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Pesquisador diz que não há culpados pela falta de interatividade

A interatividade na TV Digital levará tempo para ser plenamente aproveitada, e dependerá de um aprendizado da indústria e do telespectador. Esta é a visão de Luiz Fernando Gomes Soares, professor do departamento de informática da PUC-RJ, universidade que foi, juntamente com a Universidade Federal da Paraíba, desenvolvedora do middleware brasileiro Ginga, que é uma camada de software que faz a ligação entre o sistema operacional do hardware (o conversor ou a própria TV) e os aplicativos que rodarão sobre ele, dando interatividade à TV digital. Segundo Soares, a implementação completa do Ginga, embarcado nos conversores e com normas publicadas na ABNT, já se encontra pronta desde julho deste ano, e “atualmente existem várias empresas que estão desenvolvendo produtos comerciais, que deverão ser lançados no início de 2008”.

A TV digital brasileira, cujas transmissões foram inauguradas ontem, em São Paulo, pelo presidente Lula, recebeu críticas devido ao alto preço dos conversores atualmente disponíveis, e pela falta de interatividade, um dos principais atrativos dessa nova tecnologia. Segundo Soares, houve uma demora por parte das empresas em embarcar o middleware em seus conversores, e essa demora é que estaria acarretando esse atraso na oferta desse recurso. Mas o pesquisador não acredita que as empresas possam ser apontadas como responsáveis pela falta de interatividade no lançamento da TV digital no Brasil. “Não há culpados, foi uma opção. Os prazos foram acordados dentro do Fórum de TV Digital, e todos estão começando, nesse prazo (dia 2 de dezembro, início das transmissões) com o máximo que conseguiram oferecer”, avalia.

Para Soares, “até agora, no mundo inteiro, não se sabe realmente o potencial da interativiadade, todos estão analisando o comportamento do espectador, o processo terá que passar por tentativas, e aos poucos as emisssoras vão refinando seus produtos, e os telespectadores vão descobrindo como usá-la”. O professor acredita que os recursos serão introduzidos aos poucos, sendo que, em um primeiro momento, as empresas “centraram-se em oferecer suporte para HDTV (TV em alta definição), que é o básico, e a interatividade, que é comercialmente mais atrativa, tem que vir tecnicamente depois, assim como a possibilidade de armazenamento de programas, por exemplo”.

Sinal digital para as parabólica racha emissoras comerciais

A transmissão de TV digital via satélite para os 15 milhões de domicílios brasileiros que possuem antenas parabólicas rachou as redes de TV e colocou o Ministério das Comunicações em uma situação delicada.

Há duas semanas, Band e Rede TV! entregaram ao ministro Hélio Costa documento em que pedem a implantação do ISDB-S, a versão para satélite do padrão de TV digital japonês, adotado pelo Brasil. Por enquanto, as redes só podem transmitir TV digital por via terrestre, começando por São Paulo.

A liberação da transmissão via satélite daria acesso imediato à TV digital aos proprietários de parabólicas (desde que comprem um novo receptor). A TV digital chegaria já a cidades que só receberiam a nova tecnologia daqui a dez anos. "Seria uma forma de democratizar o acesso à TV digital e de baratear as caixas receptoras", diz Frederico Nogueira, diretor da Band.

O problema é que a Globo é contra, porque as parabólicas afetam as receitas publicitárias regionais. Embora SBT e Record ainda estudem o assunto, a Abert é contra a medida. Vice-presidente institucional da Globo, Evandro Guimarães discutirá o assunto hoje em reunião com a Band e a Rede TV!.

Enquanto isso, o Ministério das Comunicações, que não quer desagradar à Globo, ganha tempo. Diz "que a prioridade é cumprir o decreto 5.820/06, que estabelece o cronograma da TV digital [terrestre]".

Em 2013, TV digital estará presente em só em 19% do país, prevê estudo

Tecnologia deve atingir só 4% dos televisores em 2008. Adesão da classe A deve ser de 31% ao final de 2008, contra apenas 7% na B e praticamente nula nas demais faixas de renda.

Quando todas as cidades brasileiras estiverem recebendo o sinal digital da TV aberta, em 2013, cerca de 19 milhões de aparelhos devem estar aptos a usufruir da nova tecnologia, o que vai corresponder a 19% dos televisores. No próximo ano, a previsão é que sejam 3 milhões – apenas 4% do total.

"Anualmente são vendidos no Brasil 12,5 milhões de TVs. Estamos falando em cerca de 10% disso", diz Paulo Cury, da Condere, que já atendeu empresas como Globopar, TV Cultura e Net e fez a projeção. O estudo mostrou em números o que o alto preço dos aparelhos já indicava: o nível de penetração será maior na classe A, com renda acima de R$ 6.200.

Ao final de 2008, a adesão dessa parte da população à transmissão digital será de 31%, contra 7% na B (renda entre R$ 2.100 e R$ 6.200) e praticamente nula nas demais faixas de renda, que respondem agora por quase 70% dos 67 milhões de TVs do país, diz o estudo.
"É difícil afirmar se é bom ou ruim [a penetração nas classes A e B], até porque esse é um mercado novo. O importante é ressaltar que o crescimento virá, num primeiro momento, das classes mais altas", avalia.

A parte da população com renda mensal inferior a R$ 2.100 deve ter adesão de apenas 5% (classe C) e 2% (D/ E) em 2013, quando 97% da classe A e 44% da B já estiverem usufruindo da transmissão digital.

Além da faixa de renda, os aparelhos para a TV digital, com conversores a pelo menos R$ 500 e televisões aptas a receber o sinal por no mínimo R$ 8.000 agora no lançamento, devem ter no início um público-alvo específico, os aficionados por novas tecnologias.

Eduardo Tude, presidente da Teleco, consultoria especializada em telecomunicações, cita os "early adopters", aqueles que são sempre os primeiros a consumir lançamentos. Para ele, não se pode ter expectativa muito alta com a TV digital agora. "O importante é começar."

Além dos interessados em novidades, "quem comprará inicialmente serão as pessoas que têm mais de uma TV em casa", afirma Guido Lemos, coordenador do desenvolvimento do Ginga, software que permitirá o envio de dados para as emissoras na TV digital aberta. Aliás, uma das preocupações dos órgãos de defesa do consumidor neste momento de euforia de lançamentos é informar que os aparelhos à venda terão que ser trocados quando essa segunda e principal etapa chegar, já que nenhum deles poderá ser atualizado com o Ginga. A exceção é o decodificador com conversor embutido para os assinantes da Net, que já vem com um software pronto para esse nível de interação.

BNDES destinará R$ 1 bilhão a programa de apoio à TV digital, afirma Lula

São Paulo – O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) vai desenvolver um programa de incentivo à implantação da TV digital no Brasil no valor de R$ 1 bilhão, anunciou hoje (2) o presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante a cerimônia que marcou o início das transmissões no país. Para o presidente, o modelo brasileiro é o 'melhor sistema de TV digital do mundo'.

'Ele [ o BNDES ] irá dar apoio à rede varejista para baratear a venda do conversor que permite a recepção do canal digital pelos atuais televisores analógicos', disse o presidente. Segundo Lula, a medida vai gerar aumento da produção nacional, barateando o preço dos conversores.

No discurso, o presidente disse que, em pouco tempo, todos brasileiros terão acesso ao novo sistema, que vai permitir 'um grande salto tecnológico, econômico, social e cultural do Brasil'.

'A TV ficará mais próxima do telespectador, oferecendo qualidade superior de imagem, maior número de canais, interação do público com a programação e transmissão perfeita', disse.

Segundo Lula, a TV digital também vai estimular a indústria, 'gerando emprego, renda e oportunidade', e vai proporcionar 'um aumento extraordinário nos espaços de difusão da cultura brasileira e na veiculação de informação'.

A era digital representa um passo à frente nessa caminhada e suas inovações podem fortalecer ainda mais a vocação integradora daTV', disse o presidente, ressaltando que a TV digital vai preservar as características do sistema analógico de ter um sinal aberto e ser gratuita.

Costa busca novos métodos para cumprir promessa de conversor popular

O Ministério das Comunicações tem negociado novos métodos para cumprir a antiga promessa de colocar no mercado set-top boxes a preços populares. Às vésperas da inauguração das transmissões digitais de TV, que ocorre dia 2 de dezembro, o ministro Hélio Costa pretende emplacar um pacote de financiamento dos conversores nos moldes do bem-sucedido Computador para Todos. O entusiasmo com a solução é tamanho que Costa acredita que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva anunciará o pacote durante o lançamento da TV digital. "O ministro espera que o presidente anuncie", afirmou Hélio Costa, ao antecipar os detalhes do projeto em entrevista realizada nesta quarta-feira, 28.

A proposta é dar isenção de PIS/Cofins e IPI aos equipamentos e usar o mesmo sistema de estímulo ao financiamento de computadores pelo varejo. Costa esteve na semana passada com o presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Luciano Coutinho, e saiu otimista do encontro. Mas a definição se o sistema poderá ser estendido aos conversores caberá ao presidente da República. "Se nós aplicarmos aos terminais de acesso os mesmos benefícios do computador popular (Computador para Todos), podemos ter a caixinha por R$ 200, que é um preço razoável para começarmos a TV digital", argumentou Costa. "O mais simples, o mais fácil é fazer o que já deu certo."

Para o ministro, o Brasil terá que criar algum sistema de estímulo à queda dos preços para garantir que os telespectadores brasileiros possam adquirir ao menos os set-top boxes para ter acesso a alguns benefícios da transmissão digital. Mesmo em regiões mais ricas, programas com esse foco foram implantados. Segundo Costa, os Estados Unidos investiram US$ 1,5 bilhão para financiar os conversores para a baixa renda. Na Europa, onde o set-top box custa em torno de US$ 70, a radiodifusão é financiada pela população com o pagamento de uma taxa anual de 120 euros, totalizando US$ 8 bilhões ao ano para ser revertido no setor.

Costa acredita que, com um bom sistema de financiamento, será possível oferecer o conversor para o público com parcelas de R$ 7 a R$ 10 mensais. Atualmente, o equipamento mais barato é o da Positivo, que custa R$ 499 e que, com incentivos fiscais, poderia chegar no mercado por R$ 200. Usando esses valores, um parcelamento com mensalidade de R$ 7 levaria 71 meses para a quitação do set-top box de R$ 499 e 28 meses para o de R$ 200.

Preço

A resistência da indústria em baixar o preço dos conversores no Brasil provocou críticas do ministro durante entrevista coletiva transmitida ao vivo pela Radiobrás para marcar a proximidade do lançamento da TV digital. "Eu tenho visto os maiores disparates. Fui informado de um equipamento que deve ser para falar com Marte, entrar em contato com extraterrestres, porque custa R$ 1,090 mil. Não pode ser só para converter o sinal da TV digital. Deve ter alguma coisa de ouro, de platina no interior pra custar R$ 1,090 mil", ironizou.
Os equipamentos em questão são fabricados pela Semp Toshiba e pela Philips, que hoje fabricam set-top boxes para o mercado de TV por assinatura, que usa o padrão europeu DVB de TV digital. Na TV aberta, o modelo escolhido foi o ISDB japonês, com algumas adaptações. Depois de criticar os fabricantes, apesar de ter poupado o nome das empresas, Costa sugeriu cautela aos consumidores. "A idéia é fazer chegar no mercado a preços populares. Às pessoas de classe média, aos trabalhadores, eu sugiro que esperem um pouco porque o preço vai cair".

As reclamações do ministro das Comunicações não ficaram restritas aos fabricantes. Costa provocou as empresas telefônicas a investirem na produção de aparelhos celulares que recebam os sinais da TV digital. Segundo ele, o desinteresse das teles estaria no fato de que a transmissão da televisão, que será gratuita, pode tirar tráfego de voz das empresas, reduzindo suas receitas.
Os radiodifusores também foram instigados a se envolverem mais na batalha pela queda de preço dos equipamentos. Costa sugeriu que as emissoras negociem com os comerciantes varejistas descontos na veiculação de publicidade como forma de compensar uma redução no preço de venda dos conversores. "Não estou vendo nenhuma movimentação da indústria, nem dos radiodifusores", protestou. "Os radiodifusores estão muito confiantes de que o mercado irá ajustar tudo."

Interatividade

O governo continua sem perspectivas de quando os telespectadores poderão usufruir da tão aguardada interatividade da TV digital. O ministro admite que, nesta primeira etapa, não deverá haver interatividade. "Essas coisas todas não acontecem da noite para o dia", ponderou. Por enquanto, os benefícios da nova transmissão ficarão restritos à uma melhora na imagem e ao som estéreo proporcionado pelo sinal digital.

Bloqueio

O ministro voltou a defender a instalação de um sistema de bloqueio para cópias no novo sistema de transmissão. "O que se propõe é que exista um sistema onde gravar para consumo próprio seja possível, mas regravar não", explicou. Em defesa da restrição, Costa argumenta que a medida tem o poder de "controlar a pirataria", na medida em que a cópia de um programa transmitido em alta definição mantém todas as características do original. Ele também voltou a dizer que produtoras internacionais têm acenado de que não irão vender conteúdos para o Brasil se o sistema de bloqueio não for adotado.

Fábrica de semicondutores

Enquanto o governo procura métodos de reduzir o preço do set-top box, a principal arma para a redução dos custos começa a dar sinais de que pode ser enterrada. Trata-se da construção de uma fábrica de semicondutores, idéia encampada na época da escolha do padrão japonês, mas que permanece desde então como apenas uma intenção. "Foi uma proposta que o governo (brasileiro) fez com o governo japonês. Não existe nenhuma imposição do Brasil ou do governo japonês para a construção de uma fábrica de semicondutores", informou o ministro.

Segundo Hélio Costa, o acordo assinado com o governo japonês não previa qualquer obrigação para que o projeto fosse realmente implantado. Um Grupo de Trabalho (GT) tem sido mantido pelos dois países sobre o tema, mas os debates não parecem ter avançado. Para Costa, tem faltado disposição dos empresários no Brasil para encampar a idéia. "É um acordo de cavalheiros, um gentlemen agreement. Mas nós temos que fazer um pouquinho mais também. Acho que a bola está agora com o Ministério do Desenvolvimento", alegou.

O custo de instalação da fábrica estaria em torno de US$ 500 milhões e US$ 1 bilhão. Quantia semelhante foi investida no Brasil quando a escolha do padrão ISDB foi anunciada. Mas o US$ 1 bilhão – US$ 500 milhões do BNDES e US$ 500 milhões do Japan Bank for International Cooperation (JBIC) – foi totalmente destinado às emissoras de TV aberta para a modernização de seus equipamentos.