Coordenador dos telecentros volta atrás e diz que software livre é melhor

A Prefeitura de São Paulo havia anunciado que estava com tudo pronto para pôr o Windows Vista nos telecentros de São Paulo. Agora, dois meses depois da assinatura de um polêmico protocolo com a Microsoft, a mesma Prefeitura diz que 'houve um mal entendido' e que o Windows deve ser instalado, mas vai demorar 'muito tempo'.

Na semana passada, um debate colocou frente a frente o atual coordenador dos telecentros na cidade, Waldemar Ferreira Neto, e o responsável pela implementação dos centros na cidade, na gestão Marta Suplicy, Sérgio Amadeu, que é defensor do software livre. O evento foi realizado pela ONG Nossa São Paulo a partir de uma reportagem do Link, em outubro, relatando a polêmica na instalação do Windows nos pontos de acesso. Até agora, esses locais só usavam programas de código aberto.

Na época, Ferreira Neto disse ao Link que, em 2008, seriam inaugurados 122 novos telecentros. 'Eles já terão Windows em todas as máquinas', disse. 'E iremos ter uma máquina separada com Vista e softwares para deficientes em todos os pontos.' A justificativa era que 'não há bons programas livres para deficientes e os jovens precisam se qualificar, pois a maioria das empresas usa o Windows.'

Na semana passada, porém, tudo mudou: 'Não tenho dúvidas de que o software livre seja melhor', disse Ferreira Neto, para espanto de todos. 'Só para deficientes é que vamos adotar o Vista, em um PC por telecentro. Meus técnicos disseram que o software proprietário é melhor para esse público. Mas tenho certeza de que isso mudará logo.'

Segundo ele, nessas máquinas para deficientes, também haverá software livre. Os PCs devem chegar a todos os centros em 2008, disse ele, que também reduziu o número de pontos a serem inaugurados em 2008. Agora, serão só 70, ao invés de 122.

Quanto à qualificação de jovens para o trabalho, Ferreira Neto também tem nova opinião. 'Há quem defenda o Windows. Mais de 80% usa ele. Mas não vejo problemas em aprender no Linux. Todo software é válido.'

Por que essa mudança de discurso? 'Talvez tenha havido ou mal entendido ou estávamos despreparados na época', disse Ferreira Neto. Ele conta que está no cargo há apenas cinco meses. 'Só aí conheci o software livre. Sempre usei o Windows', disse.

Em outubro, quando explicou ao Link como seria a parceria com a Microsoft, o coordenador disse que a empresa iria doar o software. A Prefeitura arcaria com os custos da atualização dos PCs, que precisariam ser mais robustos. O gasto estimado seria de R$ 717,5 mil. O software livre não seria abandonado. O usuário poderia escolher entre Windows ou Linux.

A notícia reverberou em sites de software livre com promessas de 'lotar a caixa postal' da Prefeitura, em protesto. 'Recebi e-mails com críticas, mas também com elogios', disse Ferreira Neto. 'Ainda queremos ter o Windows em todos os pontos. É uma questão de democracia. As pessoas devem poder escolher se querem usar software livre ou não. Mas isso ocorrerá daqui a uma, duas gestões', disse.

No debate, Sérgio Amadeu fez um alerta: 'Temos de manter a independência, e não ceder ao monopólio, que quer provar que não é possível ter um projeto de software livre', disse. 'Se querem usar os telecentros para 'adestrar' os jovens, não é só doar as licenças, eles deveriam é pagar.' Ferreira Neto rebateu: 'Acredito no bom coração das pessoas, das empresas. No capitalismo, há formas de crescer e, ainda assim, ajudar o próximo.'

Procurada, a Microsoft enviou uma nota: 'A Microsoft defende o direito de escolha. A empresa realiza há anos estudos de interoperabilidade entre padrões para oferecer, cada vez mais, a possibilidade de utilização conjunta de soluções na plataforma Windows e Linux.'

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