Ex-prefeito tenta apreender exemplares de jornal do ABC que apontava irregularidades

 

Na última terça-feira (28), a Justiça Eleitoral rejeitou pedido de apreensão dos 35 mil exemplares da edição 249 do jornal ABCD Maior impetrado pelo candidato a deputado federal William Dib (PSDB), ex-prefeito de São Bernardo do Campo (SP). 

O candidato requisitou ao Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo (TRE-SP) a apreensão de todas as cópias da publicação bisemanal em razão de uma matéria sobre o pedido da Prefeitura de São Bernardo para que Dib, e dois de seus auxiliares, Wilson Narita Gonçalves e Walter Cordoni, devolvam R$ 160 milhões. O ex-prefeito exigiu, ainda, direito de resposta à matéria. 

A reportagem apresentava pedido de ressarcimento do Ministério da Saúde baseado em parecer do Departamento Nacional de Auditoria/SUS (Denasus), que apontou irregularidades na contratação da empresa Home Care Medical Ltda durante a gestão de Dib, que teve Narita e Cordoni como secretários de Saúde. 

No entendimento do juiz auxiliar Mário Deviene Ferraz, a "matéria considerada ofensiva [por Dib] implica em exame amplo de fatos e documentos, inviável de ser feito neste juízo de cognição sumária". Para o magistrado, a reportagem utilizou-se dos preceitos de liberdade de expressão e direito de crítica característicos da imprensa. 

 

Visita do delegado à redação 

 

 

No dia anterior à publicação da matéria – segunda-feira (27) – o delegado do 1º Distrito Policial de São Bernardo do Campo, Dr. Victor Lutti, fez contato por telefone com a redação do ABCD Maior indagando sobre as informações a respeito de Dib.

Walter Venturini, diretor de redação do ABCD Maior, relatou ao Portal IMPRENSA que o delegado se apresentou como amigo de Dib e ofereceu-se como mediador. "Mais tarde, ele [o delegado] veio até a redação e, na condição de cidadão, queria facilitar o contato com o Dib", contou Walter. 

Lutti estava acompanhado da advogada Elizabeth Sibinelli Spolidoro, que apresentou a versão do ex-prefeito ao ABCD. No outro dia, porém, a mesma advogada assina o pedido de apreensão dos exemplares do jornal, que incluíam na matéria o relato de Dib.

Ao Portal IMPRENSA, Dr.Victor Lutti negou ter se apresentado como amigo do ex-prefeito e frisou que sequer o conhecia pessoalmente, bem como à sua advogada. "Não conhecia nem ela e nem o cliente dela", afirmou. "O vínculo que eu tinha com ele era o de um delegado que trabalhou na cidade enquanto o Dib era prefeito e só", acrescentou. 

O delegado relatou que acompanhou a advogada à redação à pedido dela, que suspeitava de um crime eleitoral contra seu cliente. E que a ligação relatada por Walter foi, na verdade, um pedido de autorização para ir à sede do jornal. "Uma vez feitas as exposições de ambas as partes, deixei o local por achar que, efetivamente não tinha crime nenhum a ser esclarecido", conta. 

Questionado se era padrão o procedimento adotado por ele, Lutti sublinhou "não ser fora do normal". Por fim, afirmou não ter nada contra o ABCD Maior, "inclusive", ressaltou, "tratasse de um veículo sério, que eu acompanho, de um trabalho correto; não é imprensa marrom".  

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