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O laptop nas escolas

Foi realizado no último dia 25 de abril, na Fundação Getúlio Vargas, o 2º Encontro sobre os Laptops na Educação. O evento teve o objetivo de avaliar de que forma encontra-se, hoje, o projeto Um Computador por Aluno (UCA), já em experiência em cinco escolas do país. Participaram das discussões representantes de cada uma das cinco unidades, além de um dos consultores do projeto, o professor doutor Simão Pedro Marinho, da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais.

De acordo com a professora Denise Vilardo, idealizadora e organizadora do encontro, as experiências desenvolvidas pelas escolas desde o ano passado já mostram o potencial positivo da proposta. Segundo ela, é perceptível o interesse dos alunos, que não faltam mais às aulas e têm apresentado um bom rendimento na leitura e na escrita.

Em entrevista ao site do RIO MÍDIA, Denise Vilardo, professora da Prefeitura do Rio, contou detalhes do projeto e do encontro, que teve o apoio da Rede Peabirus, da Fundação Getúlio Vargas, da Advanced Micro Devices (AMD) e do Colégio Graham Bell do Rio de Janeiro.

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Qual é exatamente o objetivo do projeto Um Computador por Aluno (UCA)? É um projeto do Governo Federal que foi lançado em 2005, não é isso?
Denise Vilardo –
O projeto se baseia, inicialmente, nas idéias da Organização OLPC (One Laptop per Child), que foram apresentadas no Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça, em janeiro de 2005, ao governo brasileiro. Logo em seguida, Nicholas Negroponte, Seymour Papert e Mary Lou Jepsen, do Massachusetts Institute of Technology (MIT), vieram ao Brasil, especialmente para conversar com o presidente da República e expor os objetivos da proposta. O presidente da República aceitou o desafio e instituiu um Comitê Gestor interministerial para avaliá-lo. Esse grupo estudou o projeto, ouvindo e discutindo com o MIT, com as universidades, com as indústrias e com o próprio governo. O trabalho desenvolvido destacou três premissas básicas: 1) A aprendizagem e a educação de qualidade para todos são fatores essenciais para alcançar uma sociedade justa, eqüitativa, econômica e socialmente viável; 2) O acesso a laptops móveis, em escala suficiente, oferecerá reais benefícios para o aprendizado e proporcionará extraordinárias melhorias no âmbito nacional; 3) Enquanto os computadores continuarem sendo desnecessariamente caros, esses benefícios continuarão sendo privilégio de poucas pessoas.

Mas, afinal, o projeto já saiu do papel?
Sim, por meio do trabalho do Comitê Gestor, que reúne pesquisadores brasileiros de diversas universidades brasileiras, envolvidos tanto com a Educação quanto com o desenvolvimento de sistemas. Atualmente, cinco escolas-piloto participam do Projeto UCA. No primeiro semestre de 2007, o trabalho foi iniciado na Escola Estadual de Ensino Fundamental Luciana de Abreu (Porto Alegre) e na Escola Municipal de Ensino Fundamental Ernani Silva Bruno (São Paulo). No segundo semestre do mesmo ano, novas escolas foram incorporadas: Ciep 477 Professora Rosa da Conceição Guedes (Rio de Janeiro), Escola Estadual Dom Alano Marie Du Noday (Tocantins) e Escola Vila Planalto (Brasília). Participam do Comitê Gestor: o MEC, por meio da Secretaria de Educação a Distância; o Laboratório de Sistemas Integráveis, da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo; e o Laboratório de Estudos Cognitivos, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Estão presentes ainda o Laboratório de Interação Avançada, da Universidade Federal de São Carlos; a Universidade Federal Fluminense; a Fundação Certi (Centro de Referência em Tecnologias Inovadoras), o Centro de Pesquisas Renato Archer e o Serpro. Mais detalhes podem ser obtidos neste link: http://www.peabirus.com.br/redes/form/post?topico_id=6552

Quando o projeto vai englobar outras escolas?
A previsão é de que, ainda este ano, sejam comprados 150 mil laptops. A meta do governo federal é implementar o projeto, em 2008, em 300 escolas do país. No final do ano passado, foi aberto um processo de licitação para a compra dos laptops. No entanto, ele foi interrompido. Não houve acordo entre o governo e as indústrias que produziriam as máquinas. Esse processo deverá ser retomado a qualquer momento.

De que forma os laptops devem ser utilizados nas escolas?
Os laptops devem ser utilizados dentro das salas de aula da mesma forma que os cadernos, nos quais se anotam trabalhos, produzem textos e criam imagens. Os computadores podem e devem ser usados individual ou coletivamente. E, sim, eles estarão conectados à internet. O objetivo é possibilitar o acesso das escolas à tecnologia, no caso específico, ao computador, compartilhando informações e criando conhecimento. Inicialmente, a adesão ao projeto é voluntária. As escolas serão convidadas a participar, mas podem aceitar ou não o convite. Normalmente, é um acordo entre a escola, a secretaria de Educação, a coordenação dos NTEs (em alguns casos) e o governo federal.

O que as experiências das escolas-piloto têm revelado?
As experiências mostram a necessidade de as escolas reformularem seus respectivos projetos político-pedagógicos; de haver um maior envolvimento de toda a comunidade escolar; de uma capacitação contínua dos professores; de um apoio/estudo teórico-metodológico; e até mesmo de uma adequação física para receber e guardar os equipamentos. Além disso, se faz necessário que o projeto desenvolvido por cada escola seja único, respeitando o contexto local, as reais possibilidades e a limitação de cada espaço de ensino. Percebe-se ainda a resistência de alguns professores em trabalhar com o laptop, o que é superado quando os alunos alcançam bons resultados. Sim, já é possível perceber uma melhora na auto-estima e no rendimentos dos alunos. Praticamente não há mais faltas. Os professores dizem que também estão surpreendidos com os resultados da leitura e da escrita. Os alunos usam a agenda e o diário virtual, os blogs, os wikis e os chats. Escrevem de forma compartilhada e trocam informações via e-mail. Estão mais confiantes e seguros. O desembaraço dos estudantes para lidar com os laptops é quase imediato. Os alunos “descobrem” muito rapidamente a função dos diferentes aplicativos e dos diversos softwares, incluindo a possibilidade de fotografar e filmar com eles. Das cinco escolas-piloto, três contam, efetivamente, com um computado por aluno. Em outras duas, o laptop é compartilhado por dois ou três alunos. Mas, na escola de Porto Alegre, os alunos podem, inclusive, levar os laptops, diariamente, para casa.

A senhora acha que as escolas do Rio estão preparadas para incorporar este projeto?
Depende do que se entende por “estar preparadas”. É muito difícil falarmos em condições ideais, tanto no aspecto físico quanto no aspecto humano. Se formos esperar as melhores condições, não começaremos nunca. Isso não quer dizer que não devemos lutar para que essas condições se realizem. Mas penso que já aprendemos que toda mudança é difícil e tende a ser negada, num primeiro momento. Precisamos de melhores equipamentos? Sim. Precisamos de segurança? Sim. Precisamos de aperfeiçoamento contínuo dos professores? Sim. Mas as coisas se constituem de maneira imbricada. Não se aguarda o encerramento de um ciclo para se ingressar em outro. A professora Regina de Assis [presidente da MULTIRIO] costumava nos dizer, quando era secretária Municipal de Educação do Rio, que tínhamos que andar com o carro e tirá-lo do atoleiro ao mesmo tempo… É isso que estamos fazendo continuamente: avançando e retrocedendo para avançar um pouco mais.

Os jovens e as lan houses

Líder de projetos do Centro de Tecnologia e Sociedade da Fundação Getúlio Vargas Direito/Rio, o advogado Antônio Carvalho Cabral integra a equipe que está à frente de uma pesquisa bastante interessante: o universo das lan houses de cinco comunidades de baixa renda do Rio de Janeiro. São elas: Rocinha, Manguinhos, Jacarezinho, Antares e Vila Paciência.

O que vem sendo constatado é precioso e estratégico, pois revela o grande impacto que os estabelecimentos têm na vida da população local, especialmente no cotidiano de crianças e jovens. “As lan houses representam, para crianças e jovens, uma forma segura de lazer, a possibilidade de saírem das ruas e da criminalidade, uma forma de aprenderem a utilizar a tecnologia como ferramenta para um futuro profissional, enfim, representam cidadania, dignidade, educação e diversão”, afirma Antônio Cabral.

Em entrevista ao RIO MÍDIA, o advogado, especialista em direitos autorais, destaca ainda que as lan houses vêm contribuindo para a inclusão social e digital e que os estabelecimentos podem, sem dúvida alguma, ampliar o papel que desempenham.

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Qual é a principal função que as lan houses desempenham hoje nas comunidades pesquisadas?
Possibilitar a inclusão digital de uma população carente sem condições de acessar computadores e a internet de outras formas. Tamanho é essa revolução que, em 2005, dentre todos os acessos a internet no Brasil, apenas 18% eram feitos por meio das lan houses. Em 2006, esse percentual cresceu para 30%. E, em 2007, chegamos a 49%. E o mais interessante: quanto menor a renda e menor a faixa etária, maior o índice de acessos por meio das lan houses, o que demonstra claramente a importância delas como fenômeno de inclusão digital no Brasil. Esses números são fruto de um estudo realizado pelo Cetic (Centro de Estudos sobre as Tecnologias da Informação e da Comunicação) e foram constatados, ainda de forma mais acentuada, nas pesquisas de campo que realizamos. Na Rocinha, existem cerca de 100 lan houses em funcionamento, sendo uma verdadeira febre entre os jovens da comunidade. Em Jacarezinho, existem cerca de 40. E em Manguinhos, cerca de 60. Em Antares, comunidade carente da Zona Oeste do Rio, há sete lan houses, todas fruto do esforço de um jovem morador da comunidade, o Anderson, que, apesar de sua origem humilde, aprendeu a montar computadores e a fazer manutenção dos mesmos. Vila Paciência foi a única comunidade sem lan houses, mas mesmo nesse caso os jovens acessa a internet nas lan houses existentes na comunidade de Ponte Quebrada, que fica a cerca de 1 km.

Por que há esta explosão de estabelecimentos nessas comunidades?
Porque existia uma demanda reprimida. Isso é apenas um reflexo do empreendedorismo dos moradores das favelas que enxergaram um nicho de negócio com muito potencial. Outro fator a ser levado em consideração é justamente a informalidade em que se encontra a maioria das lan houses. Por serem informais, os custos caem muito, propiciando uma boa margem de lucro para os empreendedores. Um caso interessante aconteceu na Rocinha. Ao conversar com um dono de uma lan house, ele disse: “Doutor, fala a verdade. Você está fazendo todas essas perguntas porque tem interesse de abrir sua própria lan house”. E emendou: “Mas não tem problema. Aqui tem espaço para todos. Só não abre entre a Rua Dois e a Quatro, é onde mora o meu público”. Ou seja, há um mercado sedento, daí esse boom.

Você acredita que o número de lan houses vai crescer ainda mais?
Acreditamos que sim. Fazendo uma avaliação do crescimento nos últimos anos, percebe-se que ainda existe potencial. Uma ação do Governo poderia aumentar este número. Ao fornecer, por exemplo, conexão wi-fi gratuita, os custos das lan Houses ficariam mais baixos, o que tornaria possível, inclusive, a formalidade destes estabelecimentos e os livrariam de possíveis intervenções de policiais corruptos e traficantes.

O que as lan Houses representam para as crianças e os jovens das comunidades pesquisadas?
As lan houses representam uma forma segura de lazer, a possibilidade de saírem das ruas e da criminalidade ali existentes, uma forma de aprenderem a utilizar a tecnologia como ferramenta para um futuro profissional, enfim, representam cidadania, dignidade, educação e diversão. Os jovens ganharam uma alternativa de lazer que os tira das ruas, o que tranqüiliza os pais, que muitas vezes passam o dia fora trabalhando. Além disso, a lan house se transformou num canal eficiente para fazer pesquisas e trabalhos escolares. Incrível notar que, apesar do uso ainda um pouco limitado dos computadores, os jovens e as crianças são de um modo geral autodidatas. Curioso foi perceber que os jovens destas comunidades usam o tempo livre da mesma forma que os jovens norte-americanos. Em nossas visitas levamos uma pesquisadora norte-americana que disse exatamente isso. A única diferença está no tipo de site acessado. Se nos EUA os jovens utilizam o Myspace, no Brasil eles usam o Orkut. Se lá usam o Flicker, aqui é o Flogão. Na prática, tanto americanos quanto brasileiros executam as mesmas tarefas. As lan houses aproximam, no âmbito do lazer e do hábito, jovens das mais diferentes classes sociais e países.

O que fazem as crianças e os jovens nas lan houses?
De um modo geral, eles acessam o Orkut, o MSN e o Flogão, além de jogos on-line, como o World of Warcraft e Counter Strike. Fazem também pesquisas escolares e auxiliam seus pais, resolvendo alguns problemas por meio do computador (currículo, empregos, CPF, etc.). O curioso é observar que existem verdadeiras comunidades entre os freqüentadores de cada lan house. Na Rocinha, por exemplo, aconteceu a festa do encontro das lan houses, com um grande baile que confraternizava os freqüentadores de cada estabelecimento. Outro aspecto interessante é a quebra das barreiras criadas pelas facções criminosas. Ou seja, por meio da internet, os jovens podem ter uma relação sadia com jovens de comunidades rivais, algo impensável quando se pensa em encontros reais.

Há algum tipo de regra/proibição no acesso que as crianças e os jovens fazem nestes espaços?
As lan houses destas comunidades primam pela informalidade, ou seja, o controle varia de lan house para lan house, mas, de um modo geral, existe uma grande liberdade para o uso da internet. Até porque a realidade em que eles se encontram já é permeada de violência. Existem decisões judiciais no Estado de Minas que proíbem certos jogos nas lan houses por serem violentos, o que dentro das comunidades não faz o menor sentido, já que a grande violência está nas ruas onde eles vivem.

Vocês apostam na ampliação do papel das lan houses. O que vocês vislumbram?
Sem dúvida. O objetivo final da pesquisa é justamente esse: saber de que forma podemos intervir nas lan houses sem atrapalhar o desenvolvimento desse fenômeno. Primeiramente, seria muito importante criarmos um modelo que torne possível trazer essas lojas para a formalidade, seja através de um acordo com as empresas de software, para conseguirmos licenças específicas dos softwares mais utilizados, ou implementando a cultura do software livre. A própria Prefeitura do Rio já possui uma política de desburocratização dos negócios em comunidades de baixa renda. O Decreto n.º 25.536 de 2005 estabelece a isenção da taxa de licença para empreendimentos em favelas. Posteriormente, poderíamos criar parcerias entre as lan houses e as escolas, as ONGs e as empresas, no sentido de utilizar o espaço para oferecer cursos para os jovens. Conversando com os pais dos adolescentes destas comunidades, percebemos uma grande demanda por cursos que poderiam ser oferecidos nas lan houses. Os pais poderiam barganhar com os filhos. Eles pagam pelo divertimento das crianças e elas, por outro lado, participam dos cursos oferecidos. Já há a infra-estrutura técnica (as próprias lan houses) e a presença e o interesse das crianças e dos jovens (que já passam grande período dentro das lan houses). Falta apenas viabilizar as parcerias para que as lan houses ofereçam os cursos. Não cursos tradicionais, mas módulos que ensinem como, por exemplo, melhor explorar a internet, como a web pode ser útil para diversas profissões, programação de games, etc.

Pelo que vocês têm visto, portanto, não há nenhum diálogo entre as lan houses e as escolas que funcionam nestas comunidades. Na sua avaliação, haveria espaço para essa parceria?
Não identificamos nenhuma relação direta e formal entre as escolas e as lan houses. O que ocorre é a utilização dos alunos, por conta própria, da internet para fazer trabalhos escolares. Com certeza poderia haver parcerias entre as escolas e as lan houses, seja para dar descontos para os alunos ou até para que os professores utilizassem a estrutura da lan house para oferecer cursos. No entanto, o mais importante no momento é dar prosseguimento a nossa pesquisa para entender com maior profundidade os possíveis efeitos de qualquer intervenção nas lan houses, uma vez que, sem nenhuma intervenção, elas são um fenômeno de massa e já respondem por 49% dos acessos a internet no Brasil. É preciso primeiro entender os interesses e as necessidades das comunidades carentes, dos jovens e dos donos das lan houses para, então, intervir para melhor atender todos os envolvidos.

Os desafios no mundo da comunicação dos jovens

Em entrevista ao site do RIO MÍDIA, Per Lundgren, diretor do comitê organizador da Cúpula Mundial de Mídia para Crianças e Adolescentes de Karlstad (Suécia), em 2010, informa que o tema central do evento é: Os desafios no mundo da comunicação dos jovens. “Esse é o tema geral que será subdividido em cinco perspectivas: Comunicação para mudar; Educação e desenvolvimento de crianças; Ética e responsabilidade social; Economia, políticas e leis; e Criação de conteúdo digital por crianças e jovens”, adianta Per, professor da Universidade de Karlstad.

Segundo Per, o encontro vem sendo planejado desde 2004, logo após a realização da 4ª Cúpula Mundial de Mídia para Crianças e Adolescentes. O comitê organizador espera reunir em Karlstad dois mil delegados de 100 países.

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Como estão os preparativos para a Cúpula Mundial de 2010, em Karlstad?
Per Lundgren –
Estamos nos preparando desde a inspiradora cúpula de 2004, realizada no Rio de Janeiro. Desde então tivemos inúmeros encontros em diferentes locais ao redor do mundo para ouvir, entender e discutir as diversas perspectivas.

Compreendemos que o respeito pelas diferenças culturais precisa ser levado em consideração. Em setembro do ano passado, os integrantes da Fundação de Cúpulas de Mídia (World Summit Foundation) vieram até Karlstad para planejar o encontro com o comitê geral. A partir deste mês, estamos convidando as pessoas e/ou instituições a participarem do Grupo de Consulta para sugerir tópicos, baseados no tema central do encontro, a serem trabalhados. Já lançamos também o nosso primeiro boletim on-line, com notícias sobre o processo de preparação da Cúpula.

Qual será o tema central da Cúpula de 2010?
Per Lundgren –
Em 1995, Benjamin Barber, professor de Ciências Políticas da Universidade de Maryland e autor de Jihad vs. McWorld, afirmou que “é hora de reconhecer que os verdadeiros tutores de nossos filhos não são mais os professores das escolas e das
universidades, mas, sim, os produtores de filmes, os publicitários e os divulgadores da cultura pop. A Disney faz mais do que Duke; Spielberg tem mais influência que Stanford; e a MTV se sai melhor do que MIT”. Queremos expandir nossas perspectivas para o mundo todo, sabendo que as perguntas e respostas diferem-se não só pelo o que você é, mas também por onde você está. 

Hoje em dia, qualquer um pode, a um custo baixo, ter acesso ao computador, Internet, educação e produzir texto, som, imagem e animação. Isso é relevante principalmente para a geração mais nova. Cidadãos bem-educados também conseguem se comunicar por meio de computadores, celulares e serviços on-line para publicar e divulgar instantaneamente conteúdos para todo o mundo. Ferramentas de busca, comunidades e outros serviços on-line ajudam cada vez mais a desenvolver novos conhecimentos. O programa de Letramento para a mídia das Nações Unidas (www.wskarlstad2010.se) é um exemplo da nossa ambição de usar a tecnologia ao redor do mundo para melhorar o diálogo entre culturas, entre países que falam árabe e países ocidentais. Portanto, Os desafios no mundo da comunicação dos jovens é o tema geral da Cúpula de Karlstad, que está dividido em cinco perspectivas:

– Comunicação para mudar
De que forma, a comunicação em diferentes mídias pode apoiar mudanças sociais necessárias?

– Educação e desenvolvimento de crianças
Como o letramento para mídia e a mídia educativa podem fazer a diferença?

– Ética e responsabilidade social
Em um mundo de mídia global não regulada, como é possível melhorar a qualidade da mídia para crianças e jovens?

– Economia, políticas e leis
A partir da perspectiva de crianças e jovens, quais medidas e passos devem ser levados em consideração para suprir os desafios da mídia mundial?

– Criação de conteúdo digital
O que acontece quando jovens são capazes de criar conteúdo de mídia digital (com valores centrais como inclusão, igualdade, uniformidade e diálogo intercultural)? Como a mídia de hoje e de amanhã pode ganhar qualidade de criação de conteúdo de mídia digital? Como as crianças e os jovens podem melhorar o entendimento global de criação de conteúdo de mídia? 


Quais atividades estão planejadas?
Per Lundgren –
 Haverá espaço para palestras, exibição de produtos, seminários, debates sobre novas pesquisas, oficinas de produções de jovens e apresentações de experiências culturais, bem como encontros informais durante os intervalos das discussões. É parte do plano também produzir um livro com as principais contribuições dos participantes e as falas mais importantes dos palestrantes. As atividades serão planejadas para atender às expectativas de uma cúpula mundial para educadores, produtores e profissionais preocupados com a mídia de/e para crianças e jovens.


Como os adolescentes poderão participar?
Per Lundgren –
Os jovens podem participar desde já no planejamento da Cúpula. E, lógico, também podem participar presencialmente e/ou virtualmente do encontro. Durante os dias do evento, eles poderão se dividir entre oficinas, apresentações de produtos e seminários. O primeiro passo é preencher o formulário de interesse que está em nossa página na web. Lá, os adolescentes podem fazer sugestões de idéias e atividades. Aquele que se cadastrar receberá regularmente um boletim com nossas notícias.


Na sua opinião, quais são as contribuições principais das cúpulas mundiais anteriores? 
Per Lundgren –
Os responsáveis de cada cúpula organizaram e colocaram em prática os objetivos dos integrantes do Conselho da Fundação, refletindo assim a compreensão das questões encontradas em cada região. Entrelaçada por um conjunto de valores compartilhados, essa dinâmica enriqueceu bastante as cúpulas. Os resultados e detalhes podem ser encontrados nos relatórios de cada uma das cúpulas. Começamos com a discussão sobre a televisão, porém, agora, outras mídias também são relevantes. As crianças estão desenvolvendo um importante papel. As nossas preocupações direcionam-se mais diretamente para a educação na mídia de entretenimento e a comercialização da mídia para crianças.

Quais são as suas expectativas para a Cúpula de 2010?
Per Lundgren –
Acredito que a cúpula reunirá dois mil delegados de 100 países e que ela preparará um novo mundo de mídia, para crianças e adolescentes, no século XXI. Com a mobilização, engajamento e apoio de movimentos internacionais, acredito que poderemos, juntos, criar um novo formato de conferência mundial, com oportunidades para redes de trabalho, debate, desafios, interatividade e oficinas para dividir perspectivas, experiências e habilidades.

Além do entretenimento

Na madrugada da última quarta-feira, dia 12, o Senado aprovou a Medida Provisória que cria a TV Brasil, que já operava desde o dia 2 de dezembro do ano passado. Em entrevista ao RIO MÍDIA, o diretor-geral da emissora, Orlando Senna, garantiu que 40% da grade serão preenchidos com produções voltadas para crianças e adolescentes. “O que se observa, de uma forma geral, é que falta para esta faixa etária uma programação que contenha informação, educação e valores éticos. A maior parte do que está no ar se resume apenas ao entretenimento”, avaliou.

Orlando Senna também frisou que a TV Brasil trará um novo modelo de fazer e ver televisão. Os telespectadores participarão não apenas criticando, mas produzindo. Câmeras, celulares e outros meios digitais serão colocados à disposição da população em diversas regiões do país.

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Produção de qualidade para crianças e jovens. Na sua avaliação, como podemos definir mídia de qualidade?
Orlando Senna – A mídia de qualidade tem três aspectos principais a serem considerados. A qualidade técnica que implica em sinal de televisão, som e imagem, com definição e sem degradação. A qualidade artística, ou seja, a forma de expressão do conteúdo, a estética. E a qualidade do conteúdo, uma perna importantíssima deste tripé, principalmente quando se destina à crianças e adolescentes que, por ainda não possuírem juízo crítico apurado, estão vulneráveis às informações recebidas, merecendo todo cuidado e atenção possíveis. O que se observa, de uma forma geral, é que falta para esta faixa etária uma programação que contenha informação, educação e valores éticos. A maior parte do que está no ar se resume apenas ao entretenimento.

De que forma a produção brasileira voltada para crianças e jovens terá espaço na TV Brasil?
A TV Brasil dedicará, na sua nova grade, um espaço privilegiado para crianças e jovens. Essas faixas ocuparão cerca de 40% de toda a programação.


Que projetos existem para esta área? Estão previstos recursos, linhas de financiamento para produzir mídia de qualidade para o público infanto-juvenil? Haverá produção própria ou independente?
Os projetos são muitos. Além das produções próprias, serão lançados, ainda no primeiro semestre deste ano, editais para produtores independentes no valor de aproximadamente R$ 8 milhões, dedicados a essas faixas etárias. Há projetos incluindo desenhos animados e uma série de 40 episódios para adolescentes.

E qual será o espaço da educação, do entretenimento e da cultura na TV Brasil?
A razão de ser de uma TV Pública é a formação e o desenvolvimento da cidadania, lastreando-se na diversidade cultural, na pluralidade de pontos-de-vista, na isenção jornalística e na inclusão audiovisual. Sua obrigação é informar, educar e entreter. E essa será a escala de prioridades para a ocupação de espaço desses assuntos.

Em uma TV Brasil, qual deve ser o papel do público? Mero espectador?
De forma alguma. A TV Brasil é o espelho eletrônico da sociedade brasileira. O público é o protagonista e não apenas uma multidão de espectadores passivos. O público não só vai poder criticar e sugerir, como também produzir conteúdo por meio de câmeras, celulares e outros meios que serão colocados à disposição da população em todas as regiões do país, seja nos Pontos de Culturas [projeto do Governo Federal/Ministério da Cultura], nos cineclubes e nas associações comunitárias. A TV Brasil está desenvolvendo um sofisticado programa de internet para que o público possa interagir com a emissora, inclusive em tempo real. A TV Brasil veio para revolucionar completamente a relação emissora-telespectador, estimulando o espectador a evoluir da passividade para uma atitude ativa, participativa.

De que forma a TV Brasil vai garantir de fato a participação da sociedade?
Em primeira instância por meio do seu Conselho Curador, orgão maior da TV Brasil, composto por representantes da maioria dos setores da sociedade brasileira, que tem a função de orientar e fiscalizar rigorosamente o funcionamento da TV Brasil. Em segundo lugar, pelas razões que expusemos anteriormente, ou seja, a sociedade brasileira vai compartilhar a produção da programação com os profissionais da emissora.

Qual o posicionamento da direção da TV Brasil com relação as críticas do processo de escolha dos integrantes do Conselho? O Conselho já tem atuado e de que forma?
O processo de escolha do Conselho não foge a nenhum critério utilizado no resto do mundo. Na Inglaterra, o primeiro Conselho, o Board of Governors, foi inteiramente escolhido pelo Primeiro Ministro e avalizado pela rainha. Depois de janeiro de 2007, o BBC Trust, o atual Conselho Curador deles, com 12 membros, foi escolhido pelo Ministério da Cultura, com representantes dos diversos setores sociais. Os nomes são levados à rainha que os sanciona ou não e escolhe um membro do Parlamento para presidir. Na França, o Conselho tem apenas nove membros, nomeados pelo Presidente da República, pelo Senado e pela Câmara dos Deputados. Tudo no mundo pode ser aperfeiçoado e a forma de composição do nosso Conselho Curador também, mas temos a certeza de que começamos com critérios corretos. No momento, os atuais conselheiros estão avaliando a proposta de auto-renovação, na qual a escolha dos futuros membros seria feita a partir de consultas diretas, do atual grupo, à sociedade. O Conselho já está atuando. Ele tem feito recomendações essenciais, como a exigência de que a TV Brasil opere de forma plural em todos os seus programas.

O que os brasileiros podem esperar da TV Brasil?
Ainda pouca gente compreende realmente a profundidade da transformação de uma sociedade quando surge uma televisão pública de verdade, gerida e alimentada editorialmente pela população. Muitos ainda confundem TV pública com TV estatal. Não deveria haver essa confusão, já que uma é a voz da sociedade e a outra, a voz do governo. Se o governo quisesse uma TV estatal não precisaria criar a TV Brasil. Ele já possuía as emissoras da Radiobrás que, inclusive, vão deixar de existir. Embora financiada inicialmente pelo Estado, a TV Pública pertence à sociedade, que deverá participar, criticar e fiscalizar. A TV Brasil não é um empreendimento de meia dúzia de pessoas. Ela tem que ser feita pela sociedade brasileira que é a verdadeira dona da emissora. A TV Brasil será o que o povo brasileiro quiser e fizer dela, é um trabalho conjunto. Os brasileiros podem esperar da TV Brasil um novo instrumento de exercício da cidadania, um espaço para a manifestação de sua multiplicidade humana, cultural, religiosa, política, uma fonte independente e popular de informação e conhecimento, uma tribuna eletrônica para discussão das grandes questões nacionais, uma nova maneira de fazer e ver televisão.