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Estatuto da Juventude pode ter seção sobre direito à comunicação

Foi aprovado no dia 4 de abril (quinta) pelo Senado o pedido de urgência na votação do Estatuto da Juventude (PLC 98/2011). O acordo que possibilitou a agilização do processo se deu entre as lideranças dos partidos. A decisão sobre o projeto de lei está prevista para o dia 10 (quarta) na casa e em seguida deve seguir para Câmara do Deputados e para a sanção da presidenta. O documento possui uma sessão específica que trata do direito à comunicação dos jovens.

O Estatuto da Juventude dispõe sobre os direitos dos jovens (15 a 29 anos) e os princípios e diretrizes das políticas públicas de juventude. A inclusão de um ponto específico sobre o direito à comunicação é fruto do debate que foi travado durante a 2ª Conferência Nacional de Juventude, em dezembro de 2011, e que assimilou apontamentos da I Conferência Nacional de Comunicação (Confecom).

A seção VII do capítulo que trata do direitos dos jovens, intitulada “Do Direito à Comunicação e à Liberdade de Expressão” traz dois artigos nos quais afirma o “direito à comunicação e à livre expressão, à produção de conteúdo, individual e colaborativo, e ao acesso às tecnologias de informação e comunicação” e define medidas a serem tomadas pelo poder público para a efetivação desse direito.

Nilton Lopes, que esteve no Conselho Nacional de Juventude (Conjuve) durante a realização da 2ª Conferência, considera que “ainda que a discussão não tenha sido colocada como prioridade, é um grande ganho que ela tenha entrado na pauta”. Segundo ele, o tema foi praticamente ignorado na primeira conferência, mas ganhou força e importância na segunda, tendo um documento específico produzido pelo Conjuve, que sistematizou discussões importantes da sociedade civil e serviu ainda para construir a metodologia do encontro.

Para Lopes há um “grande ganho no que se conseguiu avançar em termos de participação política do movimento de juventude no tema da comunicação, embora ainda não tenhamos ainda uma política de comunicação para esse segmento”.

Entre os temas polêmicos do Estatuto da Juventude se destacou o do direito à meia entrada para eventos culturais, artísticos e esportivos. Temendo que o direito à comunicação fosse ameaçado, optou-se pela sua separação da seção que trata da cultura (seção VI).

Empresas tentam sufocar na Justiça blogs que fazem críticas à mídia

Enquanto as grandes empresas de comunicação tentam emplacar o seu conceito de “liberdade de expressão comercial” , blogueiros são sufocados por exercerem o seu direito de criticar a postura da grande mídia. No dia 29 de março (sexta-feira), foi a vez do jornalista Luiz Carlos Azenha anunciar, depois de dez anos de existência, o fim do blog “Viomundo”, devido à ação judicial movida pelo diretor da Central Globo de Jornalismo, Ali Kamel.

A condenação foi definida no dia 19 de março pela juíza Juliana Benevides de Barros Araujo, da 27ª Vara Criminal do Rio de Janeiro. Azenha, ex-funcionário da Globo, terá que pagar R$ 30 mil a Kamel em indenização por danos morais. Os advogados do diretor da emissora alegam que esteja ocorrendo “perseguição pessoal” do réu, por este ter sido citado em pelo menos 28 artigos divulgados desde 2008. Azenha afirma que diante dos mais de 25 mil posts isto representa uma porcentagem “irrisória” e que não pode ser utilizada como critério.

Para Azenha a ação judicial movida contra si diz respeito à tentativa de suprimir o direito a expressar uma opinião. Suas matérias que questionam a condução do jornalismo na Globo durante os últimos pleitos eleitorais (como a exibição pela emissora por 18 minutos de uma matéria sobre o julgamento do mensalão, às vésperas da eleição paulista)  teriam feito com que Kamel tivesse interesse em fazê-lo se calar. O interesse da empresa e de seu diretor se confundem dessa forma em uma ação movida pela pessoa física. “O caso é movido em nome dele, mas não dá pra separar o cara da função que desempenha”, afirma.

O jornalista anunciou no dia 1º de abril, (segunda) que refundaria o site com novo nome (“Democratas”) e com mudanças, após se dizer emocionado com a solidariedade demonstrada por seus leitores. "Serão trabalhos jornalísticos, não de militância, sobre assuntos que a mídia corporativa brasileira simplesmente desconhece", afirmou no blog.

Casos similares

Briga semelhante à que vem sendo travada entre o diretor global e o blogueiro que vê o mundo tem sido a que o jornal “Folha de São Paulo” declarou contra o blog de paródia “Falha de São Paulo”. No dia 20 de fevereiro, a justiça paulista tomou em segunda instância decisão desfavorável à crítica humorística. A alegação, nesse caso, não foi a dos “danos morais”, mas a do “uso indevido da marca”, por identificar semelhanças estéticas utilizadas pelo website paródico. Como consequência, os irmãos Bocchini, que mantém o sítio eletrônico, tiveram o domínio congelado e estão sujeitos a multas caso insistam na tentativa de levar o projeto à frente.

Para os blogueiros, é característico desse tipo de humor de caricatura, utilizado inclusive pela própria Folha de São Paulo, o uso das formas estéticas para fazer alusão ao objeto da crítica. “O nome do negócio ‘Falha de São Paulo’ é o cerne da brincadeira e a paródia e a crítica não estão só no conteúdo”, explica Lino Bocchini.

Segundo Bocchini, as empresas que movem esse tipo de ação abrem um precedente jurídico (uma jurisprudência) que pode ser utilizado inclusive contra a possibilidade delas mesmas exercerem a função de crítica pública. “A gente tem martelado que é importante a defesa da liberdade de expressão e eles focam na discussão comercial da marca”.

Procurado pelo Observatório do Direito à Comunicação, o jornal Folha de São Paulo declarou que “não há qualquer perigo de censura, uma vez que todo o conteúdo humorístico ou baseado na paródia –sem violação de marca– está sendo veiculado no blog/site desculpenossafalha , sem que contra isso o jornal tenha manifestado qualquer objeção. A única e tão só objeção da Folha foi a violação da marca pela utilização de elementos que a caracterizam”.

Há ainda outros casos vítimas de Kamel, como o julgado no último dia 28 de fevereiro, em que o jornalista Paulo Henrique Amorim foi condenado a pagar indenização de R$ 50 mil a Ali Kamel por danos morais, por acusá-lo em seu blog de racista e de promover o racismo. O blogueiro Rodrigo Vianna teve o valor da multa fixado em R$ 50 mil por ter associado a imagem do diretor de jornalismo da Globo a de um homônimo que teria sido ator de filme pornô.

Luiz Carlos Azenha vê semelhança entre o seu caso com o de Vianna (que também é ex-funcionário da Globo), pois ambos dirigiram fortes críticas à emissora carioca por sua cobertura durante as eleições ter privilegiado o candidato tucano.

O jornalista Lúcio Flávio Pinto, e seu “Jornal Pessoal”, já foi alvo de 33 processos na justiça do Pará, condenado em quatro e agredido fisicamente. “Para quem já foi processado 33 vezes, ter um oficial de justiça à sua porta deixou de ser novidade, conquanto continue a ser um constrangimento social (presume-se que o intimado é sempre culpado)”, diz em artigo publicado no Observatório da Imprensa. Entre 1992 e 2005, os Maiorana, donos de empresas de comunicação no Pará, foram a origem de 19 ações, cíveis e criminais, contra Lucio Flávio. Foi deles também que veio o “sopapo no meio da fuça”, no dizer “carinhoso” do juiz Amílcar Roberto Bezerra Guimarães, que condenou o jornalista em um dos casos movidos contra ele.

Resistência

No dia 2 de abril, reunidos no Centro de Estudos de Mídia Barão de Itararé, em São Paulo, blogueiros, ativistas, militantes de partidos políticos, movimentos sociais e advogados decidiram criar um fundo nacional para batalhas judiciais que envolvam comunicadores que estejam fora da grande mídia e sejam perseguidos judicialmente ou tenham a integridade física ameaçada.

Segundo Azenha, “aqueles que detém o monopólio da mídia” tem se utilizado da “judicialização do debate político” contra os seus críticos, porque nessas brigas judiciais “quem tem mais recursos ganha, quem tem menos perde e é obrigado a se calar”.

O fundo emergencial será composto por doações e gerido pelo “Conselho Nacional da Blogosfera”, formado por 26 ativistas. A conta bancária que receberá as contribuições de internautas ficará, por enquanto, em nome do Barão de Itararé. Além disso, será criado um corpo jurídico para defender os  blogueiros.

III Fórum Mundial de Mídia Livre coloca liberdade de expressão no centro do debate

TUNIS – Em sua terceira edição mundial, o Fórum de Mídia Livre chegou a Tunis com uma dupla missão. Inserido na programação do Fórum Social Mundial 2013, o FMML tinha como objetivo, em primeiro lugar, integrar os inúmeros atores, ativistas, organizações e mídias alternativas e independentes da região do norte da África e Oriente Médio – que estão no centro das revoluções ainda em curso no Magreb-Mackreck – ao movimento internacional em defesa do direito à comunicação. Em segundo, dar visibilidade às suas demandas e mais urgentes necessidades, como parte de uma dinâmica de solidariedade internacional, sem a qual nenhuma luta pode, se fato, ser vitoriosa.

O desafio não era pequeno. Dois anos depois do pontapé dado à Primavera Árabe, a Tunísia passa atualmente por um processo complexo, conflituoso e, por vezes, contraditório. Após a queda do ditador Ben Ali, o novo governo conservador islâmico não rompeu totalmente com a política anterior e segue sendo questionado pela população, que clama por liberdade, dignidade e justiça social, e que combate permanentemente nas ruas a hegemonia cultural e os valores das elites dirigentes. Num contexto de perda de confiança nas instituições e forte confrontação ideológica, o principal líder da oposição, Chokri Belaid, foi assassinado a dois meses do início do FSM, numa tentativa de calar a voz daqueles que buscam transformações reais e o estabelecimento da democracia no país. Neste cenário, a luta pela liberdade de expressão e pela construção de uma mídia livre, alternativa e independente se mostra cada vez mais estratégica na região.

O Fórum Mundial de Mídia Livre se constituiu então num espaço de trocas e construção de conhecimento em torno desta agenda global. Depois de duas edições no Brasil (Belém 2009 e Rio de Janeiro 2012), onde o centro do debate foram as experiências de marcos regulatórios democratizantes na América Latina, o FMML desta vez conheceu e deu voz a um novo ciclo de lutas e revoluções.

"A repressão continua mesmo após a queda de Ben Ali", contou Bessen Krifa, da Associação Tunisiana de Blogueiros, que foi preso duas vezes durante a ditadura e uma vez depois da queda do antigo regime. "A censura existe na internet, inclusive sobre os jornalistas profissionais, principalmente contra o jornalismo de investigação. Precisamos urgentemente de informações verdadeiras. Nosso dever é defender a verdade, para que o nosso chamado seja ouvido", afirmou.

“Num país como o meu, em que a democracia é apenas uma palavra, as pessoas têm medo de se expressar. Enfrentar o medo de ser atacado por dizer o que pensamos é, portanto, nosso primeiro desafio”, acrescentou Victor Nzuzi, do Congo.

Nas novas ou antigas mídias, o desafio é enorme. No Mali, a rádio comunitária Kayira, criada pelos líderes da revolução de 1991, que transformou o país, é o testemunho de 20 anos de perseguições contra aqueles que se erguem contra o poder dominante. No ano passado, salas da associação responsável pela rádio foram queimadas. Dia 3 de janeiro deste ano, um jornalista da emissora foi atingido por um tiro de fuzil caseiro. Em fevereiro, depois de receber ameaças, o produtor da rádio foi apunhalado na cabeça e não resistiu.

"Claramente foi um assassinato político", conta Mahamadou Diarra, também criminalizado e em liberdade provisória. "Nossa rádio trabalha com o movimento campesino e de mulheres. Fazemos atividades de formação e encorajamos as pessoas a criarem associações locais", explica. Tudo isso incomoda. Neste momento, por exemplo, a Kayira se opõe publicamente à intervenção francesa no Mali. "Uma solução importada não será sustentável. Queremos um diálogo e uma negociação com todos os grupos para resolver o problema internamente", diz Diarra. A luta maior da emissora, no entanto, é pela própria sobrevivência. "Precisamos de diversidade de informação, algo que vá além da RFI e da France 24 [rádios francesas transmitidas no país]. A tradição oral é muito importante no Mali, então temos que discutir como preservar nossas mídias locais, e a rádio é importante para a sobrevivência dessa cultura", afirma.

Na avaliação da presidenta da Associação Mundial de Rádios Comunitárias, a chilena Maria Pía Matta, a primeira missão dessas emissoras é promover a democratização da palavra, cada dia mais concentrada em poucas mãos. Em Tunis, Pía lembrou que a concentração dos meios inibe a existência de leis que garantam sistemas democráticos de comunicação.

Na própria Tunísia, onde a mídia alternativa foi amplamente utilizada no processo revolucionário, não há uma legislação que garanta a liberdade de expressão, e a família de Ben Ali continua controlando os grandes meios. Após as eleições em 2011, três projetos de lei passaram a tratar do tema: um focado no acesso à informação, outro na liberdade de imprensa e, por fim, um tratando de um sistema de regulação independente de radiodifusão. Somente o primeiro avançou. No Egito, apesar de oito novas emissoras de TV terem sido criadas após a queda de Hosni Mubarak, o espaço público segue controlado pelas grandes corporações midiáticas. "Muitos governos não reconhecem a comunicação como um direito humano. Mas é o direito à palavra que possibilita nos manifestarmos e termos direito a outras coisas", lembrou Maria Pía Matta.

Na Palestina ocupada, um dos temas centrais nesta edição do Fórum Social Mundial, a comunicação alternativa se mostra fundamental para desmistificar o que a grande mídia relata de forma homogênea. "Um mundo árabe uniforme, onde só há terroristas, bárbaros que não se desenvolveram e onde as mulheres são submissas. Mas a realidade é outra. O protagonismo das mulheres na luta contra a ocupação e para ter uma mídia livre e independente é histórico. Israel tem reforçado as prisões e há dezenas de jornalistas detidos por defenderem a liberdade de expressão. Neste sentido, a solidariedade internacional da mídia livre é fundamental na luta palestina", avalia Soraya Misleh, do Movimento Palestina para Todos.

Memória e conhecimentos livres

Em um de seus momentos mais simbólicos, o III Fórum Mundial de Mídia Livre homenageou, num memorial idealizado pela Ciranda Internacional da Comunicação Compartilhada, aqueles/as que tombaram exercendo sua liberdade de expressão em todo o mundo. Um dos nomes é o de Fidan Dogan, do Curdistão. A ativista chegou a participar do II Fórum Mundial de Mídia Livre, realizado em junho passado na Cúpula dos Povos da Rio+20, buscando visibilidade para a luta do povo curdo, ignorada pela imprensa tradicional. Fidan era responsável pelo Centro de Informação do Curdistão em Paris, onde foi executada em janeiro deste ano, ao lado de outras duas militantes da luta do povo sem estado, por reconhecimento político e liberdade.

Na exposição de memória, ao lado de Fidan Dogan, o retrato de Aaron Swartz, ciberativista americano que se suicidou em janeiro, aos 26 anos. Aaron estava sendo julgado e poderia ser condenado a US$ 1 milhão em multas e a até 35 anos de prisão por baixar artigos científicos de um periódico do Instituto de Tecnologia de Massachussets (MIT), cujo acesso defendia ser livre. Sua assinatura está presente em inúmeras ferramentas de compartilhamento de conteúdo na internet.  Swartz ajudou a criar o sistema RSS e foi um dos fundadores da rede social Reddit – site de compartilhamento de informações – e da organização ativista Demand Progress, que promove campanhas online sobre questões sociais.

Após sua morte, a promotoria federal em Boston retirou as acusações contra Aaron Swartz. Mas as ameaças à liberdade na internet seguem crescentes em todo o mundo, e também foram temas de inúmeros debates no Fórum de Mídia Livre em Tunis. O esforço é aproximar movimentos sociais que utilizam soluções corporativas e ativistas do software, redes e tecnologias livres, para que trabalhem juntos pela transformação social.

“É preciso buscar a coerência entre a idéia que queremos transmitir e os meios que usamos para transmiti-la. E, quando falamos de mídia, desconhecer as ferramentas que utilizamos é um fator negativo para nós. Cada ação que praticamos impacta no mundo de hoje e na construção do mundo em que viveremos no futuro”, alerta o uruguaio Luis Anibal, do coletivo Hipatia. “Nossos dados e memórias são muito importantes para serem controlados pela empresa de Zuckerberg [dono do Facebook]”, acrescentou Alexia Haché, do coletivo Lorea, da Cataluña, que promoveu uma série de oficinas no Hacklab – o laboratório hacker do Fórum Mundial de Mídia Livre.

Na Venezuela de Hugo Chávez, o processo de nacionalização do petróleo correu o risco de ser bloqueado pela ação das empresas americanas que detinham a propriedade intelectual dos softwares de exploração petrolífera. A ação de hackers e o desenvolvimento de softwares livres virou o jogo e possibilitou a soberania tecnológica e energética do país. O episódio ficou conhecido como o resgate do cérebro da PDVSA.

“O ministro venezuelano do Desenvolvimento, Felipe Perez Marti, entendeu que, se havia algo que poderia resolver o problema da Venezuela, seria o software livre. Em uma semana, hackers quebraram o código proprietário e foi feita toda a migração da tecnologia da indústria do petróleo para o software livre”, contou Juan Carlos Gentile Fagundez, também do Hipatia e assessor de Chávez neste processo. Assim como os blogueiros e radialistas do Maghreb-Machrek, Gentile  sofreu sabotagens e recebeu ameaças de morte por ter colocado o acesso ao conhecimento acima da mercantilização de um bem público.

“No final das contas, não se trata de um debate restrito a plataformas, mas de valores que queremos para o mundo”, explica Rita Freire, da Ciranda. “Mais do que ferramentas, o software livre tem princípios e um modelo de criação baseado no bem comum. É importante então olhar, para além da apropriação tecnológica, para o potencial de transformação desses valores. É isso que buscamos aqui”, concluiu o canadense Stephane Couture, do coletivo Koombit.

Emissoras públicas questionam destinação da faixa de 700MHZ

Diversos setores têm se mostrado preocupados com a utilização que será dada à faixa de 700 MHz do espectro radioelétrico (onde estão os canais de 52 a 69 do UHF). Empresas de telecomunicação divergem das concessionárias de radiodifusão. Grupos privados demonstram preocupações diferentes do setor público. A falta de consenso no setor ficou evidente na audiência pública realizada pela Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) no dia 27 de março.
 
Com a transição da TV analógica para a TV Digital, que se encontra hoje em andamento, há a possibilidade do “adensamento” da faixa explorada pela radiodifusão. Em outras palavras, é possível transmitir um número maior de programações dentro do mesmo espaço radioelétrico. O Governo Federal entende e propõe a partir disso, com o apoio das empresas de telecomunicação, que o caminho correto a seguir seria o da “liberação” da chamada faixa de 700 MHz para a exploração do serviço de banda larga móvel (4G), restringindo o serviço de televisão aberta nas faixas inferiores (UHF canais 14-51).
 
A decisão de explorar a faixa de 700 MHz para o serviço de telecomunicações gera desconforto entre radiodifusores públicos e privados. Ambos temem que em grandes cidades, em que há grande número de emissoras e concessões, não seja possível realizar a reacomodação de todos os concessionários de forma adequada, eliminando alguns atores da cena.
 
As empresas privadas de radiodifusão defendem que a “faixa liberada para banda larga deveria ser inferior a 108 MHz” (a chamada faixa de 700 MHz abrange o intervalo entre os 698 MHz e 806 MHz) nos municípios em que há grande demanda para o serviço de radiodifusão, defendeu o engenheiro da Abert (Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão), Paulo Ricardo Balduíno. Os empresários reclamam também da interferência que a tecnologia utilizada naquele espaço de frequência possa vir a causar nos serviços de televisão aberta.
 
Os grupos ligados ao chamado “campo público” denunciam que há marginalização das empresas não comerciais e quebra de compromissos assumidos durante o governo Lula. Segundo consta na Norma Geral para Execução dos Serviços de Televisão Pública Digital (Norma nº 01/2009), “os canais 60 a 68 serão destinados exclusivamente para os Serviços de Televisão e de Retransmissão de Televisão Pública Digital”. “É o consumidor ou o cidadão que está sendo avaliado como pessoa interessada no processo de destinação dessa faixa de espectro”, questionou Nelson Breve, presidente da Empresa Brasil de Comunicação (EBC).
 
Teme-se que com a reacomodação não sejam garantidos em sua integralidade os canais previstos para a exploração da TV pública, como o Canal da Cidadania, ou que estas emissoras sejam deslocadas para a faixa chamada de “alto VHF” (canais 7-13), o que limitaria a utilização de funcionalidades do serviço de TV Digital para essas emissoras. O Ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, já desmentiu essas informações em visita à Câmara dos Deputados.
 
Entidades que lutam pela democratização da comunicação manifestaram suas preocupações . Gésio Passos, do Coletivo Intervozes, reclamou que a decisão sobre a faixa de 700 MHz vem sendo tomada sem nenhuma discussão pública pelo Governo Federal. Apontou como exemplo disso a ausência do Ministério das Comunicações na audiência pública, enquanto a Anatel se defende afirmando que não é responsável pela formulação da política, mas apenas por sua aplicação. “A gente quer que esse debate venha à tona para ser discutido qual uso vai ter pra sociedade”, reivindicou.
 
O Exército Brasileiro e as polícias Militar e Civil também reivindicaram um bloco de 20 MHz na faixa de 700 MHz para o uso no serviço de segurança pública. A proposta contou com o apoio do representante da empresa “Motorola Solutions”.

Teles ameaçam fundo da comunicação pública

O financiamento da Empresa Brasil de Comunicação é um dos principais pontos de debate sobre a autonomia da comunicação pública. Hoje as empresas de telecomunicação são quem mais ameaçam o mecanismo criado pela Lei 11652/2008 que permite a ampliação dessa independência financeira.

O Sindicato Nacional das Empresas de Telefonia e de Serviço Móvel Celular e Pessoal (Sinditelebrasil) já anunciou em nota que vai recorrer em segunda instância contra decisão da Justiça Federal que deu voto favorável à EBC, negando o mandado de segurança que questiona a constitucionalidade da contribuição das empresas de telecomunicações para o fomento à radiodifusão pública.
 
As empresas de telecomunicação querem se isentar de pagar a Contribuição para o Fomento da Radiodifusão Pública, instituída pela Lei 11652/2008, alegando que seria inconstitucional obrigá-las a financiar um serviço que seria de natureza diferente da do mercado que elas exploram. A juíza Maria Cecília considerou, em primeira instância, que “a contribuição cobrada das empresas de radiodifusão visa a permitir o serviço público de informação educativa à população” e que "há correlação entre a prestação dos serviços de telecomunicação e de radiodifusão e a quantidade de estações, na medida em que o número de estações pode ser sinal da intensidade da prestação dos serviços".
 
A Contribuição para o Fomento da Radiodifusão Pública corre também o risco de ter seu valor diminuído também por meio do Projeto de Lei 3655/12, do deputado Eduardo Barbosa (PSDB-MG), que tramita nas comissões de Ciência e Tecnologia, Comunicação e Informática; de Finanças e Tributação; e de Constituição e Justiça e de Cidadania; em caráter conclusivo e prevê a utilização de uma tabela que reduz o seu montante.
 
Segundo a própria EBC, o volume médio arrecado e depositado pelas teles em juízo (não pode ser utilizado até a conclusão do processo) gira em torno de R$ 350 milhões anuais. A EBC teria direito ao mínimo de 75% da arrecadação com a Contribuição para o Fomento da Radiodifusão Pública, conforme fixado pela Lei 11.652/2008, o que representaria mais da metade do orçamento estimado para a EBC em 2013.  O prazo para esse depósito está previsto anualmente para o dia 31 de março. De acordo com a Anatel, a dívida geral das empresas de telecomunicação com a União já atinge o número recorde de R$ 25 bilhões.