Net tira canais do ar e surpreende assinantes

A maioria dos clientes da operadora Net se surpreendeu quando seus aparelhos de televisão deixaram de receber as transmissões da maioria dos canais. Isso aconteceu há quase três semanas, e não se trata de defeito técnico – foi uma decisão unilateral da empresa, que não se preocupou em alertar os consumidores.

Foram mantidos na grade da concessionária apenas os canais de TV aberta, porque são de transmissão obrigatória. Curiosamente, foram preservados também os sinais do canal Futura e da Globonews, que pertencem à Globosat, do mesmo grupo empresarial da Net. Todos os outros canais foram retirados do ar, por tempo indeterminado.

Com isso, a Net procedeu a uma quebra de contrato deliberada e ardilosa, para concretizar um ambicioso esquema de marketing, que visa à venda dos novos planos de transmissão digital, muito mais caros do que os que estão em vigor.

Pirataria

A intenção principal, por óbvio, é forçar a elevação do faturamento da empresa. Na Agência Nacional de Telecomunicações, porém, a justificativa da empresa seria a necessidade de combater a pirataria, através de uma nova decodificação dos sinais.

O argumento, no entanto, é ilusório, porque a nova codificação não evitará a pirataria, já que basta a instalação de um simples aparelho decodificador para conseguir retransmissão do sinal para quantos aparelhos de televisão se desejar, como acontece nas ligações ilegais em favelas e bairros populares.

O principal resultado até agora obtido foi a instauração do caos total na concessionária. O atendimento por telefone agora demora até dez minutos, quando não mais, enquanto o cliente fica ouvindo a autopropaganda da empresa, com os novos planos de TV digital, os próximos filmes a serem exibidos, etc.

Quando afinal consegue falar com algum atendente, o consumidor é informado de que a Net terá de instalar um decoficador no aparelho de TV, para que volte a receber todos os canais contratados. Ou então comprar um novo plano de TV digital, que tem acesso livre a todos os canais.

Para tranqüilizar o consumidor que não aceita um plano mais caro, o atendente do telemarketing da Net informa que será agendada uma visita de um técnico para proceder a instalação do novo codificador, com data certa e hora marcada. Mas lamenta que a demanda seja tão grande que ainda não há a menor perspectiva de agendar a tal visita.

Marketing

Toda essa tumultuada situação é para viabilizar o novo plano de marketing comercial da Net, que tenta acelerar a venda de novos planos de TV digital, anunciados insistentemente nos canais da Globosat e válidos para todas as praças servidas pela operadora, embora até agora somente haja transmissões digitais em São Paulo.

A propaganda massificada pela Net ardilosamente omite o fato de que os sinais da TV digital começaram a ser emitidos exclusivamente em São Paulo, a partir de 2 de dezembro. Em nenhuma outra praça existe hoje a transmissão digital que está sendo comercializada.

A operadora omite também o fato de que, para ser captada a transmissão digital, é indispensável comprar um novo aparelho de TV, com a tecnologia adequada. Caso contrário, o consumidor terá de adquirir um equipamento conversor.

Equipamento

O conversor mais barato, para aparelhos normais de TV, não sai por menos de R$ 500, o equivalente a uma TV de 26 polegadas, embora o ministro das Comunicações, Hélio Costa, tivesse garantido que o preço do equipamento não chegaria ao mercado brasileiro com preço superior a R$ 200. Os aparelhos mais sofisticados, com tela de plasma ou cristal líquido, exigem a instalação de um conversor mais sofisticado, que custa entre R$ 700 e R$ 1,2 mil.

Mas a publicidade enganosa da Net omite essas informações fundamentais, fazendo o consumidor acreditar que seu aparelho de TV passará a receber transmissão digital mediante a simples aquisição dos novos planos da operadora, que, repita-se, custam muito mais caros.

O mais impressionante é que a Net, que massifica permanentemente seus assinantes com campanhas publicitárias, não tenha se interessado emalertá-los para a cassação dos sinais da maioria dos canais, para que, ordenadamente, pudessem providenciar a instalação dos novos decodificadores.

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