Enquanto faltam canais para uns, sobram para outros

Um espectro ronda a televisão brasileira e, infelizmente, não se trata daquele outro, anunciado em 1848. Nos referimos aos restos mortais de uma rede de televisão: a CNT.

Fundada em 1979 como TV Tropical, em Londrina, a emissora cresceu em 1980, quando adquiriu a TV Paraná da massa falida dos Diários Associados. Até 1992, contudo, a emissora era uma simples afiliada da Rede Bandeirantes. Mas, foi quando a “sorte” lhe bateu às portas.

Seu dono, o deputado federal José Carlos Martinez, recebeu um “empréstimo” de PC Farias, no valor de US$ 4,5 milhões. Este dinheiro permitiu comprar de Silvio Santos a carioca TV Corcovado: nascia a Rede OM (Organizações Martinez).

Com o fim do governo Collor, os Martinez decidiram que era hora de criar uma nova imagem para a rede de televisão, abalada pelas denúncias de corrupção do “esquema PC Farias”. Rebatizada como CNT, e sem os recursos que abundaram no governo do caçador de marajás, a emissora passou a boiar à deriva no espectro eletromagnético, vendendo quase toda a sua grade de programação, ora para cultos pentecostais ora para tele-vendas de tapetes e anéis.

Com a morte do neo-lulista Martinez, em 2003, a rede entrou definitivamente em queda. Mas, em 2007, novamente a “sorte” sorriu aos Martinez. A emissora recebeu uma proposta de ceder o seu sinal para a transmissão da TV JB, de propriedade de Nelson Tanure (dono do JB, da Gazeta Mercantil e da revista Forbes Brasil – e outro empresário que cresceu à sombra do governo Collor, dessa vez graças à sua amizade com a então ministra Zélia Cardoso de Melo). Mas, a parceria durou apenas até o dia 5 de setembro.

Desde então, a emissora não possui mais uma grade de programação (como pode ser verificado em seu site – www.cnt.com.br). Na tela de nossas TVs aparecem um desfile de tele-vendas e cultos pré-gravados.

Ocorre que, graças ao Decreto Presidencial 5820/2006, essa anomalia ocupará dois canais da TV aberta durante os próximos dez anos (período de transição entre a TV analógica e a digital). No caso das cidades do Rio de Janeiro e São Paulo a situação é gravíssima, pois faltam canais disponíveis para as emissoras do “campo público”: TVs comunitárias, as TVs universitárias, a TV Justiça e os canais legislativos (TV Senado, TV Câmera, TVs de assembléias legislativas e TVs de câmaras de vereadores). Enquanto isso, os Martinez desfilam sua inoperância nos canais 9 (Rio de Janeiro) e 26 (São Paulo) e ainda terão direito a mais um canal em cada cidade.

Vale lembrar que estes canais são concessões públicas que, segundo a Constituição Federal, têm finalidades culturais, educativas e informativas.

0

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *