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O que segura o avanço das TICs no Brasil

A terceira edição do Índice de Tecnologia da Informação traz boas notícias para a América Latina, onde diferentes países, entre os 122 pesquisados, subiram várias posições. Mas o Brasil mantém-se estagnado (chegou a perder uma posição), abaixo dos 50 países que melhor fazem uso das TICs.  Irene Mia, economista sênior do World Economic Forum, detalha, nesta entrevista, os principais acertos e erros do país. 

Por que essa pesquisa?
Irene Mia – O World Economic Forum faz, desde 79,  estudos sobre a competitividade dos países, cujos relatórios são lançados anualmente. A partir de  2001, passou a elaborar um estudo sobre o desenvolvimento da Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC) . Esta edição do Índice de Tecnologia da Informação 2006/2007 recolheu informações de 122 países.  

As TiCs fazem parte do dia a dia das pessoas. Essa pesquisa retrata a acessibilidade das TICs em cada país, tanto sob a ótica dos ambientes governamentais e empresariais, como o seu uso pela população. O índice mede a capacidade dos países em aproveitar as oportunidades da tecnologia para alavancar o seu desenvolvimento e competitividade.  

O que vocês pesquisam?
Apuramos indicadores com base em três princípios. O primeiro deles é o ambiente de cada país no que se refere ao mercado, investimentos, questões regulatórias, facilidades para estimular o “venture capital”, além da infra-estrutura física e humana. O segundo princípio busca apurar de que forma os três atores – governo, empresas e indivíduos –  estão preparados para   aplicarem as tecnologias da informação. Os Tigres Asiáticos, que estão bem colocados no ranking da pesquisa, demonstram, por exemplo, que  as ações dos governos foram fundamentais para atingirem os patamares atuais. Por fim, pesquisamos também o uso dessas tecnologias pelos diferentes atores. Além de usarmos as base de dados econômicas, recolhemos a percepção dos diferentes agentes frente à realidade de cada país. No Brasil, a pesquisa de opinião é feita em parceria com a Fundação Dom Cabral e o Movimento Brasil de Competitividade. 

E qual é o objetivo final do estudo?
Acreditamos que o trabalho possa servir de ferramenta para o planejamento e atuação dos agentes públicos e privados de cada país. Com os benchmarks, é possível construir novos patamares para o desenvolvimento das TICs. Se não é possível fazer comparação entre as diferentes nações – na lista dos 20 melhores, estão, obviamente, as economias mais ricas -,  cada país pode fazer estudos comparativos entre seus iguais, ou mesmo analisar o próprio desempenho de anos anteriores para projetar o futuro. Nesta edição, constatamos, por exemplo, que os Estados Unidos, que estavam em primeiro lugar, caíram cinco posições, ficando em sexto lugar. Os cinco países melhores pontuados foram: Dinamarca, Suécia, Cingapura, Finlândia, Holanda.   

Como estão a América Latina e o Brasil?
A América Latina e Caribe estão passando por um momento muito importante. Embora tenham iniciado tarde o seu processo, (só começaram a lidar com programas mais agressivos no final da década de 90), bem depois dos Estados Unidos, Europa ou Ásia, o importante é que, agora, a TIC entrou na agenda da maioria dos países.
 O Chile continua a ser o país mais bem classificado, em 31ª colocação no ranking geral e em primeiro no ranking da América Latina e Caribe. Mas diferentes países subiram várias posições, como o México – que está em 49º lugar – ou a República Dominicana, que passou a ocupar a 66ª colocação.   

E o Brasil?
O Brasil é interessante, com números bastante intrigantes. Embora tenha começado mais cedo, em relação a outros países latino-americanos, o movimento pelo desenvolvimento das tecnologias da informação, sua posição global não é muito confortável. Embora tenha caído uma posição em relação à pesquisa anterior, essa queda não é importante. O significativo é que, apesar de todo seu potencial, mantém-se abaixo dos 50 melhores países. Este ano, está em 53º lugar, contra 52ª posição do ano passado.
 

Quais são os pontos positivos do país?
O Brasil tem um setor privado forte e competitivo. A taxa de penetração, mesmo da internet, embora menor do que dos serviços de telecomunicações, é significativa, se comparada com outros países da região. O e-government  merece destaque. O país tem muitos bons exemplos na oferta de serviços digitais de governo para a sua população. Nesses quesitos, o Brasil se classifica na 18ª posição, quando se analisa a e-participação e 19ª posição no uso eficiente da TIC pelo governo.

Há outros quesitos que merecem destaques positivos?
Outro aspecto bastante importante são as universidades de qualidade e suas pesquisa e desenvolvimento,  gerando produtos inovadores. A capacidade brasileira para a inovação o coloca em 29ª posição entre os países pesquisados e em 31ª posição entre os países que exportam tecnologia high-tech. Os institutos de pesquisa brasileiros são qualificados, situando-se entre os 36 melhores.   

E os negativos?
Dois são os maiores problemas do Brasil. A exclusão educacional é o mais grave. Apesar de o país contar com centros de excelência em pesquisa, poucos são os brasileiros que têm acesso à boa qualidade acadêmica. A estrutura educacional é insuficiente e frágil a partir do sistema básico. O país figura na 98ª posição na qualidade da educação de matemática e ciências; na 112ª posição na qualidade do sistema educacional e na 111ª posição na qualidade das escolas públicas. O segundo problema é o ambiente legal. O país tem excesso de regulação, intervenção e burocracia. O tempo para se abrir uma empresa o coloca na 115ª posição. O número de procedimentos necessários para iniciar um negócio o situa  no 115º lugar. Os efeitos dos impostos, em 122º; e o excesso de regulação, em 121º. 

O governo lançou um programa de qualificação da educação brasileira, que inclui levar a banda larga e a internet para todas as escolas públicas.
É claro que tudo o que for feito para ampliar o acesso à tecnologia da informação será bem-vindo e trará efeitos muito importantes. Mas todos sabemos que melhorar o sistema educacional é um trabalho de longo prazo. A atuação mais fácil, que irá repercutir imediatamente nos indicadores do ranking brasileiro seria, é claro, cortar a burocracia e melhorar a eficiência do ambiente estatal  brasileiro.  

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