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A campanha eleitoral de 2010 está no ar

Começou a campanha eleitoral para 2010 na TV. E a Globo, como sempre, saiu na frente. Na semana passada, o Jornal Nacional e o Jornal da Globo ignoraram solenemente a pesquisa CNT/Sensus onde Lula aparece com 84% de aprovação, um recorde histórico. Mas claro, isso não é notícia pelos critérios jornalísticos globais. Muito menos o fato da ministra Dilma Roussef ter alcançado, pela primeira vez, a casa dos dois dígitos na pesquisa de intenção de votos para a presidência. E será assim até as eleições. O que não é nenhuma novidade. Pode-se criticar a Globo por vários motivos, menos pela falta de coerência.

Desde a última ditadura, para não termos que voltar muito na história, ela sempre esteve do mesmo lado: elitista, entreguista, conservador. Apoio aos golpistas e ao regime militar, tentativa de fraudar a vitória de Leonel Brizola ao governo do Rio em 1982, boicote às diretas-já, criação da candidatura Collor, edição fraudulenta do debate entre ele e Lula em 1989, destituição de Collor e apoio a Fernando Henrique, Serra e Alckmin nas eleições seguintes.

Sobre os primeiros casos citados, muito já se escreveu mas, como eles mesmo dizem, vale a pena ver de novo. Pelo menos alguns deles.

Por exemplo, assisti – com estes olhos que a terra… – ao Jornal Nacional de 25 de janeiro de 1984, dia do comício das Diretas Já, com cerca de 300 mil pessoas na Praça da Sé, em São Paulo, noticiado como uma festa pelo aniversário da cidade. Isso foi dito na abertura da matéria lida pelo apresentador no estúdio (na "cabeça", segundo o jargão do telejornalismo). Texto nunca mostrado pelos atuais funcionários da empresa, encarregados da revisão histórica do período, nas inúteis tentativas de negar o fato.

Ouvi, com estes ouvidos que terão o mesmo destino dos olhos, uma longa entrevista (mais de 15 minutos) na rádio Globo, em 1988, com o então desconhecido governador de Alagoas, Fernando Collor de Melo. Ele era apresentado ao País como o "caçador de marajás", assim chamados os funcionários públicos alagoanos detentores dos salários mais altos. Na mesma época, o Globo Repórter dedicava uma edição inteira ao mesmo tema. Começava então uma campanha eleitoral que teria seu ponto alto na edição caprichada do debate Collor-Lula, apresentada no Jornal Nacional, na véspera da eleição. A ordem do dono da empresa era taxativa: mostrar todas as intervenções positivas do seu candidato e tudo de ruim que ocorreu com o adversário. A edição competente virou o jogo. Eleito, Collor caiu logo em desgraça nos altos escalões do Jardim Botânico. Até novela foi feita para derrubá-lo e nunca protestos de rua, como o dos "caras-pintadas", foram tão bem vistos pela emissora.

Já ouço alguém dizendo: "lá vem ele com as teorias conspiratórias de sempre". Não respondo. Prefiro passar a palavra a dona Lily Marinho, viúva do dono das Globos, ditas no lançamento do livro Roberto e Lily, em 2005 e revelada na coluna de Monica Bergamo, da Folha de S. Paulo : "O Roberto colocou ele (Fernando Collor de Mello, na Presidência) e depois tirou. Durou pouco. Ele se enganou". Nada mais a acrescentar.

Só resta perguntar: e depois? Como se comportou o jornalismo da Globo, e particularmente o seu telejornal de maior audiência nas eleições seguintes?

Para os dois pleitos presidenciais mais recentes (2002 e 2006) está na praça um livro-documento: Telejornalismo e Poder nas Eleições Presidenciais (Summus Editorial, São Paulo, 2008), de Flora Neves, professora e pesquisadora da Universidade Estadual de Londrina. Trabalho meticuloso, combinando uma exaustiva coleta de material (a gravação de 199 edições do Jornal Nacional) com uma sofisticada análise dos dados. Cuidados que levam a resultados indiscutíveis, excludentes de qualquer tipo de "achismo". Mostram como o principal telejornal do país manipulou a cobertura daquelas duas eleições contrariando até muitos teóricos e críticos da comunicação que chegaram a comemorar a imparcialidade da Globo nessas coberturas, opinião claramente desmentida pela pesquisa.

Vamos a alguns dados publicados no livro. Em 2002, no segundo turno, 66.66% das matérias eram favoráveis a Serra e apenas 20,0% a Lula. A autora conclui que, nesse período, "a cobertura se manteve na agenda dos candidatos, procurando pontuar o mesmo número de falas de Lula e Serra, mas com momentos ruins de Lula e momentos bons de Serra", mantendo a linha editorial iniciada na edição do debate Lula-Collor, acima mencionado.

Mas naquele ano Lula não foi o único alvo do Jornal Nacional. A pesquisa mostra como o noticiário da Globo se esforçou para derrubar a candidatura Ciro Gomes que ameaçava ir para o segundo turno, tirando José Serra da disputa. "O candidato do PPS recebeu valências (valoração dada às matérias: positiva, negativa e neutra) negativas durante quase todo o período da cobertura, destacando-se como homem truculento, de pavio curto, que fala o que pensa e só sabe criticar, além de estar envolvido com políticos corruptos", diz a autora.

Em 2006, chama atenção o quadro de valências referente às edições do Jornal Nacional veiculadas entre o início no horário eleitoral obrigatório no rádio e na TV e o primeiro turno das eleições. Vejam os percentuais de matérias positivas relativas aos principais candidatos:

Alckmin 68,57%; Cristovam 52,94%; Heloisa Helena 61,76% e Lula 16,43%.

É preciso dizer mais alguma coisa? São números que explicam a ida de Alckmin para o segundo turno e nos quais se insere a cobertura do famoso dossiê anti-petista, explorado à larga pelo Jornal Nacional.

Episódio também tratado no livro. Apesar do empenho, a Globo perdeu as duas eleições, mas mantêm-se fiel aos seus princípios. Mostra com grande antecedência que estará firme na próxima campanha presidencial, sempre do mesmo lado.

As gravações analisadas pela professora Flora Neves em 2002 e 2006 começaram a ser feitas no período que antecedeu as pré-convenções partidárias, já em pleno ano eleitoral. Diante do atual silêncio da Globo em relação à pesquisa CNT/Sensus recomendo aos interessados em analisar a cobertura das eleições de 2010 pelo Jornal Nacional, que comecem a trabalhar desde agora. Material, pelo visto, é que não vai faltar.

* Laurindo Lalo Leal Filho, sociólogo e jornalista, é professor de Jornalismo da ECA-USP e da Faculdade Cásper Líbero. É autor, entre outros, de “A TV sob controle – A resposta da sociedade ao poder da televisão” (Summus Editorial).

Por que o CCS não será reinstalado

Não é novidade que, faz tempo, existe uma polaridade de posições em torno da formulação das políticas públicas de comunicações no Brasil. Antes mesmo da Constituinte de 1986-88, as propostas com conseqüências na democratização do setor têm enfrentado enorme resistência por parte dos concessionários de radiodifusão no Congresso Nacional.

Nunca foi admitida, por exemplo, a criação de um órgão regulador autônomo, com poderes para outorgar, renovar e cancelar concessões de rádio e televisão, a exemplo do que ocorre em outros países. Foi exatamente a radicalização de posições em torno dessa proposta que fez com que a Comissão Temática onde se discutiu a comunicação fosse a única de toda a Constituinte que não conseguiu aprovar um relatório final para encaminhamento à Comissão de Sistematização.

Mais de vinte anos depois da promulgação da Constituição de 1988, a polarização em torno das questões centrais do setor continua. Pode-se atribuir a ela não só a forma como os atores dominantes tratam as questões de políticas públicas, mas também a imensa dificuldade para se aprovar qualquer regulação da Comunicação Social.

Regressão

No que se refere ao órgão regulador, no entanto, regredimos. E muito. Na Constituinte, a proposta original de criação de um órgão autônomo foi transformada em órgão auxiliar que deveria apenas ser ouvido quando o Congresso Nacional julgasse necessário. Essa alteração deu origem ao CCS – Conselho de Comunicação Social (Artigo 224). Apesar de criado, todavia, o CCS sempre enfrentou a resistência de boa parte dos parlamentares.

A lei que regulamentou a criação do CCS (Lei 8339/1991) foi aprovada pelo Congresso Nacional em 1991, mas ele só logrou ser instalado em 2002 como parte de um polêmico acordo para aprovação de uma Proposta de Emenda Constitucional (PEC) que, naquele momento, constituía interesse prioritário para os empresários de comunicação. A Emenda Constitucional nº 36 (Artigo 222), aprovada em maio de 2002, permitiu a propriedade de empresas jornalísticas e de radiodifusão por pessoas jurídicas e a participação de capital estrangeiro em até 30% do seu capital.

Mesmo sendo apenas um órgão auxiliar, o CCS instalado demonstrou ser um espaço relativamente plural de debate de questões importantes do setor – concentração da propriedade, outorga e renovação de concessões, regionalização da programação, TV digital, radiodifusão comunitária etc. Vencidos os mandatos de seus primeiros membros, houve um atraso na confirmação dos membros para o novo período de dois anos, o que ocorreu apenas em fevereiro de 2005. Ao final de 2006, no entanto, totalmente esvaziado, o CCS fez sua última reunião. Os membros para um terceiro mandato não foram indicados e o CCS nunca mais se reuniu.

Por quê?

O Congresso Nacional e, sobretudo, o Senado Federal abriga um grande número de parlamentares que tem vínculos diretos (ilegais?!) com as concessões de rádio e televisão. O CCS é um órgão que – insisto, mesmo sendo apenas auxiliar – discute questões que ameaçam os interesses particulares desses parlamentares e dos empresários de comunicação, seus aliados. Na verdade, eles não querem sequer debater.

Essa é a razão – de fato – pela qual o CCS não funciona.

A recondução de José Sarney (PMDB-AP) à presidência do Senado Federal e, portanto, do Congresso Nacional, não deixa dúvidas sobre o futuro próximo não só do CCS, mas de projetos no interesse da democratização das comunicações. Além de ser o exemplo emblemático do"coronel eletrônico", José Sarney já reconheceu publicamente que é concessionário (de rádio e televisão) por motivos políticos."Se não fossemos políticos, não teríamos necessidade de ter meios de comunicação", afirmou numa entrevista à revista CartaCapital (nº 369, de 23/11/2005).

Não há como ser otimista. No que se refere à regulação do setor de comunicações continuamos onde sempre estivemos e, em alguns casos, andamos muito para trás.

* Venício A. de Lima é pesquisador sênior do Núcleo de Estudos sobre Mídia e Política (NEMP) da Universidade de Brasília e autor/organizador, entre outros, de A mídia nas eleições de 2006 (Editora Fundação Perseu Abramo, 2007).

Caso Sarney: Ninguém contesta o coronel

[Comentário para o programa radiofônico do OI, 10/2/2009]

Quem acessar durante esta semana o site do Observatório da Imprensa vai encontrar na enquete a seguinte pergunta: "É correto um político usar uma concessão pública de TV para atacar seus adversários?".

A questão vem à superfície porque o presidente do Senado, José Sarney, foi apanhado em gravação da Polícia Federal orientando seu filho Fernando a usar as emissoras da família para atacar um adversário político.

Sarney é dono de um conglomerado de comunicação que inclui emissora de televisão afiliada à Rede Globo. A legislação proíbe a concessão de serviços públicos, entre eles os de radiodifusão, a detentores de cargo eletivo.

O pesquisador Venício A. Lima, integrante deste Observatório, já demonstrou que 51 deputados são donos ou sócios de emissoras, enquanto o Instituto de Estudos e Pesquisas em Comunicação constatou que pelo menos 27 dos 81 senadores são proprietários de veículos de comunicação, diretamente ou através de prepostos ou parentes. É o chamado coronelismo eletrônico.

O capítulo específico da Constituição de 1988 sobre Comunicação Social tem cinco artigos, que nunca foram regulamentados.

Pouco ânimo

Esse debate deveria estar fervendo na imprensa por esses dias, em função da conversa entre Sarney pai e Sarney filho, revelada pela Folha de S.Paulo. Mas o que os jornais destacam nas edições de terça-feira (10) é o projeto que livra da prisão os operadores ou responsáveis por emissoras clandestinas. Em vez de processo criminal, os acusados serão submetidos a processo administrativo no Ministério das Comunicações. Praticamente todos os jornais deram atenção à proposta, abordando corretamente o tema, com abertura de opiniões variadas.

A imprensa se manifesta contrária à existência das emissoras clandestinas, o que é razoável. Algumas delas estão nas mãos do crime organizado, mas na maior parte dos casos trata-se de emissoras comunitárias em situação irregular. É um problema que de fato precisa ser levado a debate, e até, eventualmente, a audiências públicas.

A imprensa está preocupadíssima com as emissoras clandestinas. Mas não tem o mesmo ânimo para a outra irregularidade, muito mais grave, que é a permanência do coronelismo eletrônico.

Caso Sarney: Como funciona o coronelismo eletrônico

Pesquisadores da área de comunicação social criaram, no final do século passado, o conceito de "coronelismo eletrônico" para explicar um fenômeno bastante particular, qual seja o da posse e utilização política de estações de rádio e de televisão por grupos familiares das elites políticas locais ou regionais. Uma boa explicação deste conceito está em entrevista concedida ao Observatório da Imprensa, em janeiro de 2002 [leia aqui] , pelo então assessor da bancada petista na Câmara Federal Israel Bayma, hoje integrante do Conselho Consultivo da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), e nas pesquisas promovidas pelo Instituto Projor e coordenadas por Venício A. de Lima ["Rádios comunitárias: coronelismo eletrônico de novo tipo (1999-2004)" – leia aqui, com Cristiano Lopes; e "Concessionários de radiodifusão no Congresso Nacional: ilegalidade e impedimento" – leia aqui].

Dizia Bayma:

"A literatura política brasileira tem utilizado o termo coronelismo como uma forma peculiar de manifestação do poder privado, com base no compromisso e na troca de proveitos com o poder público. A ciência política trata como coronelismo a relação entre os coronéis locais, líderes das oligarquias regionais, que buscavam tirar proveito do poder público, no século 19 e início do século 20. Hoje, não há como deixar de se associar esse termo aos atuais impérios de comunicação mantidos por chefes políticos oligárquicos, que têm, inclusive, forte influência nacional. O compadrio, a patronagem, o clientelismo, e o patrimonialismo ganharam, assim, no Brasil, a companhia dos mais sofisticados meios de extensão do poder da fala até então inventados pelo homem: o rádio e a televisão."

No domingo (8), o jornal Folha de S. Paulo traz uma reportagem [leia aqui] que ajuda imensamente a traduzir a linguagem dos pesquisadores para o mundo real da política brasileira. Trata-se do relato de uma conversa gravada pela Polícia Federal (e vazada sabe-se lá por quem, pois o jornal não informa) em que o novo presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), dá instruções ao seu filho Fernando sobre matérias que deveriam ser veiculadas na TV Mirante e no jornal O Estado do Maranhão, ambos de propriedade da família Sarney, com denúncias contra o governo de Jackson Lago (PDT), rival de Sarney no estado.

Mais sutil

No fundo, a matéria da Folha é o que de melhor este observador já viu para explicar um conceito teórico na prática. Está tudo lá: uma família (Sarney), proprietária de uma rede de veículos de mídia (além da TV Mirante, afiliada da Rede Globo, e do jornal, a família detém retransmissoras no interior e uma rede de rádios), faz uso político desses veículos, ao arrepio da legislação, conforme observa a reportagem da Folha (a lei 4.117/62 proíbe uso de emissoras de TV para fins políticos).

Para quem conhece minimamente o funcionamento de uma redação, o que Sarney pai fez – e isto fica muito claro no diálogo reproduzido na versão impressa do jornal, indisponível na internet – foi pautar o seu filho Fernando. A ordem é direta: "Põe na TV. Manda botar o destino do dinheiro recebido", diz o pai, referindo-se a uma denúncia envolvendo Aderson Lago, primo do governador Jackson, que por sinal enfrenta na Justiça um processo que pode lhe custar o cargo e colocar no lugar a filha de Sarney, senadora Roseana (PMDB-MA).

"O cara já está aqui, da Globo", responde o filho. "Falou com ele isso, não?", questiona o pai. "Falei com ele, mostrei tudo […]. Mas calma, não precisa pressa, não precisa pressão", devolve o filho.

Mais claro do que isto, impossível. Os pesquisadores ganharam um "estudo de caso" perfeito para explicar o conceito de coronelismo eletrônico e os leitores da Folha foram premiados por uma excelente reportagem, embora tenha faltado esclarecer a fonte do vazamento da conversa, porque há um óbvio interesse do vazador em desgastar o recém-eleito presidente do Senado. Também faltou explicar que a prática em questão não é exceção, mas regra.

Da mesma forma como a família Sarney domina a mídia do Maranhão, há coronéis eletrônicos por todo o país, talvez à exceção dos estados de São Paulo e Rio, onde a influência política nos meios de comunicação se dá de outra maneira, muito mais sutil. No Norte e Nordeste, especialmente, o coronelismo eletrônico é lei. Caberia um box, no mínimo, mas isto em nada diminui a boa matéria da Folha, editada com correção, ainda mais considerando o fato de José Sarney ser colunista do jornal.

* Luiz Antonio Magalhães é editor-adjunto do Observatório da Imprensa.

É bom a TV estar tímida

A televisão aberta brasileira perdeu audiência. Isso é fato, mas não se deve fazer um drama. A explicação é simples: a TV não é mais um veículo massivo como foi no passado. Quando se compara a audiência de uma novela de hoje, como Caminho das Índias, com o público de uma novela de ontem, como Roque Santeiro, por exemplo, que chegou a 99 pontos de audiência, está se comparando públicos muito diferente

O público de uma novela de 1995, por exemplo, estava totalmente voltado para a televisão, que era a mídia dominante. Hoje a sociedade tem outras fontes de lazer e cultura à mão, como a internet, o MP3, o celular, a TV paga etc. Ora, isso é bom! Essa conjuntura torna o consumo mais parecido com a sociedade, que é altamente heterogênea. Não deveria ser estranho caírem os índices do Ibope: estranho é haver 70% da população ligada no mesmo programa. Houve uma época, aliás, em que para se sentir parte da sociedade o indivíduo precisava assistir à novela. Se ele chegasse ao trabalho sem ter visto o capítulo do dia anterior não entrava nas conversas, simplesmente não tinha assunto. Hoje, o tempo que as pessoas dedicam à televisão é menor, já que o tempo para tudo é mais exíguo.

Esse fenômeno da queda da importância da TV tem duas grandes causas. A primeira é a emergência das redes por assinatura, que dividiram o público; a segunda, a migração dos jovens para qualquer uma das outras mídias já citadas. São estes últimos que compõem boa parte da audiência atualmente, por terem mais tempo livre.

Portanto, quando você está falando de uma novela que atinge 27 pontos no Ibope hoje, isso é ótimo para a trama, já que é uma margem elevada de público, e ótimo para a população, que está olhando em outras direções também. Não é "culpa" do autor ou da história, é isso mesmo: o público mudou, é preciso aceitar e se adaptar. Com os jornais aconteceu o mesmo. Alguns grandes vendiam 1 milhão por dia e hoje têm tiragem de 300 mil exemplares nos fins de semana.

É necessário contextualizar tudo. O público de TV é três vezes menor hoje do que foi há 10 anos. Mas nem tudo está perdido para essa mídia: o fato de a fabricação da TV móvel estar crescendo e de a nova geração de telefones celulares receber sinal dos canais, possivelmente vai aumentar a audiência dos programas da manhã, que hoje ficam com apenas cerca de 1 ponto.

Em um balanço geral, portanto, é bom que a TV esteja mais tímida.

* Nelson Hoineff é jornalista, produtor, diretor de TV e diretor do Instituto de Estudos de Televisão (IETV).