Acionistas tentam chegar a consenso para fechar operação

Quem observa os passos mais recentes da Brasil Telecom (BrT) pode até ficar com a impressão de que não se trata de uma empresa cujo controle está à venda. Com a estréia de um novo posicionamento institucional e o anúncio de um novo passo na reestruturação de seu negócio de internet, a operadora dá ares de normalidade à sua rotina. 

Enquanto isso, os acionistas continuam tentando aparar as arestas e chegar a um consenso para fechar a operação da qual faz parte a venda da BrT à Oi (ex-Telemar). As negociações prosseguem, mas os controladores das duas companhias – que chegaram a apostar no fechamento da transação antes do Carnaval – agora já evitam falar em prazo. 

O discurso de interlocutores das duas partes mudou. De fator de dificuldade, o Opportunity passou a ser apontado como fator crucial para a concretização da venda. Até há poucos dias, fontes ligadas aos acionistas da BrT diziam que vender a empresa dependeria exclusivamente da vontade dos fundos de pensão e do Citigroup e que Daniel Dantas poderia até dificultar a transação, mas não impedi-la. 

Agora, alguns sócios já começam a dizer que, se o Opportunity quiser, pode até levar a um adiamento do negócio – assim como postergou sua saída do comando da BrT com ações judiciais. 

Em meio a um cenário como esse, a administração da Brasil Telecom procura mostrar que a rotina permanece inalterada. 

Anteontem à noite, a empresa colocou no ar uma nova campanha publicitária, que marca a reformulação de sua imagem institucional. "Queremos nos posicionar mais como uma empresa que oferece tudo aquilo de que os consumidores precisam em termos de telecomunicações", disse ontem ao Valor o diretor de marketing da operadora, Dalton Hayakawa. 

A campanha, feita pela agência de publicidade Leo Burnet, é protagonizada por clientes da própria BrT e enfatiza serviços, em, vez de preços. Os assinantes dão testemunhos sobre o papel dos serviços de telefonia em suas vidas e, numa fase seguinte, divulgarão pacotes de produtos que a operadora lançará. 

Segundo Haykawa, a competição imposta pelas empresas de TV por assinatura na oferta de telefonia e banda larga e a proximidade da implantação da portabilidade – regra que permitirá que um cliente mude de operadora carregando com ele o número de telefone – são fatores que estão por trás dessa mudança de foco. 

Em paralelo, o conselho de administração da Brasil Telecom aprovou nesta semana a reestruturação societária de seus negócios de internet, dando prosseguimento a uma estratégia que teve início há mais de dois anos. As empresas iG, IBest e BrTurbo serão unificadas, após a criação do Internet Group do Brasil. A marca e a administração dos portais já haviam sido integrados. Agora, trata-se de formalizar as mudanças do ponto de vista legal, disse o vice-presidente financeiro da BrT, Paulo Narcélio. 

Esse passo deverá encerrar a reorganização da área de internet. Segundo o executivo, daqui para a frente os objetivos da operadora serão melhorar custos e atrair mais receitas publicitárias para o portal. 

Alguma relação entre essa reestruturação e as conversas com a Oi? De acordo com Narcélio, não. "A orientação do conselho de administração é tocar a companhia normalmente", afirmou o executivo. "Além do mais, não existe nada formalizado nem decidido." 

O projeto de unir Oi e BrT é antigo. Porém, as conversas esquentaram no início deste ano. O estopim foi uma proposta de pulverização de seu controle acionário que a Brasil Telecom estava pronta para lançar no mercado. Se a operação fosse bem-sucedida, tornaria muito difícil, para a Oi, adquirir a empresa. Com isso, os controladores da antiga Telemar propuseram adquirir o controle da BrT por algo entre R$ 4,5 bilhões e R$ 5,2 bilhões. A oferta foi bem-recebida e a expectativa era de que bastariam algumas semanas para que um memorando de entendimentos fosse assinado. 

Entretanto, o dia-a-dia das negociações revelou-se muito mais complexo. Vencidos diversos obstáculos, a questão dos litígios que opõem Citigroup e fundos de pensão ao Opportunity tornou-se um dos pontos mais sensíveis nas últimas semanas. Retirá-los poderia despertar questionamentos legais de acionistas e cotistas. O Citi não está disposto a desistir da ação que move contra Dantas em Nova York, onde pede indenização de US$ 300 milhões. As fundações também têm processos pendentes na Justiça brasileira e a própria BrT quer um ressarcimento de R$ 521 milhões por supostos prejuízos que teriam sido causados à operadora sob a gestão de Dantas. 

Outro motivo é o tamanho da perda fiscal que os controladores da BrT teriam se o negócio fosse fechado à revelia do Opportunity – na casa de R$ 1 bilhão. Além disso, o negócio emperra no fato de a complexa cadeia societária da BrT ter acordo de acionistas em praticamente todos os níveis. O Opportunity é parte desses acordos e ainda não há um entendimento definitivo da Justiça sobre o poder de Dantas, por conta de um contrato que obrigava os demais controladores a acompanhar seu voto em decisões da empresa.

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