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TV a cabo poderá ter limite de tempo para publicidade

Os canais de TV a cabo poderão ter um limite de 25% da programação diária para destinar à publicidade. A Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) está fazendo uma consulta pública para colher sugestões sobre a atualização da regulamentação do serviço de TV a cabo e uma das mudanças propostas é de estabelecer um tempo máximo para a propaganda nesses canais.

Atualmente, não existe um limite de tempo de propaganda para a TV paga. Pela proposta da Anatel, o tempo destinado à publicidade na TV a cabo seria o mesmo da TV aberta, o que representa 15 minutos a cada hora de programação. O relator da matéria na Anatel, conselheiro João Rezende, explica que é preciso evitar excessos, tendo em vista as reclamações de assinantes quanto à quantidade de publicidade nos canais pagos.

Segundo Rezende, nos últimos cinco anos a Anatel recebeu cerca de 11 mil reclamações relativas à programação da TV a cabo. Entre as principais críticas está a insatisfação dos assinantes com o grande número de intervalos comerciais. Também foi relatado que a inserção de publicidade cresceu ao longo do tempo.

“Uma veiculação elevada, desproporcional e ilimitada de propaganda e publicidade pode descaracterizar o serviço de TV a cabo, que já se remunera pela assinatura mensal paga pelo assinante”, diz Rezende, em seu relatório.

Para o presidente da Associação Brasileira de Televisão por Assinatura (ABTA), Alexandre Annenberg, o limite de publicidade deve ser estabelecido pela concorrência entre as empresas e não pela agência reguladora do setor. “A TV paga permite ao espectador escolher os canais que mais lhe agradam. O controle remoto é uma arma para que ele possa escolher determinado canal e se acha que a publicidade está exorbitante, ele muda para outro canal”.

Annenberg explica que a publicidade é um dos itens que compõem a renda das TVs por assinatura e por isso mesmo ajuda a baixar o preço da mensalidade para os usuários. Segundo ele, a maioria dos canais já respeita o limite estabelecido pela Anatel, de 25% da programação diária para a publicidade. Ele garante que a ABTA vai participar da consulta pública proposta pela Anatel para tentar retirar esse item do regulamento.

Para a advogada Veridiana Alimonti, do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec), o limite para a publicidade é um avanço, mas o debate sobre o tempo necessário para a propaganda deve ser ampliado. “Entendemos que na TV por assinatura, considerando que ela já é paga, esse tempo poderia ser menor do que ocorre na TV aberta”, argumenta.

A conselheira da Anatel Emília Ribeiro, que votou contra a proposta de regulamento, argumentou que não é razoável que o tempo máximo de publicidade entre os serviços de TV aberta e TV a cabo seja o mesmo. Segundo ela, a TV aberta baseia suas receitas nas verbas da publicidade e a TV a cabo nas suas assinaturas. “Ao assinante do serviço de TV a cabo, justamente por remunerar diretamente o prestador, deveria ser garantido o direito de ter disponibilizada uma programação com menos tempo destinado a intervalos comerciais”, disse a conselheira em seu voto.

Governo deve publicar em 10 dias novas regras para concessões

A presidente Dilma Rousseff deve assinar nos próximos 10 dias decreto que disciplina os editais de licitação para concessão de emissoras de rádio e televisão. A afirmação foi feita pelo senador Eduardo Braga (PMDB-AM), na última terça-feira (31). As novas normas serão aplicadas apenas para pedidos futuros.

Eduardo Braga recebeu do ministro das Comunicações uma minuta de proposta de modificação do Decreto (52.795/63) que regulamenta os serviços de radiodifusão, para tornar mais rigorosos os processos de concessão.

Segundo o senador, que preside a Comissão de Ciência, Tecnologia, Inovação, Comunicação e Informática (CCT) no Senado, a proposta é ainda informal e foi entregue para que a CCT possa fazer sugestões sobre a matéria. “Os senadores desta comissão têm até a próxima quarta (8) para se manifestarem sobre o assunto, para que possamos contribuir com essa proposta”, explicou.

Além disso, a CCT do Senado aprovou na última quarta-feira (1) ato que proíbe senadores de relatarem projetos de outorgas de rádio e TV dos estados para os quais foram eleitos. Segundo o presidente da comissão e autor do Ato 1/2011, senador Eduardo Braga (PMDB-AM), a intenção é assegurar imparcialidade e impessoalidade dos julgamentos.

Flexa Ribeiro (PSDB-PA) votou pela aprovação do ato, mas disse que mudar o relator não é suficiente para que haja maior transparência nas concessões de rádio e TV. “Temos que aprofundar a discussão. Atualmente, tudo isso é feito no Ministério das Comunicações e nós, aqui, apenas confirmamos o que vem de lá”, observou.

Segundo a Secretaria da CCT, a determinação vale apenas para os novos processos distribuídos. Os que já foram entregues aos senadores, mesmo que sejam do mesmo estado das concessões, não serão redistribuídos.

Especialistas avaliam que autorregulação de jornais proposta pela ANJ é inciativa louvável

 Pesquisadores e professores de comunicação, ouvidos pela Agência Brasil, consideram positiva a iniciativa da Associação Nacional dos Jornais (ANJ) de instituir um programa de autorregulação para os jornais, anunciada ontem (26) pela entidade. Eles ponderam, no entanto, que a medida é insuficiente no sentido de garantir maior qualidade à informação.

Para Rogério Christofoletti, professor de jornalismo da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), a autorregulação é “positiva”, mas não dispensa que outros setores como os próprios jornalistas, a academia e os movimentos sociais também “apontem parâmetros” para a cobertura da imprensa.

Na opinião do professor, a resistência das empresas jornalísticas a essa participação corresponde a uma “visão obtusa” do tipo de negócio e produto que fornecem à sociedade. “Embora sejam empresas privadas, os serviços são de natureza pública, transcendem os muros das empresas jornalísticas. [Os jornais] interferem na formação do imaginário e na percepção da realidade”, disse.

Na avaliação da professora Márcia Marques, da Faculdade de Comunicação da Universidade de Brasília (FAC/UnB), a iniciativa da ANJ é “louvável” e “quanto mais plural e com mais participação, melhor”. Para ela, o gesto da associação é “uma tentativa de resolver o vazio que se criou com o fim da exigência do diploma para a carreira de jornalista”.

A acadêmica ressalta porém, que, na proposta da ANJ, “não é a sociedade que está inserida no controle”. Segundo ela, foi formado “um embate ideológico” em torno da discussão; e que, por causa da ditadura militar (1964-1985), sempre há o “medo” de que qualquer forma de controle seja “censura”. Além disso, “as empresas entendem que [controle social] seja uma interferência em seu negócio:a liberdade de imprensa tida como a liberdade de imprimir”.

“A autorregulação é válida, contribui para os princípios deontológicos [éticos] do jornalismo”, elogia Fernando Oliveira Paulino, também professor da FAC/UnB e ouvidor adjunto da Empresa Brasil de Comunicação (EBC). Ele, todavia, destaca que “resta a dúvida se os jornais vão seguir ou não”, diz antes de ressaltar que a ANJ, a Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert), e a Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) seguem códigos de éticas diferentes.

Paulino também lembra que na década de 1970 a Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco) contabilizou que 70 países já adotavam alguma forma de regulamentação (Relatório Mac Bright).

No começo deste ano, a Unesco publicou no Brasil um estudo sobre a autorregulação da mídia e liberdade de expressão. Para o coordenador de Comunicação e Informação da Unesco, Guilherme Canela Godoi, a autorregulação proposta pela ANJ é “salutar” e “adequada”.

Durante o governo Lula (2003-2010), as empresas de comunicação tiveram vários embate com o governo por causa da possibilidade do governo em acolher propostas de “controle social da mídia”. O último episódio foi no começo do ano passado por causa terceira edição do Programa Nacional de Direitos Humanos (PNDH 3), que acabou sendo modificado.

Valente quer mudança na LGT e alerta que telefonia fixa perde importância

O presidente da Telebrasil (Associação Brasileira de Telecomunicações) e da Telefônica, Antonio Carlos Valente, defendeu o uso de redes sem-fio e de satélites para levar a banda larga para escolas públicas rurais, ao contrário do que prevê o Plano Geral de Metas de Universalização (PGMU III), em debate entre operadoras e governo. No plano, a obrigação seria imputada às concessionárias de telefonia fixa, a partir do uso da faixa de 450 MHz.

Valente, que participou ontem à noite do programa “3 a 1” da TV Brasil, disse que as soluções móveis são economicamente mais viáveis para a oferta de serviços de telecomunicações a muitos pequenos municípios brasileiros, enquanto outros somente poderão ser atendidos por satélite. Ele defende o uso da multiplicidade de tecnologias para massificar a banda larga no país.

No programa, Valente contestou o levantamento divulgado pela UIT apontando que a fatura de celular paga pelo consumidor brasileiro ainda é uma das mais altas do mundo, com tarifa cinco vezes mais alta que a dos países da Europa. Segundo ele, essa diferença se deve à valorização do real frente ao dólar. “Os preços cobrados aqui não mudaram muito nos últimos anos, mas parecem maiores por causa da taxa de câmbio”, explicou.

Revisão da LGT

O presidente da Telefônica defendeu também a revisão de alguns aspectos da Lei Geral de Telecomunicações (LGT), apesar de ainda considerar a norma “muito robusta”. Ele acredita que o papel da telefonia fixa, único serviço que é prestado em regime público na lei, precisa de alteração, uma vez que esse serviço terá relevo menor no futuro.

Valente também pondera sobre a necessidade de revisão dos artigos referentes a bens reversíveis pela mesma razão. “Antes de 2025, quando acaba o prazo das concessões, a telefonia fixa não terá relevo no setor”, enfatizou. Ele apontou o decréscimo de assinantes do serviço em todo o mundo.

Estudo

Um estudo sobre as condições técnicas e socioeconômicas para o esforço de expansão da banda larga no país será apresentado pelas operadoras durante o 55º Painel Telebrasil, nos dias 1º e 2 de junho, em Brasília. O levantamento traz inicialmente um diagnóstico sobre a oferta atual dos serviços de banda larga no Brasil e traça cenários para esse segmento nos horizontes de 2014 e 2020. Cada cenário contém projeções de ampliação do número de acessos aos serviços de internet em banda larga e das velocidades de conexão, além de estimativas de investimentos necessários.

Ministério das Comunicações criará mesa de diálogo para discutir novo marco regulatório

O Ministério das Comunicações pretende criar uma "mesa de diálogo" com a sociedade para discutir temas do anteprojeto de regulamentação das comunicações no país. A informação foi dada hoje (20) pelo assessor executivo da pasta, James Görgen.

Ele explicou que a ideia é colher sugestões de movimentos sociais e do setor privado para a consolidação do texto, que reunirá propostas aprovadas na Conferência Nacional de Comunicação, realizada em 2009, e deverá ser apresentado para consulta pública no segundo semestre.

Segundo Görgen, o texto vai propor a regulamentação, principalmente, de três artigos constitucionais (221, 222 e 223). Os itens tratam da produção e da programação de rádios e televisões, concessão e renovação de outorgas, além de regras de propriedade.

"O ministério já fez toda a revisão da parte de comunicação social eletrônica, de radiodifusão, de difusão audiovisual, de produção audiovisual e do arranjo institucional", afirmou, durante o seminário Marco Regulatório – Propostas para uma Comunicação Democrática, no Rio.

Görgen informou que o grupo de trabalho sobre o marco regulatório vai analisar agora tópicos sobre internet banda larga e universalização dos serviços e conteúdos de telecomunicações. "Existe alguns consensos, mas que não posso revelar, por questões hierárquicas", explicou.

Assim que o documento for tornado público pelo ministério, uma câmara de diálogo será criada para incentivar a discussão sobre o tema.

Para o coordenador-geral do Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC), Celso Schröder, o diálogo permitirá aperfeiçoar a proposta do governo desde que, segundo ele, a iniciativa privada não retome discussões que foram superadas na Conferência de Comunicação.

"Não podemos perder mais tempo e dinheiro com isso. Os atores que quiseram participar, participaram. O momento, agora, é de o governo apresentar sua proposta. Aí, a gente pode até sentar, clarear as ideias, mas não começar mais um debate", defendeu.

A deputada federal Luiza Erundina (PSB-SP), coordenadora da Frente Parlamentar pela Liberdade de Expressão e o Direito à Comunicação com Participação Popular, presente no evento, disse que também compilará propostas para o novo marco e fará a discussão no Congresso Nacional.

"Temos exatamente que criar novos meios de participação e atualizar o marco legal sem o quê não se conseguirá colocar a política de comunicação no país no patamar necessário e garantir o cidadão o direito à comunicação e participação em um serviço público", afirmou.

O representante do Ministério das Comunicações disse que o governo está comprometido com mudanças de "paradigmas na sociedade", que passam pela atuação do Estado no setor de comunicações, mas que a criação de novas regras não significa censura dos meios.