Only one thing is impossible for God: To find any sense in any copyright law on the planet.
Mark Twain
A telecomunicação brasileira na mira da colonização estrangeira
Já pensou se a Península Ibérica reservasse ao Brasil um projeto de recolonização, mas de outro tipo, menos “estatal” e mais “privado”. Os tempos são outros, mas não muito. O mercantilismo das grandes navegações cedeu lugar ao capitalismo monopolista contemporâneo das megacorporações de telecomunicação. Saiu de cena a monarquia e o capital financeiro assumiu para si a tarefa de, com as próprias mãos, caçar mercados e saquear as colônias. Portugal Telecom e Telefónica protagonizam a nova jornada através do Atlântico.
Portugal Telecom, empresa que já havia entrado na OI em 2010 (desmentindo a propaganda do governo Lula sobre a “super-tele” brasileira, capaz de fazer frente ao capital internacional), anunciou, em outubro, que irá se fundir com a ex-futura campeã nacional.
Entre 35 e 40% da multinacional a ser criada (CorpCo) ficará nas mãos dos acionistas da empresa portuguesa. O resto será dividido entre diferentes grupos nacionais, incluindo fundos de pensão, BNDES, os conglomerados Jereissati e Andrade Gutierrez. O “extrativismo” telemático vai render à “coroa” do capital português 41,2% da nossa telefonia fixa, 18,7% da móvel, 29,2% da banda larga e 5,2% de TV por assinatura. Um quinto (21%) de toda a receita líquida do setor no Brasil.
E colonização ibérica que se preze tem que ter Tratado de Tordesilhas, não é? Logo, a Telefónica, empresa sediada na Espanha é peça fundamental na movimentação da empresa portuguesa. Já estiveram juntas operando a Vivo entre 2002 e 2010, ano em que a espanhola fez um acordo com a Portugal Telecom comprando sua parte no capital social.
Além disso, a espanhola, que detém um quarto da receita líquida de telecomunicação no Brasil e 28,7% do mercado de telefonia móvel, vem ampliando sua participação no controle da empresa italiana que controla a TIM. Esta representa 27,2% do mercado de serviços de celulares aqui.
Por fora dessa partilha, bagunçando o tratado europeu, corre no páreo o magnata mexicano Carlos Slim, detentor do um quarto (25%) restante do mercado brasileiro (!) de telefonia móvel e de mais da metade (53%) da TV por assinatura (com sócios nacionais, como a Globo).
Nesse imbróglio de movimentos de acionistas, fusões, participações etc., que se refestela no espólio esquartejado do antigo sistema estatal Telebrás, praticamente tudo é confuso e muito imprevisível para nós, desconvidados do grande banquete. Ninguém sabe, por exemplo, o futuro da TIM (alguns já falam na possibilidade de dividi-la entre as outras três grandes corporações).
Apenas uma única coisa parece simples de entender nesse quadro: os poucos participantes tendem a diminuir seu número e aumentar seu poder. A balança pende para o lado do capital estrangeiro.
Texto originalmente publicado no Blog do Intervozes na Carta Capital.
Sociedade civil se mobiliza pelo Marco Civil da Internet
Após mais de um ano de espera para ser votada, a “Constituição da Internet”, que garante os direitos e deveres dos usuários da rede, foi debatida nesta quarta (6) em comissão geral na Câmara dos Deputados. Durante toda a manhã, militantes, ativistas e representantes da sociedade civil não empresarial realizaram manifestações de apoio à internet livre, sem censura e pela manutenção da garantia da neutralidade da rede no Marco Civil da Internet.
Os movimentos sociais, que participaram da construção colaborativa da primeira versão encaminhada pelo Executivo à Casa Legislativa, apoiam amplamente a nova versão apresentada pelo relator do projeto Alessandro Molon (PT/RJ). Durante a tarde, a luta pela internet livre das corporações foi aos trending topics mundiais da rede social Twitter com a hashtag #freeinternetbr. Durante o debate, deputados abriram faixa de apoio à internet livre no plenário.
Representante da sociedade civil na audiência pública, Pedro Ekman (Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação/Intervozes) defendeu a neutralidade e rede e a liberdade de expressão na internet. Ele destacou que a censura prévia é uma prática corriqueira nas redes no Brasil e no mundo e que o Marco Civil da Internet acerta ao suprimir a possibilidade da retirada de conteúdos sem autorização judicial.
“A indústria do direito autoral mira no direito patrimonial, mas acerta na liberdade de expressão. Conteúdos são retirados sem qualquer debate judicial”. Ele afirmou que o projeto está correto ao tirar a responsabilidade dos provedores por conteúdos postados por terceiros e ao colocar para a Lei do Direito Autoral a definição de mecanismos de retirada.
Ele reivindicou, ainda, a autoria do projeto para a sociedade, construído com ampla participação popular, e lembrou que o voto será aberto e que a sociedade saberá cobrar os deputados que votarem contra um projeto de extrema importância para a comunicação e para a democracia brasileira. “Essa casa vai decidir se nós vamos construir uma sociedade calcada em princípios democráticos ou uma sociedade autoritária calcada no vigilantismo e interesses privados”.
A bancada do PMDB, junto com representantes das empresas de telecomunicações, como a SindiTelebrasil, se posicionou contra o novo projeto, principalmente os artigos relativos ao armazenamento de dados obrigatório no Brasil e à neutralidade de rede. O líder da bancada, Eduardo Cunha (PMDB/RJ), chegou a dizer que tentará recuperar o texto original do projeto e que proporá emendas.
O posicionamento do peemedebista tem explicação. O novo projeto apresentado por Molon, de acordo com especialistas, reforça a garantia da neutralidade de rede e retira o parágrafo, inserido a pedido da Rede Globo, que possibilitava a censura prévia de conteúdos, descrita no discurso de Ekman.
Molon rebateu as críticas. Disse, em entrevista coletiva, que a nova versão tem apoio integral da presidenta Dilma Rousseff e que a neutralidade de rede deve ser garantida por todos os deputados que têm compromisso com o povo. "Se a neutralidade for derrotada, a derrota será de 100 milhões de internautas brasileiros. A defesa da neutralidade é a defesa do espírito livre da Internet".
Rosane Bertotti, coordenadora nacional do Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC) e secretária nacional de comunicação da CUT, explica o apoio ao projeto de lei: “É importante para a sociedade brasileira e para a democracia. As corporações não têm direito de interferir no que é um Direito Humano, o direito à Comunicação. Já fazem isso na radiodifusão e estamos lutando para redemocratizar. Os movimentos não deixarão acontecer o mesmo na internet”.
Segundo o presidente da Câmara, Henrique Alves, a votação do Marco Civil da Internet deve acontecer na próxima semana. A matéria tranca, desde a última segunda-feira, a pauta de votações da casa.
Marco Civil da Internet tem nova versão que deve ir a votação
O deputado Alessandro Molon (PT/RJ), relator do projeto, apresentou nesta terça (5/11) a nova versão da proposta de Marco Civil da Internet com algumas alterações. Adiada novamente na semana passada, a votação da proposta pode acontecer nesta quarta-feira (6/11). O Ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, descartou a possibilidade de ser retirado o pedido de urgência, que tranca a pauta da Câmara dos deputados desde o último dia 28.
A nova redação do texto passou pelo crivo da presidenta Dilma Roussef, em reunião realizada nesta segunda (04/11). O maior número de modificações aconteceu no conteúdo específico sobre sigilo, privacidade e inviolabilidade de dados.
Segundo o deputado, "o projeto não abre nenhuma brecha para a quebra da neutralidade", considerada por ele “o coração do projeto”. Na última versão, a redação sobre esse princípio retorna à forma como se encontrava na primeira redação do texto do Marco Civil da Internet.
O parágrafo que faz ressalva aos direitos autorais na desresponsabilização de intermediários na publicação de conteúdos de terceiros prevê regulamentação por lei específica, ficando com a seguinte redação no documento final do relator: “a aplicação do disposto neste artigo para infrações a direitos de autor ou a diretos conexos depende de previsão legal específica, que deverá respeitar a liberdade de expressão e demais garantias previstas no art. 5º da Constituição Federal”.
Molon declarou que espera ver o Marco Civil da Internet votado ainda nessa semana, mas considera a possibilidade de se ter um novo adiamento “desde que não passe da semana que vem”.
Entidades que defendem o direito á comunicação e o Marco Civil da Internet estão organizando um ato público, às 9h, na Câmara dos Deputados, simultaneamente à reunião da Comissão Geral, que acontece no plenário com a participação de representantes da sociedade civil para debater o tema.
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PMDB pode ser fiel da balança na votação do Marco Civil da Internet
Devido à forte pressão das teles e da Globo e à falta de acordo entre parlamentares sobre pontos como o da neutralidade de rede, o armazenamento de dados no Brasil e a remoção de conteúdo por decisão extrajudicial, não há certeza de que a decisão sobre o Marco Civil da Internet será tomada na data prevista (6/11). O presidente da Câmara, Henrique Alves (PMDB), tem interesse em destrancar a pauta, mas o líder do PMDB na casa, Eduardo Cunha, quer antes garantir que a decisão será a mais favorável à posição das teles.
O deputado Eduardo Cunha, aliás, tem aparecido como fiel da balança e tem insistido publicamente na tese de que a neutralidade de rede aumentará os custos. O PMDB tem a presidência da Câmara e a segunda maior bancada, com 76 deputados, que costuma, no geral, seguir a orientação do líder. Esse poder aumenta porque o governo não dá orientação clara a sua base, apesar das últimas declarações públicas da presidenta Dilma Rousseff e do ministro Paulo Bernardo.
O líder do PMDB teria afirmado ao site “Convergência Digital” que a Câmara poderia atropelar o relator, caso não haja acordo. “Há emendas e o projeto pode sair com ou sem [Alessandro] Molon (PT/RJ)”, afirmou. Suspeita-se, inclusive, da possibilidade de que os deputados ligados ao lobby das empresas de telecomunicação tentem votar um substitutivo global, informação que teria “escapado” durante uma fala do deputado Eduardo Azeredo (PSDB/MG) na Comissão de Ciência e Tecnologia.
Molon afirmou, durante coletiva dada na terça (05/11) não se tratar de uma disputa entre governo e oposição, pois o tema divide o congresso em blocos de uma forma diferente. Quem anda pelo Congresso sente que boa parte dos parlamentares se encontra alheio às principais polêmicas do debate.
A instalação de uma comissão geral para discutir o Marco Civil da Internet foi requerida pelo deputado Eduardo Cunha e deve ocorrer na quarta-feira. Nesse formato, além dos deputados são convidados a falar no plenário representantes da sociedade relacionados com o tema. Espera-se que a votação ocorra na sequência, logo após o encerramento da reunião da comissão.
O Observatório do Direito à Comunicação procurou Eduardo Cunha, mas sua assessoria alegou indisponibilidade na agenda para falar conosco.