Proinfo pode fomentar o surgimento de Cidades Digitais

Ele já existia há dez anos, chamado de Programa Nacional de Informática na Educação. Mas somente quando mudou de nome, passando a ser conhecido como Programa Nacional de Tecnologia Educacional (Proinfo Integrado), é que começou a fazer mais diferença na vida de escolas e professores de todo o Brasil. Foi na mesma época em que seus três pilares ficaram mais bem definidos, integrando formação de professores, produção e fornecimento de conteúdo e a instalação de laboratórios de informáticas nas escolas públicas urbanas e rurais do País.

Atualmente, o programa, tocado pela Secretaria de Educação a Distância (Seed) do Ministério da Educação (MEC), já capacitou presencialmente 100 mil professores, e a meta é alcançar a marca de 300 mil educadores treinados, em todas as cidades brasileiras, até meados de 2009. Laboratórios de informática chegarão a todas as escolas públicas urbanas e rurais do Brasil. Além disso, foi lançado o Portal do Professor, repositório de recursos, materiais e sugestões para professores, respondendo, assim, à necessidade de conteúdo.

Essa universalização do trinômio capacitação — laboratórios — conteúdo aproxima cada vez mais o Proinfo Integrado das Cidades Digitais. "Um fomenta o outro", define José Guilherme Moreira Ribeiro, diretor de infra-estrutura em Tecnologia Educacional da Seed. "As Cidades Digitais começam por meio de um fomento. E vemos que isso muitas vezes acontece por causa de um aparentemente simples laboratório de informática", avalia.

Segundo ele, como o Proinfo Integrado vem instalando laboratórios em todas as escolas, a cultura de muitas pessoas e cidades vem mudando. "Ao começarem a utilizar os recursos de tecnologia, as pessoas passam a ver a necessidade da internet. Alguns prefeitos enxergaram isso e muitas Cidades Digitais podem ter saído daí", acredita. "E, nas cidades digitais que já existiam, os laboratórios do Proinfo encaixam-se perfeitamente, atendendo inclusive a demandas de mais pontos de acesso", completa.

A relação das Cidades Digitais com a área de educação (assim como com a da saúde) é sempre forte. A maioria dos municípios que têm projetos de digitalização já interliga ou tem planos de interligar suas escolas. Iniciativas como as de Tiradentes e de Barbacena, ambas em Minas Gerais, nasceram praticamente dentro e em função da área educacional. "Eu diria que temos aí dois exemplos de Cidades Digitais que surgiram em torno da educação", diz o diretor da Seed.

Aprovação

A iniciativa em três pilares do Proinfo Integrado vem passando em um teste difícil: a aprovação dos professores. De acordo com o secretário para Assuntos Educacionais da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Estabelecimento de Ensino (Contee), José Thadeu de Almeida, "esses componentes [capacitação, laboratórios e conteúdo] são complementares e, portanto, se bem aplicados, têm um potencial significativo para o processo de qualificação do ensino".

Ele ressalta que a capacitação de pessoal para aproveitar os laboratórios escolares de informática é uma oportunidade. "Considerando a realidade atual, em que encontramos muitos dos laboratórios de informática já instalados mal ou subutilizados, a inclusão da formação profissional e de conteúdos digitais poderá significar um importante salto de qualidade", avalia.

A presidenta da União Nacional de Dirigentes Municipais de Educação (Undime), Justina Iva de Araújo Silva, avalia a condução atual do Proinfo Integrado como "extremamente positiva". "De fato, simplesmente repassar equipamentos, sem associar formação e conteúdos, tornaria o processo incompleto. Seria, portanto, insuficiente para os objetivos da tecnologia a serviço da educação", acredita.

Ela lembra que é importante incorporar tecnologias nas escolas, para refletir o mundo cada vez mais tecnológico. "Os alunos da rede pública raramente têm acesso a essas tecnologias em casa. Se não têm também na escola, ficam sem condições de inserção nesse mundo", acredita. Justina elogia ainda a aproximação que o Proinfo Integrado fez com as secretarias municipais de educação, já que antes o contato era mais intenso com as secretarias estaduais.

De fato, é através da Undime que o Proinfo Integrado vem sensibilizando os professores mais facilmente para as capacitações que vêm acontecendo semanalmente em todo o País. As mais recentes delas foram em Florianópolis (SC) e Natal (RN), em final de agosto e início de setembro, respectivamente. Segundo Ribeiro, da Seed, elas estão estruturadas em duas vertentes: antes, alfabetização digital e, depois, aplicação das tecnologias nas aulas.

"Na primeira etapa, o professor e a professora perdem o medo do computador. É um curso de 40 horas no qual educadores ganham ambiência com recursos tecnológicos e com o uso da internet, além de aprenderem sobre o sistema Linux Educacional, software livre criado especialmente para as escolas públicas brasileiras", conta o diretor da Seed. "Onde tem um laboratório de informática e um grupo de 20 professores, estamos lá", brinca ele.

A segunda vertente, com 100 horas de curso, trata de orientar professores a aplicarem o que aprenderam e outros recursos educacionais tecnológicos nas suas próprias aulas. "Ou seja, depois que os professores perderam o medo, ensinamos como aplicar as tecnologias que aprenderam junto a seus alunos", resume Ribeiro. "E fornecemos conteúdo para isso", diz. É possível ter ainda uma terceira vertente, dependendo da localidade, com mais 40 horas dedicadas à complementação local e elaboração de projetos.

Portal do Professor

É na questão do conteúdo que entra o Portal do Professor. Inteiramente dedicado a educadores, reúne uma série de recursos tecnológicos que eles podem aplicar no seu dia-a-dia. Existem sugestões de roteiros de aulas inteiras, minuto a minuto, incluindo que vídeo mostrar, que atividades posteriores fazer com os alunos e outras dicas. Em outras palavras, é ali que o professor encontra o conteúdo para utilizar através das tecnologias que aprendeu nas capacitações. Para o futuro, o plano é estimular os professores a levarem cada vez mais as tecnologias para a sala de aula, não se restringindo aos laboratórios. Para isso, está sendo construído o projetor interativo, idéia do MEC em execução por pesquisadores das universidades federais de Pernambuco (UFPE) e de Santa Catarina (UFSC). "Trata-se de um equipamento que conjuga todas as tecnologias em uma só: DVD, data show, computador e internet. Com a vantagem do preço ser baixo", conta José Guilherme Moreira Ribeiro, diretor de infra- estrutura em Tecnologia Educacional da Seed. Segundo ele, em outubro, as duas universidades já apresentarão uma primeira versão do equipamento para o ministério.

Tudo isso prepara o campo para a chegada da internet a todas as escolas públicas urbanas até 2010, possibilitada por acordo do Ministério das Comunicações com as concessionárias de serviços de telecomunicações. Para José Thadeu de Almeida, da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Estabelecimento de Ensino (Contee), essa perspectiva faz "ressaltar o papel da formação e do aproveitamento correto de tão importante ferramenta". Para ele, a chegada da internet a todas as escolas urbanas é um elemento a mais na formação de uma nova realidade educacional. "Colocar à disposição da comunidade escolar esses laboratórios, de forma orientada, ampliaria o papel social da escola, daria maior possibilidade de acesso para além dos alunos e trabalhadores em educação, o que permitiria melhor acompanhamento das famílias no desenvolvimento intelectual dos estudantes", diz, revelando algumas das possibilidades comuns em Cidades Digitais.

"Dentro dessa realidade de disseminação das tecnologias de informação e comunicação (TICs) que desejamos fomentar, o advento da banda larga nas escolas vai facilitar", prevê o diretor da Seed, para quem esse cenário vai servir para estimular não só as atividades do Proinfo e seus laboratórios, mas também a formação de novas Cidades Digitais a partir daí.

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