Por uma semana, mais de 7 mil jovens testam protótipos e lançamentos

Eles também são chamados de freaks ou geeks, de acordo com o tempo gasto diante de telas de computador e o maior ou menor interesse em ostentar novidades tecnológicas de utilidade questionável. Estigmatizados, muitos apanhavam na escola e poucos eram populares nas rodas de adolescentes.

Em Valência, na Espanha, entre 23 e 29 de julho, entretanto, foram mimados pela indústria e alçados ao lugar de destaque que a chamada sociedade da informação lhes reserva. Os nerds são os reis da Campus Party, uma espécie de acampamento indoor considerado um dos maiores eventos de entretenimento digital do mundo. Em fevereiro de 2008, a farra vai chegar a São Paulo, cidade escolhida como o primeiro destino fora da Europa.

O fato de mais de 7 mil jovens concordarem em se isolar com computadores por uma semana, em pleno verão, mostra que há muito a ser explicado sobre a grande festa dos nerds. Tampouco é fácil entender, à primeira vista, por que empresas como Telefónica, Microsoft, Google, Philips, Sony e Oracle, entre outras, investiram pesado e revelaram aqui protótipos e futuros lançamentos.

Só a operadora de telecomunicações espanhola investiu neste ano 6,8 milhões de euros na infra-estrutura do evento. E a subsidiária brasileira anunciou que vai garantir, ao custo de 10 milhões de reais, a montagem da versão brasileira. A expectativa dos organizadores é reunir 3 mil participantes no Parque do Ibirapuera, devidamente insulados no Pavilhão da Bienal.

“Aqui estão os grandes formadores de opinião, os usuários pesados de tecnologia”, diz a gerente de patrocínios da Telefónica, Paz Muguerza. A conexão à internet compartilhada pelos campuseros, como são chamados os participantes da Campus Party, é de 5 gigabytes por segundo, o suficiente para transferir a um computador todo o conteúdo da Biblioteca Nacional da Espanha em apenas duas horas, segundo a operadora.

O mundo dos nerds abriga gente como Ricardo Chamon, de 19 anos, acompanhado por dois amigos, estudantes de informática, e por uma boneca inflável, vestida com a camisa do evento e carinhosamente apelidada de Paty. “Sabe como é, a semana é longa”, brinca o campusero. Em tempo, as mulheres (de carne e osso) constituem apenas 12% dos inscritos. Um recorde, segundo os organizadores.

O Google, estreante no evento, convida os visitantes a participar de oficinas de programação. Mas, uma vez dentro do estande, eles também passam a conhecer os programas de bolsas de estudo e recrutamento da empresa. “Esperamos receber muitos currículos durante esses dias”, afirma Bernardo Hernández.

Para conquistar a amizade dos participantes, a Microsoft pôs à disposição deles máquinas de lavar e secar. “Queremos que os mais ferrenhos defensores do software livre saiam daqui sorrindo e não pensem que somos uma empresa do mal”, afirma o gerente de marketing da empresa na Espanha e em Portugal, Iñigo Asiain. A empresa promoveu um concurso para programadores, com prêmios para os autores de aplicativos para a nova versão Vista, do Windows.

Os espanhóis eram maioria absoluta entre os acampados. A comitiva de 70 brasileiros teve a viagem custeada por empresas. Para o responsável pela coordenação da Campus Party em São Paulo, Marcelo Branco, da empresa E3 Futura, o interesse dos brasileiros em se relacionar e compartilhar informação na internet deverá dar o tom da próxima edição. Não por acaso, ressalta ele, o lema do encontro é “A internet não é uma rede de computadores, é uma rede de pessoas”.

Active Image Carta Capital

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