Vivo, Telemig e Amazônia Celular: Daniel Dantas ri por último?

O emaranhado acionário nascido do modelo de privatização do Sistema Telebrás, em 1998, continua a ser desmontado. Na quinta-feira 2, os controladores das operadoras móveis Telemig Celular e Amazônia Celular aceitaram o lance de 1,213 bilhão de reais da Vivo, a maior em número de clientes. A proposta prevê uma oferta pública pelas ações preferenciais nas mãos de minoritários, o que pode elevar o desembolso total da operação para 2,9 bilhões de reais.

As duas operadoras são parte da disputa comercial entre os fundos de pensão e o Citibank, de um lado, e o banqueiro Daniel Dantas, do Opportunity, de outro. Há menos de um mês, outra aresta desse imbróglio havia sido aparada: a Telecom Italia aceitou vender às fundações sua participação na Brasil Telecom.

Dantas posicionou-se contra a venda das duas operadoras, mas, como minoritário, foi voto vencido. O banqueiro não deve, segundo informações obtidas por CartaCapital, tentar nenhuma medida judicial extrema para impedir o andamento da operação. Há uma explicação: o Opportunity, em princípio, vai embolsar entre 200 milhões e 300 milhões de dólares por deter quase 49% da Newtel, controladora da Telpart que, por sua vez, é dona das operadoras. Ironia ou não, dos sócios principais, Dantas deve ser o que ficará com a maior parte do bolo. O banqueiro, por enquanto, riu por último.

A perspectiva é que a venda não cesse as disputas judiciais. De um lado, Dantas está propenso a ingressar na Justiça em busca de mais dinheiro. De outro, os fundos e o Citi prometem manter as ações nas quais questionam o direito do Opportunity de receber pelas companhias. Isso porque, acusam as fundações e o banco norte-americano, DD tirou do caixa da Brasil Telecom a maior parte dos recursos que usou para comprar a participação da canadense TIW na Newtel. Os acionistas majoritários da BrT entendem, e cobram legalmente, que essas ações pertencem a eles e não ao banqueiro baiano.

Não é de hoje que a Vivo, parceria entre a Telefônica e a Portugal Telecom, namora as operadoras mineira e amazonense. Em 2004, a empresa fez uma proposta cujo valor era superior ao atual. Mas a intensa guerra entre os acionistas e as manobras de Dantas, à época gestor das companhias, impediram que o negócio avançasse.

Os resultados das empresas referentes ao segundo trimestre de 2007, sob nova administração, revelam expressiva melhora financeira em relação ao ano passado. Os números foram divulgados também na quinta-feira 2. O lucro líquido da Telemig atingiu 47,7 milhões de reais, 12,1% superior ao dos três meses anteriores e duas vezes e meia acima do registrado no mesmo período de 2006.

A receita líquida de serviços alcançou 318,9 milhões de reais no trimestre, enquanto a carteira de clientes subiu 1,4%, para 3,54 milhões de assinantes. Já a operadora amazonense reduziu para 4,67 milhões de reais o prejuízo, que, nos primeiros três meses de 2006, havia chegado a 9 milhões de reais.

Nos últimos dias, as ações da Telemig sofreram forte oscilação, sob a expectativa de confirmação do acordo. As negociações dos papéis chegaram a ser suspensas na sexta-feira 27, sob boatos de que a venda seria fechada naquele dia. Os títulos da operadora chegaram a valorizar-se em 10,7% na segunda-feira 30 e caíram 5,09% na quarta-feira 1º. As variações recentes não devem ter grande influência sobre o preço total, calculado pelo valor econômico das empresas, com base nas previsões de receitas futuras.

Para as líderes de mercado, Vivo, Claro e Oi, que apresentaram propostas formais e chegaram até a etapa final das negociações, o principal atrativo da operação é a fatia de participação nos respectivos mercados, em especial o mineiro. Apesar da leve queda da Telemig, de 31,1% no início do ano para 30,4% no último trimestre, a empresa continua líder no estado.

Em declarações recentes, o presidente da Telemig, André Mastrobuono, tem feito questão de ressaltar as melhoras na gestão da empresa desde outubro de 2006, a partir da saída do Opportunity. O Ebitda (sigla em inglês para o lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações) da empresa, que chegou a 40,1% no segundo trimestre de 2007, é considerado alto para o setor.

A avaliação dos atuais controladores é a de que a Telemig só tinha  dois caminhos a seguir. Um era investir pesado para crescer nacionalmente, a exemplo do que fez a TIM. O outro, o que de fato ocorreu, era se associar a uma das grandes operadoras. As concorrentes levam vantagem sobre a líder local por serem capazes de diluir as despesas com publicidade e administração  de clientes.

Entre as participantes da disputa pelas operadoras, a Vivo era também a que reunia as melhores condições para uma aprovação rápida da compra pela Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), por não atuar em Minas Gerais. Para especialistas do mercado, a empresa optou por não entrar no estado justamente para esperar a oportunidade de adquirir a Telemig. Já a Claro teria de abrir mão de uma das duas licenças regionais antes de fechar negócio, mas com os clientes mineiros avançaria firme rumo à liderança do setor de telefonia móvel brasileiro.

Embora se trate de uma disputa menor, a venda da Telemig e da Amazônia Celular deixou novamente em lados opostos a Telefónica e o mexicano Carlos Slim, e revelou parte do poder de fogo dos dois maiores players no setor de telecomunicações nacional. Enquanto isso, o ministro das Comunicações Hélio Costa anunciou, no dia 1º, a intenção de incentivar a formação de um grupo brasileiro capaz de fazer frente ao avanço estrangeiro. Costa propôs a criação de um grupo de trabalho para estudar as mudanças necessárias na lei. A empresa seria fruto de uma eventual fusão entre a Oi (antiga Telemar) e a Brasil Telecom.

Ao site Teletime News, Costa disse ter recebido o aval do presidente Lula para constituir o grupo e debater a criação de uma companhia sob a qual o governo terá plenos poderes, embora negue tratar-se de uma reestatização do setor. “Pode ser uma só ação (sob posse da União), mas ela dará poder de veto na empresa”, explicou o ministro. “Não podemos criar uma grande empresa nacional que gere a cobiça dos investidores estrangeiros para depois vendê-la.”

A idéia foi trazida a público pelo presidente da Oi, Eduardo Falco, no fim de 2006, quando a empresa fez uma tentativa frustrada de eliminar as ações preferenciais e pulverizar o capital. Esse também poderia ser o destino do grupo, embora tudo dependa da bênção do governo, já que as regras atuais impedem a superposição de licenças das operadoras nas principais regiões.

Active Image Carta Capital

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