Em 2009, o Brasil terá banda larga pela rede elétrica. A Copel confirmou a oferta comercial da tecnologia (conhecida como PLC ou BPL) em Curitiba (PR) ainda em 2007. A AES Eletropaulo Telecom seguiu o exemplo e, no início de novembro do ano passado, revelou seus planos para a cidade de São Paulo.
O interesse na tecnologia é facilmente explicado por seus benefícios. Ela dispensa cabeamento além dos fios de energia – o que teoricamente a tornaria disponível para 98% dos lares brasileiros que contam com luz elétrica. O PLC tem potencial, inclusive, para ser um agente responsável para garantir a inclusão digital em áreas de sombras de cobertura.
E as vantagens não param por aí. Ao mesmo tempo em que garante a mesma taxa para download e upload, o PLC tem a facilidade de permitir acesso à internet em qualquer tomada da residência ou empresa “iluminada”. O custo para os provedores é, potencialmente, menor do que as tecnologias rivais cabo e ADSL. A velocidade é um diferencial, já que a segunda geração do PLC tem velocidade de até 200 Mbps. No entanto, testes apontam que as taxas médias com novos equipamentos chegaram a 500 Mbps na camada física, com promessa de subir até 700 Mbps a 750 Mbps.
Funcionando apenas na última milha, o sinal de internet é injetado abaixo do transformador de energia até a casa, prédio ou empresa que optar pelo serviço. Para chegar até o poste, o sinal de comunicação é transportado pela rede de fibra ótica das empresas de telecomunicações que são subsidiárias ou atuam em parceria com as concessionárias de energia.
No entanto, garantem especialistas, a banda larga pela rede elétrica não vai alterar drasticamente o panorama do acesso a internet. E o grande culpado por isso é o modelo de negócios escolhido pelas concessionárias de energia.
Modelo indireto
As duas empresas que revelaram seus planos indicaram, com clareza, que não vão oferecer o acesso a internet diretamente para consumidores ou empresas. Tudo indica que esta será a tônica de todas as companhias. Com isso, o PLC será apenas mais uma tecnologia de acesso oferecida aos provedores de internet. As mesmas empresas que hoje dominam o mercado atuando com cabo ou ADSL.
Na prática, isso significa que a vantagem de preço, a velocidade maior e taxas iguais de upload e download serão oferecidos conforme o interesse do provedor de acesso. Quem esperava que o PLC nascesse derrubando os preços e trazendo mais competição a esse mercado, se enganou.
Para Pedro Luiz de Oliveira Jatobá, presidente da Aptel (Associação de Empresas Proprietárias de Infra-estrutura e Sistemas Privados de Telecomunicações), as concessionárias de energia não quiseram assumir o risco de partir diretamente para o mercado. “As empresas teriam que desenvolver um negócio novo do zero. Precisariam de coisas como pontos de atendimento (de SAC) e campanhas de marketing. É outra dimensão de atendimento para a qual elas não estão preparadas”, disse.
André Litmanowicz, sócio da consultoria iCG e ex-presidente da Arthur D. Little, concorda. Para ele, a aversão ao modelo direto se deve aos problemas de financiamento. “Para ir direto ao mercado, as concessionárias precisariam de grandes investimentos, por isso optaram por fornecer a infra-estrutura, o que é natural. Até por que não está claro como as agências reguladoras agiriam com a renda oriunda do acesso à internet via PLC”, disse.
Peso da regulamentação
Jatobá concorda com o peso da regulamentação do setor elétrico. Segundo ele, as normas são especialmente rígidas para o desenvolvimento de novos negócios. “A grande limitação para o PLC são as regras do setor. Elas já dificultaram a implementação da rede de fibra ótica e fazem o mesmo com o PLC”, acredita.
O especialista aponta a questão da modicidade tarifária (garantia de que um cidadão possa pagar água, luz e telecomunicações recebendo um salário mínimo) como um complicador especial. “É inviável pensar em uma empresa de telefonia fixa separando completamente os seus serviços de banda larga. Em energia, isso é regra. Em médio e longo prazo, essa escolha acaba gerando um preço maior para o consumidor já que cada empresa possui infra-estrutura exclusiva”, completou.
Litmanowicz conta que, em 2004, começou a ter reuniões com as empresas do setor de energia para discutir a viabilidade do PLC. Ele participou de oito projetos pilotos em distribuidoras de energia e, até o final de 2008, nenhum foi lançado ao mercado. “Na verdade”, afirma, “[a oferta atual] não foi o ideal para o mercado, mas é um bom negócio. É o primeiro passo. É muito positivo ver uma tecnologia revolucionária saindo do papel”.
Jatobá acredita que o bom desempenho do PLC pode gerar pressão para mudar o atual sistema de regulamentação do setor elétrico. “Com o sucesso do PLC, a sociedade pode pressionar os órgãos reguladores para flexibilizar isso. Especialmente porque, no atual modelo de infra-estrutura exclusiva, não é possível pensar nas redes smart grid”, completou.