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Blogueiros debatem papel da internet

“Se tivéssemos feito esse encontro há cinco anos, estaríamos falando do Myspace”. A afirmação de Ignacio Ramonet durante o I Encontro Mundial de Blogueiros, realizado em Foz do Iguaçu entre os dias 27 e 29 de outubro, queria lembrar os participantes da rapidez das mudanças dos últimos anos. Talvez não fosse preciso ir tão longe. Um encontro mundial de blogueiros em 2010 seria uma boa oportunidade para discutir como as corporações tentam quebrar a neutralidade de rede ou como alguns países censuram blogueiros que se opõem a regimes autocráticos. Debate interessante para ativistas mais envolvidos e interessados, sem mais.

Em 2011, depois da explosão do Wikileaks, praça Tahrir, praça da Porta do Sol e Kasbah, o cenário é outro. A discussão sobre blogueiros, redes sociais e o papel da internet está no centro do debate político, e o conflito de perspectivas apocalípticas e integradas revela mais do que ceticismo e paixão. O encontro promovido pelo Centro de Estudos da Mídia Independente Barão de Itararé e pela Altercom, que agrupa pequenos empreendedores da comunicação, reuniu cerca de 450 pessoas de 23 países, e espelhou bem essas diferentes perspectivas.

A visão cética de alguns ativistas que afirmam veementemente que a luta se dá nas ruas, e não nas redes, foi contrastada com um outro segmento que vê na internet a realização de ideais libertários e ela própria realizadora de uma democracia radical. Em meio a uma escala de opiniões com muitos tons de cinza, ativistas egípcios, sauditas e paquistaneses mostraram, sem precisar muito explicar, que, na disputa política real, essa polarização é o que menos importa.

Os exemplos politizados não vieram só do mundo árabe. O perfil majoritário dos participantes, em sua maioria latino-americanos, era de ativistas por transformação e justiça social, ressaltando uma ligação de internet e política que já é dada como natural, mas talvez não o fosse na era do MySpace.

Ocupas, occupy


Num campo em que as eras são contadas de cinco em cinco anos, um ano pode ser praticamente considerado o equivalente a um período geológico. Nesse cenário, poucos são os que se arriscam a fazer grandes previsões, sob o risco de serem lembrados como jurássicos já em 2012. A precaução em não fazer muitas previsões concretas deixa espaço para análises mais subjetivas, em que coabitam os que preferem ver o copo meio cheio e os que destacam sua parte meio vazia. Na mesa em que debateram, Andrés Thomas Conteris, do site norte-americano Demcracy Now e Pascual Serrano, do espanhol Rebelión, assumiram essas duas facetas.

Serrano não poupou a mobilização da Praça da Porta do Sol para destacar um caráter precário dos movimentos gerados pelas redes sociais. “Que profundidade analítica, que elaboração intelectual, que discussão política há nesses espaços?” A tese de Serrano é de que há um caráter místico e triunfalista na relação com a internet que atrapalha a análise política. “Até agora, essas mobilizações não produziram verdadeiras mudanças nas estruturas de poder”, completou o espanhol.

Editor da página em espanhol do Democracy Now, Andrés Thomas Conteris assumiu exatamente a perspectiva criticada por Serrano. Ele tomou como inspiração o movimento Ocuppy Wall Street para dizer que há uma ligação entre mobilizações virtuais e mobilizações reais que permite trazer à tona os pontos de vista dos 99% da população que não estão entre os 1% que concentram o poder econômico. “O movimento de 'occupy' está indo onde está o silêncio”, disse Conteris. Para ele, a internet tem um enorme papel nisso, e se relaciona com esses movimentos de ocupação pelos seus valores: transparência, independência, constância, democracia participativa, horizontalidade e contexto global. “Temos de tomar esses pontos como referência para nossa atuação na comunicação”, propôs.

Por não deixar de reconhecer o papel de democratização da informação e o potencial transformador da Internet, Serrano afirmou que os mais críticos a uma visão triunfalista não devem se afastar da rede. “Devemos nos incorporar para poder mudá-la”. O problema, segundo ele, é que há uma simplificação das mensagens ideológicas e políticas e um risco de construir um jornalismo que não seja suficientemente rigoroso e analítico e não dê atenção ao contexto. “As novas gerações não querem ouvir falar de reportagens, só fazem leituras curtas”, apontou, preocupado.

Conteris preferiu destacar a possibilidade desses movimentos em trazer mudanças profundas nos EUA e no mundo. A retomada de um processo de mobilização global, para ele, traz a oportunidade de que venham à tona as histórias que não são contadas e as perspectivas que não aparecem na velha mídia, o que daria espaço a uma verdadeira democracia. “A 'electocracia' que temos hoje não tem a ver com democracia real”.

A velha mídia e a velha política


Falsa ou não, a polarização entre os céticos e os otimistas desaparece quando o assunto é a velha mídia. “Esses monopólios transformaram a liberdade de expressão e o direito à informação num privilégio”, apontou Serrano. Desta vez em uníssono, Conteris destacou que “a velha mídia só fala pelo 1%, não reflete os outros 99%”.

O jornalista e blogueiro brasileiro Luís Nassif preferiu um olhar histórico na tentativa de explicar o lugar da grande mídia. “Temos uma história de movimentos pendulares de alternância de poder entre forças constituídas. Nesse processo, os meios de comunicação sempre representam o poder anterior”, afirmou. Nassif destaca como os jornais abriram mão da eficiência estratégia da objetividade jornalística. “Quando a linguagem tem essa cara, você ganha mais credibilidade. Mas os jornais viraram os mais agressivos”, observou. “Hoje o grande propagador de intolerância é a velha mídia”, diz Nassif. Ignacio Ramonet destacou a crise de identidade da velha mídia. “Os meios tradicionais não sabem muito bem para que existem”, afirmou o criador do Le Monde Diplomatique.

Ainda sobre o lugar dos meios tradicionais, em diversas falas do encontro, transpareceu a ideia de que o poder da velha mídia está caduco e de que sua derrocada seria um fato positivo que dependeria apenas de tempo. Essa visão parte da ideia de que os sites, blogs e redes sociais já teriam autonomia e suficiente capacidade de produção própria de informação. Martin Becerra, argentino, pesquisador de políticas de comunicação, contestou essa visão. Para ele, as redes sociais têm agenda subsidiária dos grandes meios comerciais, que ainda são, em suas versões tradicionais ou eletrônicas, as principais fontes de informação primária.

A principal preocupação de Becerra é com dois riscos trazidos pelo triunfalismo da internet. O primeiro é o que ele chama de risco metonímico. “Algumas pessoas acreditam que a temperatura da sociedade está bem medida pelas redes sociais, mas não dá para traduzir o todo por essa parte”, disse. O segundo risco vem do fato de que blogs e redes sociais tendem a agrupar aqueles que pensam parecido. O problema aí é que essa configuração tende a expulsar daquele espaço os que não têm acordo básico com determinados grupos, e criar uma forte homogeneidade interna. “Em termos de pluralismo, isso cria um perigo real. A existência atomizada de muitos blogs que reagem aos que pensam diferente pode criar ilusão de que na sociedade há pluralismo, mas essa ilusão debilita muito a noção de pluralismo”, completou Becerra.

Com a mesma preocupação, Nassif reconhece a importância da militância da Internet, mas afirma a necessidade de reconhecer o surgimento dos mediadores, diferentes daqueles da velha mídia. “Os mediadores de todos os campos vão pegar aquele conjunto de informações e tentar estabelecer áreas de democratização, com confronto de ideias, mas sem a selvageria”. Para ele, é preciso entender o processo de formação da opinião pública para se compreender como as novas mídias podem disputar espaço com a velha. “O que define o poder da mídia é a capacidade de multiplicar estereótipos e slogans”, disse. O jornalista explica que esse processo se dá por círculos – informações de intelectuais e formadores de opinião são processadas pelo jornalismo especializado, que influencia jornalistas mais populares que alcançam os formadores de opinião nas famílias. “O risco aí é que o leitor médio só absorve a manchete, o que pode criar o efeito manada, em que o grande público acompanha a posição de meia dúzia de líderes de opinião sem uma reflexão crítica”, destaca.

Enquanto isso, no Cairo


A despeito da repercussão do verão espanhol e do outono em Wall Street, foi a primavera árabe que assistiu à integração mais potente entre a mobilização das ruas e as estratégias de mobilização virtual. O relato de Ahmed Bahgat, blogueiro e ativista digital egípcio, foi uma prova de que a integração entre a luta das ruas e a luta das redes tende a fortalecer as duas. Bahgat narrou as inúmeras estratégias assumidas desde 2005 para tentar furar o bloqueio do governo de Mubarak, que se articularam com slogans, ideias, cartoons e vídeos que ganhavam as ruas.

As condições históricas de falta de democracia, de liberdade, de justiça e altas taxas de desigualdade geravam um quadro insustentável havia anos, mas a ligação em rede dos cidadãos egípcios deu condições para que o processo de revolta eclodisse a partir de alguns fatos detonadores. Bahgat mostrou a integração das estratégias, o que torna difícil tentar separar a mobilização nas ruas da mobilização virtual.

A inspiração chegava a ser direta. No processo de ocupação das ruas do Cairo, os ativistas adotaram sinais baseados nas interfaces digitais. “Nas manifestações, inspirados no twitter, cada um tinha 140 segundos para falar. Inspirados no Facebook, os participantes reagiam com sinais de 'curtir' feito com as mãos”, contou Bahgat. Assim como na rede social, não havia sinais de descurtir. “O que indicava a desaprovação era o silêncio”, diz. O reconhecimento das interfaces com as redes sociais não o fez afirmar que o que se passou no Egito foi uma revolução do twitter ou do facebook, mas para ele não há dúvida de que a mobilização virtual fortaleceu as condições de derrubada do regime Mubarak.

Seria um erro, contudo, isolar a análise das tecnologias de seu contexto geopolítico, com bem exemplifica o caso saudita. “Na Arábia Saudita, temos condições históricas parecidas com o Egito e a Tunísia, mas estamos falando de um país muito rico e com muito petróleo”, disse o blogueiro Ahmed Al Omran. Na prática, a instabilidade naquela região afeta diretamente toda geopolítica mundial. “Não à toa, a Arábia buscou parar a revolução ali dentro, mas também interferiu diretamente em outras manifestações na região, como foi o caso do Bahrein”, afirmou Al Omran.

Democracia exclusiva


As arbitrariedades do mundo árabe são ilustrativas, mas estão longe de resumir as exclusões que afetam o potencial transformador da rede. Uma das organizações que sentiu isso na pele no último ano foi o Wikileaks. Seu porta-voz, o islandês Kristinn Hrafnsson, descreveu o caso como um ataque violento das corporações e dos governos ocidentais à liberdade de expressão e ao direito à informação. “Não fomos condenados por nenhum crime em nenhuma jurisdição, mas sofremos represálias e perseguições de corporações e governos”, contestou.

A organização interrompeu suas atividades para fazer uma campanha de captação de recursos. O Wikileaks prevê que precise de 3,2 milhões de dólares para o ano de 2012, boa parte disso para abrir processos em várias jurisdições contra as instituições financeiras que impedem o recebimento de recursos pela organização. “Mastercard, Visa, PayPal e Western Union permitem que você transfira dinheiro do tráfico de drogas, doe para a Ku Klux Klan ou pague por pornografia infantil, mas não que você doe ao Wikileaks”, constatou Hrafnsson.

Para ele, contudo, o problema maior é político. “A mídia está mais interessada em transformar o Julien Assange em celebridade e em falar do fato de as informações terem vazado do que propriamente no conteúdo dos vazamentos”, ressaltou. “O problema é que, sem transparência, democracia é uma palavra vazia”, disse o porta-voz do Wikileaks.

De fato, modelos democráticos podem ser extremamente excludentes. Um elemento de exclusão evidente se dá pelas diferentes condições de acesso à rede, bastante desigual entre países desenvolvidos e em desenvolvimento, e internamente a esses países. Outro aspecto é o problema das diferentes condições de cada cidadão em processar as informações recebidas. Ignacio Ramonet assinala que esses são dois motivos para reconhecer o caráter limitado dessa democracia digital. “Não se pode falar em democracia digital se permanece viva uma espécie de voto censitário, em que não são todas as pessoas que têm o estatuto de cidadão. E mesmo se todos tiverem acesso à informação, não significa que democratizamos o conhecimento”, lembrou Ramonet.

Em meio a prognósticos mais ou menos otimistas, a maior convergência do encontro foi a identidade entre aqueles que estão experimentando e buscando cotidianamente gerar transformação por meio da atuação nas redes, blogs e sites. Pelo reconhecimento dessa identidade, foi formada uma comissão internacional com pessoas de todos as regiões do globo, que vai preparar o próximo encontro, em novembro de 2012, também em Foz do Iguaçu. Alguém se arrisca a dizer quais serão os temas em debate daqui a um ano?

Observação: a análise geopolítica feita durante o encontroe pelo jornalista brasileiro Pepe Escobar, que escreve para o Asian Times, daria um texto à parte. Vale pelo menos assistir sua avaliação sobre o caso da Líbia .

Entidades demonstram preocupação com rumos do PNBL

Entidades representantes da sociedade civil lançam nesta segunda-feira (25) em São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador e Brasília a campanha "Banda Larga é um Direito Seu!", em defesa: da internet como um direito fundamental; do interesse público na implementação do Plano Nacional de Banda Larga (PNBL); e da participação da sociedade civil nesse processo. O objetivo principal é mobilizar a sociedade para o acompanhamento do PNBL, que, na visão das entidades, vem tomando rumos preocupantes.

Esse assunto e o marco regulatório da mídia eletrônica, em fase de preparação de proposta pelo governo, foram os temas do encontro entre representantes de 20 entidades e o ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, na última quarta-feira (20). A conversa durou mais de 1h 20m, mas os resultados foram considerados “preocupantes” pelos participantes.

O coordenador executivo do Intervozes, João Brant, e a advogada da Proteste, Flávia Lefèvre, consideraram que a condução do PNBL pelo Ministério das Comunicações se constitui em um retrocesso, sobretudo no que diz respeito ao papel da Telebrás. “O ministro pareceu incomodado com a atuação da estatal em manifestar interesse pela faixa de 450 MHz”, exemplificou Brant. Ele contou que Paulo Bernardo descartou a possibilidade de a empresa atuar na telefonia rural, mas considera ilegal a possibilidade dessa freqüência ser distribuída para as teles, como prevê a proposta do Plano Geral de Metas de Universalização (PGMU) em discussão.

Para Flávia Lefèvre, o governo deveria se manter na direção de desconcentrar os serviços essenciais nas mãos das teles, aproveitando o papel de regulação de mercado que a Telebrás deveria adotar no caso de acesso à internet, mas está fazendo exatamente o contrário. A única expectativa positiva das entidades, segundo ela, é a posição recente da presidente Dilma Rousseff, que considerou as propostas das teles muito tímida e já admite investir até R$ 1 bilhão por ano em infraestrutura de rede. “Só espero que parte desses recursos não seja para financiar as metas de universalização das concessionárias”, frisou.

A principal reivindicação das entidades civis, de alterar o regime de prestação do serviço de banda larga de privado para público, também não conta com a simpatia do ministro Paulo Bernardo. Ele alegou que, ao fazer isso, teria que licitar os serviços, processo que duraria pelo menos dois anos. “A administração pública não deve pautar suas ações pelo tempo, mas pela legalidade”, defendeu Flávia Lefèvre.

Mídia eletrônica

Sobre o marco regulatório da mídia eletrônica, que o ministro prometeu colocar em consulta pública no segundo semestre deste ano, Brant teme que a proposta fique restrita a questões que não impliquem em polêmicas, como a propriedade cruzada dos veículos. Na sua avaliação, o governo atual trata a proposta elaborada pelo ex-ministro Franklin Martins (Comunicação Social) como um espólio, sem interesse em brigar por ela. “O pragmatismo do ministro em relação ao projeto nos preocupa”, resumiu.

Flávia Lefèvre teme, por sua vez, que o Minicom não promova o debate necessário com a sociedade em torno da proposta do marco regulatório da mídia eletrônica. “A sensação que tenho é de que uma proposta tímida será tirada da cartola, sem a transparência que o tema exige”, disse.

FML discute sustentabilidade dos projetos de mídia livre

A sustentabilidade das mídias livres foi um dos temas mais debatidos durante o II Fórum de Mídia Livre, que foi realizado em Vitória, neste último fim-de-semana (4 a 6). Toda uma manhã e uma tarde do encontro foram dedicadas à discussão do problema do financiamento, que já foi responsável pelo fechamento de veículos e projetos alternativos importantes. O caminho apontado pelos participantes deve ser o de aproximar os chamados midialivristas da rede de economia solidária e criar uma rede própria, da comunicação. Até a criação de uma moeda social surgiu nas conversas.

A questão não é simples. Além de pensar formas de captar verba para criar e manter projetos de comunicação comunitários e alternativos, ainda há o impasse sobre como o modelo de financiamento pode manter a independência e autonomia dessas mídias. O que fazer diante de tal situação? Recorrer ao mercado tradicional? Criar outro tipo de mercado? Cobrar investimentos do Estado? Essas foram algumas das dúvidas que guiaram o debate.

Tomando como exemplo experiências construídas com mais freqüência em outras áreas, a prestação e a troca de serviços e produtos entre os grupos midialivristas foi bastante citada nos debates do Fórum de Vitória. Um dos pontos positivos desse modelo é a possibilidade de conseguir recursos a partir de algo que o grupo cultural ou midiático já produz. Isso pode diminuir a necessidade de buscar auxílio em editais abertos por órgãos ou empresas públicas, por exemplo, que não necessariamente podem atender o conjunto de produtores de uma determinada área e também podem variar de acordo com os governos vigentes.

Algumas iniciativas já estão sendo realizadas neste sentido, pelo menos dentro de outros circuitos, como os dos Pontos de Cultura. O projeto iTEIA, idealizado pelo Instituto InterCidadania, vai criar a partir do ano que vem um ambiente digital em seu site para que os grupos divulguem e troquem produtos e serviços entre si. “A gente já trabalha com a troca presencialmente. O que o Pontão do iTEIA pretende fazer agora é criar um módulo onde isso pode ser feito de maneira virtual”, explica o coordenador de Articulação e Treinamento do projeto, Pedro Jatobá. Ele também diz que isso será feito em parceria com o grupo Cirandas, que mantém um portal de economia solidária na internet.

Essa espécie de “escambo moderno”, porém, pode também trazer seus riscos para determinados grupos. É o que avalia Marco “Amarelo” Konopacki , integrante do Coletivo Soylocoporti. Sua análise parte da perspectiva de que nem todos os produtores culturais e de mídia livre podem estar interessados em oferecer um produto. “A gente não pode ficar sempre refém de que toda cultura vai se tornar um produto de entretenimento e que vai poder ser vendido”, diz.

Além disso, ele acredita que a prática precisa ser pensada a partir de quem a utiliza. “É diferente falar de cooperativas e associações que fazem alguma disputa política. A cooperativa tem a função de trabalho, que utiliza seu tempo para organizar trabalhadores e obter renda com isso. Agora, associações tem basicamente uma função política. Então, se elas passam a prestar serviço e às vezes tem que adaptar seu discurso para ir para o mercado e obter renda, é perigoso”, compara Amarelo. E defende: “De fato, o caminho do meio poderia ser uma boa alternativa. Ou seja, parte um financiamento público e parte do financiamento do mercado.”

Embora não discorde da eficiência do modelo, o gerente de Comunicação e Mobilização Social da Fundação Banco do Brasil, Claiton Mello, reforça a importância do Estado no fomento às mídias livres. Ele lembra que as empresas de comunicação, além de subsídios, recebem recursos públicos por meio de publicidades vindas dos governos e de empresas e autarquias ligadas a eles. “Essa é uma forma de garantir que esse segmento industrial exista”, diz Claiton. Por isso, seria justo reivindicar que essas verbas também contemplassem as mídias livres.

Talvez a tese mais aceita para solucionar o problema da falta de sustentabilidade seja a combinação das várias saídas possíveis, já que cada uma delas tem seus poréns. “O problema da gente é achar, às vezes, que virá uma resposta que é uma regra geral que todos devem copiar. É o que tem acontecido com os editais. Parece que todo mundo tem que parar suas ações, que já são sustentáveis, e botar uma equipe de cinco, seis pessoas escrevendo projeto para todos editais e criando idéias mirabolantes”, acredita Pedro Jatobá.

O conselheiro do jornal Le Monde Diplomatique Brasil, Antonio Martins, mais do que apresentar uma proposta, fez uma observação sobre a atual conjuntura, que acelera esse tipo de debate. “Há um declínio do trabalho assalariado para algo que pode ser muito bacana, mas pode ser muito ruim”, analisa.

Segunda edição do Campus Party no Brasil deve reunir 6 mil pessoas

Com o sucesso da estréia no país, no ano passado, a Campus Party Brasil chega à edição 2009 em versão ampliada. A previsão dos organizadores é de receber, nos sete dias de realização deste grande “acampamento cibernético” 6 mil “campuseiros” — como são chamados os internautas de comunidades virtuais inscritos para participar da festa. Considerado o maior evento de internet do mundo, o Campus Party acontece na próxima semana, entre 19 e 25 de janeiro, em São Paulo.

O número é quase o dobro dos 3.3 mil visitantes de 2008. Desta vez, a velocidade de conexão será de 10 Gbps, contra os 5 Gbps da primeira edição no Braisl e os 8 Gbps da última edição espanhola do evento.

Para abrigar tanta gente, os 25 mil m² ocupados no Pavilhão da Bienal foram trocados pelo espaço de 38 mil m² do Centro de Exposições Imigrantes – local onde deverá ocorrer pelo menos mais duas edições. Os organizadores esperam ainda ampliar o número de visitantes das áreas do evento abertas ao público em geral. Das 96 mil pessoas no ano passado, querem chegar a 300 mil. Outra indicação da ampliação da Campus Party são as cerca de 450 palestras, com temas como robótica, software livre, fotografia digital e modelagem de computadores, organizadas pelas comunidades da rede.

Marcelo Branco, diretor-geral da Campus Party Brasil, destaca que o evento é uma oportunidade para que os usuários de internet mais inovadores e mais criativos possam ver reconhecidos os projetos que estão desenvolvendo. Segundo ele, haverá uma rodada de encontros – o Campus Lab – com financiadores e empresas privadas para que os desenvolvedores apresentem seus projetos, com o apoio do Sebrae e da Agência Click.

Outro destaque, segundo Branco, será o 1º Encontro Nacional de Lan Houses, que irá reunir mais de 500 donos de lan houses em mesas redondas para discutir temas como inclusão digital, segurança de rede e dificuldades com a legislação. Haverá também encontros de telecentros, pontos de cultura e metarreciclagem (reutilização de lixo eletrônico). De acordo com Branco, ao final, todo os conteúdos produzidos nas discussões sobre os desafios da internet no Brasil farão parte de um documento público.

Convidados internacionais

O criador da WWW (World Wide Web), Timothy Berners-Lee, participará do evento com uma palestra sobre o futuro da internet e a web semântica (3.0). Já o fundador do Open Source International, Jon “Maddog” Hall, volta ao Campus Party para falar sobre como criar multimídia usando software livre. Ele irá desafiar os “campuseiros” a criar músicas e vídeos apenas com ferramentas livres.