O laptop nas escolas

Foi realizado no último dia 25 de abril, na Fundação Getúlio Vargas, o 2º Encontro sobre os Laptops na Educação. O evento teve o objetivo de avaliar de que forma encontra-se, hoje, o projeto Um Computador por Aluno (UCA), já em experiência em cinco escolas do país. Participaram das discussões representantes de cada uma das cinco unidades, além de um dos consultores do projeto, o professor doutor Simão Pedro Marinho, da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais.

De acordo com a professora Denise Vilardo, idealizadora e organizadora do encontro, as experiências desenvolvidas pelas escolas desde o ano passado já mostram o potencial positivo da proposta. Segundo ela, é perceptível o interesse dos alunos, que não faltam mais às aulas e têm apresentado um bom rendimento na leitura e na escrita.

Em entrevista ao site do RIO MÍDIA, Denise Vilardo, professora da Prefeitura do Rio, contou detalhes do projeto e do encontro, que teve o apoio da Rede Peabirus, da Fundação Getúlio Vargas, da Advanced Micro Devices (AMD) e do Colégio Graham Bell do Rio de Janeiro.

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Qual é exatamente o objetivo do projeto Um Computador por Aluno (UCA)? É um projeto do Governo Federal que foi lançado em 2005, não é isso?
Denise Vilardo –
O projeto se baseia, inicialmente, nas idéias da Organização OLPC (One Laptop per Child), que foram apresentadas no Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça, em janeiro de 2005, ao governo brasileiro. Logo em seguida, Nicholas Negroponte, Seymour Papert e Mary Lou Jepsen, do Massachusetts Institute of Technology (MIT), vieram ao Brasil, especialmente para conversar com o presidente da República e expor os objetivos da proposta. O presidente da República aceitou o desafio e instituiu um Comitê Gestor interministerial para avaliá-lo. Esse grupo estudou o projeto, ouvindo e discutindo com o MIT, com as universidades, com as indústrias e com o próprio governo. O trabalho desenvolvido destacou três premissas básicas: 1) A aprendizagem e a educação de qualidade para todos são fatores essenciais para alcançar uma sociedade justa, eqüitativa, econômica e socialmente viável; 2) O acesso a laptops móveis, em escala suficiente, oferecerá reais benefícios para o aprendizado e proporcionará extraordinárias melhorias no âmbito nacional; 3) Enquanto os computadores continuarem sendo desnecessariamente caros, esses benefícios continuarão sendo privilégio de poucas pessoas.

Mas, afinal, o projeto já saiu do papel?
Sim, por meio do trabalho do Comitê Gestor, que reúne pesquisadores brasileiros de diversas universidades brasileiras, envolvidos tanto com a Educação quanto com o desenvolvimento de sistemas. Atualmente, cinco escolas-piloto participam do Projeto UCA. No primeiro semestre de 2007, o trabalho foi iniciado na Escola Estadual de Ensino Fundamental Luciana de Abreu (Porto Alegre) e na Escola Municipal de Ensino Fundamental Ernani Silva Bruno (São Paulo). No segundo semestre do mesmo ano, novas escolas foram incorporadas: Ciep 477 Professora Rosa da Conceição Guedes (Rio de Janeiro), Escola Estadual Dom Alano Marie Du Noday (Tocantins) e Escola Vila Planalto (Brasília). Participam do Comitê Gestor: o MEC, por meio da Secretaria de Educação a Distância; o Laboratório de Sistemas Integráveis, da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo; e o Laboratório de Estudos Cognitivos, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Estão presentes ainda o Laboratório de Interação Avançada, da Universidade Federal de São Carlos; a Universidade Federal Fluminense; a Fundação Certi (Centro de Referência em Tecnologias Inovadoras), o Centro de Pesquisas Renato Archer e o Serpro. Mais detalhes podem ser obtidos neste link: http://www.peabirus.com.br/redes/form/post?topico_id=6552

Quando o projeto vai englobar outras escolas?
A previsão é de que, ainda este ano, sejam comprados 150 mil laptops. A meta do governo federal é implementar o projeto, em 2008, em 300 escolas do país. No final do ano passado, foi aberto um processo de licitação para a compra dos laptops. No entanto, ele foi interrompido. Não houve acordo entre o governo e as indústrias que produziriam as máquinas. Esse processo deverá ser retomado a qualquer momento.

De que forma os laptops devem ser utilizados nas escolas?
Os laptops devem ser utilizados dentro das salas de aula da mesma forma que os cadernos, nos quais se anotam trabalhos, produzem textos e criam imagens. Os computadores podem e devem ser usados individual ou coletivamente. E, sim, eles estarão conectados à internet. O objetivo é possibilitar o acesso das escolas à tecnologia, no caso específico, ao computador, compartilhando informações e criando conhecimento. Inicialmente, a adesão ao projeto é voluntária. As escolas serão convidadas a participar, mas podem aceitar ou não o convite. Normalmente, é um acordo entre a escola, a secretaria de Educação, a coordenação dos NTEs (em alguns casos) e o governo federal.

O que as experiências das escolas-piloto têm revelado?
As experiências mostram a necessidade de as escolas reformularem seus respectivos projetos político-pedagógicos; de haver um maior envolvimento de toda a comunidade escolar; de uma capacitação contínua dos professores; de um apoio/estudo teórico-metodológico; e até mesmo de uma adequação física para receber e guardar os equipamentos. Além disso, se faz necessário que o projeto desenvolvido por cada escola seja único, respeitando o contexto local, as reais possibilidades e a limitação de cada espaço de ensino. Percebe-se ainda a resistência de alguns professores em trabalhar com o laptop, o que é superado quando os alunos alcançam bons resultados. Sim, já é possível perceber uma melhora na auto-estima e no rendimentos dos alunos. Praticamente não há mais faltas. Os professores dizem que também estão surpreendidos com os resultados da leitura e da escrita. Os alunos usam a agenda e o diário virtual, os blogs, os wikis e os chats. Escrevem de forma compartilhada e trocam informações via e-mail. Estão mais confiantes e seguros. O desembaraço dos estudantes para lidar com os laptops é quase imediato. Os alunos “descobrem” muito rapidamente a função dos diferentes aplicativos e dos diversos softwares, incluindo a possibilidade de fotografar e filmar com eles. Das cinco escolas-piloto, três contam, efetivamente, com um computado por aluno. Em outras duas, o laptop é compartilhado por dois ou três alunos. Mas, na escola de Porto Alegre, os alunos podem, inclusive, levar os laptops, diariamente, para casa.

A senhora acha que as escolas do Rio estão preparadas para incorporar este projeto?
Depende do que se entende por “estar preparadas”. É muito difícil falarmos em condições ideais, tanto no aspecto físico quanto no aspecto humano. Se formos esperar as melhores condições, não começaremos nunca. Isso não quer dizer que não devemos lutar para que essas condições se realizem. Mas penso que já aprendemos que toda mudança é difícil e tende a ser negada, num primeiro momento. Precisamos de melhores equipamentos? Sim. Precisamos de segurança? Sim. Precisamos de aperfeiçoamento contínuo dos professores? Sim. Mas as coisas se constituem de maneira imbricada. Não se aguarda o encerramento de um ciclo para se ingressar em outro. A professora Regina de Assis [presidente da MULTIRIO] costumava nos dizer, quando era secretária Municipal de Educação do Rio, que tínhamos que andar com o carro e tirá-lo do atoleiro ao mesmo tempo… É isso que estamos fazendo continuamente: avançando e retrocedendo para avançar um pouco mais.

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