A Brasil Telecom entrou de vez na disputa pela distribuição de conteúdo ao lançar, nesta quarta-feira, 26, seu serviço de IPTV em caráter comercial. Vale lembrar que a operadora já flerta com esse serviço desde 2001, mas só agora resolveu colocá-lo efetivamente no seu portfolio de produtos.
O IPTV da Brasil Telecom se chama Videon e, mais do que atrair clientes para os serviços de banda larga, tem como meta posicionar a BrT estrategicamente na disputa pelo filão da TV por assinatura. Durante o lançamento do pacote, realizado na sede da empresa em Brasília, não se escondeu que o retorno financeiro do produto para a concessionária ainda é distante, mas ficou claro que o jogo agora é demonstrar que as teles estão preparadas para o mercado de conteúdo ao apresentar aos consumidores uma opção de consumo de programação sob demanda.
A oferta do Videon consiste em 100 filmes de longa metragem em catálogo, disponíveis experimentalmente apenas para os clientes da empresa situados na capital federal. As restrições não param aí. É necessário que o interessado tenha um dos pacotes de banda larga da BrT além de uma linha telefônica também da concessionária. A assinatura mensal de R$ 29,90 – valor promocional por tempo indeterminado – não libera todo o conteúdo disponível nos servidores para os novos clientes: para aproximadamente dez títulos classificados mensalmente como "estréias", a empresa cobrará ainda uma taxa de R$ 6,90 pela transmissão. Para acessar boa parte do acervo disponível será cobrado R$ 1,90 por filme. Em outros casos, o cliente não terá cobrança adicional, como nos conteúdos infantis.
Os executivos presentes ao lançamento não apresentaram dados financeiros e estratégicos do projeto, como investimentos, metas de market share ou de captura de clientes e datas para expansão do serviço em outros estados. Existe apenas a expectativa de ampliar a oferta para as cidades de Porto Alegre, Curitiba e Florianópolis, mas o cronograma não foi divulgado. "É um produto que pode ajudar, mas que a empresa não está pensando no retorno financeiro. É um objetivo estratégico de mostrar que estamos prontos para prestar o serviço (de TV por assinatura) e de que há demanda", argumentou o vice-presidente de operações da Brasil Telecom, Francisco Santiago. "Não é um produto que a empresa está dizendo que vai bombar e trazer muito dinheiro", completou.
Serviço exclusivo
No clima da exclusividade, a BrT está animada de que conseguirá cativar pelo menos os freqüentadores de videolocadoras. "Nós acreditamos que será uma verdadeira revolução no entretenimento", comemorou o diretor adjunto de desenvolvimento de negócios e vídeo comunicação, Carlos Watanabe. A principal vantagem da BrT, eleita pelos executivos, é a grande capacidade de distribuição de conteúdo, gerada pelos robustos servidores das teles. "Como esse serviço é oferecido pela base IP, há, no limite, todas as possibilidades da internet", comentou Watanabe.
Além do catálogo de filmes já negociado com grandes produtoras como a Warner, a BrT tem mantido conversas com portais de notícia para incluir o serviço no Videon. A inclusão de séries também está nos planos da concessionária, que já firmou parcerias com acervos fora da filmografia. Entre elas estão entrevistas do programa Roda Viva, programas da Sesc TV e com os pacotes educacionais da TV Escola, fora conteúdos tradicionais ofertados por MGM, Disney, Universal, DLA, Playboy, Turner (Cartoon Network, TNT, Boomerang, Toonami, Fashion TV Brasil e WHOOHOO), Viacom (Nickelodeon e VH1) e ainda pela Leda Filmes, DMX Movietraxx, TV Cultura, Lumiére. A BrT também pretende procurar produtores de filmes de curta-metragem para seu catálogo.
O tamanho do arquivo dos programas disponíveis será definido a partir da resposta dos clientes a esse período inicial de vendas comerciais. "Não podemos também adotar a estratégia suicida de colocar uma quantidade infinita de filmes", afirmou Francisco Santiago. Essas decisões estratégicas estão sendo tomadas junto às empresas NEC e UTStarcom, com quem a BrT firmou parceria, dividindo riscos e ganhos na nova empreitada.
A idéia básica do serviço é o cliente poder assistir quando e quantas vezes quiser – dentro de um limite que vai até 72 horas após o pedido – os programas disponíveis no acervo. Como parte da estratégia de lançamento, a concessionária conseguiu preços promocionais no catálogo de estréias já ofertado pelas TVs por assinatura que dispõe de pay-per-view, baixando em quase metade o valor da aquisição de cada filme.
De volta ao comodato
Assim como foi a entrada na banda larga, a BrT volta a usar o sistema de comodato do set-top box para reduzir o preço final do pacote para o cliente. A tática é importante, já que um consumidor que hoje não dispõe da banda larga da empresa terá que somar este gasto à assinatura do Videon. Os executivos alegam que é possível comprar apenas o plano básico do BrTurbo para habilitar o serviço de IPTV, pois o novo produto exige uma conexão de 256 kbps para rodar os filmes. Mas sabe-se que o recomendado são 2 Mbps.
A BrT usará sua rede ADSL 2+ (50% da rede já está atualizada) para prestar o novo serviço, e anuncia que já está introduzindo a tecnologia VDSL em sua rede de par trançado de cobre e ainda em setembro conecta os primeiros clientes com redes FTTB (Fiber to the building) e FTTH (Fiber to the home). Esse modelo técnico pode ser usado, no futuro, para transformar o serviço em TV por assinatura. "Hoje, nós estamos tecnicamente preparados para oferecer o serviço de TV por assinatura convencional, mas estamos impedidos por questões legais e regulatórias", lembrou Watanabe. Caso venha a ser autorizada a entrada das teles nesse mercado, a intenção da BrT é manter os dois serviços – assinatura e video on demand – funcionando conjuntamente. "Todos os países pesquisados pela empresa oferecem os dois, como serviços complementares. A nossa pretensão é poder oferecer, no futuro, todas essas opções de entretenimento."
Bloqueio de cópias
A BrT se antecipou também ao debate sobre propriedade intelectual na transmissão digital de conteúdos. A empresa fechou contrato com a Wi Divine, recomendada pelas grandes produtoras internacionais de conteúdo por oferecer sistemas anticópia. Assim, o Videon limitará a possibilidade de o cliente gravar os filmes comprados pelo sistema, permitindo apenas cópias via RCA – o sinal tradicional do vídeo, recebido analogicamente. Apenas as cópias digitais serão bloqueadas. "O que o cliente não vai conseguir é uma cópia fiel do conteúdo, com a qualidade digital", esclareceu Watanabe.