Justiça censura povos indígenas

Há cerca de nove meses, o povo Tupinambá fez uma retomada de terras na região de Santana, município de Ilhéus (BA), com o objetivo de pressionar o Estado a concluir o processo de demarcação do território tradicional da comunidade. As retomadas foram documentadas e registradas em vídeo pelos indígenas e as imagens foram postadas no portal Índios Online. “Queríamos mostrar ao mundo o nosso modo de agir e mostrar que tudo estava ocorrendo de forma pacífica”, ressalta a advogada indígena Potyra Tê Tupinambá.

Em março, a advogada foi surpreendida com uma intimação, referente a um processo que corria contra ela e contra a organização não-governamental (ONG) Thydewa, que mantém o portal Índios Online. O processo foi movido no Juizado Especial de Itabuna, por uma pessoa que se diz proprietária da Fazenda São José, uma das terras retomadas. Esse processo foi extinto pelo fato de uma das rés, Potyra, ser indígena. “Não se contentando com esse fato e agindo de má fé, eles entraram novamente com uma ação, desta vez apenas contra a Thydewa”, conta Potyra.

Uma liminar favorável aos fazendeiros obrigou a ONG a retirar do portal os vídeos do Canal Celulares Indígenas. “O nosso vídeo apenas mostrava os fatos. Mostrava que a retomada foi pacífica e que eles puderam retirar todos os seus bens materiais. Aliás, a TV local, Santa Cruz, filiada à Rede Globo, também fez uma matéria informativa… será que processaram também? ”, protesta Potyra.

O processo ainda está correndo. No dia 1º de agosto houve uma audiência de conciliação. “A Thydewa, parceira dos Índios Online, está sendo incriminada por apoiar o protagonismo e a causa indígena. Sabemos que na verdade o que querem é calar a nossa voz, mas não conseguirão pois somos etnojornalistas. Fazemos um trabalho sério e assim como existe o direito de imagem, também existe o direito à livre expressão”, ressalta Sebastian Gerlic, integrante da Thydewa.

Os vídeos da retomada podem ser vistos no site do deputado federal Emiliano José (PT-BA).

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