Operadoras ‘nanicas’ acreditam que teles não terão interesse em concorrer no interior

Nordestino "arretado", José Siderley Menezes desafiou as autoridades quando instalou, há 16 anos, uma das primeiras operadoras de TV a cabo do país, a Sidy's TV, na pequena Currais Novos, no Rio Grande do Norte. Por não ter autorização do governo, foi perseguido e teve sua empresa fechada duas vezes pelo Ministério das Comunicações.

Menezes comprou uma concessão, por R$ 85 mil, para regularizar seu negócio, em 2001. Na sua clientela há gente tão pobre que paga a mensalidade com o Bolsa Família.

A Sidy's é praticamente a única fonte de entretenimento em Currais Novos, onde a TV aberta só chega por parabólica. O que mais atrai os moradores é o canal com programação local, que mostra festas, artistas e assuntos da cidade.

Pequenas empresas de TV a cabo, como a Sidy's, sobrevivem em várias cidades. No Estado de São Paulo há o exemplo da TVC Santo Anastácio. Fica na cidade de Santo Anastácio e foi inaugurada há 20 anos pelo monsenhor José Antônio de Lima. O religioso, tal como Menezes, desafiou as autoridades e sua TV também esteve fechada por determinação do antigo Dentel.

O que será destas pequenas operadoras diante da pressão das companhias telefônicas sobre o mercado de televisão por assinatura? Alegam as teles que a convergência tecnológica permite que a mesma infra-estrutura de cabos ofereça televisão, telefonia e internet e que os clientes em todo o mundo querem os serviços no mesmo pacote.

Haverá futuro para os pequenos independentes nesse cenário? Fiz a pergunta a José Antônio Lima e a Siderley e, para minha surpresa, eles estão otimistas. Não acreditam que as gigantescas teles consigam superar o diferencial que eles têm, que é o conteúdo local, os programas elaborados pela própria comunidade. "As telefônicas não vão gastar dinheiro numa cidade como a minha. O interesse delas é pelas grandes cidades", opina Siderley. O monsenhor é da mesma opinião.

Os dois estão investindo dinheiro para oferecer acesso à internet em banda larga, por suas redes de cabo, e sonham em oferecer telefonia pela internet – a Voip. "Sou pequeno, mas sou atrevido", diz Siderley.

Enquanto os pequenos sonham com o futuro, as grandes operadoras de TV a cabo estão sendo adquiridas pelas teles. A Embratel tem grande participação acionária na Net, que engoliu duas importantes empresas do setor, Vivax e Big TV, de 2006 para cá. A Telefônica comprou parte da TVA, do grupo Abril, e a Oi/Telemar adquiriu a Way TV, de Minas Gerais. O avanço das teles só não é maior porque está em vigor a Lei da TV a Cabo, que as proíbe de controlar operações de TV a cabo dentro de sua área de concessão de telefonia. Mesmo assim, a Oi comprou a Way TV. A Câmara discute um projeto para revogar a Lei da TV a Cabo, liberando as teles para explorar o serviço.

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