Vint Cerf, pai da internet, quer governos longe da gestão da web

Rio de Janeiro – Em entrevista , Vint Cerf diz que ICANN se aproximará mais de países, mas que existem problemas mais urgentes, como IPv6. Com a veemência do responsável por liderar o quadro de diretores do alvo de recentes questionamentos, o pesquisador Vint Cerf, criador do protocolo TCP/IP, afirmou em entrevista exclusiva ao IDG Now! que não vê necessidade em descartar o ICANN em nome de outra entidade.

Atualmente no cargo de evangelista chefe do Google ("a média de idade da empresa deve ter crescido um ano com minha contratação", brinca ele), o pesquisador norte-americano está no Rio de Janeiro, onde participa do Internet Governance Forum 2007, organizado pela Organização das Nações Unidas.

O histórico amparo fornecido pelo Departamento de Comércio dos Estados Unidos levantou questionamentos sobre a influência norte-americana no órgão que regula padrões e tem obrigações técnicas na internet mundial em alguns debates do evento.

Na abertura, o ministro da Cultura, Gilberto Gil, chamou a grande rede de "transnacional", enquanto Sha Zukang, subsecretário geral para assuntos econômicos e sociais da ONU afirmou que o ICANN funciona muito bem, mas não acha natural sua proximidade com o governo norte-americano, o que levou o órgão a divulgar um FAQ respondendo a integração que tem com os EUA.

"A internet atual é 99% operada pela iniciativa privada, que oferece infra-estrutura, mas precisamos ter retorno dos stakeholder, com governos, sociedade civil e usuários em geral oferecendo opiniões e visões sobre políticas internas", explica Cerf, citando a palavra de ordem do IGF 2007: multistakeholder.

Na tradução literal para português, o termo designa uma administração onde vários participantes são responsáveis por decisões, ou pedaços da administração. As discussões sobre o papel futuro do ICANN parecem se encaminhar para uma participação cada vez maior de outros países, que hoje formam o Governmental Advisory Committee, em que representantes de 109 nações debatem alterações nos regimentos do ICANN e sugerem mudanças ao quadro de diretores.

"Se fosse recomeçar para inventar um novo grupo de internet com as mesmas implicações técnicas do ICANN, apareceria a mesma coisa, já que as mesmas pessoas o formatariam. Já passamos por isto tanto em 1998 como em 2003", argumenta, destacando ainda que o regimento interno do ICANN obriga revisões críticas da entidade periódicas para avaliar como está seu funcionamento.

"Não conheço outra organização além da ONU que faça este autocrítica", afirma, emendando que o ICANN tem restrições relacionadas à sua própria natureza de regulamentação. "A estrutura do ICANN não tem autoridade para lidar com todos os problemas da web, como atividade ilegal, fraude e abuso. Os governos terão que fazer parte deste debate por que o cumprimento da lei é parte da obrigação deles, não?". 

Antes de conseguir encontrar  um modelo de estruturação para um órgão que não depende nem da iniciativa privada nem dos governos, a solução seria aproximar ainda mais o comitê com representantes internacionais do quadro de diretores sem, no entanto, criar "eleições", aponta Cerf.

Até lá, diz o pesquisador, o mercado de internet terá que lidar com problemas ainda mais sérios e urgentes, como a transição do protocolo IPv4 para o IPv6 que, por não serem retrocompatíveis, terão que rodar simultaneamente até que haja a total conversão dos endereços para o segundo.

Outro obstáculo enfrentado pela entidade é a estréia comercial do sistema Internationalized Domain Names (IDN), tecnologia cuja introdução ensaiada em 2003 falhou "por serem muito inclusivos". Ao permitir que todos os caracteres de línguas não derivadas do latim como chinês, japonês, grego e árabe fossem usados como domínio, a semelhança entre alguns deles confundiam e afastava usuários, explica Cerf.

"Agora, vamos selecionar e introduzir 16.000 caracteres e estamos analisando qual deles são seguros ou não", afirma. O cuidado não é aleatório e, segundo Cerf, depõe bastante pela qualidade do trabalho do ICANN, o que inviabiliza ainda mais a hipótese de fechar a entidade e buscar uma nova solução a partir do zero. "Estamos operando (a internet) há 8 anos e a rede nunca entrou em colapso", diz.

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