Campus Party e o Aquário da Mídia

Quando você entra no salão principal do Campus Party após subir uma escada rolante, avista, de um lado, pequenos auditórios improvisados, onde rolam apresentações, palestras, debates, e, do outro lado, bancadas brancas e cadeiras de estofado azul, nas quais jovens de todas as idades se amontoam com laptops enfrente os olhos. Em lugares estratégicos, empresas marcam presença com seus estandes.

No meio do salão, um espaço semelhante a um aquário, posto que todas as suas paredes são de vidro, reproduz parte do cenário exterior, com a diferença de que nela há, além de bancadas brancas e cadeiras, alguns computadores de mesa.

Se você se inscreveu no Campus Party, pode circular à vontade pelos auditórios, ocupar um ponto da bancada, explorar a conexão a cabo de 5 mega de velocidade, ter os cabelos pintados pelo Flickr, mas não pode entrar naquele aquário, porque ele é acessível apenas para quem carrega consigo uma credencial especial de imprensa.

Para mim, esse aquário da mídia e para a mídia, também conhecido como sala de imprensa, dentro do Campus Party, é a metáfora perfeita da comunicação nos dias atuais. Uma imagem do choque entre o velho e o novo mundo.

Historicamente, a mídia tradicional (provedora de informação) se relaciona com o público através de um vidro imaginário, uma idefectível quarta parede que delimita quem deve produzir e fazer circular e quem deve apenas consumir conteúdos informativos e culturais. Dizem: chegue perto, sinta-se próximo, mas não tente entrar, porque o espaço é cercado por vidros e há controle na porta. Esse é o mundo daqueles que habitam a parte de dentro do aquário, a soldo de seus chefes – os proprietários dos meios de comunicação.

A internet, no entanto, derrubou esse vidro, anulou a quarta parede. Na rede mundial, entra quem quer, como quer, do jeito que quer. Não há separação entre quem produz e quem consome conteúdos. Todos são um e todos. É a grande cauda longa que reorganiza a economia mundial. Os habitantes desse mundo ocupam as bancadas brancas do Campus Party, do lado de fora do aquário, e produzem mais e melhor informação do que seus “colegas” da credencial especial. É o terreno dos blogs, mini-blogs (Twitter), dos vídeos de bolso, das TVs Web, dos podcasts, dos videocasts…

Parece até que a organização do Campus Party escolheu estrategicamente o local para construir o aquário da mídia. Bem ao centro da salão, eles estão cercados pela galera da nova comunicação, estão sitiados em sua redoma hermética e anacrônica, que prevê divisões e barreiras onde deve haver comparilhamento e pontes.

Do lado de fora do aquário, explodem os novos caminhos da comunicação contemporânea, um mundo de tecnologias a serviço do bem comum, da liberdade de expressão, do direito à comunicação.

Para entender melhor o que é o Campus Party, Sérgio Amadeu explica

O que é o Campus Party? Podemos dizer é um encontro presencial das comunidades que habitam a Internet. É um espaço incomum onde comunidades, que dificilmente estariam juntas, reuniram-se nesta semana para trocar idéias, fazer novos amigos e conhecer os avanços das tecnologias. O mais interessante é que neste Campus Party Brasil, conseguimos reunir entretenimento com aprendizagem em uma programação com mais de trezentos conteúdos. Trata-se de um momento típico da cibercultura, pós-industrial. As pessoas estão se divertindo enquanto ensinam, aprendem e compartilham conhecimento. Outra característica vísivel são as improvisações e reconfigurações que ocorrem no evento, desde o lançamento, quando Gilberto Gil cantou ao som de uma mesa digital que emitia sons até a festa a fantasia que a comunidade de software livre fará a meia noite desta quarta-feira.

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