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Hélio Costa ignora ABNT e diz que conversores sem Ginga não podem ser vendidos

O ministro das Comunicações, Hélio Costa, afirmou que os conversores de TV digital que estiverem no mercado sem o programa Ginga, que vai permitir a interatividade plena – envio de dados para as emissoras-, não podem ser vendidos. 

"O conversor tem que ser um só. Existem normas técnicas que têm que ser seguidas. O que não colocou o Ginga não pode ser vendido, não atende às normas técnicas do Fórum da TV digital. A tecnologia está pronta, quem quiser o Ginga baixa da internet sem custo."

Nenhum dos aparelhos à venda tem ou pode ser adaptado com o Ginga. Além disso, declarações do ministro não têm respaldo na Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), que divulgou as especificidades aos conversores no último sábado (1º/12). Segundo o documento, "o porte do Ginga é opcional". 

De acordo com Erlei Guimarães, diretor da Positivo Informática, agora "a indústria está pegando as especificações e transformando em um software que pode ser embarcado em um conversor".

Roberto Barbieri, diretor da Semp Toshiba, afirma que "a bateria padrão de testes fixada pelo Fórum não está desenvolvida ainda". Após isso, diz, ainda será necessário fazer testes de campo. 

Eugênio Staub, presidente da Gradiente, afirmou no último domingo (2) que, "nos próximos dias", a empresa – que seria a primeira – vai lançar um conversor já pronto para receber o Ginga. 

Sobre a possibilidade de download do programa, só profissionais especializados saberiam usá-lo. Segundo Luiz Fernando Gomes Soares, da PUC-RJ, um dos coordenadores do projeto de desenvolvimento do Ginga, o consumidor "teria que comprar um demodulador ISDB e ligar no computador e na TV". Com isso, o PC funcionaria como um conversor. 

Além disso, a interatividade plena só será possível quando for definido o canal de retorno telefone, internet que será usado para enviar os dados às emissoras de televisão. Com informações do jornal Folha de S.Paulo

Transmissões da TV digital começam com modelo analógico

No último domingo (2), estreou no Brasil a transmissão digital dos sinais de televisão. Cercada de pompa por emissoras e governo federal, com direito a cerimônia com presença do Presidente da República transmitida em cadeia nacional, a novidade vem sendo apresentada como um novo momento na história da televisão, hoje presente em mais de 95% dos lares brasileiros.

“A TV ficará mais próxima do telespectador, oferecendo qualidade superior de imagem, maior número de canais, interação do público com a programação e transmissão perfeita para TVs, TVs em ônibus, trens e outros transportes coletivos”, afirmou Lula resumindo as pretensas funcionalidades da nova tecnologia. Para especialistas e estudiosos entrevistados pelo Observatório do Direito à Comunicação, no entanto, a TV digital que entrou no ar esta semana utiliza nova tecnologia, mas mantém o modelo analógico de existente atualmente.

O fato pode ser percebido justamente pelo não aproveitamento das possibilidades listadas pelo presidente. A primeira delas é a multiplicação do número de programações em até seis vezes. Embora Lula tenha manifestado na cerimônia a oportunidade de termos “vários canais”, citando como exemplo aqueles reservados aos ministérios da “educação, saúde e uma TV pública federal”, a transição deixará pouco espaço para novas programações. Isso por que foi dado às emissoras, para a transmissão em digital, o mesmo espaço que elas utilizam para a transmissão analógica, embora a nova tecnologia demande menos faixa de freqüência.

Esta decisão, aliada ao mau uso do espectro atualmente (com emissoras que não prestam um serviço público de qualidade mínima), resultou na sobra de poucos ou nenhum canal em grandes centros como São Paulo e Rio de Janeiro, impedindo a entrada de novos agentes na produção e difusão de conteúdo audiovisual. “Com o favorecimento aos operadores de TV, mantém-se, no mínimo, a concentração no setor, o que dificulta a democratização que a TV Digital poderia trazer com a entrada de novos atores, especialmente os não hegemônicos, locais e independentes”, lamenta o professor César Bolaño, pesquisador e autor de livro sobre o tema.

Interatividade?

Outro exemplo de potencialidade que está ausente nesta primeira fase da TV digital brasileira é a interatividade. Na cerimônia de lançamento em São Paulo, a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Roussef, afirmou que “a população terá acesso a informações e serviços públicos, marcará consultas médicas, receberá e enviará informações pela TV”. Entretanto, estes serviços são uma aposta para o futuro e não uma realidade do presente. Os conversores (aparelhos que “lêem” o sinal digital para ser assistido pelo televisor analógico) colocados no mercado não possuem o software que realiza este tipo de operação.

Um problema adicional é que este programa, o middleware Ginga, seria a única tecnologia brasileira presente em todo o padrão digital utilizado no Brasil. No entanto, embora o ministro das comunicações, Hélio Costa, diga que há acordos em andamento para a inserção da inovação nos conversores, hoje não há qualquer previsão de quando isso será feito. Para Gustavo Gindre, pesquisador da UFRJ e integrante do Intervozes, o motivo da ausência de interatividade não é tecnológico, mas econômico.

“Não há interatividade porque os radiodifusores não querem. Primeiro, porque o cidadão que fizer uso destes serviços estará deixando de assistir a programação das emissoras. E isso representa perda de audiência e, portanto, de faturamento”. Além disso, acrescenta Gindre, “a interatividade demandaria um canal de retorno, possivelmente em banda larga, e tudo o que os radiodifusores não querem é ver alguém conectando uma banda larga na TV e implodindo com o controle que eles exercem sobre a televisão brasileira”.

Celso Schroeder, do Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC), avalia que o resultado disso é um modelo “onde se tem a menor convergência possível, a menor possibilidade de intercâmbio entre as várias plataformas e entre os vários serviços possíveis de telecomunicação e comunicação”.

TV digital para ninguém

Os conversores não têm dado só o que falar na ausência de funcionalidades. A questão mais polêmica dos primeiros dias da TV digital tem sido o alto custo destas caixinhas, com preços variando entre 500 e R$ 1000. O valor tem afastado os telespectadores do usufruto da nova tecnologia, gerando o risco da televisão digital ser assistida por uma pequena elite de pessoas de alta renda.

Durante todo o período de preparação para o início das transmissões, o ministro das comunicações, Hélio Costa, prometeu reiteradamente que o conversor chegaria a R$ 200, o que não se confirmou. Em um gesto de desespero, Costa partiu para o ataque aos fabricantes afirmando que estes estariam boicotando a TV digital ao inflar os preços, uma vez que no Japão o conversor sai por volta de US$ 100.

A resposta concreta foi o anúncio de um programa de incentivos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) no montante de R$ 1 bilhão que financiaria a compra do conversor no varejo. Reportagens recentes, entretanto, mostraram que estão sendo usados recursos de outro programa do banco destinado ao financiamento da aquisição de infra-estrutura de transmissão para as emissoras que estão migrando para o sistema digital.

Independente do volume e origem dos recursos, o que passa despercebido na cobertura sobre o caso é o gasto de dinheiro público (por meio destes financiamentos e da isenção fiscal para a indústria) para “correr atrás do prejuízo” e corrigir equívocos do próprio governo, que poderia ter dado ouvidos a especialistas e institutos de pesquisa que, à época da escolha da tecnologia a ser adotada pelo Brasil, já apontavam que o padrão japonês poderia gerar custos altos pelo fato da tecnologia carecer de escala, já que é utilizada somente naquele país. Além disso, outros componentes internacionais foram incorporados, tornando a tecnologia utilizada no SBTVD (Sistema Brasileiro de TV Digital) uma composição única no mundo.

Para Gustavo Gindre, a decisão do governo é equivocada. “Graças ao dinheiro público, o governo ajudará na venda de aparelhos que não captam imagens em alta definição, que não têm interatividade e que serão utilizados para que o usuário assista a mesma programação disponível na TV analógica. Ou seja, o governo vai subsidiar a compra de seletores de canais. E quando, no futuro, houver interatividade, tais aparelhos terão que ser jogados no lixo”, critica.

O ministro Hélio Costa respondeu as críticas afirmando que “o conversor vai cair de preço vertiginosamente nos próximos meses”, apostando em um movimento dos fabricantes e no ganho de escala pelo aumento das compras. No entanto, pesquisa feita pelo Instituto Qualibest com 2 mil internautas mostrou que 44% dos entrevistados não pretendem comprar o conversor agora e vão esperar “o assunto amadurecer”. Outros 56% afirmaram só comprar se o preço chegasse aos R$ 200 reais. Apesar da curiosidade, não é possível assegurar que a parcela de maior renda da população – cujo papel na geração de escala e redução do seu preço é fundamental – irá comprar o conversor, uma vez que boa parte dela já dispõe do serviço de televisão por assinatura, com imagem igual ou melhor e maior oferta de canais.

Política industrial?

Se não conseguiu cumprir a promessa de ser ampla, inclusiva, ampliadora do número de canais e interativa, a TV digital brasileira tampouco está contribuindo para fortalecer uma política industrial da área de microeletrônica como anunciou a ministra Dilma Roussef na escolha da tecnologia nipônica em junho de 2006. Entre as contrapartidas dos japoneses estaria a construção de uma fábrica de semi-condutores no Brasil, a formação de mão-de-obra especializada e a transferência de tecnologia.

Em artigo publicado no sítio especializado TeleSíntese, a jornalista Lia Ribeiro resume o fato. “Da hipotética fábrica de difusão de semicondutores ao centro de desenvolvimento de design de chip, passando pela garantia de mercado a produtos fabricados aqui. Ao final das negociações, a montanha pariu um rato”, analisa. Já das inovações produzidas pelos consórcios que desenvolveram pesquisa para o Sistema Brasileiro de Televisão Digital em 2005, só o Ginga luta para ser incorporado aos conversores, em uma disputa de futuro incerto.

Democratização

Em meio aos debates e polêmicas tecnológicas, o professor César Bolaño afirma que o problema não está nem nos aparelhos nem nos programas, mas sob quais regras e com qual finalidade eles serão usados. “O problema não está na tecnologia. Vamos ao que interessa: como democratizar a televisão, abertura do espectro eletromagnético para a entrada de novos atores, especialmente os não hegemônicos, financiamento da produção independente, regional, comunitária e para TVs públicas, com desconcentração, promoção do conteúdo nacional e inclusão social e digital”, propõe.

Mas para isso é preciso superar a polêmica sobre o preço dos conversores para chegar ao debate que as emissoras de televisão não querem realizar: como organizar o modelo brasileiro para utilizar todas as potencialidades deste novo meio para a ampliar o número de fontes de informação e cultura, com um conteúdo interativo e conectado com os outros meios de comunicação neste irreversível processo de convergência tecnológica.

Lula anuncia crédito do BNDES antigo como novo

A linha de crédito de R$ 1 bi, anunciada no último domingo (02), pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva para baratear o conversor da TV digital, não possui recurso novo. O BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) anunciou que o crédito será realocado de recursos por emissoras de TV.

Durante a inauguração do sinal digital aberto, o presidente anunciou ter determinado ao BNDES que desenvolva um programa de incentivo à implantação da TV digital. 'No valor de R$ 1 bi, ele dará apoio à rede varejista para baratear a venda do conversor que permite a recepção do sinal digital pelos atuais televisores analógicos', declarou Luiz Inácio.

O BNDES declarou que os recursos anunciados pelo presidente são os mesmos do ProTVD, que estão sendo alocados para financiar o comércio varejista na venda dos aparelhos de conversão.

Segundo João Carlos Ferraz, diretor de Planejamento do BNDES, não houve demanda paras as finalidades previstas na criação do ProTVD, e, em razão disso, foi possível repassar os recursos não utilizados para financiar o varejo.

O Banco declarou ainda que do R$ 1 bi, apenas R$ 9 milhões foram utilizados pelos projetos do programa ProTVD. Apenas um projeto foi aprovado: o do SBT (Sistema Brasileiro de Televisão). Curiosamente, o crédito financiará 197 retransmissores, cujo objetivo é melhorar a rede analógica.

Para a reportagem da Folha de S.Paulo desta terça-feira (04),Carlos Ferraz, diretor do BNDES, informou que nem o banco nem o presidente erraram no anúncio. Pois o orçamento de R$ 1 bi pode ser ampliado se necessário for.

Globo fatura R$ 16 mi na estréia da TV digital

Apesar de a TV digital ainda se limitar a poucos usuários na Grande São Paulo, a Globo já está tirando proveito comercial da nova tecnologia. A emissora vendeu por R$ 16 milhões um pacote de inserções comerciais em alta definição (HDTV).  O primeiro bloco desses comerciais foi ao ar no "Fantástico", logo após a estréia oficial das transmissões digitais. As exibições prosseguem nesta semana nos programas em HDTV -"Duas Caras" e "Sessão Especial" (amanhã).

Com a alta definição, programas e publicidade têm uma qualidade de imagem seis vezes melhor do que na TV analógica. Entre os comerciais em alta definição, estão o do Bradesco com imagens da série "Planeta Terra", narrado por Wagner Moura.

Foram vendidas oito cotas, a R$ 2 milhões cada uma, para sete anunciantes. Além de Bradesco, compraram cotas Itaú, Natura, Vale (duas), CEF, Telefônica e Ambev. Cada cota dá direito a sete inserções.  A Globo cobrou o mesmo preço da tabela para anúncios analógicos. Mas, assim que o número de usuários de TV digital crescer, a emissora pretende cobrar mais pela HDTV.

A transmissão, de qualidade sofrível, da cerimônia de inauguração da TV digital também foi boa para a Globo. A rede foi a única que registrou mais audiência com os discursos do presidente Lula e de Dilma Rousseff e Hélio Costa do que no mesmo horário (20h30/ 20h46) do domingo anterior. Na média, porém, as redes que transmitiram a cerimônia perderam ibope. Anteontem, elas somaram 51,5 pontos, contra 55,6 no domingo anterior.

‘Faltou política industrial para baratear conversor’, diz Semeghini

Por meio de nota oficial, o deputado Júlio Semeghini (PSDB-SP), presidente da Comissão de Ciência e Tecnologia da Câmara, criticou o governo, que lançou o a TV Digital sem se preparar para dar condições de produção de conversores para a população de baixa renda. "Erraram na política industrial", disse nesta segunda-feira (03/12), o prlamentar, ao comentar a demora do governo em anunciar incentivos para a produção em grande escala de conversores da TV digital.

Segundo o deputado, que participou neste domingo (02/12) da cerimônia que marcou o início das transmissões digitais da TV aberta em São Paulo, o governo deveria ter traçado uma estratégia para que os conversores disponíveis já no lançamento da TV digital tivessem preços mais acessíveis.

Na avaliação de Semeghini, o conversor chegou às redes varejistas a um custo muito acima do desejado pelo governo e pelos consumidores por falta de incentivos à competição na indústria nacional. Os benefícios ficaram limitados à Zona Franca de Manaus.

Para ele, o conversor da TV digital deveria ser tratado como um bem de informática, e sua produção deveria estar inserida em uma política industrial séria que estimulasse a competição na indústria nacional.

A opção do governo de manter incentivos para a produção dos novos equipamentos a uma única região acabou diminuindo o interesse na fabricação dos conversores.

O deputado lembrou que a indústria de equipamentos para antenas parabólicas, por exemplo, que também precisará de conversores com a tecnologia digital, produz principalmente fora da Zona Franca.

Quase um ano e meio após a assinatura do decreto que instituiu o Sistema Brasileiro de Televisão Digital (SBTVD), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva anunciou ontem a liberação de R$ 1 bilhão do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) para tentar baratear o preço dos equipamentos.

Entretanto, a medida não deverá alcançar a indústria por enquanto. "Não adianta financiar conversores com um preço alto. É preciso uma política industrial que reduza o seu custo", completou o deputado.