Jornalistas protestam contra produção para mais de um veículo

Durante a gestão de Eugênio Bucci à frente da Radiobrás (2003-2007), a empresa passou a estabelecer como prática na Agência Brasil e nas emissoras de rádio da empresa a produção de notícias para mais de um veículo. Assim, a chamada "cobertura multimídia" contava com repórteres da agência gravando matérias para as rádios e vice-versa. O acúmulo de funções foi contestado já na direção de Bucci, mas trabalhadores e dirigentes não chegaram a um acordo a respeito.

Após a transformação da Radiobrás em Empresa Brasil de Comunicação (EBC) e a mudança do comando do jornalismo do órgão, a diretriz foi mantida. A crítica dos repórteres também continuou e aqueles que se recusavam a produzir notícias para dois veículos começaram a sofrer ameaças de punições. O acirramento das tensões por conta da contestação dos repórteres chegou ao seu ponto máximo até agora no início desta semana.

Após reunião no dia 27, os jornalistas da Agência Brasil em Brasília decidiram por uma paralisação das atividades multimídia a partir da manhã de terça-feira (29) até que fossem "feitas as adequações remuneratórias e a instrumentalização de regras claras sobre os momentos e condições nas quais este tipo de atividade será executada, e com a contratação de mais profissionais exclusivos para as rádios". Seus pares em São Paulo aderiram à deliberação, o que não ocorreu na redação do Rio de Janeiro.

Pauta de reivindicações

A direção reagiu e reuniu-se ainda na terça-feira com os funcionários. A diretora de jornalismo da EBC, Helena Chagas, condenou o movimento, ouvindo em resposta duras considerações sobre o acúmulo de funções e a falta de critérios e condições para exercer a “cobertura multimídia”. Um dos pontos mais tensos do encontro foi a ameaça de que a adesão à paralisação poderia ser repreendida com uma advertência formal por parte da empresa.

Ao final, os jornalistas decidiram interromper a paralisação e se comprometeram a apresentar uma proposta em até uma semana. A direção de jornalismo também assumiu compromisso de dar resposta ao documento que será elaborado pelos trabalhadores em igual prazo.

A proposta deverá detalhar em que casos a acúmulo de funções poderá ser admitido e quanto será a remuneração adicional de um jornalista que produzir matérias para mais de um veículo. A Comissão de Funcionários da EBC foi procurada mas preferiu não adiantar pontos da proposta por ela estar ainda em formulação. A direção da EBC também foi procurada, mas até o fechamento desta matéria não se pronunciou oficialmente a respeito.

Isonomia salarial

No texto que anunciou a paralisação, divulgado nesta segunda-feira, a Comissão de Funcionários da EBC listou também outras reivindicações que deverão entrar na pauta de negociação entre funcionários e a direção da empresa. Uma delas é a melhoria de condições de infra-estrutura. Na sede em Brasília, a equipe de rádio funciona em uma sala no subsolo considerada de condição altamente insalubre.

Outra bandeira forte dos trabalhadores é a "isonomia salarial e de tratamento dentro da empresa para profissionais que exercem funções semelhantes, tenham eles vínculo permanente ou não com a estrutura administrativa". Por conta da contratação de vários jornalistas durante a transição ter sido feita de maneira excepcional às regras tradicionais da administração direta, os funcionários reclamam da existência de fortes disparidades salariais.

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