Povo constrói iniciativas que transcendem mídia tradicional

Frente ao poder midiático nacional e internacional que pretende relativizar a natureza da atuação do governo federal, o povo venezuelano está construindo um novo modelo de comunicação que vai além das mídias tradicionais e que se fundamenta no contato direto entre os cidadãos, avaliou a ministra para do Poder Popular para a Comunicação e Informação (Minci), Blanca Eekhout.

Em entrevista publicada no jornal “Últimas Notícias” no último domingo (10), Eekhout afirmou que o cenário midiático nacional e internacional dificulta a possibilidade de entender que “nesta guerra midiática, em nível convencional, um povo possa responder ante o bombardeio dos meios tradicionais em mais de 80 países, com todas as cadeias de rádio, imprensa e televisão no mundo. Mas existe uma comunicação humana, horizontal e dialógica (interação direta entre interlocutores) que está ganhando o povo venezuelano, porque senão não estaríamos triunfantes depois do 15-F [referendo sobre a possibilidade de reeleição sem limites do presidente Chávez] e construindo a revolução”.

A ministra destacou a existência de uma campanha que busca satanizar o projeto bolivariano em outros países, assim como insultar os integrantes do governo. “Obviamente, muitos poderão acreditar nisso. Não estariam atuando de má fé. Pensarão que o que se diz é verdade. Igual pensou-se que as armas de destruição em massa no Iraque, cuja existência nunca se comprovou, eram uma ameaça para o mundo. Como também se justificou a invasão a um povo indefeso”, disse.

Uma transição do hegemônico ao coletivo

No cenário global, a titular do Minci apontou a prevalência do debate sobre o poder dos meios de comunicação, que em muitos casos terminam servindo para estratégias de guerras, como a invasão ao Iraque “através da reprodução midiática de uma mentira”. Por isso, considera prioritário que este poder seja compreendido pela sociedade.

“Não pode ser que o direito à comunicação, que é um patrimônio de todos e todas, e que nos determina como seres humanos, siga sendo o privilégio de uma minoria e o espaço das grandes transnacionais midiáticas. Na Venezuela, há intelectuais, líderes do movimento de trabalhadores e camponeses, que deabtem sobre como nos convertemos em sujeitos ativos e não passivos da comunicação”,  relatou.

Por esta razão, destacou as ações do governo bolivariano visando criar uma nova visão comunicacional que integre o coletivo, através de textos como a Lei de Responsabilidade Social de Rádio e Televisão, que estabelece a existência de comitês de usuários e usuárias e o fomento a rádios e televisões comunitárias, entre outras medidas.

Sobre os comitês de usuários e usuárias, indicou que estas instâncias devem existir para avaliar a atuação de todos os meios, sejam públicos ou privados. No caso dos meios comunitários, destacou que sobre eles existe uma legislação muito mais estrita, já que têm obrigação de que 70% de sua programação seja feita pela comunidade do seu entorno.

Sobre os meios comunitários, Eekhout explicou que “a maioria destes meios estão a serviço de suas comunidades e são ferramentas de suas comunidades. É um processo em construção. Desde modo, há alguns com dificuldades e outros já fortalecidos. Muito pelo contrário, os meios comunitários reivindicam que não contaram com suficiente apoio do que é previsto pela Constituição para dispor de todos os recursos para o exercício do direito à comunicação”.

A revisão: tarefa imperativa nos meios interancionais

A ministra Eekhout ressaltou uma tendência enorme refletida nas corporações midiáticas que obedecem à visão da direita, que é o poder do Império. Em razão delas, propõe uma revisão dos meios internacionais para poder discutir as diretrizes dominantes. “É um modelo que também quer se defender. O modelo bolivariano é uma proposta de outra visão de mundo e obviamente vai ser atacado. Isso é absolutamente lógico, mas é assim. Se consultas um pouco qual são as tendências das grandes transnacionais de comunicação em suas matrizes, é possível ver que todas se repetem em uníssono em um mesmo instante”, opinou.

E, ainda que assinale que o governo bolivariano não é o objetivo central das grandes corporações midiáticas, “sim há matrizes que correm e estão ligados a este grande poder midiático”. Em contraste, sublinhou a existência de redes alternativas que enfrentam a visão imposta pelos meios tradicionais. Desde sua ótica, “também há meios contestatórios, redes alternativas e meios públicos com autonomia, claro que existe outra verdade. Mas há uma tendência enorme que obedece a um poder”.

A fragilidade recrudesce a guerra midiática

Eekhout destacou que situações de vulnerabilidade, como a vivida na madrugada na última segunda, acentuam a guerra midiática que se vive no país. “Quem pretende desestabilizar gera um clima de pânico”, afirmou. Neste sentido, enfatizou que o Poder Executivo “fez um esforço para manter a confiança, a possibilidade de viver em união, em solidariedade e de garantir o povo venezuelano a maior atenção possível. Toda a política do governo bolivariano foi dirigida, justamente, a isso”.

Da mesma forma, disse que o debate político desenvolvido nos últimos tempos “foi acompanhado pela maioria do povo venezuelano. Desde 1989, mesmo desde antes, o povo decidiu as mudanças e buscou um espaço de vida que lhe permitiu reconhecer e ser incluído dentro do cenário político venezuelano. Isso foi o 27 de fevereiro de 1989, e os múltiplos intentos que se fizeram até que em 1998 ganha a proposta bolivariana, uma proposta de mudança. O que aconteceu é uma enorme resistência de setores que querem manter privilégios do passado, que não crêem em um Estado de Direito e igualdade”.

Por último, considerou que a Venezuela “é o país com mais liberdade de expressão do mundo. Aqui se diz e se disse absolutamente tudo contra qualquer ação do governo. Ainda que possa ser boa, ainda que todo mundo possa aplaudir, também é desclassificada e atacada”.

Tradução: Jonas Valente.

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