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A digitalização das ondas do rádio

No dia 7 de setembro de 1922, nas comemorações do centenário do aniversário da independência brasileira, os cariocas ouviram pela primeira vez, com certo espanto, o rádio. Foi a primeira vez que uma transmissão deste, então novo, veículo de comunicação foi feita na terra do cruzeiro do sul.   

O entusiasmo só não foi maior por que chiados em demasia atravessavam-se diante da voz empolada do presidente da República, Epitácio Pessoa, que discursava. Discurso à parte, coube mesmo ao pioneiro Edgar Roquette Pinto, em 1923, a inauguração da primeira estação de rádio do Brasil. Tratava-se de emissora Sociedade, do Rio de Janeiro.   

A partir de então, o rádio popularizou-se assustadoramente, tornando-se um dos mais capilares veículos de comunicação do país. Hoje, para se instalar uma emissora de baixa potência, bastam R$ 5 mil em equipamentos (Mídia com democracia, 2006). Mas a evolução do meio não parou aí. Assim como a televisão, o rádio também irá metamorfosear-se com a era digital, ganhando em qualidade e em possibilidades de transmissão.  

Custo alto   

Com o advento do rádio digital, as principais novidades serão: a agregação de componentes de interatividade, a possibilidade da transmissão de mais de um programa simultaneamente (revista Fonte, 2005), a melhoria significativa na qualidade do som, concedendo às estações AM a qualidade de som equivalente às estações FM atuais, e às FM, som com qualidade de CD (RABÊLO), o fim das interferências na transmissão das emissoras AM e a convergência de mídias – o que possibilitará a transmissão de textos e imagens, visualizados por meio de uma tela no aparelho de rádio digital (MASCARENHAS). Há também a possibilidade da ampliação do número de emissoras.   

Como se vê, as mudanças prometem reavivar o entusiasmo em torno do rádio. Todavia, para se ter acesso a tais melhorias não basta esperar a conversão do sistema analógico (atual) para o digital. O ouvinte terá que arcar com a compra de um aparelho de som compatível com a tecnologia digital. Caso contrário, não conseguirá observar diferença alguma. E, pelo menos por enquanto, seu preço não deve ser nada democrático. Embora sem valores consolidados, é possível estimá-los entre R$ 700 e R$ 1 000 – para os aparelhos fixos – e entre R$ 550 e R$ 700 para aparelhos automotivos (RABÊLO).   

As emissoras de rádio também pagarão caro, literalmente, pela conversão da tecnologia. A adaptação ao sistema digital vai requerer a compra de equipamentos, tais como novos transmissores e adaptadores de transmissores analógicos (revista Fonte, 2005). Diante do custo elevado, o governo acena com a possibilidade de desenvolver ações visando ao barateamento do processo. 

Testes   

Os custos aos radiodifusores e ouvintes não são às únicas barreiras para que os brasileiros possam sair escutando o tão propalado rádio digital. Ainda há a escolha do padrão a ser adotado no país. Existem quatro consórcios internacionais distintos sedentos por abiscoitar a preferência nacional. São eles: o Iboc (In-Band On-Channel), oriundo dos Estados Unidos; o DAB Eureka (Digital Audio Broadcasting) e o DRM, (Digital Radio Mondiale), ambos europeus, e, finalmente, o ISDB-TSB (Integrated Services Digital Broadcasting – Terrestrial), do Japão.   

Embora estejamos aparentemente bem servidos de opções, somente dois desses padrões foram aprovados pela União Internacional de Telecomunicações, UIT: o Iboc e o DRM (ZORNITTA e JUNIA). É justamente entre os dois que o debate em torno da escolha do padrão a ser adotado no Brasil, vem se intensificando.   

Diante dessa dupla possibilidade, o melhor a se fazer, deduz-se, é testar. E, de fato, é o que vem sendo feito. Desde setembro de 2005, a Agência Nacional de Telecomunicações, Anatel, passou a conceder autorizações para interessados em pôr à prova o novo sistema (Mídia com democracia, 2006), por meio de concessões provisórias de seis meses, com possibilidade de prorrogação. Os t

estes devem se restringir às regiões metropolitanas de São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília, Belo Horizonte, Porto Alegre e Curitiba (RAMOS).   Oficialmente, o propósito dos testes contempla a avaliação do desempenho do sistema no tocante à qualidade do áudio, à área de cobertura e ao vigor diante de ruídos e interferências, dentre outros pontos declarados (Anatel).   

O padrão Iboc
  

 Embora estejamos apenas na fase de testes, já é claramente perceptível a preferência do setor privado da radiodifusão nacional pelo padrão norte-americano, o Iboc. As rádios Excelsior FM; Bandeirantes, de São Paulo; e Gaúcha, de Porto Alegre, são exemplos de emissoras que estão realizando testes com o padrão Iboc. Em contrapartida, apenas a rádio da Faculdade de Tecnologia da UnB, de Brasília, e a Radiobrás, ambas públicas, estão conduzindo testes com o padrão DRM. As demais opções seguem ignoradas, inclusive a DAB Eureka, cujo ônus para viabilização é considerado demasiado (Anatel).  

O padrão Iboc é gerido pela empresa norte-americana Ibiquity, dona de seus direitos. Há algo em torno de 40 patentes internacionais assegurando a sua propriedade. Possui, inclusive, um notável preço para licenciamento: US$ 5 mil, o que seguramente assusta os radiodifusores de estações comunitárias ou de situação financeira semelhante.
   

A transição de tecnologia, sob a bandeira do padrão norte-americano, é bastante cara. Em seu país de origem, Estados Unidos, há um fundo não-governamental auxiliando as rádios públicas em sua "metamorfose" digital (Mídia com democracia, 2006). A despeito do orçamento, alinhado aos Estados Unidos, Canadá e México optaram pela sua escolha (revista Fonte, 2005).   

Sua vantagem mais divulgada reside na possibilidade da transição para o sistema digital ser efetuada sem exigir a troca da freqüência das emissoras. Da mesma forma, o padrão Iboc permite que a transmissão da emissora seja feita para aparelhos digitais e analógicos, concebendo a coexistência de ambos. Em se tratando do Brasil, onde provavelmente grande parte da população não terá acesso imediato à nova tecnologia e, conseqüentemente, permanecerá servindo-se do rádio analógico, tal atributo se mostra relevante.   

Em sua aberta defesa, a Associação Brasileira de Rádios e Televisão, Abert, tem incentivado experiências com o padrão norte-americano. Todavia, o consultor técnico da associação, Djalma Ferreira, reconhece que o Iboc possui notáveis falhas no que diz respeito à transmissão de ondas médias. Falhas estas acentuadas no período noturno. Ainda assim, Djalma Ferreira afirma ser uma "alternativa indesejável" aguardar conclusões sobre o padrão DRM.   

Outro ponto considerado negativo por muitos é que, entre os padrões apresentados, o Iboc é o que mais apresenta barreiras à criação de novas emissoras. Este elemento poderia ser um entrave à democratização da comunicação via rádio.   

O padrão DRM   

O padrão DRM, embora apontado como europeu, é fruto de um extenso consórcio envolvendo instituições européias famosas, como a francesa Radio France Internacionale, a inglesa BBC, a alemã Deutsche Welle e de outros continentes, como a NHK, do Japão. Também constam emissoras de países fora do eixo das nações desenvolvidas, como Tunísia e Equador (CABRAL, 2006).   

O fato de não contemplar a faixa FM, tem se mostrado "o calcanhar de Aquiles" do padrão DRM. Embora estejam sendo realizados estudos no sentido de incluir as freqüências FM no bojo das transmissões do padrão, atualmente o DRM permite somente o uso das faixas de onda média, ondas tropicais e ondas curtas.   

Movimentos sociais
   

Enquanto as grandes organizações de comunicação social brasileiras realizam seus testes com os padrões que elas próprias escolheram, os movimentos sociais tentam ser ouvidos. A maior queixa refere-se ao perigo do interesse econômico se sobrepor aos interesses da sociedade, altamente dependente de veículos de massa, como o rádio.   

Ao conceder a livre licença para que os próprios radiodifusores façam sua escolha e empreendam suas avaliações – sem um debate que inclua sequer os usuários do rádio –, corre-se o risco de manter a ordem vigente com a tecnologia analógica: poucos e grandes conglomerados de comunicação, servindo aos interesses de algumas famílias e políticos. É o que se chama de manutenção do status quo da radiodifusão brasileira.   

Josué Franco Lopes, representante da Associação Brasileira de Radiodifusão Comunitária no Estado do Rio Grande do Sul, ABRAÇO-RS, declarou-se surpreso com a falta de debates em torno da digitalização do rádio. Para ele, no caso da radiodifusão, a ausência de democracia no processo foi ainda mais acentuada que nos debates envolvendo a TV digital (Mídia com democracia, 2006).   

Tribuna de debates   

À margem do processo, e sem condições de seguir os passos das grandes emissoras – que já estão testando o padrão Iboc –, as rádios comunitárias temem a falta de recursos para se adaptarem ao caro padrão norte-americano, exaltado pelo lobby dos meios de comunicação de massa privados.   

Em audiência pública na Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro, em fevereiro de 2006, representantes dos movimentos sociais reclamaram da condução da digitalização do rádio no país. Na ocasião foram feitas reivindicações, dentre as quais a realização de um debate claro e democrático por parte do governo, visando ao desenvolvimento da rádio digital no Brasil (ZORNITTA e JUNIA).  Ironicamente, o rádio, que não raro realizou um verdadeiro papel de tribuna de debates em momentos chaves da história do Brasil, atualmente encontra-se praticamente mudo quando a questão é debater, ou mesmo informar, sobre questões relativas à sua tão esperada digitalização.   

Referências bibliográficas: 

ANATEL. Disponível aqui. Acessado em 11 de abril 2007. 

CABRAL, Adilson. DRM é a nova onda da rádio digital. Informativo eletrônico Sete Pontos, n. 32, fevereiro de 2006. Disponível aqui. Acessado em 12 de abril de 2007.  ____. Convergência no século da mobilidade: a história vem de longe, a revolução ainda está no começo. Revista Fonte, Belo Horizonte: Prodemge, N. 03, Pág. 14 – 38, Dezembro de 2005.  

FERREIRA, Djalma. O caminho do rádio digital. Disponível aqui. Acessado em 12 de abril de 2007. 

MASCARENHAS, André. País inicia testes de rádio digital: a partir de hoje, Anatel autoriza rádios a experimentar a nova tecnologia, no padrão "In Band On Channel", dos EUA. Disponível aqui. Acessado em 11 de abril de 2007.  

RABÊLO, Paulo. O rádio digital já começou no Brasil. Sabia? Disponível aqui. Acessado em 11 de abril de 2007. ____. Rádio digital: decisão antes da hora? Revista Mídia com Democracia.

FNDC, n 03, Pág. 16 – 18, Setembro de 2006 

RAMOS, Luiz Carlos. 83 anos no ar: o rádio renovado com força digital. Disponível aqui. Acessado em 11 de abril de 2007. 

ZORNITTA, Bruno e JUNIA, Raquel. Rádio digital: democratização ou "cala-boca tecnológico". Disponível aqui.. Acessado em 11 de abril de 2007.

 

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Uma constituinte para a televisão pública

O debate sobre uma rede pública de televisão articulada pelo Poder Executivo nasceu extemporâneo, amamentou-se de ignorância conceitual, acabou vingando no terreno da oposição a qualquer preço ao Governo Lula e vai crescendo meio torto, parcial, desfocado, sob o perigo de não dar em nada de efetivamente útil. É uma trajetória que faz dele um exemplar típico dos projetos para a comunicação no Brasil, sempre condicionados por fortíssimos interesses políticos e corporativos, e sempre carentes de efetivo diálogo com o suposto interessado maior, o cidadão brasileiro.  

O nascimento prematuro do debate deve-se ao Ministério das Comunicações, que anunciou a proposta da nova rede no início de fevereiro, em pleno processo de organização do Fórum Nacional de TVs Públicas – uma grande articulação de todos os setores da televisão não-comercial brasileira, intermediada pelo Ministério da Cultura, a Casa Civil, a Secretaria-Geral da Presidência e o próprio Gabinete Pessoal do Presidente. O processo teve início em setembro de 2006, como decorrência da atuação conjunta das quatro principais entidades representativas do campo público da TV – a Associação Brasileira de Emissoras Públicas, Educativas e Culturais (ABEPEC), a Associação Brasileira de Televisão Universitária (ABTU), a Associação Brasileira de Televisões e Rádios Legislativas (ASTRAL) e a Associação Brasileira de Canais Comunitárioss (ABCCOM) – e de seu diálogo permanente e construtivo com a Secretaria do Audiovisual do MinC.  

A proposta era de lançar na mesa de discussão todos os problemas que envolvem a televisão não-comercial, na multiplicidade de canais que a constituem. Canais estatais ou públicos, do ponto de vista da gestão; canais abertos ou fechados, pelo sistema de transmissão; canais educativos, legislativos, culturais, comunitários, universitários, institucionais, pelo conteúdo; canais de vários tipos e tamanhos, enfim, todos identificados pelo objetivo de prestar serviços de interesse público sem finalidade de lucro. E identificados, igualmente, pela carência dramática de recursos, pela falta de amparo numa legislação clara e coerente, e pelo tratamento subalterno em relação ao dispensado à televisão comercial privada. O Fórum Nacional de TVs Públicas surgiu como a instância adequada para o equacionamento desses problemas e para o estabelecimento de diretrizes amplas, pactuadas entre canais, estado e sociedade, que possam instruir as múltiplas políticas públicas necessárias ao ordenamento da televisão não-comercial.  

Lançada como idéia antes da fase final do Fórum (as plenárias que ocorrerão entre 8 e 11 de maio, em Brasília), a Rede Nacional de TV Pública foi recebida com as honras de praxe no debate sobre a comunicação no país: conceitos equivocados, informações parciais, juízos apressados e uma boa dose de má fé. É justamente o que se quer mudar com o Fórum, no que diz respeito à televisão não-comercial. O Ministério das Comunicações bem poderia aguardar o final do processo para, à luz de suas conclusões, propor o que é plenamente legítimo e recomendável, a reforma do sistema estatal de televisão em mãos do poder executivo e sua organização em rede nacional. Mas não o fez, infelizmente, e o debate eclodiu antes que muitas preliminares fossem aclaradas, resultando em confusão generalizada.  

De qualquer forma, a iniciativa teve o mérito de colocar o tema da televisão pública na agenda do país. Está pautado na mídia, nos três poderes e na opinião popular, o que é, em si, uma conquista inédita para o setor e lhe dá a certeza de que, de alguma forma, as coisas vão mudar. Para o bem do Brasil, ressalte-se, que já tem uma televisão comercial poderosa, qualificada e amada pela população, mas que não pode, porque não é de sua missão e finalidade, fornecer toda a vasta gama de serviços que o meio TV pode oferecer. É onde entram os canais estatais e os canais públicos, para atuar complementarmente, como dispõe com sabedoria o Artigo 223 de Constituição Federal – mais um dos que, no Capítulo V, da Comunicação Social, aguardam regulamentação desde 1988.  

A migração para o sistema digital de transmissão, que terá início ainda neste ano de 2007, abrirá para a televisão brasileira um leque imenso de possibilidades, cujo alcance ainda é imprevisível em sua totalidade, mas é certamente promissor. É nesse cenário de avanço e reformulação que cabe discutir o papel da TV privada, da TV pública e da TV estatal. Primeiro, aclarando as suas diferenças, para depois harmonizar a sua atuação.  

A tecnologia nos dá a oportunidade de utilizar o principal meio de comunicação dos brasileiros para aprimorar a educação de nosso povo, a consciência de cidadania, o grau de informação, a expressão de setores sociais hoje marginalizados, o controle sobre os poderes públicos, a oferta de serviços e comodidades, a qualidade do entretenimento. É o que está em jogo nessa questão da rede pública de televisão, e o que merece a maior atenção possível ao Fórum Nacional de TVs Públicas. Se fizermos dele a verdadeira Constituinte da televisão não-comercial, o país só terá a ganhar.

*Gabriel Priolli é jornalista e diretor de televisão. Preside a Associação Brasileira de Televisão Universitária.  

 

Publicado originalmente no site http://blogdodirceu.blig.ig.com.br/  

 

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Rádios comunitárias: até quando marginais?

A pressão popular contra o fechamento da Rádio Heliópolis pela Polícia Federal em 20 de julho do ano passado deflagrou um processo que estava embaraçado há anos. Até hoje, as rádios comunitárias estiveram ilegais em São Paulo não por opção própria ou negligência, mas pela ausência de qualquer outra opção. Desde 1998, quando a lei 9.612 regulamentou o funcionamento das rádios comunitárias, o município de São Paulo esperava por um aviso de habilitação do Ministério das Comunicações, documento oficial que convoca as entidades interessadas em obter autorização para este tipo de serviço em determinado município. Sem isso, não havia como se legalizar. Em 7 de dezembro de 2006, mais de oito anos depois da promulgação da lei, o aviso para o município de São Paulo foi finalmente publicado. O que parecia ser o fim de uma história mostrou-se apenas um longo primeiro capítulo. O aviso de habilitação já deu início a outro, que prenuncia ser tão complicado quanto o primeiro, e mostra como a regulamentação das rádios comunitárias é feita de modo a inviabilizar a sua existência.

   

A situação de São Paulo merece ser observada com atenção por dois motivos: primeiro, por ter particularidades que fazem da cidade um caso especial – a existência de leis municipais específicas sobre o tema, a formação de uma ampla frente de apoio à legalização das rádios (com participação de diversas entidades, Defensoria Pública, vereadores e deputados), além da alta densidade populacional aliada à alta demanda. Em segundo lugar, por ser um exemplo claro da esquizofrenia do Estado, que propõe a legalização, mas não a viabiliza, trabalhando pelo fechamento de rádios que estão participando do processo e ainda se vê em meio a divergências entre os poderes federal e municipal.

   

O caso paulistano

As especificidades legais de São Paulo começam na própria alocação do espaço reservado às rádios comunitárias. Até 2004, o município não tinha nem canal designado, já que o canal 200, apontado pela Anatel para ser usado para a radiodifusão comunitária, teria interferência de outra emissora (Rádio Gazeta), que ocupa o canal 201. A escolha do canal 198 só se deu depois de anos de estudo da Fundação CPqD, que indicou a viabilidade técnica de se ocupar a freqüência 87,5 MHz – ainda que houvesse o temor de que ela estivesse fora do dial de alguns rádios analógicos.

   

Em 2004, na revisão do Plano Diretor municipal aprovado dois anos antes, foi incluída a obrigação do Executivo desenvolver um Plano Diretor de Radiodifusão Comunitária, abrangendo, entre outros pontos, “a definição das regras a serem observadas para instalação de rádios comunitárias, de acordo com a legislação própria e com base em processo participativo” e o “desenvolvimento de sistema público de controle e cadastro georreferenciado”. Esse plano deveria ser incorporado ao Plano Diretor Estratégico na revisão de 2006 – que ficou para 2007 -, mas até agora o Executivo Municipal não apresentou nenhuma proposta nesse sentido.

   

A última especificidade legal é, possivelmente, a mais importante. Em junho de 2005, foi aprovada a lei 14.013, que disciplina a exploração do serviço de radiodifusão comunitária em São Paulo. A municipalização traz para o Poder Executivo local a responsabilidade pela autorização das rádios. Além disso, diferentemente da lei federal, que limita o patrocínio a apoios culturais e os restringe a empresas localizadas na área de prestação do serviço (1 km de raio), a lei de São Paulo permite inserção publicitária, e não restringe o anúncio aos estabelecimentos situados próximos à rádio. Uma longa batalha jurídica continua sendo travada para garantir a aplicação desta lei, já que a Associação Brasileiras de Emissoras de Rádio e Televisão – Abert ingressou no STF com uma ADIN – Ação Direta de Inconstitucionalidade questionando a Lei. Por enquanto, nada. O aviso de habilitação que saiu no final de 2006 é totalmente baseado na lei federal.

   

Além dessas especificidades legais, São Paulo se destaca por conta da ampla mobilização que se organizou em torno do tema. Entidades como a Oboré, o Escritório Modelo Dom Paulo Evaristo Arns, da PUC-SP, e a Defensoria Pública do Município (entre outras) se uniram a especialistas técnicos e parlamentares como os vereadores Soninha e Carlos Néder (que exerceu por um tempo o mandato de deputado estadual) e o deputado estadual Simão Pedro, formando uma Mesa de Trabalho para dialogar com o Ministério das Comunicações e apoiar as rádios no processo do pedido de autorização – extremamente burocrático e rigoroso. 39 entidades, 21 deputados estaduais, 12 vereadores e 2 deputados federais, além de dezenas de indivíduos assinaram um compromisso de honra com as rádios comunitárias, comprometendo-se em apoiar as rádios comunitárias de São Paulo e lutar pela democracia na comunicação.

   

Essa iniciativa mostrou a intenção da sociedade civil e de parte do legislativo em contribuir para que o processo pudesse correr da melhor forma possível, potencializando o número de rádios inscritas e viabilizando o diálogo do ministério com o conjunto das rádios. Até abril de 2007, foram realizadas nove mesas de trabalho. Nas primeiras reuniões, o ministério esteve presente. A certa altura, passou a se ausentar do processo sem justificativa. Assim, aquele que, em tese, seria o maior interessado nessa articulação – que dava apoio no processo extremamente trabalhoso de facilitação do diálogo com o conjunto das emissoras – não mandou mais notícias.

   

Já não houvesse suficiente complexidade, graças ao apoio desse amplo grupo de entidades, 154 rádios responderam ao aviso de habilitação no prazo (5 de março) e encaminharam a documentação ao ministério, o que se transformou numa boa, mas desafiadora, notícia. Essa alta demanda soma-se a uma alta densidade de rádios no município, que complica a alocação das autorizações. A lei 9.612 determina que deve haver apenas uma rádio por região, e nacionalmente um único e específico canal, e o decreto 2.615 (que a regulamenta), define que sua cobertura deve estar limitada a até 1 km de raio. Num mapa de situação feito pelas entidades que apóiam as rádios fica claro que não haverá espaço para todas. O que acontecerá, então?

Esquizofrenia estatal e legal

Se prevalecesse a lógica de viabilizar e potencializar o funcionamento das emissoras comunitárias, a resposta à pergunta acima certamente seria: “tudo será feito para que o maior número de rádios possa obter a autorização”. O problema é que há vários sujeitos atuando nesse processo, representando diferentes faces do Estado. O Ministério das Comunicações, de um lado, propôs o aviso de habilitação, mas ausentou-se do processo das mesas de trabalho e parece não ter interesse em ampliar o número de rádios beneficiadas. A Anatel e a Polícia Federal, por sua vez, mesmo depois de os processos já terem sido encaminhados ao Ministério das Comunicações, desencadearam a “Operação Interferência”, que apreendeu equipamentos de 19 rádios em São Paulo, incluindo três rádios que não estavam no ar. Duas delas – a Dimensão e a Alitavi – estão entre as 154 que responderam ao aviso de habilitação e estavam esperando resposta do Ministério. Parece surreal que até as rádios que estão há meses sem funcionar e que agora esperam a resposta do ministério sobre seu processo de autorização sofram a repressão das próprias forças estatais.

   

No entanto, a esquizofrenia não está apenas nas ações do Estado. A própria lei 9.612 e suas regulamentações (Decreto 2.615/98 e Norma 02/98) já contêm contradições internas que criam empecilhos para o funcionamento das rádios e estabelecem uma relação fratricida entre aquelas interessadas em atuar de maneira legal. O exemplo de São Paulo mostra que quatro pontos são especialmente questionáveis:


1)  
A definição de um único e específico canal para as rádios comunitárias gera uma enorme desproporção entre os sistemas público e comercial. Enquanto há mais de 25 canais comerciais, reserva-se espaço para apenas um único canal comunitário. Além disso, a lei prevê que, em caso de haver mais de uma entidade comunitária interessada na mesma área de cobertura, haja a tentativa de composição entre elas. Se não houver composição, somam-se pontos obtidos com as declarações de apoio individuais (1 ponto cada) e institucionais (5 pontos cada) enviadas no processo. Em São Paulo, praticamente todas as 154 rádios colidem com pelo menos mais uma em relação à área de cobertura. A idéia de composição, embora interessante do ponto de vista dos interesses comunitários, é ingênua, e parte de uma falsa premissa: a de que não há espaço para todos. Não há porque manter quase 30 rádios comerciais funcionando por toda a cidade e obrigar as rádios comunitárias a uma briga fratricida entre elas para ocupar uma região de 1 km de raio. Uma solução simples seria reservar mais espectro para as rádios comunitárias. Nos Estados Unidos, por exemplo, 4 MHz (de 88 a 92 MHz) são reservados ao conjunto das emissoras públicas de rádio. Aqui, poderia se começar de maneira simples, ampliando para três os canais reservados à radiodifusão comunitária. Esses canais não devem ser os mesmos em todas as regiões; como aponta o engenheiro Marcus Manhães em seu texto “Direitos Alienáveis”, deve haver “atribuição de canalização flexível, vinculada num planejamento de freqüências que admita evolução dinâmica”.

2) Ao estabelecer o limite de 25 W, 1 km de raio e mínimo de 3,5 km entre as antenas das emissoras, a regulamentação desconsidera a flexibilidade necessária para qualquer plano de outorgas. Em zonas rurais, essa potência e alcance são baixos demais. Em zonas urbanas densamente povoadas, como é o caso de São Paulo, poderia ser interessante ter diferentes classes de potência, que viabilizassem a melhor distribuição dos canais, considerando as diferentes condições geográficas e sociais. Além disso, a lei considera que o conceito de comunidade é apenas geográfico, desconsiderando outros possíveis arranjos de interesses comuns.

3)  Como já foi apontado, a legislação restringe o financiamento das rádios ao proibir publicidade comercial e permitir somente apoio cultural de estabelecimentos na mesma área de cobertura da rádio. Na prática, a inexistência de fundos públicos de financiamento da rádio – alimentados seja por taxação da publicidade negociada pelas rádios comerciais seja pelo dinheiro do Tesouro – faz com que essas regras praticamente inviabilizem o funcionamento das rádios. Legalmente, elas ficam restritas à míngua.

4)  Por fim, a regulamentação cria condições completamente desiguais para as rádios. Diferentemente das comerciais, as emissoras comunitárias não estão protegidas de nenhuma interferência. Por sua vez, são absolutamente proibidas de provocar qualquer interferência em outro sistema de telecomunicações, sob pena de perderem a autorização.

Em virtude de todos esses limitantes, diversas rádios comunitárias em operação preferiram não entrar com o pedido de autorização, continuando ilegais, mas ao menos mantendo a possibilidade de sobrevivência. Isso mostra o quão asfixiante é a regulamentação em vigor.


Os desafios presentes 
O processo de São Paulo segue; e a esquizofrenia também. No momento em que esse texto está sendo escrito, aguarda-se a publicação oficial, pelo Ministério das Comunicações, da listagem de todas as entidades que responderam ao aviso de habilitação e do mapa com a localização (incluindo as coordenadas) de todas elas. Mas o ministério não tem participado das mesas de trabalho e nem deu sinal de quando vai oficialmente divulgar esses dados.

As entidades que compõem a mesa de trabalho mantêm o constante apoio às rádios, mas dependem de mínimas condições para poder avançar. Para a equipe técnica, é necessário um mapa digitalizado em três dimensões, com a topografia da cidade, para que se possa buscar a otimização máxima do uso do espectro, viabilizando a autorização do maior número de rádios. Embora já tenha solicitado o mapa aos poderes executivos municipal e federal, nenhum dos órgãos que poderiam tê-lo se dispôs a ceder o software.

  

Além disso, enquanto a Anatel e a Polícia Federal trabalham para fechar pequenas rádios que nem operando estão, o canal 198 é atualmente ocupado por uma rádio não legalizada, a rádio Samba FM, que transmite numa potência suficiente para ser ouvida em toda a cidade e inviabiliza a legalização de qualquer das 154 rádios.

  

Em relação ao Plano Diretor, durante a última mesa de trabalho, o representante da Secretaria de Planejamento do município declarou que o Executivo não está trabalhando numa proposta para o Plano Diretor de Radiodifusão Comunitária e que, pasmem, espera que a proposta venha das próprias entidades participantes da mesa de trabalho. 

  

Por fim, a ampliação do número de freqüências reservadas às rádios comunitárias esbarra, em um primeiro momento, na questão legal e, num segundo, na vontade política em enfrentar o poder das rádios comerciais. Uma possibilidade real seria a liberação da freqüência 98,1 MHz (canal 251), hoje ocupada pela Rádio Terra FM, de Paulo Abreu (empresário que é dono de cinco rádios que transmitem para a capital paulista, a maioria delas com sede em municípios limítrofes). Isto porque uma regra geralmente adotada nos planos de canalização é que o canal que fica 10,6 MHz distante da freqüência designada, chamado de canal tabu, não deva ser usado na mesma área, por haver o risco de interferência pelo batimento de freqüências. Se liberado esse espaço em São Paulo, seria possível adotar um plano mais racional de canalização, alternando a ocupação do canal 198 e do 251. Mas isso depende da disposição política em se enfrentar interesses privados, entre eles o de Paulo Abreu.

  

Enquanto tudo permanece como está, com a lei e a ordem ao lado das emissoras comerciais, as rádios comunitárias de São Paulo seguem em sua condição marginal e ilegal, resistindo à esquizofrenia estatal e à ganância do setor comercial. Às rádios que estão participando do processo de habilitação restam poucas alternativas. Mas é preciso manter a mobilização, fortalecer a pressão política e seguir lutando por mudanças nessa legislação absurda, na briga por mais espaço e condições de sobrevivência para as emissoras comunitárias.

 

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TV digital: uma farsa chamada ISDTV

No final de março, a Sociedade de Engenharia de Televisão (SET) organizou evento em São Paulo, com a presença de radiodifusores e do governo, para divulgar as normas técnicas do International System for Digital TV (ISDTV), o novo nome do Sistema Brasileiro de TV Digital (SBTVD). Tais normas servirão de orientação para a indústria produzir os equipamentos de transmissão e recepção da futura televisão digital aberta no Brasil.

Com este nome fantasia, radiodifusores e o governo querem demonstrar que não se trata da simples adoção de tecnologias importadas (no caso, o ISDB japonês). Segundo o ministro Hélio Costa, o país acaba de produzir um sistema "nipo-brasileiro". 

Agora, as emissoras de TV e os diversos outros meios de comunicação a elas associados irão repetir esta história ad nauseum, na aposta de que uma mentira contada muitas vezes acaba assumindo ares de verdade. Mas, será mesmo que o ISDTV é uma produção conjunta do Brasil e do Japão? 

Antes, porém, cabe analisar onde teria sido produzido o tal ISDTV. 

No dia 23 de novembro de 2006 foi criado o Fórum de TV Digital e seu comitê executivo era integrado por uma empresa de software (Potis), quatro outras que farão os receptores (Philips, Gradiente, Semp e Samsung), duas indústrias de transmissores (Linear e Telavo), quatro radiodifusores (Globo, SBT, Record e Rede TV!) e duas universidades (PUC-Rio e UFRGS). Em momento algum a sociedade civil teve acesso aos debates travados no interior do Fórum de TV Digital que, não custa lembrar, definia o futuro de um serviço explorado mediante concessão pública. 

Dias após a criação do Fórum de TV Digital, o representante da UFRGS, Sérgio Bampi, anunciou que se afastaria por estar descontente com o pouco espaço reservado à comunidade acadêmica. E passados somente quatro meses de sua instalação, o Fórum de TV Digital anunciou a conclusão dos trabalhos, com a criação de um sistema “nipo-brasileiro” de televisão digital. 

O caráter híbrido desse sistema (japonês e brasileiro) supostamente se deveria ao emprego de tecnologias que foram desenvolvidas pelas universidades brasileiras por conta de recursos recebidos pela Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP), durante a fase de pesquisa do SBTVD. 

É verdade que vários consórcios de pesquisadores alcançaram resultados expressivos. A PUC-RS, por exemplo, desenvolveu uma alternativa de padrão de modulação, conhecido como Sorcer. Mas, a opção pelo sistema japonês acabou impedindo a adoção do Sorcer e o fato é que existem pouquíssimas inovações brasileiras no interior do tal ISDTV. 

Indagados, radiodifusores e representantes do governo só conseguem citar duas. 

Uma delas teria sido a implantação do codec de compressão de vídeo MPEG-4 (H264) na modulação japonesa (BST-OFDM). Mas, ambas as tecnologias são anteriores ao ISDTV e a contribuição brasileira, neste caso, se resume a fazer o ISDB japonês utilizar o H264. 

A outra seria o middleware [1]  Ginga. O Ginga, na verdade, é a soma de dois outros middlewares, desenvolvidos pela UFPB e pela PUC-Rio. A porção paraibana (anteriormente conhecida como FlexTV) é, em grande medida, a adoção da normatização européia Globally Executable MHP (GEM). Somente a porção carioca (o Maestro), produzida a partir da linguagem Nested Context Language (NCL), pode ser considerada um desenvolvimento realmente nacional. 

Mas, cabe lembrar que nem mesmo a adoção do Ginga está garantida, uma vez que as normas técnicas do Fórum de TV Digital também incluíram o middleware japonês Broadcast Markup Language (BML). Mas, apenas a inclusão do Ginga (ainda que importante) é muito pouco para que possamos afirmar que se trata de um sistema “nipo-brasileiro”, como parece desejar o ministro Hélio Costa. 

Cabe lembrar que no interior do sistema DVB, por exemplo, existem diversas implementações diferentes, sem que sejam consideradas como novos sistemas internacionais. 

Com o uso do apelido ISDTV, governo e radiodifusores pretendem esconder o fato de que o Brasil adotou, sem compensações comerciais e sem prever transferência de tecnologias, várias tecnologias importadas que se encontram no interior do ISDB e que, para os engenheiros brasileiros, continuarão sendo caixas-pretas. 

Até prova em contrário, e apesar da propaganda oficial, existem apenas quatro sistemas de TV digital aberta: ATSC (adotado nos Estados Unidos, Canadá, México, Guatemala, Honduras e Coréia do Sul), DVB-T (utilizado em cerca de 60 países, incluindo União Européia, Rússia, Índia, Filipinas, Malásia, Arábia Saudita, Turquia, Vietnã, Nova Zelândia, Austrália e Irã), BMD (chinês) e ISDB (empregado no Japão e no Brasil).

[1] Segundo a Wikipédia, middleware, no campo de computação distribuída, é um programa de computador que faz a mediação entre outros softwares. É utilizado para mover informações entre programas ocultando do programador diferenças de protocolos de comunicação, plataformas e dependências do sistema operacional.  

* Gustavo Gindre é membro do Coletivo Intervozes, do Núcleo de Pesquisa, Estudo e Formação (NUPEF), coordenador-executivo do Instituto de Estudos e Projetos em Comunicação e Cultura (INDECS) e conselheiro eleito do Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGIbr).

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Nasce em Boston o jornal de todos

Começa nesta semana, em Boston (EUA), uma experiência que vale a pena acompanhar: o jornal BostonNow estreou na internet nesta segunda-feira (16/4) anunciando para o dia seguinte sua estréia nas ruas, sem custo para os leitores. A novidade: ele foi construído em apenas dois meses, a partir de um convite geral à adesão de centenas de blogueiros da região.  

O aspecto inovador da iniciativa é que o conteúdo será uma mistura das colaborações de blogueiros amadores ou internautas comuns com o trabalho de jornalistas profissionais. Todas as manhãs, às 9h55, 60 pessoas serão admitidas numa teleconferência que irá decidir a pauta do dia e o futuro imediato da publicação. O número é limitado pela tecnologia, mas pode ser ampliado com o tempo, avisa um dos fundadores, o editor-chefe John Wilpers.  

A versão impressa do BostonNow será distribuida gratuitamente e conterá uma consolidação do conteúdo mais relevante que tiver sido veiculado na versão eletrônica, evidentemente sem os vídeos e áudios. Trata-se de um jornal comunitário coordenado, dirigido e administrado por jornalistas profissionais, com amadores participando de um conselho editorial informal, mas decisor.  

Direitos de autor 

A comunidade online sobre a qual o jornal pretende se consolidar será autocontrolada. Um sistema de comunicação direta com os editores é colocado à disposição dos leitores, para que informem sobre conteúdos obscenos ou inapropriados. Os editores não pretendem editar o material tido como inadequado, pois eles consideram que a integridade do material postado representa a voz do blogueiro e precisa ser conhecido integralmente pelos leitores. Nos casos extremos, textos, imagens ou locuções considerados inadequados serão apagados da edição.  ^

A edição impressa, que estréia com 150 mil exemplares, conterá sempre uma seleção das contribuições de blogueiros e outros cidadãos comuns, integrada ao material produzido por jornalistas profissionais. Os anunciantes podem comprar espaço apenas na edição online, apenas na impressa ou em ambas, combinando diversos formatos, como anúncios estáticos, spots de áudio e vídeos. O projeto prevê a predominância de anúncios do setor imobiliário.  

Fotógrafos e cinegrafistas são convidados a expor seus trabalhos, inicialmente postados em sites específicos, com link para o endereço do BostonNow, e futuramente será criada a condição para que esse conteúdo seja postado diretamente no site do jornal. Os direitos dos autores serão preservados, embora seus conteúdos sejam mantidos nos arquivos do jornal.  

Modelo subversivo 

Ao postar o material, os autores escolhem a seção onde gostariam de vê-lo publicado, o que facilita o trabalho dos editores que cuidam da edição em papel. A seleção para publicação na versão impressa será feita pelos jornalistas editores do BostonNow, seguindo critérios como originalidade, relevância, relação com temas da comunidade ou com os interesses locais, textos sem erro, fotos e vídeos com alta qualidade digital.  

A webmaster Regina O´Brien, co-fundadora do jornal, explica que a idéia é oferecer um ambiente integrador, em vez de competir com os blogueiros – que atuam às centenas na região onde se concentram muitos intelectuais, estudantes e profissionais que têm muito a partilhar com a comunidade.  

Com o tempo, o BostonNow pretende oferecer alguma forma de remuneração aos autores de conteúdos que forem selecionados para o jornal impresso. Para isso, está prevista a revenda de conteúdos para a mídia de outras regiões dos Estados Unidos e do exterior. Os editores contam com a capilaridade que o jornal deverá apresentar, na medida em que vem arregimentando um grande número de blogueiros bem informados em variados setores das comunidades acadêmicas, de negócios e sociais da cidade.  

Segundo os editores John Wilpers e Regina O´Brien, a opção pela transparência é absoluta. Todas as pessoas que participarem da reunião de pauta, a cada manhã, ficam sabendo o que pensam os editores sobre cada tema proposto para a cobertura diária, e podem influenciar na linha editorial do jornal online e na versão impressa.  


Esse é um modelo que subverte completamente a prática geral da imprensa tradicional, baseada numa rígida estrutura de mando que se inicia e sempre desemboca, no topo, na voz do dono.

 

 

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