É bom a TV estar tímida

A televisão aberta brasileira perdeu audiência. Isso é fato, mas não se deve fazer um drama. A explicação é simples: a TV não é mais um veículo massivo como foi no passado. Quando se compara a audiência de uma novela de hoje, como Caminho das Índias, com o público de uma novela de ontem, como Roque Santeiro, por exemplo, que chegou a 99 pontos de audiência, está se comparando públicos muito diferente

O público de uma novela de 1995, por exemplo, estava totalmente voltado para a televisão, que era a mídia dominante. Hoje a sociedade tem outras fontes de lazer e cultura à mão, como a internet, o MP3, o celular, a TV paga etc. Ora, isso é bom! Essa conjuntura torna o consumo mais parecido com a sociedade, que é altamente heterogênea. Não deveria ser estranho caírem os índices do Ibope: estranho é haver 70% da população ligada no mesmo programa. Houve uma época, aliás, em que para se sentir parte da sociedade o indivíduo precisava assistir à novela. Se ele chegasse ao trabalho sem ter visto o capítulo do dia anterior não entrava nas conversas, simplesmente não tinha assunto. Hoje, o tempo que as pessoas dedicam à televisão é menor, já que o tempo para tudo é mais exíguo.

Esse fenômeno da queda da importância da TV tem duas grandes causas. A primeira é a emergência das redes por assinatura, que dividiram o público; a segunda, a migração dos jovens para qualquer uma das outras mídias já citadas. São estes últimos que compõem boa parte da audiência atualmente, por terem mais tempo livre.

Portanto, quando você está falando de uma novela que atinge 27 pontos no Ibope hoje, isso é ótimo para a trama, já que é uma margem elevada de público, e ótimo para a população, que está olhando em outras direções também. Não é "culpa" do autor ou da história, é isso mesmo: o público mudou, é preciso aceitar e se adaptar. Com os jornais aconteceu o mesmo. Alguns grandes vendiam 1 milhão por dia e hoje têm tiragem de 300 mil exemplares nos fins de semana.

É necessário contextualizar tudo. O público de TV é três vezes menor hoje do que foi há 10 anos. Mas nem tudo está perdido para essa mídia: o fato de a fabricação da TV móvel estar crescendo e de a nova geração de telefones celulares receber sinal dos canais, possivelmente vai aumentar a audiência dos programas da manhã, que hoje ficam com apenas cerca de 1 ponto.

Em um balanço geral, portanto, é bom que a TV esteja mais tímida.

* Nelson Hoineff é jornalista, produtor, diretor de TV e diretor do Instituto de Estudos de Televisão (IETV).

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