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Tempo do telespectador dedicado à Globo cai 32 minutos em 5 anos

O paulistano deixou de ver a Globo durante 32 minutos por dia nos últimos cinco anos.

Relatório obtido com exclusividade pela Folha mostra que em julho de 2003 cada paulistano ficava 2 horas e 47 minutos por dia vendo a Globo, mais da metade de todo o tempo que dedicava à televisão aberta em geral (5 horas e um minuto).

Em julho deste ano, o tempo diário dedicado à Globo já tinha caído para 2 horas e 15 minutos. A queda foi maior nos últimos 12 meses: 17 minutos.

O tempo de exposição do telespectador é um dos indicadores de desempenho das redes. É diferente de audiência (porque não mede o total de público). Mas reforça o declínio da emissora hegemônica. Enquanto a exposição do telespectador à Globo caiu 32 minutos, a exposição ao conjunto da TV aberta reduziu-se em apenas 11 minutos (em maio, último dado disponível, era de 4 horas e 50 minutos por dia).

O tempo de exposição, por outro lado, reforça a liderança da Globo. O telespectador fica 45 minutos a mais por dia à frente da emissora do que na segunda rede, a Record.

A TV de Edir Macedo saltou de 48 minutos de exposição em julho de 2003 para 1 hora e 30 minutos atualmente. O SBT, que em julho de 2003 cativava o telespectador durante 1 hora e 33 minutos, vem logo atrás, com 1 hora e 19 minutos. A Band é vista durante 40 minutos e a Rede TV!, durante meia hora.

Câmara começa análise das concessões da Globo

Motivo de grande disputa política por assentos na Comissão de Ciência e Tecnologia, Comunicação e Informática (CCTI) no início do ano, enfim as concessões da Globo começam a ser avaliadas pelos deputados. O início, no entanto, não é sinal de que todas as outorgas poderão ser validadas agora. Isto porque apenas uma das cinco concessões foi aprovada até o momento e somente mais uma está prevista para análise na próxima semana, quando será realizada a última reunião antes do início do recesso parlamentar.

A primeira outorga foi prorrogada em reunião realizada na última quarta-feira, 9, permitindo a continuidade das transmissões da Globo na cidade de Recife (PE). O parecer do deputado-relator José Rocha (PR/BA) foi aprovado na comissão, com um voto contra do deputado Walter Pinheiro (PT/BA).

A segunda concessão a ser avaliada será a da cidade de Belo Horizonte (MG), relatada pelo deputado Miro Teixeira (PDT/RJ). O parecer, pela aprovação, foi apresentado nessa quinta-feira, 10, e está na pauta da reunião do dia 16 de julho para ser votado. As outras três outorgas, para as cidades de São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília, ainda aguardam parecer dos relatores.

Ineditismo

Um detalhe que chama a atenção no caso da próxima outorga a ser analisada pela CCTI é a estréia do deputado Miro Teixeira na relatoria de um TVR – como são chamados os documentos de outorga de televisão e rádio no Congresso Nacional. Apesar da longa trajetória como parlamentar, Teixeira jamais havia sido relator de um ato de outorga para televisão, de acordo com os dados disponíveis no site da Câmara dos Deputados. Além da outorga da Globo, Teixeira foi designado relator de um outro TVR, para uma emissora de rádio em Guaraí (TO).

O ineditismo tem sido comentado nos corredores da Câmara, especialmente porque Teixeira tem sido um árido crítico do PL 29/2007, que trata do mercado de TV por assinatura e do audiovisual e que tem sido repudiado pela Globo ao propor cotas para a produção audiovisual nacional.

Brasília

Outro fato que acaba correlacionando o PL 29 às análises das outorgas da Globo é a coincidência de que o relator do projeto, deputado Jorge Bittar (PT/RJ), também será o responsável pela análise de uma das concessões da rede. Bittar é relator do TVR que renova a concessão em Brasília e ainda não apresentou seu parecer.

O deputado tem tido problemas com a Rede Globo nas articulações em torno do PL 29 e mais de uma vez citou a emissora, mesmo que veladamente, como responsável pela falta de acordo para votação da proposta. Como as análises dos TVRs são técnicas, as relações entre os deputados e as emissoras não necessariamente têm influência na decisão de prorrogação ou não das concessões.

As outras duas outorgas pendentes de parecer serão relatadas pelos deputados Júlio Semeghini (PSDB/SP), responsável pela análise do TVR do Rio de Janeiro; e Bilac Pinto (PR/MG), no TVR de São Paulo.

No início do ano, a demora na definição dos deputados que iriam compor a CCTI por parte dos partidos foi relacionada por diversas fontes com o grande interesse político na análise das renovações de outorga da Rede Globo e outras emissoras, como Record e SBT. Por enquanto, apenas as concessões da Globo deram entrada na CCTI, apesar de o Ministério das Comunicações já ter autorizado a renovação das licenças das demais emissoras e encaminhado seu parecer para o Congresso Nacional ao longo do primeiro semestre deste ano.

TV aberta está em declínio, diz especialista

A expansão da banda larga está tomando espaço da TV aberta, e não há como reverter essa tendência. Segundo Eli Noam, professor da Columbia Business School e diretor do Columbia Institute for Tele-Information, algumas emissoras vão continuar muito importantes como produtoras de conteúdo, mas o espaço para a transmissão terrestre será bem pequeno.

"O futuro da televisão é o vídeo sob demanda seletivo e bidirecional", disse Noam, por telefone. Ele participa amanhã do Painel Telebrasil, na Bahia.

Noam preferiu não comentar a situação específica do Brasil. Mas o embate entre radiodifusores e operadoras de telecomunicações está bem presente por aqui. Na definição do sistema de TV digital, há dois anos, os radiodifusores venceram, ao ser escolhido o sistema japonês, que permite, entre outras coisas, transmitir vídeo para celulares de graça, no próprio canal de televisão. Outro exemplo disso é a dificuldade em se modificar a lei de 1995 que impede a entrada das concessionárias locais no mercado de TV a cabo.

Apesar de as operadoras de telecomunicações terem um poder econômico maior, o poder político está nas mãos dos radiodifusores. "Num sistema democrático, eles são essenciais ao processo eleitoral", afirmou Noam. "Se levarmos em conta a experiência dos Estados Unidos nos últimos 50 anos, os radiodifusores tendem a prevalecer no curto prazo, mas as mudanças na infra-estrutura e na transmissão tendem a prevalecer no longo prazo."

O professor deu como exemplo o caso da TV a cabo nos Estados Unidos. "Nos EUA, os radiodifusores tentaram por alguns anos restringir a TV a cabo, e não tiveram sucesso", explicou. "Hoje, somente 15% das residências americanas recebem televisão pelo ar. Isso não tornou os radiodifusores desimportantes, mas, claramente, as três grandes redes – ABC, NBC e CBS – tornaram-se entidades menos dominantes."

Audiência

A audiência dos canais tradicionais caiu consideravelmente, mesmo com sua presença no cabo e no satélite. A televisão via internet acelera o processo de declínio da TV aberta.

"A transmissão de conteúdo pelo ar já se tornou uma parte menor da atividade dos radiodifusores nos EUA e na Europa Ocidental. Mesmo assim, existe espaço para conteúdo de qualidade", apontou Noam.

Ele acredita que "alguns radiodifusores irão continuar terrivelmente importantes, mas usarão plataformas múltiplas de distribuição. A tradicional irá declinar continuamente. Alguns países pobres vão demorar mais tempo para substituir a transmissão terrestre, porque ela é mais barata."

Uma explicação para isso é que são poucos os programas que os espectadores sentem necessidade real de assistir ao mesmo tempo que todo mundo. "Não existem muitos exemplos de que as pessoas precisam assistir televisão em tempo real", disse o professor. "Mesmo no noticiário, se não falamos de um evento como o 11 de setembro, mas de coisas como uma pessoa importante que morreu, pediu demissão ou foi eleita, a urgência é diferente para perfis diferentes de públicos. A audiência vai se decompor consideravelmente. O denominador comum do conteúdo em tempo real não é muito grande."

Globo recua e grava beijo gay de ‘Duas Caras’

A TV Globo recuou da decisão de nem sequer gravar uma cena em que dois homens se beijariam no último capítulo de "Duas Caras". Ontem de manhã, a produção da novela foi informada de que a emissora decidiu gravar a cena.

Apesar do recuo, ainda é incerto se Globo exibirá o beijo entre Bernardinho (Thiago Mendonça) e Carlão (Lugui Palhares). A emissora argumenta que seus princípios de qualidade não prevêem beijos e carícias entre homossexuais.

Pelo texto original de Aguinaldo Silva, o beijo ocorreria após Carlão e Bernardinho assinarem contrato de união civil, em um cartório.
Segundo o roteiro, após declará-los casados, um escrevente preconceituoso diz, irônico: "Que se beijem os noivos!". Bernardinho festeja: "Eu não ia abrir mão dessa parte, nem morto!". Juvenal Antena (Antônio Fagundes) grita: "Claro que não! Casou tem que beijar!". Aguinaldo Silva assim finaliza a cena: "E os convidados todos embarcam no coro: ‘Beija, beija…’ E então Bernardinho e Carlão se aproximam e se beijam sob os aplausos de todos".

O diretor Wolf Maya pretende gravar a cena de uma maneira que ela possa ser mostrada. O material só irá ao ar se for aprovado pela cúpula da Globo. Tanto a direção da Globo quanto o próprio Aguinaldo Silva têm sido pressionados, principalmente pela Igreja Católica, a não mostrarem o beijo.

Novelas da Globo perdem mais jovens e mais pobres

O público das novelas da Globo encolheu, envelheceu e "enriqueceu" nos últimos anos. Dados do Ibope obtidos com exclusividade pela Folha permitem concluir que a queda de audiência das novelas da emissora está relacionada ao maior acesso de jovens a novas mídias, como a internet, e ao crescimento econômico.

Em 2004, a novela das oito da Globo, "Senhora do Destino", tinha média de 50,4 pontos no Ibope da Grande São Paulo. O atual título do horário, "Duas Caras", do mesmo autor, Aguinaldo Silva, terminará nesta semana com média de 41. Em 2004, a novela das seis, "Cabocla", marcava 34,6 pontos. Em 2008, "Ciranda de Pedra" sofre com 22 pontos. Em comum, as duas faixas registram a mesma mudança no perfil de audiência.

De cada cem telespectadores de "Senhora do Destino", 11 tinham de 12 a 17 anos. Em "Duas Caras", de cada cem telespectadores, só oito estão nessa faixa etária. Por outro lado, as pessoas com mais de 50 anos representavam 24% da audiência de "Senhora". Hoje, elas são 32% de "Duas Caras". Isso quer dizer que as pessoas mais "idosas" permaneceram fiéis ao gênero, diferentemente dos mais jovens.

Mais surpreendente é a mudança no perfil econômico. De cada cem telespectadores de "Senhora do Destino", 30 eram das classes A e B, 43 da C e 28 das D e E. Hoje, de cada cem telespectadores de "Duas Caras", 35 são A e B, 50, C e 15, D e E. Ou seja, aumentou o peso dos telespectadores A, B e C. Já a importância dos mais pobres (D e E) caiu quase à metade, de 28% para 15%.

Segundo a Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa (Abep), o crescimento econômico fez parte da classe D migrar para a C, mas não em proporção tão grande quanto à registrada nas novelas. Em 2003, 28% da população da Grande SP eram D e E. Em 2008, os mais pobres são 21,4%.

Uma das explicações para o êxodo dos mais pobres na audiência da Globo pode ser a de Aguinaldo Silva. Ele acredita que parte do público trocou as novelas por DVDs piratas