendem construir parcerias com outros setores para a promoção dos princípios do documento e divulgar o documento em debates e fóruns de discussão sobre as mídias e a internet livres, entre outras iniciativas.

Comunicadores, blogueiros e representantes de movimentos sociais de diversos países debateram, desde o dia 22 de março, a liberdade de expressão e o direito à comunicação na quarta edição do Fórum Mundial de Mídia Livre (FMML) na Universidade El Manar. O FMML é um evento paralelo ao Fórum Social Mundial.

Escrito por Ana Cristina Campos
para a Agência Brasil

Pontos de Mídia Livre se reunem na Teia 2010

Além de várias atividades ligadas à Cultura, a Teia Brasil 2010: Tambores Digitais também reuniu em Fortaleza, entre os dias 25 e 28 de março, os projetos de comunicação premiados pelo primeiro edital de Pontos de Mídia Livre do Ministério da Cultura (MinC). Apesar de apenas 40 dos 82 pontos terem comparecido ao encontro, foi possível discutir todas as questões previstas e produzir um documento que sintetiza as propostas que surgiram na capital cearense.

Assim como ocorreu nos outros dois encontros dos pontos de mídia livre promovidos pelo MinC (em Pernambuco e Espírito Santo), a conversa centralizou-se em torno de alguns interesses comuns entre os projetos, como a importância de uma constante formação técnica e política dos midialivristas e a necessidade de tornar a prática da mídia livre mais sustentável.

Os debates também giraram em torno dos eixos de políticas públicas, plataformas digitais, articulação em rede e mapeamento das iniciativas. “Acho que o encontro foi positivo, mesmo que algumas questões precisariam de mais tempo para serem aprofundadas”, avaliou o consultor de Mídias Livres do MinC, Zonda Bez.

Edital

Pensando em ampliar o número de projetos contemplados, o MinC lançou o segundo edital de Pontos de Mídia Livre. Serão 20 prêmios, no valor de R$ 100 mil cada, destinados às iniciativas que alcançarem repercussão regional e nacional, e 40 prêmios, de R$ 50 mil cada, para as iniciativas de visibilidade local e estadual. No total, o recurso destinado ao prêmio é de R$ 4 milhões. As inscrições se encerram em 9 de abril.

Segundo o edital, “são consideradas iniciativas de mídia livre toda e qualquer iniciativa que articule comunicação e outras áreas do conhecimento, fazendo uso de suportes analógicos e/ou digitais, não possuindo financiamento direto e subordinação editorial a empresas de comunicação legalmente constituídas, e que agreguem e priorizem ações colaborativas e participativas, interatividade e atuação em rede na produção e difusão de conteúdos em formato livre, através de diferentes suportes de mídia (áudio, imagem, texto, vídeo e multimídia)”.

A diferença deste edital para o primeiro é basicamente os valores dos prêmios. “Ampliamos o valor do prêmio local pra 50 mil, acreditando na necessidade de chegar mais junto dos pequenos projetos, e diminuímos o valor do prêmio nacional para 100 mil, pois são organizações com maior capacidade de articulação para a sustentabilidade”, explica Zonda.

Para Zonda, um passo importante a ser dado para proliferar a política adotada pelo MinC deve ser o de descentralizar as ações, como aconteceu com os Pontos de Cultura, que passaram a ter uma relação de conveniamento com os estados. “Os Pontos de Mídia Livre devem utilizarem-se do selo/chancela que receberam para também atuarem junto aos governos estaduais e municipais afim de incluírem a comunicação e a mídia livre como área essencial a ser fomentada nos editais de incentivo à cultura. Afinal, como podemos desligar cultura e comunicação?”

Vem aí o II Fórum de Mídia Livre

Encerradas todas as etapas estaduais da 1ª Conferência Nacional de Comunicação (Confecom), o movimento pela democratização da comunicação já tem outra agenda importante para a próxima semana. Trata-se do II Fórum de Mídia Livre, que acontecerá entre os dias 4 e 6 deste mês, em Vitória, Espírito Santo. O evento é aberto e gratuito e as inscrições devem ser feitas neste site.

Os temas que já vinham sendo debatidos desde o primeiro encontro do Fórum, realizado em junho de 2008, permanecem na pauta dos movimentos que compõe a articulação. Alguns fatos novos, porém, colocam outras agendas no evento. Ou no mínimo reorganizam sua discussão. É o caso da Conferência de Comunicação, que vai ocorrer do dia 14 a 17 deste mês, em Brasília.

Pensando nisso, as organizações do Fórum acreditam que ele será um momento importante para afinar as propostas e articulações que serão feitas para a Conferência. Haverá, na programação, um espaço exclusivo de debates dividido nos eixos da Confecom (meio de distribuição, produção de conteúdo e cidadania: direitos e deveres).

Assim como a Confecom, uma outra pauta pode tomar conta das conversas em Vitória. Preocupados com a dificuldade de sobrevivência dos veículos alternativos e comunitários (em meios digitais ou não) e também das pessoas que neles trabalham, o Fórum vai promover um diálogo sobre a sustentabilidade da mídia livre.

“Este ano, o desafio é pensar a sustentabilidade dos realizadores independentes nessa Era pós-mídia. Antes de tudo, o Fórum é um encontro de gerações que hoje produzem cultura a partir de valores associados à colaboração e à rede, visando a produção de um novo mercado da comunicação: o mercado do diálogo", explica, por meio de uma carta, Fábio Malini, professor de Comunicação e coordenador local do II Fórum de Mídia Livre.

Segundo Malini, apesar de estarmos em um momento de proliferação da produção cultural e comunicativa no país, as pessoas que estão por trás dos veículos ainda estão longe de ter seu trabalho considerado digno. “Muitas vezes obtêm infraestrutura de trabalho, através de editais públicos, mas não alçam a possibilidade de 'viver de mídia'. Como qualquer trabalhador da cultura, o da comunicação ainda se vê na dependência das indústrias da intermediação (da publicidade às indústrias culturais) e/ou do fisiologismo típico brasileiro (aquela ajuda do “amigo do governo ou da empresa”)”, considera.

O encontro de blogs políticos também deve chamar a atenção daqueles que usam das mídias digitais para fazer valer suas opiniões. Luis Nassif, Altino Machado, Rodrigo Vianna, Renato Rovai, Luiz Carlos Azenha e Altamiro Borges são alguns dos blogueiros que estarão presentes no evento. O mote para o denominado “Post Livre” é Conselhos para uma Blogosfera Política Livre.

A programação contará ainda com o I Festival de Música Livre; Oficinas de Realizadores Multimídia; o Seminário "A Morte do Pop Star"; Mesas de Debate sobre o Midialivrismo e as Desconferências na forma de grupos de trabalho. A programação completa, assim como outras informações, encontram-se no site do Fórum.