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Fórum Nacional dos Pontos de Cultura tira Comissão Nacional para 2008

Fechando a TEIA 2007, ocorrida em Belo Horizonte de 7 a 11 de novembro, a plenária final do Fórum Nacional dos Pontos de Cultura(FNPC) tentou sistematizar, no último domingo, as propostas dos quase 400 Pontos participantes do encontro, e fechar uma agenda política comum de atuação. A plenária contou com representantes de cerca de 300 Pontos (muitos retornaram às suas regiões nesse último dia) e durou cerca de 5 horas. 

Como encaminhamento prático e por votação foi definida uma Comissão Nacional dos Pontos de Cultura, que vai contar com 48 representantes: um representante de cada Estado e do Distrito Federal e um representante de cada eixo do Programa Cultura Viva (Escola Viva, Cultura Digital, Ação Griô), somados a um representante de cada segmento artístico que recebeu proposta de inclusão na plenária, como é o caso das Comunidades Indígenas e Comunidades Tradicionais / Herança Intangível.

Os nomes dos representantes dos Estados e segmentos devem ser indicados à comissão provisória dos Pontos até o dia 31/11, prazo questionado por diversos Pontos.

Outros pontos

Apesar do longo período de reunião, muitos temas caros à agenda política dos Pontos de Cultura ficaram de fora da tensa e barulhenta plenária final, como a continuidade do Programa Cultura Viva com a sucessão ministerial, a sustentabilidade dos Pontos e a alteração na legislação a eles relacionada.

Não houve também um documento oficial aprovado – a não ser a carta de análise conjuntural, lida na abertura do FNPC e objeto de dissenso durante o encontro. Além disso, as propostas dos grupos, que se reuniram por região, foram lidas, mas não tiveram espaço para serem debatidas, deixando, para muitos, uma lacuna no resultado do encontro.

“A forma das deliberações foi imediatista. Não esgotamos as discussões antes de chegarmos à decisão por uma comissão.”, relatou Ana Paula Jones (Ponto de Cultura Raízes da Tradição – PE), que propôs o segmento Comunidades Indígenas e Comunidades Tradicionais / Herança Intangível para ter assento na Comissão Nacional, com aceite da plenária. Kátia Mendes completou: “Saímos de lá sem conseguir encaminhar a plataforma política desse Fórum. Os próprios Pontos não perceberam a sua importância política”.

Para os organizadores, os trabalhos na plenária foram realizados no limite das possibilidades e a própria decisão por uma comissão nacional já indica uma evolução política dos Pontos de Cultura. “O encaminhamento dessa comissão, com a composição escolhida, é essencial nesse momento político, para não ficarmos à mercê das circunstâncias”, afirmou Alexandre Santini (Ponto de Cultura Tá na Rua – RJ), da Comissão Organizadora.

Política

De acordo com Santini, o resultado da plenária final deixou clara a força dos Pontos no atual momento político. “Os Pontos de Cultura são um fator de pressão o tempo todo. O Ministério da Cultura sabe disso e reconhece a necessidade de fortalecer-nos”, diz ele, que alerta: “Mas é preciso que o Fórum Nacional exista concretamente para a interlocução com o Ministério, e que tenha legitimidade”.

Para Ana Paula Jones, essa legitimidade é central, mas já saiu prejudicada da própria plenária do FNPC. “Não houve sentimento de pertencimento pelos Pontos, principalmente na plenária, onde se percebeu uma condução autoritária dos trabalhos”, disse. Para ela, o alcance dessa legitimidade depende de um consenso na tomada das decisões. A crítica é dirigida à comissão organizadora do Fórum, que dirigiu os trabalhos da plenária e que se manteve como comissão provisória até a escolha dos nomes definitivos. Muito se reclamou da condução do debate, desde a falta de espaço para a fala dos Pontos até a supressão de propostas e confusão nos encaminhamentos.

“O que essa comissão fez foi subestimar os Pontos de Cultura e acharque a gente não tem capacidade de percepção”, bradou Mãe Lúcia, representante de vários Pontos de Cultura relacionados à Ação Griô na Bahia.

Daqui para frente

Do Fórum emergem algumas questões a serem resolvidas, tanto no aspecto político quanto organizacional dos Pontos. Uma delas é a eventual separação entre TEIA (encontro nacional dos Pontos, envolvendo a apresentação de seus trabalhos artístico-culturais) e do próprio Fórum, que teria um viés mais pragmático e político. Segundo Santini, “há uma proposta de realização anual do FNPC, sendo a primeira em Brasília, e bienal da TEIA, a fim de focarmos esforços”.

A idéia diz respeito ao fato de as programações de ambos serem muito densas para a conciliação. “Só o espírito superior pode estar em vários lugares ao mesmo tempo”, reclama Mãe Lúcia.

Outra hipótese levantada pelos Pontos durante o Fórum foi o de descentralizar a TEIA 2008, produzindo encontros menores nas diversas regiões do país. Além disso, a partir de agora deve ser discutido o financiamento do encontro, já que houve críticas por parte de alguns Pontos aos patrocinadores.

No mais, outras duas questões constam no rol da tarefas da Comissão Nacional a ser escolhida. A primeira seria a eleição do Ponto de Cultura proponente do projeto da TEIA 2008 na Lei Rouanet. A outra seria o fortalecimento da própria rede dos Pontos para um primeiro objetivo imediato: a articulação de bancadas parlamentares que proponham alterações nas leis que regulam o Programa Cultura Viva, que financia os Pontos.

Lula promete 20 mil ‘pontos’ e diz ter ‘dívida’ com comunitárias

A Teia 2007 “Tudo de Todos” abriu passagem na noite de quarta-feira (7) no Palácio das Artes, em Belo Horizonte, e se despede na próximo domingo, dia 11 de novembro. A abertura do encontro nacional do projeto de Pontos de Cultura do Governo Federal contou com a presença do presidente Lula, do Ministro da Cultura, Gilberto Gil e diversas autoridades, além de Augusto Boal, criador do Teatro dos Oprimidos e representante dos Pontos de Cultura.

Na solenidade não faltaram elogios à política cultural do governo e promessas de expansão de projetos. Boal atirou contra a indústria cultural e a submissão à cultura estrangeira para enaltecer os pontos de cultura. Lula e Gil prometeram 20 mil novos pontos até 2010, como parte do PAC Cultural, que terá orçamento de 4,5 bilhões. Hoje existem cerca de 600 pontos de cultura instalados desde 2004. Com a nova meta, seriam quase de 20 novos pontos instalados por dia em todo o país.

O Secretário de Programas e Projetos Culturais do Ministério da Cultura, Célio Turino, caracterizou o projeto como a capacidade de “potencializar as energias criativas do povo brasileiro através da autonomia, do protagonismo e do empoderamento”. Turino defendeu que “cada ponto de cultura se transforme na voz do povo brasileiro”, com a instalação de rádios comunitárias nos pontos. O Secretário fez um apelo aos demais representantes do governo, afirmando que mais de 15 mil rádios comunitárias já foram fechadas. Lula disse em seu pronunciamento que o governo tem uma grande dívida com as rádios comunitárias e que vários companheiros já foram presos por isso. O presidente afirmou que já está formado um grupo de trabalho para estudar uma solução para as rádios que são “verdadeiramente” comunitárias.

Cobertura Colaborativa

Cerca de 100 comunicadores voluntários irão alimentar a agência de notícias colaborativa da Teia. Eles participaram nos dias 3 e 4 de novembro de uma Oficina de Jornalismo Independente. Confira a cobertura em: www.agenciateia2007.com.br .  

Projeto de jornalismo cultural vai compartilhar reflexões com a imprensa

A cobertura jornalística da TEIA 2007 contará com a atuação de uma agência de notícias constituída especialmente para enfrentar a complexa tarefa de registrar e difundir o encontro nacional dos Pontos de Cultura. Tal ação desafia-se a ser constituída pela diversidade e pela pluralidade necessárias para que se compartilhe uma visão ampla e multirreferenciada de toda a vasta e complexa programação do encontro, que acontece em Belo Horizonte entre os dias 7 e 11 de novembro.

Nos dias 3 e 4, às vésperas do evento, será ativada a “Oficina de Jornalismo Cultural Independente – TEIA 2007” que envolverá um grupo de candidatos a repórteres-oficineiros para a realização da cobertura jornalística. Convocados junto aos Pontos de Cultura; movimentos sociais, notadamente os comunicadores populares; movimento estudantil; estudantes, professores e profissionais de jornalismo; os oficineiros serão motivados por dois dias de debates e dinâmicas que lhes propiciarão realizar uma cobertura com reportagem compartilhada, escrita e em audiovisual, em plataforma pública, com aplicação de software livre e com conteúdos disponibilizados sob licença flexível para permitir novas propostas de compartilhamento no conceito de web 2.0.

A reportagem dos oficineiros alimentará os editores da agência de notícias que também disporão das reportagens executadas por uma equipe de 8 jornalistas do 100canais, escalados para a cobertura sistemática do encontro, além de uma equipe de mais de 40 profissionais da Fábrica do Futuro e da Estação 3, respectivamente ponto de cultura e empresa cooperada, envolvidos na produção da TV Teia. O conjunto destas visões será apresentado em forma de reportagens e notas escritas e audiovisuais, disponibilizadas para a imprensa e para o público em geral, com atualização contínua durante os cinco dias do encontro.

O jardim dos caminhos que se bifurcam

O detalhe interessante é que cada oficineiro será capaz de dar suas contribuições atuando em blogs, vlogs e fotologs próprios – a oficina se dará numa plataforma em que cada um poderá ter seu próprio domínio, e todos articulados em rede. De tudo o que for registrado em cada domínio autônomo dos oficineiros, aquilo que for assinalado pelo autor como conteúdo de interesse para a TEIA alimentará automaticamente uma central editorial da agência que utilizará tais conteúdos para a elaboração de matérias pontuais e transversais sobre os diversos temas e fatos envolvidos no encontro.

No primeiro dia de ativação, 3 de novembro, a “Oficina de Jornalismo Cultural Independente – TEIA 2007” trabalhará com a conceituação de novas tecnologias de diálogo e de novos diálogos sobre a tecnologia, as novas ferramentas disponibilizadas pela rede mundial de computadores, notadamente as destinadas à atuação colaborativa, o que tem caracterizado o surgimento e disseminação do conceito de web 2.0. Participarão provocativamente dos trabalhos Ana Carmem Foschini, jornalista, Hernani Dimantas, coordenador do LIDEC – Escola do Futuro – USP, e Edney Souza, blogueiro e empresário. Neste mesmo dia, dinâmicas de estruturação de espaço compartilhado de diálogo ativarão a rede que propiciará o ferramental para as atividades jornalísticas dos dias 7 a 11.

No dia 4, os temas diretos e subjacentes da TEIA serão apresentados aos postulantes a oficineiros. Na parte da manhã, com a participação de Antônio Martins, jornalista Le Monde Diplomatique Brasil e Ciranda da Notícia, Eliane Fátima Corti Bassos, professora de jornalismo nas Universidades Anhembi Morumbi e Municipal de São Caetano, Jonas Valente, jornalista e membro da coordenação nacional do Intervozes – Coletivo Brasil de Comunicação Social, e Rogério da Costa, engenheiro de sistemas e filósofo – PUC-SP, o debate motivará a discussão a respeito de velhas e novas práticas do jornalismo, notadamente daquelas que se encerram em dinâmicas voltadas à publicitação da agenda da indústria cultural, excluindo as pautas relacionadas com as políticas públicas de cultura, sua economia, a diversidade e as identidades, e outros temas que contribuiriam, se publicamente debatidos, com o reconhecimento do papel de centralidade da cultura nas relações humanas. Além disso, a dimensão pública e a função social do jornalismo serão evocadas por postulantes do jornalismo independente, livre e cidadão.

No encerramento, na tarde de domingo, os representantes do Ministério da Cultura, Célio Turino, secretário de Programas e Projetos Culturais, Cláudio Prado, consultor do MinC para a Cultura Digital, e Orlando Senna, secretário do Audiovisual, trarão, enfim, informações a respeito do processo TEIA, desde suas origens até a expectativa do encontro em vias de novamente se concretizar, além de outras dimensões das políticas públicas intimamente ligadas à própria TEIA, como a Cultura Digital e o Audiovisual. Assim, estarão contemplados os temas relacionados à cobertura da oficina e às ferramentas tecnológicas empregadas durante sua realização.

O que pensar disso tudo?

O secretário Célio Turino prossegue oferecendo sempre novas chaves interpretativas para o processo TEIA, tão difícil de definir: “na TEIA, a simultaneidade de ações e atrações sempre sugere sínteses interessantes. Neste ano, estamos prestando mais atenção nas simultaneidades entre a Cultura e a Educação, sem deixar de praticar o que já assimilamos de Economia Criativa e Solidária na TEIA de 2006. As metodologias simples e acessíveis, sustentadas em estruturas públicas, com custos baixos, que a Oficina de Jornalismo empregará, permitem pensarmos no potencial de replicação e disseminação de uma rede verdadeiramente capaz de compartilhar informações para a construção de um bem coletivo. Assim, serão vivenciados e discutidos aspectos das políticas voltadas à cultura digital, que é uma das extensões do Programa Cultura Viva. Noutra vertente, a oficina também contemplará o compartilhamento da produção audiovisual, desde a feita com os mais elementares aparelhos portáteis, até a atuação de uma TV estruturada, com estúdio, ilhas de edição e capacidade de transmissão. O compartilhamento deste saber e fazer, numa propositura que oferece a liberdade de atuação, gerará muitos frutos. Será estimulante protagonizar coletivamente este desafio”.

Na opinião de Bento Andreato, presidente do Instituto Pensarte, ponto de cultura proponente da metodologia da TEIA 2007, “esta oficina que se transforma em agência é mais uma manifestação da Cultura Viva! Acompanhando a lógica da troca para gerar a disseminação, estamos vendo um movimento rizomático que faz aflorar aqui e ali manifestações maravilhosas que, quando assim articuladas, possibilitam o surgimento de processos simultâneos: aprender enquanto se ensina, ensinando o que mais temos a aprender. Uma noção interessante para o verbo compartilhar”.

A heterogeneidade do público não assusta, ao contrário, estimula: “ainda que envolva diretamente os Pontos de Cultura, a oficina é uma interface da TEIA com uma dimensão ampliada da sociedade de Belo Horizonte, representada pelos estudantes, professores e profissionais de jornalismo no amplo espectro, desde os independentes até os da grande imprensa, além de comunicadores populares, vindos dos movimentos sociais e outros públicos que se sentirem estimulados a participar da cobertura compartilhada” – afirma Carlos Gustavo Yoda, coordenador do 100canais e idealizador da oficina. Yoda garante ainda que a capacidade de agregação de oficineiros é grande: “a plataforma que sustenta o sistema de alimentação permite a assimilação de um fluxo intenso de informações, o que contribuirá decisivamente para a pluralidade da cobertura”.

No campo do audiovisual, as possibilidades são também extensas: “fico entusiasmado de ver a possibilidade de emergirem, deste público que participará da oficina, alguns que possam realizar reportagens portando simples telefones celulares, por exemplo. Reportagens que gerarão interessantes usos, desde a difusão em TVweb, até áudio para a montagem de boletins radiofônicos, além de proporcionarem um acervo de imagens que, em seu conjunto, constituirá a primeira cobertura jornalística feita por celular” – vislumbra Marcelo Passos, um dos coordenadores do audiovisual na TEIA.

O editor-chefe da agência, Marcel Gomes, ainda aponta mais um detalhe da plataforma, concebida também com propósito didático: “ao expor publicamente a estrutura da cobertura, estaremos, na verdade, compartilhando um modo de fazer com quem quiser participar, ou apenas ver como funciona uma dinâmica editorial. O encontro de ativação da oficina dará o tom e proporá a pauta. Os oficineiros serão distribuídos em coberturas específicas, ora pluralizando a visão de nossos repórteres, ora cobrindo a extensão que a equipe 100canais não alcançará. Seus relatos serão misturados a um todo que gerará matérias, notas, acervo de imagens e de riquíssima matéria-prima para rádio. O detalhe provocativo é que o leitor interessado poderá rastrear as informações até sua origem, remetendo-se ao relato original do oficineiro e observando qual foi o tratamento editorial dado à reportagem original que ele postou na agência. Estamos em busca de noticiar compartilhando o como noticiar. A oficina propicia vivenciar isso na prática com o grupo de participantes e, em tese, com todos que quiserem dissecar os fluxos de informações desde as fontes de relatos até os textos publicados!”

Em breve, as inscrições para a oficina poderão ser feitas no site www.100canais.org.br. As vagas presenciais para a ativação da oficina são limitadas, o conteúdo todo será transmitido ao vivo na web. O acesso é gratuito e o resultado é público. Tudo de Todos!

Oficina de Jornalismo Cultural Independente – TEIA 2007
– novas tecnologias de diálogo e novos diálogos sobre a tecnologia
– blogs, vlogs, fotologs, modelos de licenças de compartilhamento, web 2.0, software livre, plataformas públicas, metareciclagem
– a pauta cristalizada e a pauta esquecida da cultura
– políticas públicas de cultura: a TEIA, a cultura digital e o audiovisual
– dinâmicas, debates, exposições e a prática da cobertura jornalística
– cobertura em rede com reportagem compartilhada e pautas transversais durante a TEIA

Provocadores:
Ana Carmem Foschini (Jornalista)
Antônio Martins (Le Monde Diplomatique Brasil e Ciranda da Notícia)
Célio Turino (Secretário de Programas e Projetos Culturais – MinC)
Cláudio Prado (Consultor para Cultura Digital – MinC)
Edney Souza (Blogueiro e empresário)
Eliane Fátima Corti Basso (Anhembi Morumbi e Universidade Municipal de São Caetano)
Hernani Dimantas (coordenador do LIDEC – Escola do Futuro – USP)
Jonas Valente (coordenador nacional Intervozes – Coletivo Brasil de Comunicação Social)
Orlando Senna (Secretário do Audiovisual – MinC)
Rogério da Costa (Engenheiro de Sistemas e Filósofo – PUC SP) 

Local: Funarte Casa do Conde e Serraria Souza Pinto – Belo Horizonte – MG
Dias: 3 e 4 de novembro, das 9 às 18h – ativação da oficina
7 a 11 de novembro – cobertura
Informações e inscrições: www.100canais.org.br