Confusão na TV digital afasta consumidores

Lançada há três meses, a TV digital ainda confunde o consumidor. As emissoras e a indústria fizeram uma campanha para o lançamento em 2 de dezembro, na Grande São Paulo, mas, mesmo assim, o desconhecimento segura o mercado. “Tem muita gente que compra uma antena parabólica porque não recebe um bom sinal analógico, quando poderia comprar um set-top box (também chamado de conversor), que custa quase o mesmo preço”, afirmou o professor Gunnar Bedicks Jr, da Universidade Mackenzie. “Eles não sabem que podem ligar seu set-top box na TV analógica, e ter uma imagem melhor.”

Um estudo do Mackenzie mostrou 56% das residências na Grande São Paulo recebem um sinal analógico ruim. A qualidade de recepção poderia ser um argumento de venda importante para a indústria e o varejo, mas a mensagem, até agora, tem se concentrado na alta definição, que depende de televisores de alto custo, com telas de plasma ou cristal líquido (LCD).

No lançamento, em dezembro, houve problemas de equipamentos fora da norma, que tiveram que ser modificados pelos fabricantes. Um importador, por exemplo, trouxe televisores portáteis que não conseguiam reproduzir o som do sistema brasileiro. Os programas de TV ficavam mudos.

“Estamos remontando o grupo que reúne as emissoras e a Eletros (associação de fabricantes), para lançarmos uma campanha de sustentação”, explicou Roberto Franco, presidente do Fórum do Sistema Brasileiro de TV Digital Terrestre. A idéia é, além de retomar a campanha publicitária, trabalhar com varejistas, instaladores e antenistas. A intenção é lançar a campanha o mais rápido possível, até o começo de abril.

A TV digital oferece som e imagens melhores que a analógica. Ela também permite mobilidade e interatividade. A mobilidade está no ar, mas os celulares que recebem TV aberta ainda não estão disponíveis. A interatividade depende do software Ginga, desenvolvido no Brasil, que não está presente nos equipamentos atualmente no mercado. Quem vê a TV aberta e não quer trocar de aparelho, pode comprar um conversor, que custa a partir de R$ 500.

Em dezembro, foram vendidos cerca de 48 mil equipamentos, segundo estimativas da indústria. De lá para cá, houve anúncios de conversores de R$ 180, que não chegaram ao mercado. “Não tenho nenhum número sobre o mercado”, disse Franco. “Mas ninguém esperava um estouro de vendas.”

Ele destacou que em outros mercados a introdução da TV digital não foi rápida. O Japão ficou quase três anos com transmissões experimentais. Na Inglaterra, uma das empresas quebrou e o governo teve que modificar o modelo de negócios. Nos Estados Unidos, onde o sinal analógico vai ser desligado em 17 de fevereiro de 2009, o governo está oferecendo até dois cupons de US$ 40 para que as pessoas que ainda dependem do sinal analógico possam migrar. Lá, existem conversores a partir de US$ 50. “Na Europa também foi dado subsídio”, afirmou Franco.

Um estudo da Nielsen, divulgado este mês, mostrou que 13 milhões de residências americanas não estão prontas para a TV digital. Outras 6 milhões de residências tinham aparelhos de televisão, que não eram os principais, que só recebiam sinal analógico. Durante o período de transição, as emissoras veiculam os sinais analógico e digital, simultaneamente. Nos EUA, o sinal analógico será desligado no ano que vem. No Brasil, a previsão é 2016.

A próxima cidade a receber a TV digital deve ser o Rio de Janeiro, mas as emissoras não ainda não conseguiram fechar uma data única de lançamento, como aconteceu em São Paulo. A perspectiva é que as primeiras transmissões ocorram em abril ou maio. Mas a maioria das emissoras deve começar somente no segundo semestre.

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